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Eu mal podia acreditar que era ele, Jeon, encostado naquela moto com um ar despreocupado, fumando um cigarro como se não houvesse amanhã. As calças jeans rasgadas e a regata branca simplesmente caíam perfeitamente em seu corpo, e eu me peguei admirando a cena por um segundo a mais do que deveria.
- Nari! - ele me chamou, com um sorriso que poderia derreter o coração mais gelado.
Eu queria ignorá-lo, seguir meu caminho como se ele fosse apenas mais um rosto na multidão, mas algo em sua voz me fez parar.
- Obrigado pela noite passada. - A gratidão em suas palavras soou sincera.
- Não foi nada, Jeon. - Eu disse, tentando manter minha voz firme e indiferente, mas meu coração batia um pouco mais rápido do que o normal.
Ele deu uma tragada no cigarro e soltou a fumaça lentamente, seus olhos nunca deixando os meus. Eu sabia que deveria me afastar, mas havia algo magnético em Jeon que sempre me puxava de volta.
Eu corro, desvio, me escondo. Nas próximas semanas, faço de tudo para não cruzar com Jeon. Evito os horários em que sei que ele está na universidade, escolho caminhos alternativos, qualquer coisa para não vê-lo. Mas é inútil; cada canto, cada aroma me traz lembranças dele. É um tormento constante, a dor de um amor que não encontra eco no coração dele.
- Nari, você está bem? - pergunta Sana, preocupada.
- Estou... só estou cansada, sabe? - respondo, tentando esconder a verdade por trás do meu sorriso forçado.
Ela me olha com aquele olhar penetrante, como se pudesse ver através de mim, mas não insiste. Agradeço por isso em silêncio. Não quero falar sobre Jeon, não quero admitir em voz alta que meu coração se partiu. Porque dizer em voz alta tornaria tudo mais real, e eu não estou pronta para isso. Não ainda.
Eu estava me sentindo particularmente abatida, e Sana, sempre atenta, percebeu. Ela sugeriu que saíssemos para um bar na sexta à noite, e eu aceitei, precisava de algo para tirar minha mente dos problemas. Sana mencionou que convidaria Keni, um colega de turma que ela queria me apresentar. Eu não estava muito animada com a ideia de conhecer alguém novo, mas confiei no julgamento dela.
Quando chegamos ao bar, o ambiente era acolhedor, com uma iluminação suave e música ao vivo que preenchia o ar com uma energia contagiante. Sana avistou Keni primeiro e acenou para ele se juntar a nós. Ele era diferente do tipo de pessoa com quem eu normalmente saía. Jeon, por exemplo, era o típico cara popular, enquanto Keni tinha um ar mais reservado, usava óculos e tinha um jeito de nerd que eu achei intrigante.
- Oi, Nari, essa é o Keni que eu te falei - disse Sana, com um sorriso encorajador.
- Prazer em te conhecer, Nari - Keni estendeu a mão, e eu a apertei, surpresa com a firmeza do seu aperto.
A conversa fluiu naturalmente, e eu me vi genuinamente interessada no que Keni tinha a dizer. Ele falava sobre seus hobbies, livros favoritos e até mesmo sobre sua paixão por astronomia, algo que eu sempre achei fascinante mas nunca explorei a fundo.
- Você gosta de estrelas? - perguntei, curiosa.
- Sim, muito. Na verdade, eu tenho um telescópio e costumo observar as constelações sempre que o céu está claro - ele respondeu com um brilho nos olhos.
A noite avançou, e entre risadas e mais bebidas, eu me senti cada vez mais à vontade com Keni. Ele tinha um senso de humor sutil, mas afiado, e suas histórias eram envolventes. Quando a banda começou a tocar uma música lenta, ele me ofereceu a mão.
- Quer dançar? - ele perguntou, um pouco tímido.
Eu aceitei. No final da noite, quando nos despedimos, Keni se inclinou e me deu um beijo suave. Eu estava parada ali, imóvel, enquanto Keni se afastava. Seu beijo, que deveria ter sido um momento de faíscas e borboletas no estômago, não passou de um toque vazio em meus lábios. Não havia calor, não havia tremores, apenas a estranha sensação de nada.
- Nari, você está bem? - Keni perguntou, sua voz cheia de preocupação.
Eu queria responder, queria dizer algo, mas as palavras pareciam presas em minha garganta. Jeon... ele tinha me marcado de uma maneira que eu não conseguia explicar. Seus beijos eram como fogo, cada toque uma promessa de eternidade, cada olhar uma viagem ao infinito. E agora, eu me sentia... quebrada.
- Eu... eu não sei, Keni. Desculpe, eu só... - tentei falar, mas as palavras soavam falsas até para mim.
Keni me olhou, seus olhos buscando os meus, mas eu desviei o olhar. Eu não queria que ele visse a confusão, a comparação silenciosa que eu fazia entre ele e Jeon. Era injusto, mas era a verdade crua e dolorosa que eu não podia ignorar.
- Nari, se há algo errado, você pode me dizer. - Ele tentou novamente, sua mão tocando levemente a minha.
Eu queria chorar, queria gritar, queria poder voltar no tempo e sentir algo, qualquer coisa, com o beijo de Keni. Mas não havia nada lá, apenas a sombra do que Jeon deixou para trás. E eu sabia, naquele momento, que talvez ele tivesse me estragado para qualquer outro homem.
Depois de me despedir de Keni, sinto um vazio imenso enquanto caminho para casa. A porta se fecha atrás de mim com um clique suave, e eu me arrasto até o banheiro. A água do chuveiro cai sobre mim, mas é incapaz de lavar a saudade que sinto de Jeon.
- Ah, Jeon... - murmuro para mim mesma, as lágrimas se misturando com a água. - Por que tudo tem que ser tão complicado?
Lembro-me dos momentos que passamos juntos, cada risada e cada olhar trocado. Agora, tudo o que me resta são memórias e um coração partido.
- Eu daria qualquer coisa para voltar no tempo... - A voz falha, sufocada pela emoção.
A saudade é uma companheira cruel, e enquanto o chuveiro mascara meu choro, prometo a mim mesma que encontrarei uma maneira de superar essa dor. Por enquanto, permito-me sentir a falta dele, pois cada lágrima é um lembrete dos bons tempos que vivemos.