Capítulo 2 A vida com apenas seu pai

Após o enterro da senhora Amélia, as noites do senhor Nuembo, não foram as mesmas, pois não parava de pensar no sucedido. Nuembo não tinha mais motivo de continuar no mundo dos vivos além do Alfredo, do único Alfredo. O menino não tinha preocupação alguma na cabeça, nem da morte, nem da vida, tudo o que precisava, era continuar com a sua rotina normal. No entanto, um facto incrível, o menino começou a sentir a falta da sua mãe e perguntava ao seu pai, e daí, ele começava a ver o seu pai a mudar de humor.

Alfredo começou a reflectir no que estava acontecer, e claramente, já começava a ter noção das coisas. Já que a ausência invoca a saudade, num belo dia o menino pergunta ao pai sobre a mãe. Daí, o Nuembo sentiu a necessidade de o explicar sobre o que realmente aconteceu. - Não verás mais a tua mãe, filho! Afirmou Nuembo. - Como assim? Ela me abandonou? Aliás, o que você fez com a mamãe? Indagou o filho. Nuembo começou a lacrimejar, e ficou indignado com o miúdo. Ele levantou-se e foi logo ao quarto para suicidar-se, pois a única pessoa que lhe fazia permanecer no mundo dos vivos, já estava lhe aborrecendo. Por causa disso, pensou num suicídio. Nuembo foi ao quarto, pegou numa corda e iniciou o processo de suicídio. Já com corda no pescoço, o filho entra a chorar, o pai lembra-se das últimas palavras na despedida da sua querida esposa, "Descanse em paz meu amor, eu ficarei a cuidar do nosso filho", essas palavras fizeram com que Nuembo desistisse da ideia. Removeu a corda do pescoços, abraçou o filho e reconciliaram-se. Por causa disso, a relação entre eles foi óptima, e o filho passou a obedecer ao pai. Aos poucos, o menino aprendeu a cozinhar, e a fazer outras actividades a fim de ajudar ao seu pai. Quando Alfredo atingiu os seus 16 anos de idade, frequentava a 9ª classe e o seu pai, começou a adoecer. Nuembo padecia de uma doença cardíaca que começou com sintomas leves, porém conseguia realizar as suas tarefas de forma normal. Nuembo começou a refletir sobre o que acontecia, e teve a ideia de ensinar ao seu filho a pescar pois isso podia de certa forma, futuramente, ajudar o miúdo. Enfrentado com esta ideia, Alfredo logo franziu atesta e imediatamente recusou dizendo que, àquele não era o sonho dele e que em nenhum momento seria um pescador. Nuembo, não parava de pensar na sua amada falecida mulher. A prática de pensar o passado é natural, tal como diz Megan Devine, " A dor que você sente é verdadeira, é pura e às vezes você nem vê solução para atenuar a essa profunda dor". Mas nós temos que sempre nos lembrar que não vivemos só para nós, nós vivemos também para os outros, somos como o coqueiro que se mantém firme na terra, não se importando com a seca e outras calamidades naturais que possam surgir, o coqueiro está sempre lá, para nos providenciar cocos para a nossa alimentação.

No ano seguinte, as coisas mudaram e a doença agravou-se, a vida começou mudar para o pior, pois não conseguia ir à pesca frequentemente e ninguém da família podia ajudá-lo. Nestes momentos, Alfredo aprendeu a cuidar do pai que não fazia movimentos nenhuns. Eram actividades fortes para o menino, porém os momentos obrigavam – lhe ser guerreiro. Por certo tempo, o pai começou a medicar e durante a medicação, ele não podia desempenhar tarefas pesadas e nem podia movimentar-se muito. Um mês depois, o stock de produtos alimentícios acabou e nada mais se podia fazer para se ter mantimento em casa. A situação ficou péssima, pois medicamentos sem alimentos é um veneno. No dia seguinte, Nuembo nada mais podia fazer além de ser homem no verdadeiro sentido. Acordou e foi à pesca, daí que conseguiu trazer mantimento em casa. Durante o momento de melhoramento do pai, o menino tinha que parar de ir à escola a fim de desempenhar a função da mãe, e isso fez com que a vida do pai voltasse a normalidade. Naquele ano, Alfredo reprovou na 10ª classe, tendo, automaticamente, repetido no ano seguinte. O tempo passou, e o ano ulterior beijo as caras. A idade era gigante, já abraçava os dezoito anos. Com aquela idade, o pai viu que o seu filho já merecia aprender o trabalho verdadeiro e para não estressá-lo, convidou-o para dar um passeio de canoa ao mar. No dia seguinte, logo cedo, acordaram e foram ao passeio, pois o objetivo do pai era ensinar ao seu filho a pescar. Chegados ao meio do mar, o pai tirou os anzóis e as iscas do saco, e deu ao filho um anzol e depois proferiu: "sinta a adrenalina do mar". O filho, imediatamente, zangou e tudo que queria naquele instante era voltar para casa, assim o pai enfureceu-se e gritou:

