Capítulo 5 Há algo de errado com ele

Will

Respiro fundo ao deitar a cabeça em meu travesseiro. Minha noite foi intensa. Começou com um momento divertido durante o jantar, e terminou com uma situação bem desagradável no quarto do Nate.

"O que está acontecendo aqui?", essa frase soou tão acusatória, como se estivéssemos fazendo algo de muito ruim. Tudo bem, que eu estava acariciando seu rosto, mas acho que amigos podem fazer isso, ou não podem? Eu sei que senti uma vontade incontrolável de beijá-lo, mas não o fiz. O problema é que fomos surpreendidos por alguém que eu não sabia que ainda fazia parte da vida dele. Sua namorada.

Sua presença nos pegou de surpresa, rapidamente tirei minha mão que acariciava o rosto dele, e ambos sentamos na cama, a garota parecia enfurecida, adentrou o quarto como um foguete. Nate se levantou, e em seguida me olhou bastante constrangido pela atitude da garota. Vendo sua reação, me levantei e fiquei parado sem saber o que fazer.

- Precisa desse desespero todo para entrar aqui? - Nate falou enquanto ela me encarava com um olhar bem desagradável.

- Desde quando eu preciso de convite, ou medir o modo como entro no quarto do meu NAMORADO? - ela deu muita ênfase à palavra namorado, e fez questão de me olhar enquanto falava.

- Você está muito enganada, isso não é modo de entrar no meu quarto, e ainda grita, faz toda essa cena na frente do Will? Você está errada, sim!

Antes que ela o respondesse, a mãe do Nate entrou no quarto para tentar apaziguar a situação.

- O que está acontecendo? Mali, eu te disse que o Nate estava passando o texto com Will, precisava tudo isso?" - ao ouvir isso, a garota encara a sogra com um olhar nada amigável.

A situação com a namorada do Nate foi inusitada, não esperava encontrá-la, na verdade sempre achei que ele tinha terminado o relacionamento, ele nunca falou nela. A forma como ela olhava para a sogra, e para mim não era nada boa. Saí de lá com uma sensação estranha, como se eu tivesse perdido algo.

[...]

O caminho até o set de gravação é longo. Lembranças da noite que tive vem à minha mente. A raiva estampada no rosto da garota, o constrangimento do Nate, e a confusão de sentimentos que me invadiram desde minha saída, até cair num sono profundo. Minha mente está confusa, sinto algo muito estranho, eu não sei o que é, mas sei que não gostei de vê-lo com a namorada. Passamos parte do dia gravando na Universidade Chulalongkorn, lugar que será palco da maioria das cenas da série. Sinto que há algo com Nate, ele parece querer falar, mas não tivemos oportunidade.

Os dias foram passando, ele não tocou no assunto, e eu muito menos. Mas venho observando algo a respeito dele, está sempre dormindo pelos cantos, senta em qualquer lugar e dorme, mesmo que esteja desconfortável. Resolvi que deveria presenteá-lo com algo para esquecermos o constrangimento que se instalou entre nós dois. Assim que cheguei ao set, procurei por ele. Estava deitado sob um pequeno colchonete, bem desconfortável, em uma das salas da universidade.

Aproximo, ele dorme profundamente. Parece tão frágil, tão inocente... Sua boca mais uma vez é convidativa aos meus olhos. Mordo meus lábios ao observar. O que é isso? Balanço minha cabeça em negação. Aproximo-me ainda mais, e me agacho, toco levemente seu rosto, sua pele é tão suave. Acaricio levemente seu braço com o intuito de acordá-lo, mas não obtive sucesso. Balanço seu braço e chamo seu nome.

- Nate, acorda! - ele continua dormindo. - Nate, acorda! - chamo mais alto, e balanço com mais força seu braço.

- O que foi? - pergunta, e abre os olhos vagarosamente, se levanta, senta e me olha sem entender o que está acontecendo. - Ah, é você? Só vamos gravar daqui a uma hora, por quê você me acordou?

- Desculpe, é porque eu queria te dar uma coisa... - digo, e entrego o pacote ao meu lado.

- O que é?

- Abre... Acho que você vai gostar!

Abre o pacote, e me encara confuso.

- Sei que parece estranho, mas te vejo sempre dormindo aqui pelos cantos, pelo menos agora você terá uma cadeira desmontável, que vai poder montá-la para dormir onde quiser, e vai ser mais confortável...

