Capítulo 3 Capitulo 3 A Indiferença De Jeon

Eu não consigo entender. Lá está ele, Jeon, cercado por seus amigos, rindo e conversando como se fosse o centro do universo. E eu? Uma mera espectadora, invisível no meio da multidão. Quando nossos olhares se cruzam, ele me oferece um aceno casual, um "Oi" distante que ecoa friamente no corredor.

- Oi, Nari - ele diz, sem parar de andar.

Sinto o peso da indiferença em sua voz. É como se todas as nossas conversas anteriores, todos os momentos que compartilhamos, fossem reduzidos a um cumprimento superficial. Meu coração se aperta, e uma onda de humilhação me inunda. Eu queria poder confrontá-lo, perguntar por que ele está agindo assim, mas as palavras se prendem na minha garganta.

- Oi, Jeon - respondo, forçando um sorriso que não alcança meus olhos.

Ele já passou por mim, voltando sua atenção para os risos e histórias de seus amigos. E eu fico lá, parada, me sentindo uma idiota completa. Por que isso dói tanto? Por que a indiferença dele me afeta dessa maneira? Eu me viro e caminho na direção oposta, tentando afastar a sensação de rejeição que me consome.

Eu não consigo me concentrar. Cada palavra que o professor diz parece se dissolver no ar antes de chegar aos meus ouvidos. Meus pensamentos estão em outro lugar, estão com Jeon. Sua indiferença me atormenta, me faz questionar cada interação que tivemos. Por que estou tão afetada por alguém que conheci há tão pouco tempo?

- Nari, você pode nos dizer qual é a resposta? - a voz do professor me tira abruptamente dos meus devaneios.

Eu gaguejo, incapaz de formular uma resposta coerente. Todos os olhares estão voltados para mim, mas eu só consigo pensar em como Jeon nem sequer me lançou um olhar hoje. Sinto-me patética por permitir que essa indiferença me afete tanto.

- Eu... eu não sei, professor. Me desculpe. - Minha voz é um sussurro.

Ele suspira e passa para o próximo aluno, mas eu mal noto. Eu preciso me controlar, preciso me focar. Mas como, quando cada parte de mim anseia por uma atenção que nunca vem?

Caminho apressada pelos corredores da universidade, tentando escapar dos meus próprios pensamentos. Mas é impossível ignorar o burburinho ao meu redor. Um grupo de garotas ri alto, e uma frase em particular me atinge como um raio.

- Você viu? Jeon me convidou para sair hoje à noite! Vamos para uma festa juntos!

Meu coração afunda. Jeon... o mesmo Jeon que eu pensava estar apaixonado por mim. Sinto como se o chão desaparecesse sob meus pés. As palavras delas ecoam na minha cabeça, cada sílaba uma martelada na minha ilusão.

Sem dizer uma palavra, viro as costas e saio do prédio. O sol brilha lá fora, mas dentro de mim há apenas tempestade. Caminho sem rumo, cada passo mais pesado que o anterior. Quando finalmente chego em casa, tranco a porta do meu quarto e me deixo cair na cama.

As horas passam, e eu permaneço ali, imóvel, traçada em meio aos lençóis. A realidade é cruel, e eu me pergunto como pude ser tão ingênua. Jeon... ele nunca foi meu, e talvez nunca venha a ser. E eu... eu estou devastada, perdida em um mar de sentimentos que pensei serem correspondidos.

Eu não queria sair do quarto, o peso da indiferença de Jeon era como uma âncora, me mantendo presa naquele mar de tristeza. Mas Sana, com sua persistência suave, me puxou para a superfície.

- Nari, você não pode ficar aqui se afogando nos seus pensamentos - ela disse, abrindo as cortinas e inundando o quarto com a luz do dia.

- Eu só... só queria ficar aqui - murmurei, mas a determinação em sua voz era um farol que eu não podia ignorar.

- Vamos, vai ser divertido. Precisamos de um pouco de música e algumas risadas. - Sana me ofereceu a mão, e algo dentro de mim quis acreditar nela.

No bar, as luzes piscavam ao ritmo da música e as risadas preenchiam os espaços entre as batidas. Sana me entregou um drink, seu sorriso era contagioso.

- À nossa amizade, Nari. Que ela seja a luz nos dias mais sombrios - brindamos, e o calor do álcool parecia derreter o gelo ao redor do meu coração.

Com cada gole, a indiferença de Jeon se tornava mais distante, e a presença de Sana, mais vital. Eu estava começando a sorrir novamente, e isso, percebi, era tudo graças a ela.

Eu nunca pensei que a noite terminaria assim. Sana estava ocupada com seu novo romance, então eu decidi voltar para casa sozinha. As ruas estavam silenciosas, exceto pelo som dos meus passos no asfalto frio. Foi quando eu o vi - Jeon, cambaleando na calçada com o rosto ferido, um lembrete de sua propensão para confusões.

- Jeon! O que aconteceu com você? - gritei, correndo em sua direção.

Ele murmurou algo ininteligível, e eu pude sentir o cheiro forte de álcool.

- Vamos, eu te ajudo a chegar em casa.

Apoiei seu braço sobre meus ombros e o guiei pelas ruas vazias. Ele era um peso morto, mas eu não podia deixá-lo ali. Chegamos ao seu apartamento, e eu o acomodei no sofá, buscando algum gelo para seu rosto machucado.

- Você deveria ter mais cuidado, Jeon - eu disse, mais para mim do que para ele, que já estava roncando.

Eu deveria ter ido embora, mas a exaustão tomou conta de mim, e o sofá ao lado dele parecia convidativo demais. Antes que percebesse, meus olhos se fecharam, e eu adormeci, esperando que pela manhã ele não se lembrasse da confusão - ou de minha presença inesperada.

A luz do amanhecer se infiltrava pelas frestas da janela, tocando meu rosto com a suavidade de uma promessa não cumprida. Eu abri os olhos lentamente, sentindo o peso de uma decisão que eu já havia tomado. Jeon ainda dormia, alheio ao tumulto dentro do meu peito.

- É agora ou nunca - sussurrei para mim mesma, reunindo minhas coisas com mãos trêmulas.

Eu sabia que deveria me afastar, que era o melhor para mim. Mas cada passo em direção à porta era uma batalha contra o que meu coração desejava. Eu queria ficar, queria cuidar dele. Mas não podia. Não depois de tudo.

Com um último olhar para Jeon, que permanecia perdido em seus sonhos, eu saí do apartamento. O ar fresco da manhã era como um choque, um lembrete de que a vida continua, com ou sem ele. E eu continuaria, mesmo que cada batida do meu coração dissesse o contrário.

- Adeus, Jeon - murmurei. E com isso, eu me afastei, deixando para trás um pedaço da minha alma naquele apartamento silencioso.

            
            

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