- Eu quero desde o dia que coloquei meus olhos em você.
Não demora muito para que eu tome seus lábios para mim. Parece estranho, bom, não sei como descrever, a única coisa que sei, é que me sinto leve. Seus lábios são tão macios. Sugo seu lábio inferior com um desejo que desconheço, enquanto envolvo minhas mãos ao redor de seu pescoço, e ao mesmo tempo sinto suas mãos brincarem com meus cabelos. O beijo vai se intensificando, e ele pressiona meu corpo entre a porta, atrás de mim, sua mão que brincava com meu cabelo vai descendo por minha cintura, e... De repente sinto alguém batendo fortemente em meu ombro.
- Will, acorda! Eu quero aquele relógio amarelo emprestado...
Abro meus olhos com dificuldade, não estou no set de gravação. Estou em meu quarto. Quer dizer que tudo foi um sonho? Pergunto e encaro minha irmã, que me olha sem entender nada.
- Com o quê você sonhou? - me pergunta com um sorriso cínico estampado nos lábios.
- Nada, eu não sonhei com nada!
Lyn me observa atentamente.
- Se não sonhou com nada, por que está assim? - pergunta e aponta para baixo, vejo que meu corpo está descoberto, e percebo para onde aponta, minha cueca.
- E só uma ereção matinal, nada demais. Você não devia estar no seu quarto?
Ela levanta, entra no closet. Sento na cama, e leio as mensagens em meu celular. Não demora muito para que saia do closet com o relógio.
- Se era uma ereção matinal, por que você estava gemendo? - pergunta, e olho em sua direção, pego o travesseiro e jogo, ela sai correndo e sorrindo como sempre.
[...]
"Foi apenas um sonho, nada demais!"
Repito como um mantra até o caminho para o set de gravação, além de respirar fundo. Isso não tem cabimento, por que estou pensando nisso? Repita, Will... Ele é um cara, e você gosta de garotas! Paro no sinal e observo o trânsito à minha frente, e a imagem da boca de Nate torna a voltar à minha mente. Bato na direção. O que há comigo? Já sei que preciso de música para esquecer essa bobagem. Conecto o celular, e a primeira que toca é uma música que está presente na trilha sonora da série, a letra é bonita demais.
Talvez seja porque você me conheceu por acaso,
Talvez estamos juntos por acidente,
É isso, ou talvez você nunca tenha experimentado esse sentimento,
E eu também não sabia como era....
Cantarolando o refrão percebo que a letra não está ajudando, e eu torno a pensar nele.
[...]
As gravações continuam indo bem. Desde que tive aquele sonho estranho com o Nate, tenho evitado estar tão perto dele, quando saímos geralmente convido alguém do elenco, embora ele tenha me questionado se há algum problema em sairmos sozinhos, e eu tenha negado. Sei que não é primeira vez que isso me acontece, já estive entusiasmado por um cara antes, mas evitei ao máximo qualquer contato diferente com ele. Foi na época da escola, isso já tem um tempo, e para esquecer aquela loucura comecei um namoro com uma garota linda, que era apaixonada por mim, e logo em seguida aquele entusiasmo foi passando, embora eu tenha sofrido um pouco por me sentir atraído por um garoto. Pensando nisso, talvez namorar uma garota seja uma boa opção, mas se eu começar um namoro com alguém agora terei problemas com a emissora, afinal atores de BL não podem namorar quando estão sob um contrato vigente. As fujoshis precisam ser alimentadas por um possível romance entre os atores, pelo menos é isso que escuto nesse nicho, mesmo que ache errado, isso não vai mudar da noite para o dia.
Já fazem algumas semanas que não saio sozinho com o Nate, tenho evitado até dar carona a ele, entretanto, isso não tem ajudado, continuo pensando nele, e no sonho. O pior é que as gravações do episódio 5 estão bem próximas, e é exatamente isso que também vem me atormentando, o script que recebi descreve várias cenas, incluindo um beijo no final do episódio. Caminho até o estacionamento, sai antes que todo mundo. Quando me aproximo do carro, sinto uma mão encostar em meu ombro. Viro, e tento não demonstrar meu desconforto, mas acho que não deu muito certo.
- Nossa, você parece incomodado comigo! - Nate diz enquanto me observa atentamente. - Will, se eu te fiz alguma coisa, por favor, seja sincero e diga!
Tenho vontade de rir, e de chorar ao mesmo tempo. Logo ele está me perguntando isso? Gostaria de ver a cara dele se eu dissesse que o evitei, porque tive um sonho bem diferente com ele, e ainda acordei duro. Qual seria a reação dele?
- Não precisa se preocupar, você não fez nada pra mim... - é apenas eu, e a minha vontade de te beijar em sonho, ou na realidade? Will, por favor, você está diante dele!
- Eu pensei que tivesse dito algo que você não gostou, sinto que está distante, parece que quer evitar minha presença, e... - eu quero Nate.
- Não estou te evitando, só ando um pouco cansado demais! Acho que preciso ir agora...
- Espera! Que tal jantarmos amanhã na minha casa?
- Na sua casa?
Eu o evitei por um bom tempo, e ele me convida para jantar na casa dele... O que eu faço?
- É... Na minha casa! Sabe, a minha mãe quer te conhecer, e...
- A sua mãe quer me conhecer? Por quê?
- Porque sempre falo de você pra ela, e ela disse que já está na hora de conhecer meu namorado! - fala, e sorri de um jeito bem travesso, enquanto eu quase passo mal.
