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POV Laura
Sempre procurei ser uma mulher centrada e objetiva quando queria alguma coisa eu lutava até realmente conseguir aquilo , e não foi diferente com o meu relacionamento . Conheci Miguel quando estávamos de residência no hospital ele me encantou com toda a sua simpatia e aqueles olhos azuis lindos dele , nós tínhamos muitos momentos ótimos juntos e mesmo com a correria de sermos médicos e universitários nos víamos quando realmente dava. Eu nunca quis formar família , ter filhos sempre fui muito focada em minha carreira, mas todo esse tempo junto nos rendeu um casamento e consequentemente uma gravidez que para Miguel era um milagre para mim não foi . Eu não queria aquilo , não queria ter que me dividir entre a maternidade e a minha carreira então resolvi deixar tudo para traz minha carreira de lado e seguir adiante com essa gravidez pois assim tinha Miguel aqui comigo, mais apaixonado do que nunca . Aos 7 meses ainda não conseguia aceitar aquilo tudo , enquanto Miguel vivia em um mundo de roupinhas e preparativos eu vivia em modo automático sorrindo como um robô . Eu me sentia sem voz e foi então que ao pesquisar por algumas clinicas de aborto pelo Rio de Janeiro .
Fiquei sabendo de uma planta que faria esse serviço , esperei que Miguel fosse para o hospital e que a governanta nojenta dele estivesse fora, tomei alguns remédios que sabia que seriam eficazes nesse momento e algumas horas depois comecei a passar mal , liguei para Miguel que logo veio me socorrer . Eu pensei que morreria naquele momento , tudo seria melhor do que essa vida mesquinha eu pensava comigo . Eu tive uma pré-eclâmpsia , a criança já não estava dentro de mim quando eu acordei no outro dia e só o que restou foi o fantasma de Miguel que nunca mais foi o mesmo e a minha culpa . Depois de voltar para casa e olhar todo aquele mundo azul que foi montado para aquele ser que nem chegou a vir ao mundo eu me culpei . Miguel começou a trabalhar mais do que o normal e nunca mais parou em casa e quando parava estava cheirando a bebida . Agora estou aqui . Depois de 5 anos gastos da minha vida e de tanto tentar fazer meu marido ser meu novamente estou fazendo as minhas malas para ir embora . Mas isso não sairia barato para ele , não depois de eu dar tudo de mim nesse casamento fracassado .
Angelina
Depois que Miguel foi embora, Marluce me esperava na porta do quarto onde ele estava . Ela me entregou o dinheiro do programa que ele havia deixado mesmo assim .
- Aqui está a grana . Mas não pense que você vai continuar com esse comportamento e vai ficar tudo bem . Da próxima vez que trouxer alguém para o quarto e sair correndo igual a uma virgem desesperada você está fora .
- Tudo bem Marluce , me perdoe isso não ocorrerá mais .
Saio dali e me certifico que Miguel não está mais pela boate.
Ainda converso com alguns caras mas depois do que aconteceu mais cedo não vou subir com mais ninguém o que é ridículo para uma garota de programa . A noite acaba e vou para casa com minha amiga buzinando muito no meu ouvido , passo a noite em claro com Miguel na cabeça . Cada vez que eu fechava meus olhos eu sentia suas mãos passando pelo meu corpo e sua boca passando pela minha pele . Ah, que homem gostoso do caralho ! A noite passa em um piscar de olhos e me levanto sentindo meu corpo moído . Faço minha higiene matinal , pego algo para comer agora estou indo em direção ao hospital como sempre faço ver a minha mãe, ela não teve muitas melhoras nesse tempo mas também não piorou o que já é ótimo . Falo com a recepcionista que me dá um crachá e subo para a ala que ela está internada e há ali uma movimentação estranha , algo se aperta dentro de mim e corro até a porta do quarto sentindo uma mão me segurar eu me viro e encontro Miguel com um olhar pesado e eu já podia imaginar o que estava acontecendo, só que eu não consigo digerir ... não é possível
. - Eu sinto muito anjo , nós tentamos de tudo .
- Não ! minha mãezinha ! Ela não pode me deixar . Me desvencilho de suas mãos e corro até o quarto onde estão todos os enfermeiros e alguns médicos e seguro as mãos da minha mãe que estão geladas e sem vida, o bipe onde antes haviam seus batimentos ecoava agora num único barulho por aquela sala fria de hospital.
- Mãe ... não me deixe, você é a minha única família .
- Vamos, Angelina , agora você não pode ficar aqui . Miguel me abraça e me arrasta para fora daquela sala .
- Você não está sozinha , se acalme . Não conseguia me acalmar , eu tinha tanta esperança que tudo ficaria bem ! Fecho meus punhos e soco o que está pela minha frente até os nós dos meus dedos ficarem brancos. Miguel pega meu rosto com suas mão e sua íris azul brilhante em minha direção.
