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Mais um dia na faculdade que foi um porre, tivemos que entregar um trabalho sobre Vigotsky. Minha cabeça já estava a mil porque meu querido pai resolveu que tinha chegado a hora de nos apresentar sua nova esposa e o filho dela, tive que me virar do avesso para entregar o tal trabalho, pois não conseguia me concentrar em nada que não fosse o maldito jantar de apresentação.
Terminada a terrível aula, dirigi até o cemitério, o único lugar em que tinha uns minutos de paz.
Andar por entre os túmulos me causava calafrios. E olhando o túmulo de minha mãe sentia dor, aflição, saudades, lembranças, nostalgia de um tempo em que essa lápide não existia, de um tempo que não precisaria ter uma conversa em que só minha voz fosse ser ouvida, e poderia sentir o toque e o abraço da mulher que me deu a vida, não só o vazio e o silêncio.
Era uma rotina vir até o túmulo dela, mas desta vez foi diferente, enquanto nas outras vezes eu apenas, sentava, chorava, fazia uma oração e ia embora, dessa vez senti vontade de contar tudo o que vinha acontecendo em minha vida. Queria poder desabafar.
- Oi! Mamãe, desculpa não ter vindo antes. - disse, me sentando sob o carvalho que cobria sua lápide - Ontem decidi que vou dar uma última chance para o papai. Tomara que dessa vez ele tome jeito viu, porque sinceramente... Vicente perdeu a linha sem você. - Arranquei pequenos chumaços de grama salpicadas pela relva - Eu também estou longe de ser uma filha exemplar, me meti em várias furadas para poder me sentir viva, e isso me destruiu ainda mais. - Essa era a primeira vez em que eu admitia isso a ela, às vezes, sentia que se ela estivesse aqui, sentiria vergonha de mim, vergonha da pessoa que me tornei. Soltando o ar com força,escondi o rosto entre as mãos deixando as lágrimas rolarem livremente - A única coisa que consigo pensar, é que era para eu estar com você naquele dia, se não tivesse ido para a casa do Abner. - Uma brisa massageou meu rosto, fechei os olhos imaginando ser ela ali - Sinto tanta saudade mamãe. - funguei tentando me recompor - Brandon ligou ontem, disse que está indo muito bem na carreira de músico e sem a ajuda do papai. Sou sua fã número um. - Dei um pequeno sorriso - Comecei a cursar Pedagogia como você queria, até que está sendo legal, conheci pessoas maravilhosas, a Bianca, o Carlos e o Luan. E Beatriz está terminando o colegial, disse que quer cursar Ciências Biológicas então muito em breve teremos uma bióloga na família, eu apoio sua decisão. - um silêncio tomou conta do local, assim que parei de falar.
Depois de horas sentada ali, como sempre senti alguém chegar, então levantei a cabeça olhando a direita. A alguns metros de distância, ele parava e fica lá observando alguma coisa, não conseguia ver seu rosto e nem saber ao certo quem ele era. Por uma estranha razão, não tinha medo, afinal de contas, o estranho nunca se aproximou ou tentou alguma coisa. Acreditava que assim como eu, era uma alma solitária buscando conforto no túmulo de algum ente querido.