- O quê?
- Desculpa, é assim que ela te chama... No início, eu não gostava muito quando ela dizia "Cadê seu namorado?", mas agora acho divertido. - escuto falar isso, e me sinto feliz por estar encostado no meu carro, sem ele aqui eu já teria caído para trás.
[...]
Eu não consegui inventar uma mentira plausível para convencer o Nate de que não poderia conhecer minha "sogra". Então no horário combinado, lá estava eu, diante de sua porta, segurando uma garrafa de vinho francês de um lado, e a insegurança do outro. Antes que eu toque a campainha, a porta é aberta por uma mulher aparentemente de meia idade, cabelos na altura dos ombros, rosto redondo e olhos puxados feito os meus. Ela sorri alegremente para mim.
- Você é pontual, fico feliz que veio!
- Obrigada! Eu trouxe esse vinho, não sei se a senhora gosta...
A mãe de Nate me convida para entrar, e me deixa extremamente confortável. Ela é tão alegre, carinhosa, não é toa que ele fala o tempo dela com muito carinho. Em sua fala dá para perceber o quanto se orgulha do único filho, e o quanto ela deve ter lutado para criá-lo sozinha. O jantar foi uma delícia, juntamente com a conversa, nunca sorri tanto em um jantar em família, a mãe de Nate contava algumas peripécias do filho, e também contou detalhadamente, de forma divertida como ela recebeu a notícia de que o filho atuaria em um BL, com isso, ele pergunta algo.
- O que os seus pais acham disso tudo? - escuto sua pergunta, a encaro, e o meu sorriso se vai. Mas ela parece saber que há algo de errado. - Eles não aceitam sua profissão, ou não sabem que você está atuando em uma série BL?
- As duas coisas. Eles nunca aceitaram o fato de eu estudar teatro, fiz o curso escondido deles, tive que inventar muitas mentiras para conseguir o papel na série. Eles sabem que estou atuando, mas não sabem que a série é uma drama BL.
- Já tentou contar para eles? - Nate pergunta interessado.
- Ainda não, acho que vou contar quando o primeiro trailer for lançado. Não vai ter como eles me impedirem, a série já vai estar praticamente toda gravada, eles não vão ter o que fazer...
- Mas eles te impediriam?
- Eu não sei se o Nate já comentou com a senhora, mas minha família tem um patrimônio bem estimado dentro e fora do país, e dinheiro nunca foi problema na minha família, então, eles poderiam pagar a multa rescisória e me tirar desse projeto sem que eu soubesse. Por isso, eu quero que descubram quando já estiver quase tudo finalizado, sei que será difícil, mas até agora não descobriram nada.
[...]
A conversa com Nate e sua mãe sobre os meus dramas familiares foi muito reconfortante. Sua mãe me deu muitos conselhos sobre meus pais, mas sei que ainda não estou preparado para contar. Nate me convidou para passar as falas do quinto episódio em seu quarto. Confesso que isso não me agradou muito, pois tenho evitado qualquer contato mais próximo, mas parece que é algo inevitável no momento.
- Acho que o Wanchai deve ter algum problema, não é possível que ele não entenda que o Thirasak aceitou o namoro falso porque há algum interesse amoroso... Não é possível! O que você acha, Will? - me pergunta, observo seu quarto, e lembro da cena que gravamos, quando o Wanchai conhece o quarto do Thirasak. - O que foi? Você parece prestar mais atenção ao meu quarto do que em mim!
- É que eu lembrei quando o Wanchai conheceu o quarto do Thirasak... Mas não se preocupe, seu quarto não se parece com o dele. - digo, e ele sorri. - Gostei da decoração, as miniaturas de carros nas pranchas, sua cama não é no chão como a dele, as paredes, as cortinas e os móveis todos brancos. Na casa do Thirasak é tudo escuro, quando li a novel pensei que ele fosse um vampiro.
Eu e ele caímos na risada. Acho que quando terminarmos as gravações sentirei falta das nossas conversas, das suas gargalhadas, do seu sorriso, do... Will, é melhor parar! Ele deita na cama, e lê algo do script.
- Essa parte é muito triste, não sei se tenho vontade de matar o Wanchai, ou de beijá-lo.
Encaro seu rosto, ele parece pensativo, e eu extremamente perdido, acho que é melhor ir embora, o evitei por um tempo, e agora estou aqui em seu quarto, e ele fala algo assim, minha cabeça confusa não aguenta isso. Antes que eu faça qualquer coisa, ele se antecipa.
- Will, olha isso!
- O quê? - digo e ele me puxa para deitar ao seu lado. Que droga, Nate, você não colabora! Deito, e o encaro. - O que é tão interessante?
- A fala do Wanchai, ele diz que vai dar em cima da garota, mas ele está percebendo que o Thirasak está mal por ele, e...
Enquanto ele fala da sua indignação pelo meu personagem, o encaro. Seu rosto está a poucos centímetros do meu. Nossa, como ele é lindo! Sua boca é linda, parece tão beijável... Para, Will! Meu coração está batendo desenfreadamente, ele para de ler o script e seus belos olhos me observam com curiosidade, sinto uma vontade incontrolável de beijá-lo, é mais forte que eu, levo minha mão ao seu rosto, e o acaricio, ele me olha assustado. Talvez esse possa ser o momento perfeito para um beijo? Não sei, mas antes que eu faça qualquer movimento, somos surpreendidos por alguém que entra no quarto sem bater.
- O que está acontecendo aqui?