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- Olha, eu acho que não ouvi direito. - sussurrou Steven, ainda me olhando fixamente com aquele semblante chocado.
Suspirei alto, já quase sem paciência, fazendo o caminho de volta a minha mesa, sentando novamente em minha cadeira. Odeio precisar repetir, faz parecer que a ideia é uma coisa absurda.
- Vou optar por uma barriga de aluguel, já estou decidido. - Acompanho-o com o olhar enquanto vejo meu cunhado se levantar e andar de um lado pro outro visivelmente nervoso.
- Está chapado? - questiona atônito, conforme põe as duas mãos sobre a mesa me encarando.
- Claro que não, seu idiota! O que te leva a perguntar um desatino desse?
- Desculpa mas, pra cogitar uma coisa absurda dessa... - diz, enquanto puxa uma das cadeiras dispostas ali para sentar. - Agora, falando como seu advogado e não mais como amigo, devo alertá-lo de que esses casos são complicados.
- Mais complicado que me desfazer dos traumas que os relacionamentos passados deixaram e achar uma mulher decente? Acho que não! - exclamo, antes de respirar profundamente e girar a cadeira para encarar a grande janela antes as minhas costas.
- E por que não a adoção? É um dos meios mais seguros e uma demonstração de amor enorme.
Me levanto da cadeira, já demonstrando ter perdido a pouca paciência que tenho.
- Eu quero um filho que seja sangue do meu sangue. Aquele que eu olhe e veja traços que me lembrem... Enfim, eu quero me ver em alguém. É tão difícil entender isso? - questiono levemente irritado.
Enquanto caminho de um lado a outro da sala como meio de me acalmar, me pego pensando que meu posicionamento pode parecer um pouco egoísta de fato. Mas é um sonho antigo do qual não consigo me desfazer. São trinta anos com essa vontade cada vez mais fervorosa dentro do meu ser.
Somos interrompidos com o barulho do porta sendo bruscamente aberta e por ela uma Leila passando assustada. Ela tem uma cópia da chave para casos de emergência.
- Sr. Weber, desculpa mas...
- O que eu te falei sobre interrupções? - questionei ríspido.
- É que acabaram de ligar da sua casa, parece que sua governanta desmaiou e ...
O desespero toma conta do meu corpo gradativamente conforme as palavras vão chegando ao meu entendimento e não consigo pensar em mais nada a não ser em como pode estar Carla. Com isso, saio a passos largos da minha sala, indo pro elevador. Deixando todas as minhas coisas para trás, sequer esperando que minha secretária termine de passar as informações que tem. Apertei o botão em meu andar por diversas vezes, na esperança de que o elevador chegasse mais rápido. Neste meio tempo, fui alcançado por Steven e Leila, que trazia consigo minhas coisas.
Agradeci.
- Bruno, seu motorista, já tem todas as coordenadas consigo senhor, ele o levará até o hospital em que sua governanta está. - disse Leila já me estendendo meu pertences e agradeci mais uma vez, adentrando o cubículo de metal sendo seguido por meu cunhado e advogado.
- Cuide de tudo na minha ausência, confio de olhos fechados em você. - vejo-a assentir e as portas se fecham.
- Vou com você até lá, afinal, Carla cuida de vocês como filhos, e minha princesa deve estar precisando do meu colo e conforto. - diz Steven, quebrando o silêncio que havia se instaurado ali.
Não consigo dizer nada em réplica, é como se as palavras tivessem fugido da minha cabeça.
Não demora muito, e as portas de metal se abrem no estacionamento, mesmo longe, já posso ver Bruno a minha espera. Este, assim que me vê, abre a porta do carro rapidamente para que possamos entrar e pouco mais já dá partida. Já passava da hora do almoço e as ruas estavam bem tranquilas.
No caminho, tento várias vezes ligar para Melinda, porém ela não atende. O que a cada segundo só me deixa mais nervoso. Não demora muito e meu segurança/ motorista estaciona o automóvel em frente ao hospital. Steven e eu saímos as pressas, correndo em direção as grandes portas de vidro. Vou até a recepcionista pedir informações.
- Bom dia! Queria saber de uma paciente que deu entrada a poucos minutos. - A loira que estava atenta a algo que digitava no computador demora um pouco pra me olhar, mas quando o faz, seu semblante antes de indiferença se transforma.
- Bom dia, Sr. Me chamo Ângela. Poderia me informar o nome completo de quem procura? - pergunta enquanto me encara com aquela cara que todas as mulheres fazem quando me veem, de iludida apaixonada. Por Deus, será que não é perceptível que não cabe clima neste momento?