A vida não se resume em caneta e papel porahhhh!!!!Você precisa trabalhar para se sustentar, isso de chiliques deve terminar hoje e agora, bastardo!! - Você matou a minha mãe para ficar a me castigar, pai? Indagou o Alfredo com lágrimas no rosto. Ouvindo aquelas palavras, Nuembo teve um infarto e imediatamente perdeu a vida. Vendo o seu pai, o jovem filho levou tudo nas brincadeiras e achou que o pai sacaneava o momento. Minutos depois, tentou acordá-lo, mas não se mexia, tentou pedir perdão ao seu pai por tudo que teria feito, não havia a respiração no local. Alfredo, em algum momento, imaginou que fosse um desmaio deslizado, e isso fez com que milhões de esperanças nascessem no seu interior. O que fez naquele momento, foi esperar o pai que despertaria e voltariam para casa. Os cronometro, passaram. Os segundos, os minutos e uma hora passou. Todo o tempo engoliu – se, preocupações incomodavam a alma, e começou a perceber que a situação não era boa. Naquele momento, rios de lagrimas nasceram ao seu redor. Um jovem ao lado de um pai sem vida, numa canoa e no meio do mar, choramingando. Depois de algum tempo chorando, o jovem percebeu que o seu pai havia feito uma eterna viagem onde a segunda vida é duvidosa. Pensou em como poderia encarar a situação, pois não possuía habilidades de remar. Ninguém estava por perto ajudá-lo e já estava escurecendo. O menino começou a entrar em desespero não tinha a quem clamar, pois não pertencia a nenhuma crença. Isto aconteceu lá p'rá as sete horas de manhã. Reparou aos lados e gritou:

Aaacooorda pai!

O silêncio das vozes ali prevaleceu, e o mar ficou tão triste que nem os seus movimentos não se notavam. Alfredo estava rodeado por uma tristeza do mar, do ambiente, e do pai. O desespero havia consumido todo o seu ser, após alguns minutos de crânio vazio, deu um forte abraço ao cadáver. Depois de um tempo, já eram às 9horas da tarde, e já estava tudo escuro, era Alfredo no meio do mar, uma ideia lhe vem em mente e sem tardar entrou em acção. Pegou no remos e começou a remar, embora não tenha ideias algumas, e enquanto remava, a água puxava lhes para a costa. Passando – se uma hora de remação, o jovem cansou-se e os seus braços já não aguentavam, a solução achada foi de deixar o mar lhe levar. As águas continuaram com a sua viagem, a canoa numa, o cadáver e o Alfredo seguiram abraçadinhos chovendo lagrimas. Alfredo pegou sono naquela viagem eterna coberto de abraços e despertou lá p'ra às 5horas de manhã, e de longe ouviam – se vozes de pessoas aos redores. Quem seria? Eram pescadores que chegavam ao local de trabalho. Afinal de contas, a canoa foi puxada pelas águas até a costa. Pescadores aproximaram-se e procuraram saber o que estava acontecendo, foi quando notaram que Nuembo estava sem nenhumas vidas, morto e logo de imediato, chamou-se a comunidade e a estrutura do bairro. Comunicou-se a polícia sobre o sucedido e de imediato a polícia se fez presente a fim de apurar a veracidade dos factos. De imediato, o Alfredo foi levado a esquadra para prestar algumas declarações sobre o sucedido.

Quando chegou lá, não soube explicar a situação e logo foi levado à cela. O jovem naquele instante, sentiu-se acusado pelo sucedido e que ninguém sentia por ele. Enquanto a comunidade lidava com o funeral do Nuembo, Alfredo estava encarcerado numa cela a espera de provas que pudessem evidenciar a sua inocência. Passado um mês, Alfredo é chamado de novo para prestar algumas declarações do seu processo que visava a legalização da sua prisão. Durante a prestação de declarações, ele fez saber a polícia que se estressou e de repente caiu. Foi quando a polícia teve a informação de que o senhor Nuembo sofria de uma doença cardíaca. Mas para que fosse livre, foi necessário que a polícia investigasse a casa do senhor Nuembo para encontrar as receitas hospitalares. Quando lá chegou, a polícia, de surpresa, a casa tinha sido invadida e muitos pertences tinham sido roubados. A polícia pegou nas receitas, já que ainda estavam lá, e voltaram para a esquadra onde de imediato legalizaram a saída do Alfredo da cadeia.

            
            

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