Malú
img img Malú img Capítulo 4 TRÊS
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Capítulo 6 CINCO img
Capítulo 7 SEIS img
Capítulo 8 SETE img
Capítulo 9 OITO img
Capítulo 10 Nove img
Capítulo 11 DEZ img
Capítulo 12 ONZE img
Capítulo 13 DOZE img
Capítulo 14 TREZE img
Capítulo 15 QUATORZE img
Capítulo 16 QUINZE img
Capítulo 17 DEZESSEIS img
Capítulo 18 DEZESSETE img
Capítulo 19 DEZOITO img
Capítulo 20 DEZENOVE img
Capítulo 21 VINTE img
Capítulo 22 VINTE E UM img
Capítulo 23 VINTE E DOIS img
Capítulo 24 VINTE E TRÊS img
Capítulo 25 VINTE E QUATRO img
Capítulo 26 VINTE E CINCO img
Capítulo 27 VINTE E SEIS img
Capítulo 28 VINTE E SETE img
Capítulo 29 VINTE E OITO img
Capítulo 30 VINTE E NOVE img
Capítulo 31 TRINTA img
Capítulo 32 TRINTA E UM img
Capítulo 33 TRINTA E DOIS img
Capítulo 34 TRINTA E TRÊS img
Capítulo 35 TRINTA E QUATRO img
Capítulo 36 TRINTA E CINCO img
Capítulo 37 TRINTA E SEIS img
Capítulo 38 TRINTA E SETE img
Capítulo 39 TRINTA E OITO img
Capítulo 40 TRINTA E NOVE img
Capítulo 41 QUARENTA img
Capítulo 42 QUARENTA E UM ( final) img
Capítulo 43 Se você gostou de Malú... Conheça img
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Capítulo 4 TRÊS

Curitiba, Julho de 1998.

O juiz Alexandre de Almeida está terminando sua inalação, quando Thiago entra em seu quarto. Ele encara seu filho, sem demonstrar qualquer gesto de carinho, pede para que ele se aproxime.

- Olá, meu pai – cumprimenta Thiago, preocupado, segurando no braço de seu pai - Como o senhor está se sentindo?

- Como acha que eu estou me sentindo? – retruca Alexandre irritado - Eu estou morrendo, o que mais gostaria que eu sentisse?

- Desculpe–me – pede Thiago constrangido. Havia se esquecido do jeito estúpido que o pai agia quando lhe faziam uma pergunta que ele considera sem sentido - Eu vim o mais rápido que pude.

- Tudo bem – responde o pai sem se importar com o que Thiago lhe disse. Ele olha para a enfermeira e ordena - Saia, eu preciso falar com meu filho a sós.

Alexandre encara seu filho, há algo de diferente nele. Ele se ajeita melhor na cama, com muito esforço, sendo ajudado por Thiago.

- Eu faço isso sozinho! – esbraveja Alexandre irritado – EU não estou gaga, sei fazer isso sozinho... Cof!Cof!Cof!Cof!Cof!Cof!Cof!Cof!

- Acalme–se, pai – pede Thiago preocupado - Assim acabará pior do que já está.

- É meu filho, isso – começa Alexandre mostrando a gosma verde no lenço - Isso é o resultado da vida que tive...

- Sinto muito...

- Não sinta... Isso mostra que eu vivi o suficiente. Sabe, eu vivi agarrado aos quatro vícios mais prazerosos e mais letais que um homem pode ter: bebida, cigarro, jogos e mulheres. O que me deu mais problema foi...

- Nota–se que foi o cigarro – interrompe Thiago, lembrando o diagnóstico do pai: DPOC avançada.

- Deixe de ser tolo – retruca Alexandre - Mulher foi o meu maior problema... E o meu maior prazer.

- Você está falando...? – questiona Thiago sem entender.