- Nossa... Gostei do presente! - rapidamente levanta, arma a cadeira e senta-se, e me olha com um sorriso nos lábios. - Gostei mesmo, valeu!

- Fico feliz que tenha gostado! - falo, levanto para deixá-lo dormir mais um pouco, mas ele segura minha mão. Algo tão bobo, mas sentir sua mão segurando a minha me deixa um pouco apreensivo. Encaro seu olhar, que parece suplicar por algo.

- Will, espera! Eu preciso falar com você. - diz, solta minha mão, e torno a me agachar e sentar ao seu lado. - Acho que te devo desculpas, desde aquele dia não consegui falar com você, e também não tive coragem de tocar no assunto...

- Tudo bem , eu entendo...

- Não está nada bem. Eu me senti muito constrangido. Acho que você não merecia aquela cena toda, e mal tive oportunidade de te acompanhar até o estacionamento do prédio, e também achei que você estivesse com raiva de mim!

- Nate, eu não estava com raiva de você. Achei que estivesse chateado, então achei melhor te dar espaço. Não se preocupe, entendo sua namorada, a reação dela é normal, acho que não deve ser fácil para ela, você não tem tempo de vê-la, mas fica andando comigo para vários lugares, e..."

- Não, mas mesmo assim, Mali não precisava fazer todo aquele escândalo. Não estávamos fazendo nada, e além disso, muito antes de tudo, eu pedi um tempo...

Essa é uma daquelas notícias que te pega de surpresa, não sei o porquê, mas tive vontade de sorrir.

- Nossa, que bo... Digo, que pena! Mas, o que houve? Foi por causa da série? - pergunto, mesmo sabendo que não tenho direito de questionar sobre isso, mas preciso aproveitar que ele está disponível para falar sobre assuntos pessoais.

- Não. Nosso relacionamento estava desgastado, então pedi um tempo para avaliar o que sinto, mas não tem ajudado, acho que ando mais confuso...

- Confuso, por quê? - minha pergunta foi direta demais, ele me encara de um modo estranho, como se estivesse com medo de algo, ou talvez não quisesse falar o motivo de sua confusão. - Desculpa, se eu pareci invasivo!"

[...]

Durante o resto do dia gravamos muitas cenas, tivemos alguns intervalos, mas Nate não falou mais nada sobre o que conversamos, ou o motivo que vinha causando confusão. Então, achei melhor deixar tudo isso quieto.

Confuso, confuso, confuso. Essa palavra não sai da minha cabeça, assim que as gravações do dia terminam, todos se dirigem ao estacionamento, me despeço de todos, e encaro Nate que me olha de um modo estranho, ele parecia querer me dizer alguma coisa. Dei as costas, e abri o carro, e ouvi sua voz do outro lado do veículo.

- Will, você pode me dar uma carona? - seu pedido me pega de surpresa, mas balanço a cabeça em sinal de positivo.

Durante o caminho ele fala pouco, só responde o que pergunto, e me pede para ligar o som. A música que toca coincidentemente fala de alguém que está perdido em sentimentos, e não tem coragem de assumir o que sente.

Tente se encontrar antes que seja tarde demais,

Se você acha que ele é o único,

Não fique com esse sentimento guardado só para você,

Talvez você tenha achado o que tanto precisava...

A letra me faz cantarolar. Paro no sinal, e não estou sozinho, Nate também canta junto comigo, olho para ele, sorrio, e a última parte do refrão nos deixa constrangidos, pois, ambos nos encaramos, e consequentemente abaixamos o olhar, ela me parece muito sugestiva em relação ao que ando sentindo. Não tenho mais coragem para encará-lo. Ele também não me fala mais nada, e apenas olha pela janela. Fico extremamente agradecido quando chego em frente ao seu prédio.

- Will, valeu pela carona! - ele diz e tenta soltar o cinto, mas há algo de errado com ele, parece estar atrapalhado com algo tão simples. Sorrio, aproximo para ajudá-lo, mas Nate me olha de um jeito assustado, e fala um pouco desesperado. - Não precisa, eu consigo!

- Deixa eu te ajudar... - digo e levo minha mão para tentar soltar o cinto, e é nesse momento que nossas mãos se tocam, o encaro, seu rosto está muito próximo ao meu, e encontro algo que não esperava, e o olhar intimidador de Nate não está lá.