- Não sou tão pequena. - Não posso ser fraca e deixar esses homens fazerem o que querem comigo. Onde está o meu orgulho? - Afaste-se de mim, senhor.
- Você não manda em mim, ponha-se em seu lugar. - Ele parecia irritado com meu comportamento. - Eu não lembrava que as brasileiras eram tão difíceis. - Eu não me surpreendo de ele falar português, nem de saber que sou brasileira, faz tempo que estou falando português, mas, não tinha notado que ele me entendia. - Ainda mais uma facile donna. - Ele completa em italiano.
- Eu não sou uma mulher fácil...
- Como não? Meu primo é tão bom de cama que você me rejeita? Quanto ele te pagou? - Dessa vez ele foi longe demais. Empurro meu joelho com tudo, o fazendo recuar de dor. Quem ele pensa que é, me ofendendo dessa forma? Idiota como sou, ainda pensei em ceder as suas investidas.
- Por que fez isso?
- Porque não sou suas vagabundas. Não me toque.
- Você vai se arrepender por ter feito isso. - Senti meu corpo todo se arrepiar, mas dessa vez de medo. Ele não me parece uma pessoa que faz ameaças à toa.
- Eu quero ir embora. - Digo me sentindo cansada de repente. Seu rosto parecia uma máscara sem expressão nenhuma.
- Faça como quiser, mas, não pense que vai se livrar de mim, você agora me pertence.
- Eu não sou de ninguém, eu sou dona de mim. - Falei assustada.
- Tarde de mais. - Ele diz com ironia. - Quem mandou vir até mim?
- Não tive muita escolha...
- Isso é conversa. - Que homem arrogante, onde fui me meter meu Deus? Onde fui me meter? Que arrependimento por ter saído à noite passada, você é uma estúpida Cecile por fazer as vontades de Lívia.
Lívia é a minha melhor amiga, todos os dias conversamos pelo Skype e noite retrasada, ela me convenceu a sair. Mesmo longe, ela pode ser convincente quando quer.
- Imagine-se em meu lugar. No momento em que alguém se aproxima, flertando com você, mas, quando você menos espera esse alguém te empurra dentro de um carro e te força a entrar em um hotel, onde outro alguém te força a fazer o que você não quer.
- Eu não forcei você a nada.
- Se dizer isso o faz sentir-se bem quando deita sua cabeça no travesseiro. Você é igual a Jonas, duas pessoas aproveitadoras.
"Meu Deus, o que me levou a dizer isso? Ainda em voz alta."
Eu nem conheço esse cara.
"E nem quero conhecer."
Tudo bem que eu queria ofendê-lo, mas, o que causou foi totalmente o contrário.
- Abbastanza (Já chega). - Ele grita em italiano me fazendo encolher e recuar de medo. - Nunca mais me compare a esse homem.
"Acho que fui longe demais."
- Mattias? - Ele chama alguém. Um homem alto e atraente, de cabelos castanho claro em um terno preto feito sob medida aparece na sala. - Mattias, leve essa mulher daqui. - Ele falava como se eu não estivesse aqui e de alguma forma aquilo me magoou.
- Para onde Andrew? - Ele falava sem formalidades, deve ser alguém bem intimo.
- Para casa dela. - Eu quase suspirei de alívio. - Agora me deixem sozinho.
Ele não precisou pedir duas vezes. Saí sem olhar para trás. Uma parte de mim quer vê-lo novamente, mas, a outra metade, quer que eu fique o mais longe possível desse homem.
- Mattias, você não parece Italiano. - Digo, já no carro, um utilitário prateado. Passo meu endereço a ele e vamos embora.
- Sou brasileiro. - Ele afirma me deixando surpresa.
- Eu também sou. - Respondo a ele em português.
- O que me denunciou? - Ele pergunta com um sorriso descontraído.
- Seu sotaque. - Digo retribuindo o sorriso. - De qual parte do Brasil você é?
- Do Nordeste da Bahia, um interior chamado Retirolândia.
- Eu sou de Salvador, moro em Brotas. Fico feliz por conhecer alguém do meu estado.
- Eu também. - Ele afirma.
- Como você veio morar na Itália, Mattias?