- Estou falando do Ícaro, ou você ainda acredita que ele é adotado? – pergunta Alexandre irritado. Ele olha para o filho que mostra no rosto a surpresa da revelação - Bom, eu me envolvia com uma mulher... Já casado com sua mãe... Ela bateu em nossa porta com o Ícaro nos braços e se foi como surgiu... Sua mãe... Uma santa... Jamais pensei que ela fosse capaz de tanto por mim... Decidiu que o tomaria como se fosse nosso... e o resto é o que vivemos até hoje. Eu sei que magoei sua mãe, mas esse vício que é mulher nos deixa cego... Esse foi o meu mal e ele é jogado em minha cara todos os anos.

- Bom, eu prometo não cometer esses vícios, se é o que o senhor deseja... – começa a falar Thiago, sendo interrompido pelo pai.

- Não todos, só não se deixe levar por uma mulher. Não estrague sua vida pelas mulheres da rua...

- Bom... Isso não vai mesmo acontecer... Eu tenho uma coisa para contar – garante Thiago sorridente - Eu estou gostando de uma pessoa.

- Eu sei a filha dos Financhielli, Graziela. Vai dizer que decidiram finalmente casar? – pergunta o pai sério.

- Não, pai. Eu e a Grazi terminamos no Natal – responde Thiago constrangido. - É outra garota... Ela é incrível, o senhor gostará dela.

- De qual família ela é? – pergunta Alexandre.

- Ela não tem família... Nem posses, mas ela é especial – garante Thiago confiante.

- Então está na hora de você voltar – intervém Alexandre sério - Peça a transferência da universidade para a daqui e chega dessa brincadeira de ser independente. Eu preciso de você aqui , bem como sua mãe , os negócios da família. Depois me agradeça por estar livrando você de um golpe.

- Eu não posso voltar pai. Do que está falando? – pergunta Thiago transtornado - EU preciso terminar a faculdade. E, outra, ela não está interessada em dinheiro... Ela me ama. Sem contar que o Ícaro está bem mais preparado do que eu para assumir.

- Um bastardo não assumirá a minha empresa! – grita Alexandre - Ele fará outras coisas. E você não ama essa garota, é só um brinquedo novo. Daqui a pouco você cansa.

- Eu não sou assim... – rebate Thiago.

- O mesmo sangue que corre em suas veias, corre nas minhas, meu rapaz –comenta Alexandre com um olhar malicioso - Você pode ser a cara de sua mãe, mas é igual a mim e sei que no final você cansará dessa garota e logo estará com outra.

- Eu não sou igual a você. Tanto que irei me casar com ela – revela Thiago.

- O assunto está encerrado, Thiago. Você não voltará para aquela cidade e nunca mais verá aquela garota – ordena Alexandre, sem olhar para o filho - Agora vá.

- O senhor não entende... Eu não posso abandoná–la – diz Thiago - Ela... Eu... Nós estamos...

- Thiago, meu filho – interrompe Maria Luísa entrando no quarto. Ela o abraça impedindo de continuar a falar com o pai - Que bom que chegou. Venha, deixe seu pai descansar.

- Agora não, mamãe. – recusa Thiago a afastando. Ele encara seu pai irritado - Tenho que terminar de falar com o papai.

- O assunto foi encerrado há muito tempo – resmunga Alexandre - Se você não quer agir por bem, eu farei as coisas por mal. Saia do meu quarto.

- Venha querido – chama Maria Luísa com um sorriso forçado nos lábios. Ela segura no braço do filho, o conduzindo para fora do quarto - Conte–me, como está Belo Horizonte?

***

- Eu não acredito que ele não quis me escutar – comenta Thiago revoltado, sentando no sofá.

- Seu pai não está escutando ninguém nesses últimos dias – explica Maria Luísa servindo uma bebida ao filho. Ela senta ao lado de Thiago e continua - Então, me diga quem é essa jovem por quem você se apaixonou tão rápido?

- Anna... – suspira Thiago - Ela é incrível, mãe. Eu queria muito que ela viesse comigo, mas... Ela não arriscar.