Estou aguardando que me fale o que quero, quando vejo uma maca passando... É ela!
Corro até onde Carla está e pego sua mão: Está fria!
Nossa senhora, que medo tenho de perde-la!
- Linha, fala comigo! - peço em um sussurro, com os olhos já marejados e um nó na garganta.
- Vou ficar bem. - diz em um sopro de voz quase inaudível. - Liguem para Ruth, avisem para ela. Por favor.
Quem será essa de quem nunca ouvi falar?
Não tenho tempo de questionar, pois chega numa porta branca onde não posso entrar.
Dou alguns passos para trás e viro encontrando minha irmã sentada em um dos bancos que tem ali, sendo consolada pelo namorado. Me aproximo deles devagar, ainda perdido em pensamentos.
- Quem é Ruth? - pergunto na esperança de que minha irmã me tire do escuro e saiba de quem se trata.
- Filha dela, a única filha inclusive. Ela disse que Ruth está na faculdade nesse horário. - diz com a voz embargada pelo choro. - Carla me deu esse papel aqui com o número, e me pediu pra ligar. Não consigo. -
pontua me entregando o pequeno fragmento de papel que continha o telefone.
Fico olhando para aquele número e pensando em como vou dar a noticia para esta moça que a pouco nem sabia que existia. Mas do jeito que eu sou desligado das coisas, vai ver ela já até me falou sobre e eu não me recordo. Enfim, Ruth precisa saber do estado da mãe.
Saco o telefone do bolso e digito o número, ligando em seguida. Demora um pouco, e no terceiro toque ela atende:
:Alô? (diz a pessoa do outro lado da linha com uma voz serena em um lugar bem barulhento)
Oi. Ruth, certo? Aqui quem fala é o Lucas, atual patrão da sua mãe, tudo bem?
(Alguns segundos se passam e não obtenho resposta. Será que a ligação caiu? Tenho uma resposta negativa ao escutar apenas um respirar descompassado)
:Senhor Lucas, tudo bem sim. Desculpa lhe cortar mas, aconteceu algo com minha mãe?
(Ela vai direto ao assunto já em um ambiente mais calmo e as palavras me faltam em súbito.)
É... Eu não queria ser portador de noticias ruins mas, sua mãe acabou de dar entrada no hospital e pediu para que eu avisasse a você.
(Tudo fica mudo do outro lado da linha e me assusto. O que será que aconteceu?)
:Por favor, me passe o endereço certinho daí o mais rápido possível. Vou correndo se necessário.
(Passo as coordenadas do hospital e confiro se ela anotou tudo direitinho.)
:Em mais ou menos 30 minutos estarei ai, qualquer coisa pode me ligar.
(Nos despedimos e ela desliga.)
Guardo o celular de volta no bolso, e vou aconchegar Melinda num abraço enquanto estive se encontra no oposto. Ficamos por ali, até que não demora muito e um vento de cabelos castanhos passa por nós. Quando ela vira e nos vê ali, me dá a chance de analisar melhor seus traços.
Tem olhos azuis, que estão mais claros devido o choro, uma boca rosada carnuda e a pele bem branca como a de Carla. A cópia integral da mãe.
O sinônimo de total perfeição.
Ela vem se aproximando de onde estamos com cautela e os braços cruzados na altura do busto. O primeiro a se levantar é meu cunhado, fazendo com que minha irmã, mesmo triste, o fuzile com o olhar em protesto de ciúmes.
- Você deve ser a Ruth, certo? Sou Steven Mumford, namorado de Melinda, a quem sua mãe tem um apreço enorme e a tem como uma filha. - Vejo-a forçar um sorriso complacente em resposta e em sequência eles trocarem um aperto de mãos.
A próxima a se levantar é minha irmã.
- Oi, essa não é a melhor hora pra se conhece alguém, eu sei. Sou Melinda Weber. Saiba que a Carla fala muito de você. - Ruth lhe oferece apenas um sorriso fraco e logo as duas se abraçam.
Sou o último a levantar.
- Muito prazer Ruth, foi eu que falei com você pelo telefone. Sou Lucas Weber. - ela me encara sem piscar e seu olhar é de tanta dor. Me estende a mão, mas logo muda de ideia e me abraça. Simplesmente não evitei, pois diferente dos outros, aquele me trouxe sensações até então desconhecidas por mim.
O que será que está acontecendo comigo?