- Angelina, eu preciso que você se acalme, ok ? - Eu sabia que precisava me acalmar , sabia também que isso seria impossível por conta de toda a situação, eu me sentia quebrada . As horas passavam sem nem mesmo eu me importar . Ele me coloca sentada em uma das cadeiras e sinto meu corpo estático , todos os momentos que eu tive com a minha mãe passando bem na minha frente . Lembranças que ficariam para sempre minha mãe nunca me veria casar e nem ter netos , não me veria ser alguém na vida .
-Olá , você deve ser a Angelina- Uma voz me chama a atenção mas continuo agarrada às minhas lembranças e não consigo responder essa mulher.
- Angelina eu preciso que você venha comigo . Como a sua responsável legal faleceu , nós teremos que levá-la a um abrigo . Saio do meu transe e olho para aquela mulher que não tinha culpa da minha vida ser uma droga .
- Isso não é possível . Eu sou emancipada ... a minha mãe ela ... A mulher apenas abaixa os óculos e balança a cabeça , isso foi mais uma coisa que minha mãe disse que faria , mas não fez .
- Você precisa vir comigo agora Angelina . - Ela diz se aproximando junto com dois homens que estavam ali a sua espera
- Ninguém me tira daqui ! ouviu bem ? - Grito aos quatro cantos daquele hospital .
- O que está acontecendo aqui ? - Escuto uma voz e não preciso me virar para ver que é Miguel que está ali
- Olá Dr. Miguel viemos até para levar Angelina , pois ela é de menor e com a morte de sua mãe precisamos levar ela para um abrigo . - Não há ninguém que possa ficar com a sua tutela ? - Ele pergunta preocupado .
- Tem o meu pai , mas liguei para ele assim que minha mãe foi internada e ele pediu para que eu não o procurasse mais . Abraço o meu corpo sentindo novamente o peso das palavras daquele homem que eu havia amado tanto desde de pequena .
- Eu poderia entrar com o processo para ser o tutor de Angelina ? Me viro rapidamente para Miguel , e me pergunto como seria aquela situação . - Miguel , não precisa fazer isso . Muito obrigada, mas vou para o abrigo - me levanto e me viro em direção a saída ,porém ele segura a minha mão me parando seus olhos que eram de uma azul brilhante estão escuros agora e ele me fita, porém volta a olhar para a mulher como se eu não estivesse ali .
- Respondendo a sua pergunta Doutor , você pode entrar como o tutor de Angelina pelo menos por enquanto. Posso agilizar a papelada que vai ser preciso .
- Então está feito .
- Preciso que Angelina vá hoje mesmo para sua casa . Se não for isso devemos levá-la. Pareciam que eu nem estava naquela sala pois os dois combinavam algo sem nem ao menos se importar com a minha opinião. Isso estava me irritando - Mas eu moro com uma amiga , tenho minhas obrigações .
- Mas você é menor , e por isso precisa de estudo e alguém que lhe forneça segurança nesse momento, Angelina . Abaixo minha cabeça derrotada . A mulher se despede de nós e paro em frente a Miguel .
- Isso é loucura Miguel ! Eu moro com a Sthefany .
- Mas agora você precisa mudar Angelina , nem que seja por enquanto . Hoje mesmo passo lá em sua casa e te ajudo com toda mudança , vou aproveitar que hoje aqui está tranquilo . Ele levanta uma das mãos e passa sobre meus cabelos .
- Não fica assim , anjo . Tudo vai se ajeitar .
- Eu espero que sim ... Peço um Uber para o apartamento de Sthefany e quando entro encontro-a com alguns amigos e a música alta . Nem parece que ficamos a madrugada inteira trabalhando passo por eles sem falar com ninguém entro em meu quarto e me sento na cama, dormente .O pedacinho de família que eu tinha se foi só o que me conforta nisso tudo é que agora minha mãezinha está descansando mas só de pensar que estou sozinha nesse mundo me dói tanto . Sthefany entra no quarto sorrindo mas logo muda o semblante ao me vê chorando .
- Ei chapeuzinho , o que ouve ?
- Minha mãe Sthefany . Ela se foi .
- Ah meu Deus amiga , eu sinto muito ! Ela me abraça e chora junto comigo .
- O pior de tudo amiga é que ela disse que me emanciparia , mas não fez. A assistente social do hospital queria me levar para um abrigo .
- Puta que pariu ! E agora ?
- O Miguel estava lá e ficou responsável por mim como um tutor , vou ter que me mudar para a casa dele hoje ainda .
- Meu Deus do céu ! Isso só piora Angelina , você vai morar na casa do gostoso ...
- Chega Sthefany , não é algo que eu quero isso foi resolvido sem a minha opinião que não conta por eu ser "menor" Me levanto e começo a arrumar as minhas coisas , meu coração doendo e todas as lembranças e sorrisos passando por minha cabeça .
Tudo agora é incerto.