- Ficou com medo de conhecer o seu pai? – pergunta Maria Luísa, curiosa. - Acho que ela menos corajosa do que a Graziela.

- Não foi por isso – nega Thiago nervoso. Ele passa as mãos na calça antes de segurar nas da sua mãe - Eu sei que deveria ter contado isso antes, mas eu quis falar pessoalmente.

- O que foi? – pergunta Maria Luísa, séria - Aconteceu algo?

- Mãe, eu vou ter um filho – confessa Thiago observando o olhar chocado de sua mãe.

- Oh... Meu... Deus... – exclama Maria Luísa se levantando. Ela vai até a janela, respira fundo e se vira para o filho com um sorriso nervoso - Tem certeza?

- Ela está de três meses agora – revela Thiago - Eu sei que foi rápido, mas é para valer. Eu a amo.

- Contou isso para seu pai? – pergunta Maria Luísa, nervosa. - O que ele disse?

- A senhora me interrompeu e ele não quis me ouvir – responde Thiago chateado - Mãe, preciso da sua ajuda. Eu não posso ficar muito tempo e quero deixar tudo resolvido o mais rápido possível.

- Mas seu pai precisa de você, todos nós precisamos de você aqui... Em Curitiba.

- Eu sei – concorda Thiago se levantando. Ele toca nos ombros da mãe e responde - Eu pretendo ficar apenas dois meses e depois volto para lá... E no fim do ano eu trago a Anna... E o bebê.

- Você está realmente decidido a levar essa relação para o altar? – pergunta Maria Luísa.

- Sem dúvida. Só que com essa história do papai, acabou atrasando um pouco. Mas nós pretendemos casar. Espero que a senhora nos apóie.

- Bom... – começa a mulher de vestido verde musgo servindo outra bebida, agora para si. Ela vira em um gole e pigarreia - Claro que irei apoiá–lo... Sempre. Só acho que não deve contar ao seu pai agora. Espere ele melhorar um pouco, tudo bem?

- Tudo bem. –concorda Thiago - Eu também acho que não o ajuda falando a respeito.

- Só quero que saiba que estou do seu lado – comenta Maria Luísa - Estou feliz por saber que meu filho está crescendo... E formando uma família. Espero conhecê–la o quanto antes.

- A senhora irá amar a Anna. – garante Thiago.

- Eu não tenho a menor dúvida. – afirma Maria Luísa com um leve sorriso nos lábios.

***

Curitiba, setembro de 1998.

Thiago desliga o telefone da sala. Já não tinha mais noção de quantas vezes ligações realizou... Não tinha mais notícias de Anna desde o começo do mês. Sente que há algo errado e que está na hora de voltar.

- Thiago? – chama Maria Luísa entrando na sala - Está tudo bem, meu filho?

- O telefone do meu apartamento não está funcionando... – responde Thiago preocupado - Eu preciso voltar e saber se Anna está bem.

- Mas você falou com ela esses dias – recorda Maria - Tenho certeza que ela está bem. Gravidez não é doença, ao contrário do que o seu pai tem.

- Eu sei mãe. Mas eu quero acompanhar a gravidez da Anna – explica Thiago - Eu vou falar a respeito da gravidez com o pai hoje e sei que ele entenderá.

- Por que fará uma coisa dessas? Quer ver seu pai piorar?– questiona Maria preocupada.

- Claro que não, mas ela precisa de mim. – argumenta Thiago.

- E nós também. Seu pai pode morrer a qualquer momento. – alega Maria Luísa apontando para a porta.

- Estamos nessa desde que eu cheguei. Ele já está bem melhor – argumenta Thiago - Eu realmente preciso saber como a Anna está.

- Eu irei – solta Maria Luísa - Eu irei à Belo Horizonte.

- Vai fazer o que lá, mãe? – pergunta Thiago confuso.

- Vou buscar a sua... Sua... Sua... – gagueja a mãe.

- Anna? – pergunta Thiago arqueando a sobrancelha.

