Conquistadores de Marte
img img Conquistadores de Marte img Capítulo 4 Usados
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Capítulo 6 Transposição Visceral img
Capítulo 7 A Filha img
Capítulo 8 Revelação img
Capítulo 9 Nebraska img
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Capítulo 4 Usados

Usados da Zoe. Assim se apresentava a placa diante deles, logo que adentraram pelos muros da barricada. Essa era uma muralha bem mais alta e protegida. Ficava na divisa para a entrada do que já tinha sido a cidade de Springfield em Illinois

- O que fizeram com esse lugar? - perguntou Jack. - Como pode estar em uma condição tão diferente de Washington?

É claro que as localidades eram naturalmente diferentes desde antes do início das construções das barricadas, mesmo antes do fim das viagens aéreas. Mas o que Jack estava querendo dizer, o que fez ele se surpreender, era como o oeste estava tão mal cuidado, abandonado e já ali, se aproximando do centro do país, tudo parecia muito mais preservado. Mas as ruas estavam muito mais limpas do que a quilômetros antes. Quase não havia poluição visual e as construções pareciam ter sido planejadas.

- Será que ela vende carros aí mesmo, como mostrar a foto do lado do nome do lugar? - Carol perguntou, enquanto eles desembarcavam.

- Claro que sim! - uma voz respondeu, de forma inesperada. - Oh, desculpe, não foi minha intenção assustar. Muito prazer, eu sou a Zoe - Ela se apresentou.

- Zoe, que boa notícia. Eu sou Jack, esse é Stew e essa é Carol. Estou precisando de um carro novo - ele apresentou todos, indo direto ao ponto.

- Jack, isso é muito bom, muito bom. Mas antes de mostrar o que eu tenho, o Usados da Zoe tem algumas regras. Eu preciso saber o que realmente está procurando. Você sabe que carro novo mesmo é algo que não existe, né? Mas mais novo que esse seu lixo, com todo respeito, eu com certeza posso te vender. Para isso, me mostre dentro de uma intenção de ordem de pagamento, o quanto você está disposto a gastar.

As intenções de ordem de pagamento eram uma espécie de garantia. Ao acessar a aplicação da instituição que administra seu dinheiro, você poderia gerar, sem custos, uma intenção de gastos apenas com recursos que você realmente possuísse. Era quase como um atestado, gerado pela empresa financeira, de que a pessoa realmente teria dinheiro para pagar o que ela estava procurando. Isso era uma garantia de segurança para o comerciante registrado no sistema, que podia exigir tal comprovação, antes de mostrar qualquer produto que fosse vender.

Uma pessoa que não tivesse realmente condições de comprar algo, não gastaria o tempo do vendedor fazendo perguntas ou experimentando e conhecendo novidades, sem a real possibilidade de adquirir o que quer que fosse.

Apesar de Jack ter conquistado uma quantia insana de dinheiro, ele sabia que precisaria desse valor se quisesse mesmo embarcar em um foguete para Marte. Também não fazia ideia do valor que poderia custar atualmente um carro bom. Ele arriscou e jogou para cima, sem exagerar demais. Era uma quantia que poderia impressionar Zoe, na opinião dele, sem parecer loucura.

Mas ao contrário do que Jack imaginou a reação dela foi de alguém completamente alucinada.

- Calma, moça, me explica, minha intenção de compra é boa ou ruim? - Jack perguntou, demonstrando total despreparo para aquela negociação.

- Boa ou ruim? Afinal, vocês vieram de onde? - ela perguntou de volta e ele ficou um pouco receoso de responder.

- Podemos confiar um segredo a você? - Carol continuou o jogo de perguntas.

- Claro, segredo faz parte do meu nicho de negócios. Sem guardar segredos, não vendo carros por aqui - ela respondeu, dando pistas de que os negócios não iam tão bem.

- Nós fazíamos parte da equipe de segurança da última presidente dos Estados Unidos e no momento estamos dentro de uma missão secreta transacional.

A tática de Carol foi boa e fez a iniciativa da mentira de Jack passar para outro patamar.

Primeiro, o fato de fazer parte da equipe de segurança da ex-presidente não era bem mentira, apesar deles terem ficado pouco tempo e estarem sempre muito distantes de qualquer situação do entorno dela.

