Capítulo 4 O Velho Advogado

- Você vem produzida desse jeito para dar aula na faculdade? A Catarina que eu conheci jamais faria isso... A não ser... - Chris recepcionou Catarina diante do helicóptero, dessa forma. Depois de anos sem vê-la, seu primeiro impulso foi fazer aquele comentário. Ele pelo menos desceu, para que pudesse, após a frase, cumprimentá-la com um beijo no rosto e um aperto de mão. Havia mandado mensagem para que ela subisse ao heliponto. De certo, pensou que seria muito mais impactante essa imagem de reencontro.

- Minhas alunas insistiram em me maquiar, acreditando que eu poderia conquistar um bilionário, ou que isso pudesse ser do meu interesse. Eu acabei aceitando, pois não faço ideia de onde esse maluco que me tirou do meio de minha aula pretende me levar. Se for a respeito de algum caso jurídico importante, o que eu suponho que seja, eu precisava ao menos estar apresentável. - Catarina explicou-se, com os dois já devidamente sentados, seguros e em voo.

- Desculpe, Catarina, você tem razão, nem te falei nada. Esqueço desse detalhe que mulheres precisam se arrumar de formas diferentes para cada situação. - Catarina pensou em rebater aquela fala, mas preferiu não entrar no mérito, pelo menos naquela hora. Estava mais interessada em saber do que se tratava aquilo tudo. - Aparentemente, meu pai caiu numa cilada. - Ele começou, entregando para ela o envelope, que ela abriu e começou a ler, por cima. - Estavam claramente armando um esquema para cercá-lo de vários lados, sem que ele percebe-se, fazendo parecer um aproveitador, preparando pegar tudo que ele tinha assim que morresse.

- É, Chris, você pode ter razão nessa sua leitura, mas o cenário não é nada bom. Existem boas chances deles conseguirem convencer o juiz de que seu pai foi culpado. Sem ele para se defender, com possíveis provas armadas que desconhecemos, a situação parece complicada... -

Catarina lia os documentos que Chris entregou e ainda falava quando Chris a interrompeu:

- Eu não estou indo atrás de você para me dizer que eles podem convencer o juiz, estou buscando alguém que eu confie e que seja capaz de garantir que isso não vai acontecer, se você não é essa pessoa, devo ter me enganado sobre quem procurar...

- Já terminou? Não fui eu quem fui atrás de você. Se acha que errou na sua escolha, me leve de volta agora. Não estou aqui para lidar com um garoto mimado, que nem parece o homem que conheci na faculdade, que parecia pelo menos um homem. Se você quer garantia de alguma coisa, descubra se você pode comprar o juiz ou o lado contrário. O que não te garante que depois disso, esse crime não te atormente no futuro, de alguma forma. Fora isso, dentro da lei, posso buscar todos os mecanismos possíveis para montar uma boa defesa, mas para isso preciso do recurso mais valioso que existe....

- E o que seria?

- Informação... Era o que eu ia dizer em seguida. Até onde eu saiba, o advogado de seu pai era o renomado Dr. Arnaldo Campos. Imagino que você deva ter algum motivo para desconfiar dele, já que veio me procurar. Ainda assim, acho que ir até ele seja o primeiro caminho a ser seguido.

- Esse é o destino desse helicóptero no momento. Mas eu achei que precisava de alguém em quem eu pudesse confiar para ir comigo. - Chris pareceu satisfeito, afinal, pela conclusão dela.

- E o que te fez pensar no meu nome? Tão poucas pessoas te mandaram pêsames pelo falecimento de seu pai, assim? Como alguém com quem você passou uma noite e viu mais outras pouquíssimas vezes, pode ser de tanta confiança? - Catarina ficou curiosa.

- Pelo contrário, não cheguei nem a ler todas as mensagens. Mas me lembrei de alguns detalhes em você que me causaram a impressão de que posso confiar na sua palavra e na sua habilidade de defesa. - Chris não quis mencionar o fato dela não ter o procurado depois de ficarem juntos.

- Pesquisou e viu o caso dos Fósters, né? Realmente, foi bastante relevante, ninguém esperava que eles ganhassem a causa. - Chris concordou com a afirmação dela, mas de verdade sequer tinha se aprofundado nos detalhes das vitórias da doutora.

Chegaram no magnífico prédio dos escritórios de advocacia, do qual seu pai também era sócio e desceram. Chris havia tido um pouco de dificuldade inicial para marcar hora, mas soube usar seu estilo peculiar para convencer o secretário dele.

Ao descerem do helicóptero, Catarina se desequilibrou e ia cair, não fosse pela rapidez com que Chris se virou e conseguiu segurá-la, trazendo-a para junto de seu peito, abraçando-a.

O momento durou um pouco mais do que deveria, os olhos se encontraram mais demoradamente, as respirações se misturaram, com a proximidade das bocas. O perfume dela, doce, era absolutamente atraente aos sentidos dele e o cheiro natural de Chris, misturado com um leve toque de loção pós-barba e do perfume intenso, mas em pouca quantidade que usava, quase fizeram ela perder mais ainda o chão que praticamente não estava mais aos seus pés. Ela apertou o braço dele, para se apoiar, e notou como ele estava bem mais forte do que ela se lembrava.

- Cuidado, Doutora, não quero arrumar mais problemas. - Chris disse, com seu sorriso que sabia que era sedutor, deixando no ar qual exatamente poderia ser o problema ao qual ele se referia.

- Tem razão, nada de problemas extras! Obrigada por me segurar. Obrigada... - Catarina ainda estava um pouco afetada pela situação, mas saiu na frente, andando rapidamente, buscando se afastar como um viciado evitando sua droga.

Chris apertou um pouco o passo para segui-la, mas não tão de perto, preferiu deixar uma distância segura para acabar com o clima.

Desceram e logo foram atendidos pelo Dr. Arnaldo, que já os esperava.

- Meu querido, meu querido Christopher! - O abraço animado mas um pouco forçado veio seguido da indicação para que eles se sentassem. - Sinto muito por não estar presente no enterro de seu pai! Infelizmente o julgamento do qual participei era inadiável. A justiça tem dessas coisas. Espero que tenha recebido nossas homenagens.

- Recebi sim, entendo e agradeço, mas temos coisas muito importantes para tratar. - Após acomodar-se na confortável poltrona do escritório, Chris cruzou as pernas de maneira formal e já foi direto ao ponto.

- Esperava que levasse um tempo maior para que se preocupasse com esses assuntos. - Dr. Arnaldo foi logo interrompido por Chris.

- Eu também, infelizmente recebi uma advogada no enterro de meu pai com esse envelope.

Chris entregou, Arnaldo abriu e ficou perplexo com o que leu.

- Minha nossa... - Ele exclamou, boquiaberto.