- Isso, eu a trarei para ficar perto Da. Nossa família – explica Maria Luísa apertando os dedos.

- Não precisa fazer isso, mãe. Eu vou e fica tudo certo. – responde Thiago segurando nos ombros de sua mãe.

- Claro que preciso... Ela é nossa família também. – conclui Maria Luísa.

- Mas ela não vai querer... Ela não vai querer incomodar.

- Eu sei como convencê–la, afinal eu também sou mulher e mãe. Agora, somente se preocupe com a transferência da faculdade que em breve todos nós estaremos reunidos. – divaga Maria Luísa

- A senhora não tem idéia do quanto eu fico feliz em ouvir isso. – comenta Thiago abraçando a mãe.

- Só peço que enquanto eu estiver fora, não conte a seu pai sobre isso. – pede Maria Luísa segurando o rosto de seu filho - Espere a gente chegar e todos nós daremos a notícia, está bem?

- A senhora é a melhor, mamãe – elogia Thiago sorridente.

- O que nós não fazemos pelos nossos filhos. – comenta Maria Luísa abraçando Thiago. - Quando tiver o seu, entenderá o que eu digo.

***

Uma semana depois...

- Eu sinto muito, querido – pede Maria Luísa passando a mão nos belos cabelos pretos de seu filho. - Quem poderia imaginar que ela havia perdido o bebê e fugiria com medo de você descobrir? Vai saber se ela realmente estava grávida...

- A Anna não é assim! – grita Thiago levantando da cama - Ela com certeza têm uma boa explicação para tudo isso. EU preciso ir para lá...

- Mas ela não está lá. – retruca Maria Luísa, socando o colchão - Fiz questão de procurar e nenhum vizinho sabe do paradeiro dela. Se quiser, posso colocar um detetive atrás dela... Mas não vai mudar o fato de que ela fugiu de você. A vida sempre nos ensina algo e dessa vez lhe ensinou que nem todos são bonzinhos, de bom caráter, boa índole como gostaríamos que fossem. Eu sei que a ama, mas ela não retribuiu esse amor.

- A senhora não conhece a Anna – rebate Thiago enquanto abre o guarda roupa. Ele começa a jogar as roupas na cama deliberadamente - Eu sei que ela está precisando de mim. Ela deve estar sofrendo.

- O que está fazendo? – pergunta Maria Luísa, observando o Thiago arrumar suas roupas - Não acredita em mim?

- Acredito mãe. –responde Thiago fechando a mala - Mas eu preciso encontrar a Anna. Ela é a minha vida e está precisando de mim mais que qualquer pessoa.

- Com licença – diz a enfermeira batendo na porta - O senhor Alexandre... Acaba de falecer.

Thiago corre em direção a sua mãe que desmaia na cama.

***

Curitiba, novembro de 1998.

Thiago fecha calmamente a porta do quarto de sua mãe. Ela foi a mais afetada com a morte de Alexandre, obrigando–o a se manter constantemente ao seu lado. Porém, sente que deve ir atrás de Anna. Ele começa a andar pelo corredor pensativo quando vê a imagem de um homem de cabelos acobreados e vestindo terno preto no final do corredor. Thiago para por um instante e então reconhece a figura: Seu irmão, Ícaro.

Após a morte do pai, Ícaro decidiu viajar em busca de novos sócios para ampliar a empresa de advocacia da família. Também era uma forma dele espairecer e fugir da dor que estava em seu peito, pois agora só tinha Thiago a seu lado, já que não gostava de Maria Luísa, algo mútuo.

- Meu irmão – fala Thiago abraçando Ícaro - Como está?

- Bem... Um pouco cansado – responde Ícaro sorrindo - Precisamos conversar.

- Vamos para sala – comenta Thiago sussurrando - Não quero acordar mamãe. Foi difícil fazê–la dormir.

***

- Eu tentei encontrar novos sócios, mas quando escutam o meu nome, eles se recusam – conta Ícaro olhando pela janela - Com a morte dele... É como se eu tivesse virado um ninguém.

