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Beatriz saiu do quarto respirando fundo, estava realmente cansada. As horas que Lisa descansariam não eram as mesmas que ela, que tinha que deixar tudo pronto para a entrevista, ver um lugar onde a amiga poderia encher a cara, e tambem organizar as coisas do próximo dia. Sem contar que tinha ansiedade crônica. Nem sabia a última vez que tinha dormido tranquilamente, sem sentir a pressão de assessorar a cantora mais famosa do momento.
Ela amava o trabalho, mas era cansativo, ainda mais porque era uma perfeccionista nata, queria que tudo saísse do jeito que ela planejou e do jeito que ela sabia que seria o melhor para a carreira de Lisa, por isso, não aceitava erros. Afinal, estava a frente de uma equipe de mais de mil pessoas, respondia por todas elas, respondia a empresa na qual Lisa debutou, era sim um peso enorme e ela não estava livre de se sentir pressionada.
Conseguiu cochilar por duas horas, levantou, tomou seu banho, se vestiu da melhor forma que pode para visitar um planetário e um bar depois, e consistia em calça preta, camisa branca e sua jaqueta de couro, da qual não se livrava nunca. Beatriz estava longe de ser uma bad girl, diria mais que era uma patricinha mimada por ela mesma, mas gostava de manter alguma aparência que intimidasse.
Quando a hora chegou chamou Lisa em seu quarto, que já estava pronta. Nunca teve problemas com horários, já que sua cliente também era perfeccionista e odiava atrasos. Mas foram em silêncio até o lugar da entrevista. Ambas estavam cansadas da extensa agenda que tiveram nos estados unidos, do voo longo ate ali, mal tiveram tempo de descansar e já estavam de volta ao trabalho. A sorte era que o outro dia seria de folga, poderiam dormir. Beatriz queria muito - tentar - dormir.
Chegaram as duas juntas mais dois seguranças e um cinegrafista que acompanhava Lisa a todo canto, foram levados ate a sala da rádio, passando por vários lugares onde se vinham globos terrestres, fotos do espaço, maquetes do sistema solar.
- Olha Fontes, olha - Lisa a cutucou, e de trás de uma janela vários binóculos em uma sala. Seria difícil tirar a cantora dali sem dar pelo menos uma espiada.
- Ah, chegaram - Um rapaz de sorriso quadrado veio ao encontro da turma - Sou Guilherme Lopes, mas aqui sou o Guido - ele cumprimentou a todos - Sou o locutor que fará a entrevista hoje.
- Oh, prazer - Lisa respondeu, animada por finalmente poder conversar em português novamente, poder se expressar melhor.
Beatriz olhava em volta, observando tudo. Sempre fora assim, observadora. O lugar era aconchegante, ela confessava. Era a melhor rádio de Curitiba e era... simples. Todas as rádios famosas que visitou nos estados unidos eram luxuosas, com equipamentos caros e pessoas metidas. Mas ali não, além do tal do Guido, havia apenas mais uma pessoa na sala, que foi apresentada como Lucas, quem cuidava da parte da música. E mais ao canto, sentado de costas, havia outro homem, que não foi incluído nas apresentações.
Aquilo já deixou Beatriz com uma pulga atrás da orelha, e era seu dever tentar entender o que outro homem estava fazendo ali se não era da equipe. Lisa acabou a chamando logo depois, a envolvendo na conversa e quando reparou, o homem estava do outro lado da sala, que era protegida por um vidro, dessa vez estava de frente e Beatriz pode ver seu rosto.
Seus cabelos eram loiros quase da cor de sua pele branca, tinha uma mão apoiada no rosto e a outra passava em um livro como se tivesse sentindo a textura das letras - o que era estranho ao seu ver. Não pode ver os detalhes de seu rosto pela distância, mas viu o suficiente para se interessar e bem, que mal tinha em flertar com outra pessoa em uma rádio? Ja tinha conseguido belas transas daquela forma.
Ela começou a caminhar pela sala enquanto a entrevista começava e Lisa respondia animada as perguntas que já tinham sido pré selecionadas pela própria Beatriz. Vez ou outra ela passava perto da janela onde o outro homem estava, jogava seus cabelos loiros pra trás, se encostava furtivamente ali, como quem não queria nada. Mas nenhuma vez conseguiu chamar sua atenção. O homem até levantava o olhar, mas parecia que Beatriz não o interessava, porque o via sem a olhar.
E depois de algumas várias tentativas frustradas aquilo estava começando a irrita-lá.
Beatriz não era rejeitada. Nunca. Era ela quem rejeitava. Então quem o homem achava que era pra a rejeitar? Pra nem a olhar? Trabalhando em um planetário mixuruca, com certeza não ganhava nem o troco que Beatriz dava, não era ninguém.
Ficou tão irritada que se jogou no sofá e, com um bico enorme, esperou os minutos finais da entrevista.