Capítulo 2 Uma Pinta

Aquilo era uma excelente notícia, e também uma terrível descoberta. A criança estava viva e abandonada em um lugar tão ruim quanto as cadeias londrinas, de acordo com os documentos de Chestter.

Precisavam agir rápido. Não havia tempo a perder e não poderia alimentar falsas esperanças para Ravenna. Ele iria até lá averiguar a situação e ver a criança com os próprios olhos.

- Ajeite sua casaca, meu amigo. Estamos partindo neste exato momento para descobrir se Desmonds está certo.

- Quer ir naquela pocilga neste momento? Por um acaso leu o mesmo documento que eu? Pulou a parte que diz que o lugar é igual ou pior do que uma prisão?

- Fitz, eu fiz o que me pediu. Agora é sua hora de retribuir.

- Você mentiu na cara dura! Só aquele idiota acreditou em suas palavras!

- E não é o que importa? Agora ande, temos muito trabalho a fazer.

Ao chegarem ao local em uma carruagem alugada, os dois seguiram para a parte de trás da construção caindo aos pedaços. O lugar parecia manter-se de pé por pura benevolência divina. Um grande pátio rodeado por grades tomava toda a extensão da parte traseira do lugar sem qualquer portão de acesso.

- Não há ninguém aqui - Killian estava nervoso pelo perigo que corriam ali e por não ver a criança.

- De acordo com as anotações, as crianças sairão para lavar roupas a qualquer momento.

Segundos após Fitzgerald falar, uma porta grande de madeira maciça se abriu e uma porção de crianças maltrapilhas saíram com cestos de roupas para esfregar e pendurar, dentre elas uma menina ruiva de olhos verdes. Ela se destacava entre as outras por ser a única ruiva ali, outro menino ruivo trazia baldes com água, mas Killian sabia que estava atrás de uma menina. Seu coração apertou em seu peito ao contemplar a vida miserável que aquelas crianças viviam, todas com cabelos curtos e sujos, magras e com marcas de hematomas, fez uma nota mental de ajudar a melhorar as condições para eles de alguma forma.

- Nem pense nisso! - Fitzgerald se adiantou.

- O que? Do que está falando? - Killian confuso, não tirava os olhos da menina sorridente mesmo em meio àquelas condições.

- Está com aquela cara de quem agirá sem pensar e acabará indo à falência comprando todos os orfanatos do país. Uma coisa de cada vez, meu amigo. Você não pode mudar o mundo todo em um dia. Resolveremos a situação desta criança primeiro e depois você vê o que pode fazer pelo restante deles.

- Como saberemos se é ela que possui uma marca na perna? Não podemos simplesmente pedir que ela levante a saia.

Os dois escondidos atrás de um monte de caixotes pensavam no que fazer.

- Esse é o plano mais idiota que eu já ouvi!¬ - Killian balançava a cabeça frustrado.

- É nossa única alternativa, ou você prefere entrar lá e mostrar toda a sua pompa?

- Só entrarei neste lugar para tirar a menina de lá.

- Então vamos! - Fitz arrastava o amigo até a grade do pátio.

Fitz deu alguns xelins para um dos garotos correr até a menina ruiva e levantar a saia dela até a altura da coxa. Killian se sentia péssimo em fazer aquilo, Matthew também, contudo, dadas as circunstâncias, aquela era a saída mais segura. Assim que o menino levantou a saia, a garota ruiva lhe deu uma bofetada, mas foi o suficiente para que os dois cavalheiros vissem a marca.

Era ela.

- Qual é mesmo o nome que está nas anotações? - Killian perguntou.

- Hope, Hope Charity.

- Preciso voltar, Ravenna precisa saber imediatamente sobre a menina.

Hope traria de volta a esperança que Ravenna perdera, e traria a ele a paz que seu coração ansiava desde que vira Ravenna em tormento. Conversaria com ela sobre seus sentimentos depois de resolver todas as questões sobre a criança. Ele estava apaixonado e prestes a desistir do cortejo à Gertrude para pedir Ravenna em casamento. Logo Ravenna, a dama com um passado trágico, traumas, uma filha adotiva e uma mente conturbada, Killian não sabia como lidar com tudo de uma vez, todavia aquilo não importava agora. Lorde Seymour tinha uma notícia gigantesca para dar.

            
            

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