- Não se preocupe – pede Thiago bebendo uísque - Depois que você se tomar o cargo do papai, eles te respeitarão.

- Eu duvido – responde Ícaro - Escutei rumores de que eles te indicarão ao cargo...

- Não pretendo tomar seu lugar – garante Thiago - A única coisa que eu desejo é a Anna.

- A garota mineira... – recorda Ícaro tomando mais um gole de uísque - Como fará para localizá–la?

- Não sei... A mamãe nesse estado não tem contribuído muito. –responde Thiago com a mão no rosto - Só que cada vez que penso nisso, sinto que estou a perdendo. Ela deve estar com raiva de mim.

- Bom, eu posso ir atrás dela por você – comenta Ícaro, olhando para Thiago - Enquanto isso quero que convença– os de que sou o melhor para a empresa. De acordo? – propõe Ícaro estendendo a mão para o irmão.

- De acordo – concorda Thiago sorrindo, enquanto aperta a mão do irmão - Ela só não sabe seu nome... Eu sempre disse seu apelido.

- Isso me dá até uma vantagem. – comenta Ícaro - Assim poderei comprovar se a história que a Maria Luísa contou é verdade ou não.

- A minha mãe não mentiria sobre uma coisa dessas – defende Thiago.

- E eu não consigo acreditar nela – retruca Ícaro - Estamos empatados. De qualquer forma, só descobriremos quando eu voltar. Pode ter certeza que Minas Gerais será vasculhada atrás dessa Anna. Eu só preciso de uma foto e seus problemas serão resolvidos.

- Obrigado, irmão. Não sei o que faria sem você. – agradece Thiago, emocionado.

- Só faça a sua parte que a minha já estará feita – responde Ícaro.

- Por onde pretende começar? – pergunta Thiago.

- Pelo seu prédio. Alguém deve ter visto sua namorada sair de lá.

***

Curitiba, 26 de dezembro de 1998.

Maria Luísa serve sua quinta taça de gim, quando Ícaro entra na sala abruptamente. Seu rosto revela o que a mulher mais temia: Ele sabe a verdade sobre Anna e o bebê. Ele a encara com os olhos em fúria.

- Onde está o Thiago? – pergunta Ícaro irritado.

- Por que você quer saber? – responde Maria Luísa com uma pergunta.

- Você sabe – responde Ícaro entre os dentes - Sua neta nasceu dia 24 de dezembro... Elas moram há três quadras do prédio de onde você as expulsou.

- Quer dizer que passou o natal lá em Belo Horizonte? – pergunta Maria Luísa bebendo um gole de sua bebida ignorando a revelação de seu enteado. - Interessante.

- Por que mentiu para ele? – pergunta Ícaro irritado – Eu sabia que você era má, mas não a esse ponto.

- Os meus motivos só cabem a mim– responde Maria Luísa, séria - O que pretende fazer? Contar ao seu irmão que eu menti a respeito das duas?

- Basicamente isso – responde Ícaro - Onde ele está?

- Ele já deve estar voltando– responde Maria Luísa sentando no sofá - Hoje foi um dia muito importante... Na empresa.

- DO que está falando, Maria? – pergunta Ícaro, cruzando os braços.

- Enquanto você desenterrava o passado do seu irmão... Ele estava sendo indicado ao cargo do Alexandre. E hoje ele foi nomeado. Pelo visto, as pessoas gostam do que é legítimo ao que é duvidoso. – alfineta Maria saboreando seu gim.

- Eu não acredito em você... Meu irmão jamais me trairia dessa forma – retruca Ícaro, incrédulo - Ele não é como você.

- Então vamos esperar ele chegar a casa e descobrir. Você irá se surpreender – comenta Maria, triunfante.

- Mãe, cheguei – avisa Thiago vindo pelo corredor. Assim que ele chega à sala é surpreendido por Ícaro encarando Maria Luísa - Ícaro? Que bom que você chegou!