Já sobre a missão secreta, aquela que foi adicionada ao sistema central, para passagem nas barricadas, estava ligada ao Big M. Ao falar que a missão secreta era transacional, ela dizia que não podia revelar para qual das duas grandes empresas trabalhava e isso diminuía os riscos.

Nos Estados Unidos apenas a Big M e a High A ainda existiam oficialmente. Elas dividiam o poder de domínio no território americano e de boa parte de todo o mundo. Sem dúvida, e de longe, eram as empresas mais poderosas e influentes. Mas em algum nível elas ainda eram concorrentes, apesar de uma série de acordos de "cooperação" e "boas práticas" que nada mais eram do que negociatas para terem maior vantagem é não perderem dinheiro competindo entre si.

Mas ainda assim haviam as chamadas missões secretas transacionais. Nessas missões não poderia haver nenhum vazamento de informação pois poderia prejudicar o desenvolvimento de alguma investigação ou estratégia. Não podia ser dito sequer de qual empresa era a missão. Havia um contrato entre elas garantindo esse tipo de sigilo, contanto que as missões não fossem de ataque contra a concorrente.

De qualquer forma, era uma boa tática, pois evitava uma série de perguntas.

- Nem acredito que vocês vão salvar meu mês. Olha, estava muito difícil. De qualquer forma vocês não vão gastar tudo isso, mesmo que eu consiga liberar o melhor carro que tenho disponível e para isso, nós precisamos convencer o ex-prefeito. O carro é dele e a mulher quer vender. Ele não quer de jeito nenhum, mas ela disse que se eu conseguisse um comprador, ele venderia. - ela explicou a situação.

Do mesmo modo que existia um sistema que evitava trabalho o perdido por parte dos vendedores, o mesmo sistema fazia um controle de preços. Os itens catalogados tinham preço pré-fixado que impedia sua modificação na base da negociação. Isso impedia que, ao divulgar o valor que se pretendia gastar, o vendedor superfaturasse o negócio.

- Se não houvesse o sistema anti-fat vocês poderiam convencê-lo oferecendo mais dinheiro. Mas eu acho que um pouco de conversa pode ser suficiente. O segundo da lista vai estar muito longe do que eu acho que você precisa. - Zoe explicou.

- Eu não vou vender, já disse! - dizia o idoso, assim que eles chegaram.

- Mas deixe de ser teimoso, homem, a Zoe trouxe o comprador. O dinheiro pode mudar esse fim de vida que nos resta. Podemos ir para o campo. Não fazer mais nada da vida - a esposa dele tentava argumentar.

- Como vamos sem carro? - ele respondia, mais criando empecilho do que realmente interessado em uma resposta.

- Eu não usarei mais o meu. É bem velho, mas funciona muito bem. Posso doar em contra-partida. - Jack achou um ponto que poderia ser a chave da negociação. Doações eram muito raras, ainda mais de um carro, mas eram permitidas. Era uma boa forma de se negociar. O escambo no comércio de usados era muito forte.

Ele deu uma volta ao redor do carro que em seus tempos áureos era muito cobiçado.

- Pra dizer a verdade eu sempre quis ter um desse. Foi um dos últimos a ser produzido com esse tipo de potencia de motor. O meu é um dos poucos que se parece ainda com um desses. Claro que muito mais novo. Mas e se quebra? - ele continuava botando problemas, mas tinha ficado mais balançado dessa vez.

- Zoe, você acha que consegue uma carta de seguro para meu carro antigo? - Jack perguntou.

- Aqui, é essa! - Zoe mostrou na tela. - Mas não é muito barato, não - Realmente, o valor de seguro para aquele carro era quase metade do que ele estava disposto a pagar no próprio carro. Eu estava quase fechando o negócio quando o fato de vendedora de Zoe falou mais alto. - Você pode fazer um contrato, emitindo uma ordem de compra condicionada. No caso de quebra do carro, você garante a aquisição de outro similar para ele. Garanto que eu conseguiria pelo menos dois carros nesse preço do seguro. E esse valor é anual.

Zoe conseguiu convencer tanto Jack quanto o ex-prefeito e o negócio foi fechado. Era hora de seguirem viagem.

            
            

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