Capítulo 4 4

CARLA

Há pouco tempo, deixei minha filha na escola, já são oito e meia da manhã e estou morrendo de sono; cuidar de uma casa, da filha e ainda procurar emprego me esgotou, mas ser mãe é assim mesmo, a gente nunca para. Agora sim, entendo minha mãe.

Rio com esse pensamento e me levanto, vou até à mesa e tomo um café com leite, está uma delícia.

Assim que termino e me sento no sofá, meu celular começa a tocar.

Quem será? Minha mãe me telefona só quando quer falar com a neta ou me chamar para ir vê-la, será que é isso?

Eu olho a tela e é um número desconhecido, resolvo atender e uma voz feminina diz.

- Bom dia, senhorita Carla, vi que mandou um currículo à empresa Empório Glamour. Sou Mariana, a secretária do Juan. Tem um minuto, senhorita?

Eu me mexo no sofá toda inquieta, não acredito que vão me entrevistar, isso é demais. Eu a respondo toda feliz, mas mantendo a postura.

- Sim, claro, Mariana.

- Então, o senhor Juan, dono da empresa, quer te entrevistar dentro de uma hora, a senhorita poderia comparecer?

Uma entrevista hoje? Mas que maravilhoso! Fui abençoada, só pode ser isso.

- Claro, estarei aí.

- Sabe o endereço?

- Sei sim. -- Respondo escondendo meu sorriso.

- Certo, irei te esperar no segundo andar na entrada, certo?

- Certo, muito obrigada.

- Até daqui a pouco, senhorita, por nada.

Desligo o telefone toda contente. Céus, isso é demais, perfeito. Estou tão feliz...

Começo a me arrumar rapidamente.

****

Já me arrumei e estou esperando o Uber. Fico na portaria o esperando e assim que avisto um Ford Chevrolet preto, aceno para o motorista e entro no carro, digo meu destino a ele e seguimos para a empresa. O motorista troca algumas palavras comigo para ser gentil e o respondo da mesma gentileza. O trânsito até que está calmo hoje, isso é muito bom. Fico olhando pela janela a movimentação e tento controlar meu coração, pois esse emprego pode me ajudar muito, dar uma vida melhor para minha filha. Posso juntar dinheiro e ela terá uma boa grana para sua faculdade e afins; isso é bom demais, nem acredito nisso.

Assim que chegamos eu pago o Uber e entro na enorme empresa, é linda demais. Assim que entro digo quem sou à recepcionista e ela me informa que a senhorita Mariana está me aguardando no segundo andar.

Todos os funcionários dessa empresa usam roupas lilás e roxo, lilás para as mulheres e roxo para os homens, é uma cor linda, e a decoração da empresa é linda demais; espero que dê certo esse emprego.

Vou até o elevador e aperto o botão para me levar ao segundo andar.

Seja o que Deus quiser...

Fico inquieta no elevador, caramba tenho de me acalmar, respiro fundo e olho para cima, o elevador se abre e uma mulher acena para mim, deve ser a tal Mariana. Ela é um mulherão, é muito linda mesmo.

Sorrio para ela e a moça gentil diz.

- Bem-vinda Carla, por aqui, por favor.

Ela me leva pelo corredor até um porta enorme à esquerda. Abre a porta para mim e pede para eu entrar; sigo pelo porta sem jeito e a voz da Mariana surge de novo.

- Senhor, a Carla chegou. Com licença.

Vejo ela desaparecer atrás de mim e na minha frente um homem alto, bronzeado, de óculos escuros, terno elegante e uma boca bem carnuda.

Ele tira seus óculos e pede para eu sentar.

Eu obedeço e ele diz:

- Bom dia, Carla, tudo bem?

Eu olho para seus olhos bem castanhos e respondo.

- Bom dia, senhor. Bem e você?

Por ser um dono de empresa acho estranho ele me entrevistar, será que está desesperado?

Fico me perguntando, mas sua voz me distrai.

- Muito bem. Então, sobre seu currículo, eu gostei muito do que li. Quero que faça um teste para mim: vou te pedir para fazer um projeto, se eu aprovar você ganha o emprego. Você tem o resto da semana para fazer o projeto e no sábado a gente marca de se encontrar para você mostrá-lo. O que acha??

Será que essa é uma boa para mim? Aceitar esse emprego? Esse trabalho foi o único que surgiu tão rapidamente, deve ter um motivo então.

Eu penso por mais alguns minutos e digo, cruzando as pernas e olhando para os olhos castanhos do homem à minha frente.

- Certo, eu concordo então.

O homem sorri mostrando seus belos dentes, pega algo em sua mesa e me entrega seu cartão, eu pego de sua mão e vejo seu nome e seu contato.

Juan Fernandez Wilson, nome bonito. Ele parece meio jovem para ser dono de uma empresa; bom, eu só acho.

- Bem, esse é meu contato, senhorita Carla. Como já temos seu e-mail eu vou te mandar detalhes para o projeto mais tarde? Aceita um café, uma água?

Eu olho para sua enorme sala e peço um café.

Ele vai até outra mesinha que há em seu escritório e me serve um café. Eu agradeço e bebo um gole, está bem quente e forte, do jeito que gosto.

Ele começa a falar após se sentar.

- Vi no seu currículo que tem uma filha.

Ele tenta puxar assunto. Eu o olho e respondo educadamente.

- Sim, tenho, Amanda tem 3 anos de idade, ela é um amor.

Ele sorri e comenta novamente.

- Então seu marido supostamente te apoia, sim? Em seus planos, em ter um bom trabalho...

Eu o respondo bem rápido.

- Não sou casada, até devia estar, mas meu ex e eu não demos certo, é complicado.

Termino de beber meu café e me levanto, dizendo.

- Muito obrigada pelo café, mas não quero mais atrapalhar o senhor, que deve ter coisas a fazer aqui. Vou me retirar.

Ele diz com uma expressão triste.

- Desculpa se te ofendi Carla, não era minha intenção, só queria saber mais sobre você.

Diz ele se lamentando e eu vejo em seus olhos o quanto é sincero, isso é bom, mas devo ir, não quero mais o atrapalhar.

- Não ofendeu, está tudo bem. Desejo um ótimo dia ao senhor. Assim que me enviar todos os detalhes do projeto já irei iniciar.

Ele sorri para mim e me conduz até a porta.

- Tenho certeza que vou amar seu trabalho. Vou te acompanhar até o elevador.

Ele me guia pelo corredor até o elevador, que está logo à frente, aperta o botão para o elevador descer e diz, se despedindo.

- Tenha um ótimo dia também. Até breve, senhorita.

O elevador se abre e entro.

- Até mais, senhor Juan.

As portas se fecham e suspiro aliviada.

Ainda bem que me livrei de contar sobre minha vida a esse homem. O que seria estranho por sinal.