- Parabéns meu filho pela nomeação – parabeniza Maria abraçando seu filho - Estou orgulhosa de você.

- Obrigado, mãe – retribui Thiago sem graça diante de Ícaro.

- Então você foi nomeado? – pergunta Ícaro - E aceitou...

- Sim... Olhe, eles me pressionaram... Não tive escolha... –esclarece Thiago - Conseguiu encontrar a Anna?

- Não – mente Ícaro friamente. Ele olha para Maria que sorri - A Maria Luísa estava certa, mais uma vez.

- Puxa... Eu tinha esperança... – começa Thiago, desolado.

- Esqueça – interrompe Ícaro, áspero - Até breve.

- Não vai ficar? – pergunta Thiago confuso.

- Não há nada que me prenda aqui. – responde Ícaro se retirando.

Thiago vai atrás de seu irmão e o encontra já próximo a seu carro.

- Olha... Eu sei que você queria muito o cargo , mas eles pressionaram , ameaçaram... – defende–se Thiago, nervoso.

- Thiago... Eu não estou interessado em saber. Pelo visto, as pessoas gostam do que é legítimo ao que é duvidoso. – comenta Ícaro recordando as palavras de Maria.

Ele sai com seu carro sem dar a Thiago a chance de uma explicação. Seu irmão ficou com a empresa e agora Ícaro ficaria com sua família.

***

Dezesseis anos depois...

Maria Luísa se arrumava no quarto, quando alguém bateu a sua porta. Ela pega sua bolsa preta que combina com seu vestido da mesma cor e a abre, se deparando com Ícaro.

- O que está fazendo aqui? – pergunta Maria arqueando as sobrancelhas.

- Você ainda não contou para o Thiago sobre a Anna. – responde Ícaro entrando no quarto - Já tem um ano que lhe contei que ela está com câncer e você nem sequer teve o bom senso de falar com ele.

- Eu ia contar, mas ele decidiu concorrer às eleições, não quis preocupá–lo com isso – alega fechando a porta.

- Isso é uma vida. Anna está morrendo... Ponha a mão na consciência – grita Ícaro nervoso - A Malú ficará sozinha.

- Se ela morrer, nós daremos tudo o que a menina precisar – responde Maria tranquilamente.

- Ela precisa de uma família! – grita Ícaro. Ele encosta o braço na parede - Droga... Ela precisa de alguém por ela... Da família que lhe foi negada.

- E quem foi que negou isso a ela? – questiona Maria fingindo tentar se lembrar de colocando o dedo nos lábios. Então ela sorri encarando Ícaro - Foi você.

- Eu? – exclama Ícaro, surpreso.

- Sim, você poderia ter contado a ele e não o fez. Nunca o fez e agora quer que eu conte para ele, pois ficou com peso na consciência. Por mim esse assunto... Não precisa ser revelado. – comenta Maria.

- Por mim, sim – retruca Ícaro.

- Então vai lá, conte para ele – sugere Maria Luísa abrindo a porta -Conte que escondeu a família dele por não ter conseguido o cargo de seu pai, por ser tão mesquinho.

- Não vou cair mais nessa. Estou cansado das suas chantagens – rebate Ícaro passando pela porta - Isso é maior do que nós dois. Não me importa se ele irá me perdoar...

- Depois que contar, não há volta – ameaça Maria Luísa, segurando o braço de Ícaro. - Ele não irá te perdoar.

- Nem eu mesmo me daria perdão pelo que fiz – retruca Ícaro puxando seu braço, para surpresa de Maria.

***

Thiago se despedia da família de sua noiva, Graziela, quando Ícaro aparece nervoso, andando de um lado para o outro.

- Está tudo bem, irmão? – pergunta Thiago tocando no ombro de Ícaro.

- Anna está morrendo – revela Ícaro, desesperado - Ela está com câncer, internada no hospital em Belo Horizonte... E morrendo.

- Que história é essa? Do que está falando? – pergunta Thiago confuso - Anna está morrendo...? Como sabe disso? Você a encontrou? Quando... Quando a encontrou?

