Enganada pelo destino
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Capítulo 6 5

Eu entro por aquela porta e vejo seu corpo em cima de uma cama de ferro, tampado por um lençol azul, eu ando lentamente até ele. Era de manhã já e eu não tinha dormido nada, eles demoraram para liberar o corpo dele. Todos os dias eu me arrumava para ele, ao sair do closet ele me dizia o quanto eu estava bonita, nossas mãos se entrelaçavam e ele dizia que me amava.

Essa manhã, eu não acordei, eu passei a madrugada chorando, eu me arrumei pela última vez para ele, só que dessa vez, eu não tive ele me esperando ao sair do closet, não tive o seu sorriso e nem a sua voz me dizendo bom dia ou me elogiando.

Dessa vez eu me arrumei para encontrar ele nessa sala gelada do IML.

- Vou deixar você sozinha - o médico legista fala e eu olho para trás vendo ele sair e fechar a porta.

Eu me aproximo do seu corpo e baixo o lençol, revelando seu rosto.

- Como vai ser a minha vida sem você agora Paulo? - eu falo passando minha mão pelo seu rosto gelado. - Por favor, abre os olhos, fale do meu cabelo, fala que ama meu perfume... - as lágrimas desciam pelo meu rosto na velocidade do tempo. - Eu coloquei o perfume que você me deu, e não te encontrei para você me elogiar assim que sai do closet - eu digo ainda com a minha mão em seu rosto. - Me diz quem fez isso com você? Por que alguém faria isso com você? - eu encosto meu rosto no seu e por um momento eu procuro sua mão e encosto a minha mão na dele e espero que ele pegue a minha mão forte, mas isso não acontece. - Por favor, Paulo, acorda! - eu me afasto colocando a mão na boca e chorando muito.

E tudo que eu consegui pensar nesse momento, em quem o matou e por qual motivo mataram o meu marido? Eu não conseguia imaginar Paulo tendo inimigos, ele era um homem bom, de coração gentil, ele ajudava as pessoas, era amigo de seus funcionários.

Quem era a pessoa sem coração que mataria o meu marido? E ainda por cima no dia da festa de aniversário do nosso lho. Não tinha explicação que zesse sentido na minha cabeça, não tinha. Será que teria algum envolvimento com a sua saída repentina ontem de manhã? Aquele carro azul?

- Desculpe - o médico legista fala entrando e eu tento limpar as minhas lágrimas. - Mas precisamos preparar o corpo para o velório, o pessoal da funerária já está ali fora - eu o encaro. - Eu sinto muito, senhora.

- Claro - eu falo meio perdida procurando a minha bolsa - Me desculpa, eu espero lá fora - ele assente com a cabeça - Por favor, coloque o terno que eu trouxe, ele amava aquele terno.

- Vou pedir para colocarem - ele fala. - O pessoal da funerária irá arrumá-lo.

- A gravata não aperta muito - eu falo para ele - Paulo se incomoda com a gravata apertada, a camisa precisa está toda por dentro da calça também.

- Pode deixar, senhora - ele fala.

- A gravata... - eu falo chorando. - Não vai incomodar ele, não é mesmo? - eu falo fechando os olhos.

- Faremos tudo conforme a senhora falou - ele fala.

-Ok - eu falo olhando para o corpo de Paulo - Obrigada. - Saio da sala, sem rumo, sem nada.

Encontro Pietro no lado de fora que vem em minha direção e me abraça forte.

- Vamos?- ele fala. - Marília está indo para o velório com Pedro - eu faço um gesto positivo com a cabeça.

Eu não tinha forças para falar ou muito menos para comer e nem sei se teria forças para viver. Pietro tinha andado um pouco mais com o carro, porque viu que eu estava muito nervosa e quando chegamos no velório, o corpo já estava lá.

O lugar estava cheio de familiares, amigos e curiosos, Pedro está lá ao lado do corpo do pai, olhando para ele. Novamente eu respiro fundo, tiro forças de onde eu não tinha e vou até o encontro deles, toda vez que Pedro e Paulo caram juntos, era só alegria, era uma bagunça e tanto. Eu me aproximo de Pedro e olho para Paulo, a nossa aliança em seu dedo, o seu terno preferido, a camiseta que eu dei para ele no nosso aniversário de casamento e a gravata que Pedro tinha feito quando tinha 7 anos na escola, pintado para dar para ele no dia dos pais , Paulo a guardava com todo amor.

- Filho - eu falo encostando a minha mão em seu ombro - Você deveria ir descansar.

- Eu não vou sair daqui até ele ser levado para cremação - ele fala me olhando. - Não vou sair do lado do meu pai.

- Eu amo você e vamos estar juntos sempre - falo para ele que me encara deixando lágrimas descerem pelo seu rosto. - Ele vai estar sempre com a gente, não importa onde ele estiver.

- Ele não poderia ter ido assim mamãe, não poderia! - ele diz. - Eu vou achar o assassino do meu pai - Pedro diz nervoso e eu abraço ele o mais forte possível.

A nossa vida daqui para frente mudaria muito, desde que a luz do salão se acendeu e eu vi o corpo dele ali, a minha vida virou uma eterna escuridão. Eu sei que poderia passar anos e anos e jamais iria me conformar com essa sua morte, uma morte sem motivo, eu iria fazer de tudo, eu iria mover o mundo, irei gastar todo o nosso dinheiro se precisar para achar o assassino de Paulo.

Eu não iria descansar até achar o culpado pela sua morte e o motivo dela também, uma morte tão precoce e jovem, no auge da sua vida, era muito difícil de acreditar.

- A retirada das cinzas já foi marcada - Murilo fala se aproximando de mim.

- Obrigada por resolver tudo Murilo, sei que está sendo difícil para você também - respondo para ele.

- Amanhã algumas pessoas vão precisar ir até a delegacia - Murilo fala.

- Todos teremos - Pietro fala.

- Pedro vai posar lá em casa com os meninos -Marília fala.

- Vai ser bom para ele - eu falo.

- Por que você não vem junto? - ela pergunta.

- Não - eu falo. - Preciso car um pouco sozinha - eu olho para Murilo. - Vou precisar ir amanhã também?

- Provavelmente não - ele fala me olhando. - Primeiro vão escutar todas as testemunhas para depois falar com os suspeitos.

- Suspeitos? - pergunto. - Espera?! - eu olho para ele - Eu sou suspeita?

- Desculpa te dizer isso agora - Murilo fala - Mas foi um assassinato premeditado, então todos que estava na cena do crime quando a luz se acendeu, vão ser tratados como suspeitos.

- Eu sou suspeita de matar meu marido? - eu pergunto indignada e nervosa. - Suspeita de matar o amor da minha vida? Isso não está certo - eu falo nervosa e eles me encaram.

            
            

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