O que você não me roubou
img img O que você não me roubou img Capítulo 4 03 - Ester
4
Capítulo 6 05 - Davy img
Capítulo 7 06 - Ester img
Capítulo 8 07 - Ester img
Capítulo 9 08 - Davy img
Capítulo 10 09 - Ester img
Capítulo 11 10 - Ester img
Capítulo 12 11 - Ester img
Capítulo 13 12 - Ester img
Capítulo 14 13 - Ester img
Capítulo 15 14 - Ester img
img
  /  1
img

Capítulo 4 03 - Ester

manhã começará o meu primeiro dia na escola nova, a ansiedade se fez presente, querendo avisar que possivelmente uma crise viria, mas eu não me deixaria abater. De certo recomeçar não estava nos meus planos, mas fui obrigada, eu não suportaria permanecer no mesmo lugar onde eu perdi a minha paixão. Não conhecer ninguém e ser quase metade do ano, me fez pensar em voltar para Coimbra, mas talvez, apenas talvez, Viseu me fizesse bem.

Ainda estava muito cedo, o relógio marcava 06:30 da manhã - normalmente eu me acordava depois das oito, mas aparentemente isso mudou. Pelo barulho vindo do térreo, meu pai ainda se encontrava em casa, o que significa que eu não iria tomar café da manhã sozinha - isso era um verdadeiro alívio para mim.

Observei o céu nublado pela janela, as cores cinzas no céu e o tempo frio, me deixava melancólica e vazia. Coloquei minha cabeça para fora, e observei a rua vazia, não era mais movimentada como um dia já foi, o que me causava medo, calafrios e pensamentos involuntários sobre o porquê de ser tão calma agora. Além do jardim e da rua, meu quarto dava visão para uma pequena parte da floresta, onde eu cheguei a brincar um dia.

Meus olhos estavam parados em um ponto fixo da floresta, algo me dizia que tinha alguma coisa naquele lugar, um pouco a fundo, talvez. Eu estava fixada na parte mais escura, como se eu soubesse que algo fosse entrar ou sair de lá, e bingo, eu estava certa - um garoto branco, aparentemente mais velho do que eu tinha acabado de entrar na floresta, como se estivesse fugindo e desconfiado de alguma coisa, suas vestes eram escuras, o que poderia camuflar fácil na escuridão que habitava o lugar- involuntariamente, um sorriso travesso foi dado da minha parte, assim que o meu pai saísse, eu reuniria toda a minha coragem e iria atrás do garoto.

Ao descer as escadas, o meu pai já se encontrava arrumando a mesa para o nosso breve café da manhã, a mesa continha - Pão, café, chocolate e um pedaço de bolo, que pelo cheiro eu diria que era de laranja, eu amava bolo de laranja.

- Caprichou na mesa hein, pai. - Chamei a sua atenção e o homem desviou a atenção da mesa para mim.

- Não é todo dia que recebo uma convidada especial, isso era o mínimo que eu poderia fazer, mesmo que eu tenha comprado tudo. - Disse vindo em minha direção e me dando um beijo na testa, como ele sempre fazia.

- Eu adorei papai, principalmente o bolo de laranja. - Ri, não era novidade para mim que ele havia comprado tudo, mas o que valia era a intenção, que foi muito boa por sinal.

- Sempre foi o seu preferido quando criança, que bom que ainda gosta. - Falou se sentando na mesa e eu o acompanhei.

O nosso café foi silencioso, o que me agradava, só assim evitava engasgos desnecessários, o que sempre acontecia quando ainda estava com a minha mãe. Eu ainda estava de pijama, mas logo depois do café, tomaria um banho e partiria para a minha aventura depois que o papai saísse.

- Voltarei cedo. - Falou meu pai enquanto pegava as suas chaves - Evite ir para a floresta, não é mais segura.

Parecia que ele tinha lido a minha mente, mas era só uma coincidência, o que tanto estava acontecendo nessa cidade para as pessoas estarem desse jeito?

- Eu não irei. Mas por que eu não posso ir? - Minha curiosidade só aumentava em relação a floresta e acidade.

- Corpos sem vida são encontrados na floresta, por isso quase ninguém anda saindo de casa nesses últimos dois anos. - Ele girava a chave freneticamente como se tivesse apressado para partir para o trabalho.

- Eu não vou tomar o seu tempo, mas há três anos não foi o assassinato da família? E há dois anos o Davy não está solto? Já que ele só passou um ano preso? - Perguntei, isso estava muito esquisito.

- Você prestou bastante atenção na nossa conversa de ontem. Esse é um assunto delicado, Ester. - Meu pai suspirou.

- Mas por quê?

- Porque tudo liga ao menino William.

Era como se eu tivesse levado um tiro. Ainda não fazia sentido na minha cabeça, como alguém suspeito por tamanha maldade não tinha sido pego ainda.

- Compreendo, não se preocupe, ficarei no meu quarto assistindo o dia todo. - O que na verdade era uma grande mentira.

- Então mais tarde eu irei te encontrar aqui, prometo voltar cedo. - Disse me abraçando.

- Não precisa pai, eu me viro sozinha, boa sorte no trabalho - Desejei e ele sorriu.