- Desculpe–me... Eu quis te contar, mas eu não tive coragem... – responde Ícaro, nervoso.

- Quando você a encontrou? – pergunta Thiago estreitando os olhos.

- Eu a encontrei há dezesseis anos. – revela Ícaro exasperado. Ele sorri nervoso e continua falando rapidamente - Ela teve uma linda menina chamada Maria Luísa, nós a chamamos de Malú. Ela tem os cabelos escuros como à noite e os olhos mais azuis do que qualquer céu que nós já tenhamos visto. Ela é dura na queda, esperta e decidida. E a Anna... Nossa... A Anna é uma mãe maravilhosa. Tem a Aline, uma mulher incrível que acolheu às duas quando... Quando... Sua mãe a tocou de casa e eu sou perdidamente apaixonado por ela. Pela Aline e não pela Anna. Anna é incrível, mas o coração dela sempre foi seu. Assim como eu entreguei o meu para a Aline.

- Por que está me contando tudo isso? Como você sabe tudo isso? Você conviveu com elas? Você está me contando que conviveu com a minha família por dezesseis anos?– pergunta Thiago com a cabeça baixa. Ele encara Ícaro que está chorando, se aproxima dele e em um acesso de raiva desfere um soco no queixo de Ícaro, o fazendo cair no chão - Você escondeu a minha família de mim! Como pôde fazer isso comigo?

- Eu sinto muito, cara – pede Ícaro erguendo as mãos ainda no chão – Você não me deu escolha.

- Do que está falando? Que escolha? O que eu fiz para você? – pergunta Thiago confuso

- Você tirou a empresa de mim! – grita Ícaro se levantando - A única coisa que eu poderia ter do nosso pai... Eu queria que você sentisse exatamente a mesma coisa que eu senti. Mas foi antes de eu entrar na vida delas. Esses anos todos me senti um lixo pelo o que eu fiz.

- Você destruiu a minha vida por uma empresa?! – grita Thiago, transtornado. Sem pensar ele começa a bater em seu irmão que não reage as suas investidas - Eu odeio você! Odeio você!

- Pare! – ordena Maria Luísa segurando o braço do filho - Não faça isso.

- Solte–me! – grita Thiago empurrando a mãe no sofá. Ele aponta o dedo para sua mãe, irado – Você presta menos do que ele. Seus lixos! Odeio vocês dois!

Thiago caminha a passos largos em direção ao seu quarto sendo seguido por Maria Luísa. Ela corre um pouco mais, parando em frente ao filho com ar de desespero:

- Aonde vai? O que pensa que está fazendo? – pergunta Maria, desesperada.

- Eu vou atrás do pouco que resta da minha família – responde Thiago empurrando a sua mãe antes de entrar no quarto.

***

Hoje

- Depois disso, comprei uma passagem e vim para cá. – continua Thiago encarando o vazio da rua - Mas era tarde demais para resgatar tudo o que me tiraram. Só me resta Malú e farei de tudo para tê–la comigo.

- Se você pensa que essa sua história irá me comover a ponto de deixar que fique com a Malú... Tenho uma péssima notícia para você: Isso não vai acontecer. – comenta Aline secando seu rosto. Ela o encara, enojada - Isso tudo só me fez perceber o quanto vocês não prestam e quanto farão mal a minha Malú.

- Está declarando guerra? – pergunta Thiago se aproximando de Aline - Pois eu não estou nem aí para quem eu tiver de destruir para ter a minha filha de volta.

- Estou declarando guerra – admite Aline - Porque eu não estou nem aí se acha que tem o direito de ficar com ela.

- Então é guerra – afirma Thiago voltando para o hospital.

Aline respira fundo enquanto deixa suas lágrimas caírem por seu rosto. Tenta processar mais uma vez tudo o que Thiago falou a respeito de Ícaro e só chega a uma conclusão: Precisa tirar a Malú das garras da família Almeida.

            
            

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