- Um homem foi até Ritirolândia e atraiu vários jovens, alegando ser de uma agência de moda, eu nem estava presente no dia. Mas, esse homem me viu na rua e disse que eu tinha o perfil e convenceu minha família. Eu nem queria vim, só tinha 16 anos na época, eu pensava em namorar, terminar os estudos e ir para a faculdade. Mas era tudo mentira da parte dele, no momento em que chegamos aqui, ele nos forçou a se prostituir. - Fiquei abismada com o que ele disse.
- Sinto muito Mattias...
- Tudo bem, já é passado. - Ele diz com uma facilidade. - Fiquei nessa vida por seis meses, consegui fugir e comecei a passar fome, foi quando conheci Andrew, eu tentei roubá-lo. - Ele diz com um sorriso nos lábios. - Eu contei tudo a ele, ele me ajudou e ajudou a todos os outros jovens também, viramos amigos.
- Meu Deus, você passou por tanta coisa. Por que não voltou ao Brasil depois que ele te ajudou?
- Ele me fez uma proposta.
- Qual?
- Ele me ajudaria a terminar meus estudos e fazer minha faculdade de administração, em troca trabalharia para ele.
- Como motorista? - Pergunto incrédula.
- Não, sou seu braço direito, assistente executivo, a única pessoa que ele confia. - Ele completa com orgulho.
- Você falando assim parece até que esse homem é uma boa pessoa.
"Aquele idiota mandão, delicioso."
Que pensamento foi esse? Pare de pensar nesse cara Cecile, esse homem a humilhou, te tratou mal.
- Ele não é ruim depois que você o conhece.
- Sei. - Digo não acreditando no que ele diz.
- Ele só está com raiva. - E o que eu tenho a ver com isso? - Você estava com Jonas, eles dois são inimigos. - Ele faz uma expressão estranha, acho que ele falou demais.
- Eu não estava com Jonas, não no sentido que ele imagina, Jonas me sequestrou. Mas nem sequer aquele homem escutou o que eu disse, aquele troglodita. - Ele apenas sorrir para mim. - Por que o senhor Castillo é inimigo de Jonas? - Por um instante ele me pareceu desconfortável mais uma vez.
- Isso você terá que perguntar a ele.
- E a sua família Mattias? - Decido voltar ao nosso assunto de antes.
- Eu nunca contei a eles o que se passou comigo, eles iriam sentir-se culpado. Todo mês mando dinheiro para eles.
- Moram em Retirolândia ainda?
- Sim, não querem sair de lá por nada. - Ele diz sorrindo e eu retribuo o sorriso. - E você?
- O que tem eu?
- Eu falei muito sobre mim, mas não sei nada sobre você.
- Verdade, agora nem dá mais.
- Por quê? - Ele pergunta não entendo nada.
- Já chegamos.
- Verdade.
- Tome meu whatsapp, vai ser bom ter um amigo aqui. - Tiro um pedaço de papel e uma caneta dentro de minha bolsa e escrevo meu número, em seguida entrego a ele. - Agradeço a carona, Mattias. Ele sai, faz à volta no carro e abre a porta para mim. Dou dois beijos, um de cada lado de sua face e saio.
Mattias até que é bonito e atraente, mas, aquele homem não sai da minha mente, me sinto uma idiota.
- Quem ele pensa que é? - Digo em voz alta, entrando e batendo a porta com força. - Espero nunca mais vê-lo.
Vou até meu quarto, coloco minha bolsa no guarda roupas, meus saltos no sapateiro e vou até o banheiro, me despindo. Tiro a roupa e jogo no cesto de roupas sujas. Tomo um banho frio, me sinto cansada, já passa das oito da manhã e ainda não dormi, daqui a pouco tenho que ir para a faculdade.
Vou estudar um pouco. Assim que termino o banho vou até a sala, ligo meu notebook, caminho até a cozinha para pegar uma maçã na fruteira e volto para a sala e começo a estudar.
Foi o pior estudo que tive em minha vida, minha mente não conseguiu reter nada. Paro de estudar e decido dormir um pouco, aqui no sofá mesmo. Ponho o alarme do celular para despertar às 13h00min da tarde, já que a prova é às 15h00min e pego no sono rapidamente.