Assim que fechei a porta corri rapidamente para o quarto e separei uma roupa ideal para o clima - uma blusa de manga cor de zebra com uma calça moletom preta, apropriada para minha pequena investigação. A água estava numa temperatura agradável para o clima que fazia, não demorei muito no banho e nem para colocar as roupas, peguei a chave da casa que eu havia ganhado de forma indireta, coloquei minhas botas e rapidamente fui caminhando em direção a floresta.

Pisei em uma poça de água, na qual eu não tinha visto, e logo soltei um belo de um palavrão enquanto chacoalhava o pé, mas desde quando choveu e eu não percebi? Continuei a andar, as casas eram velhas e desgastadas, pareciam que não viam uma reforma há anos, talvez pelo medo que tinham pela cidade agora. As ruas vazias me traziam desconforto, como se as pessoas que ainda habitam naquele lugar não vivessem mais.

Mas à frente, a umas três casas depois da minha, havia uma senhora pendurada na sua janela gradeada, me olhando com um semblante assustado e desaprovado, e assim que cheguei perto da sua casa, ela rapidamente fechou as janelas, qual era o problema dessa senhora?

Eu me aproximava cada vez mais da floresta, e a cada segundo que andava, um frio diferente surgia na minha barriga, avistei uma placa de aviso coberta de lama logo à frente, assim que cheguei no início da floresta. Se fosse a Ester medrosa de alguns anos atrás, eu jamais teria feito vindo, mas a curiosa que habitava em mim agora gritava mais alto. Eu me sentia uma super heroína a cada passo em que eu dava para dentro da floresta. Continuei a andar e a cada metro eu sempre me deparava com algumas flores, ervas medicinais e até mesmo árvores enormes, o que me chamou a atenção foi uma em que as flores eram brancas, pareciam mais de algodão.

Deixei-me levar pela curiosidade e quando percebi, já estava mais longe do que devia estar de casa e do começo da floresta, mas era só voltar reto, que eu achava o caminho, não era? O desespero tomou conta de mim, o céu se fechava ainda mais, indicando que a chuva ia cair em breve. Eu só via árvores, nem mesmo as flores eu estava vendo, até que um barulho me chamou a atenção e o desespero tomou conta do meu corpo, e então, ele travou.

Escutei folhas e galhos sendo pisados um pouco atrás de mim, era verdade o que meu pai havia dito, e por minha teimosia e curiosidade eu seria a próxima a ser encontrada morta na floresta. Me virei rapidamente e gritei assim que percebi que havia um rapaz logo atrás de mim, me olhando confuso.

- O que está fazendo aqui? - Perguntou rude ao mesmo tempo que sussurrava.

- É, eu vim pegar algumas ervas que faltavam na minha casa. - Minha voz tinha um pouco de medo misturado com uma vontade enorme de chorar.

- As ervas ficam logo no começo, e por incrível que pareça, não estou te vendo com nenhuma. - Ele sorriu de lado enquanto se aproximava de mim, me fazendo dar um passo para trás.

- É que eu tive que deixar perto das árvores para pegar flores aqui perto. - Gaguejei e apontei em uma direção que eu nem sequer sabia se realmente tinha flores.

- Acho que você não vai gostar das coisas que tem naquela direção, não é tão interessante, mas se quiser, posso te acompanhar até lá para que você mesma possa ver. Aceita? - Sugeriu mesmo sabendo que eu estava mentindo.

- Não precisa, graças a Deus tenho um par de pernas e posso andar sozinha, mas agradeço. - Sorri nervosa.

O garoto me olhava como se quisesse descobrir o que eu estava fazendo na floresta, e realmente, eu estava aqui por pura teimosia. Eu estava com medo, mas eu jurava conhecer ele, ele não iria me machucar e isso eu sabia, algo me fez confiar nele.

- Vem, vou te levar de volta para fora daqui. É perigoso, sua família não te avisou não? - Indagou agarrando o meu braço olhando atentamente para os lados, como se estivesse com medo de alguma coisa, mas também me puxando forte.

- Me solta, você está me puxando forte! - Tentei soltar o braço, mas foi em vão. Assim que os seus olhos encontraram os meus, senti um pequeno conforto e soube que ele não iria me machucar.

Ele continuava a me puxar rápido, fazendo-me dar leves tropeços, com certeza eu iria ficar com a perna machucada. A cada passo longo que dávamos, logo pude ver o final da rua se aproximando, eu estava finalmente saindo da floresta.

- Não entre mais na floresta, ela não é para garotas como você! - Soltou meu braço bruscamente e ia seguindo pelo beco da minha que cortava caminho para as outras.

Minha vontade era de bater nele até ele perder a consciência, mas ele havia me ajudado e o mínimo que poderia fazer era agradecer e perguntar o seu nome, mas antes que pudesse, ele já tinha feito.

- Qual é o seu nome? - Ele perguntou enquanto parava no meio do caminho.

- Ester - Falei olhando para as minhas botas - E o seu?

- Davy, Davy Williams - Ele me olhou nos olhos ao falar o seu nome, e eu sabia que já o conhecia, ele era o principal suspeito pelo o assassinato da família, e o irmão da menina que eu mais brinquei um dia. - Volta para casa, ficar aqui não é seguro para nós. - Continuou depois de me olhar e desapareceu em seguida.

Corri pela rua em direção a minha casa, da próxima vez, irei escutar tudo o que meu pai falar, eu sabia que a minha curiosidade me levaria a perdição um dia, mas seus olhos pareciam esconder algo, e eu fazia questão de descobrir o que era.

            
            

COPYRIGHT(©) 2022