Capítulo 5 Amor e tempestade

A chuva caía incessante, como se o céu também compartilhasse da minha tristeza. Jeon estava ali, parado sob o mesmo guarda-chuva que eu, os pingos d'água escorrendo pelo seu cabelo bagunçado. Seus olhos encontraram os meus, e eu soube que não poderia mais fugir.

- Nari. - Sua voz era um sussurro rouco, quase perdido no barulho da tempestade. - Por que você tem me evitado?

Eu apertei os lábios, as palavras presas na garganta. - Você sabe por quê.

Ele riu, um som amargo. - Um dia, trocamos beijos apaixonados. No outro, você age como se eu fosse um estranho.

- Porque você é imprevisível, Jeon! - Minha voz saiu mais alta do que eu pretendia. - Você me confunde. Um dia está quente, o próximo está frio. Eu não sei o que esperar.

Ele se aproximou, tão perto que nossos corpos quase se tocavam. - Nari, eu nunca prometi nada a você. Tudo o que eu queria era me divertir. Eu achei que você queria o mesmo.

As gotas de chuva se misturavam às lágrimas que eu não conseguia conter. - Você não entende, Jeon. Eu não sou como você. Eu não consigo simplesmente me divertir e esquecer.

Ele deu de ombros, indiferente. - Então talvez você devesse aprender.

Eu o encarei, a chuva escorrendo pelo meu rosto. - Eu não quero aprender. Eu quero alguém que me ame de verdade.

Ele sorriu, mas não havia ternura nele. - Nari, você está procurando no lugar errado.

E ali, sob a chuva implacável, eu percebi que ele estava certo. Jeon era como uma tempestade, intensa e avassaladora. E eu? Eu era apenas uma garota tentando encontrar um pouco de sol em meio à chuva. Mas talvez, só talvez, eu devesse aprender a dançar na tempestade e aceitar que nem todos os amores são feitos para durar.

A chuva não parava de cair. Jeon nos puxou para o abrigo de uma árvore antiga, suas folhas sussurrando com cada gota que nelas tocava.

- Eu não sou o príncipe encantado dos seus sonhos, Nari - Jeon disse, as palavras quase se perdendo no som da chuva. - Mas se você quiser, posso te oferecer algo sem compromisso, algo... livre.

Eu olhei para ele, as gotas de chuva desenhando caminhos em seu rosto, e algo dentro de mim se agitou.

- E como seria essa liberdade, Jeon? - perguntei, desafiadora, apesar do frio que começava a se infiltrar em meus ossos.

Ele estendeu a mão, as gotas de chuva escorrendo entre seus dedos.

- Como isso - ele disse, e antes que eu pudesse reagir, puxou-me para fora do abrigo. A chuva nos envolveu, fria e revigorante, e eu não pude conter uma risada surpresa.

- Viver sem amarras, Nari. Sem esperar pelo amanhã, apenas nos entregando ao agora - ele continuou, sua voz firme mesmo sob o dilúvio.

Havia algo terrivelmente tentador na ideia de abandonar todas as expectativas e simplesmente existir. Sem roteiros, sem garantias, apenas a emoção pura e verdadeira do momento.

- Está bem, Jeon - concordei, sentindo a chuva lavar qualquer hesitação. - Me mostre esse mundo de diversão sem amarras.

E com um sorriso que era uma promessa de aventura, ele segurou minha mão com firmeza, e juntos, caminhamos pela chuva.

Eu não sabia como começar a conversa, então apenas despejei tudo de uma vez. "Sana, o Jeon me propôs um romance sem compromisso... e eu aceitei." Minha voz tremia um pouco ao confessar.

- Você fez o quê? - Sana parecia incrédula.

- Eu sei, eu sei, parece loucura. Mas eu estou apaixonada por ele, Sana. E essa pareceu ser a única maneira de ficar ao lado dele.

Sana suspirou, balançando a cabeça em desaprovação.

- Nari, você se precipitou. Se você já está sentindo isso agora, imagina depois? Ficar perto dele só vai intensificar seus sentimentos. E se você vê-lo com outra, como vai se sentir?

Eu engoli em seco, a realidade do que Sana dizia começando a pesar sobre mim.

- Eu não pensei nisso. Na verdade, tenho medo só de imaginar. Mas é que... estar com ele, mesmo que por um momento, pareceu melhor do que não tê-lo de jeito nenhum.

- Nari, isso só vai te machucar mais. Você merece alguém que queira um compromisso com você, não alguém que te deixa em segundo plano.

As palavras de Sana eram duras, mas necessárias. Eu sabia no fundo que ela poderia estar certa.

Eu estava atravessando o campus com meus livros em mãos, perdida em pensamentos sobre o exame de amanhã, quando Jeon apareceu do nada. Antes que eu pudesse reagir, ele me beijou. Foi um momento tão inesperado que eu mal pude processar o que estava acontecendo.

- Nari, fica comigo esta noite? - Jeon sussurrou, seus olhos procurando os meus por uma resposta.

Eu hesitei, surpresa com o convite repentino e ainda me recuperando do choque do beijo.

- Eu... eu não sei, Jeon. Isso é tão...

- Shh, não precisa decidir agora. Vamos só passar um tempo juntos. - Ele interrompeu, com um sorriso tranquilizador.

A ideia de passar a noite no apartamento dele fez meu coração acelerar, mas também me encheu de uma curiosidade que eu não sabia que tinha. Decidi deixar a preocupação de lado e apenas viver o momento.

- Tudo bem, eu vou. - concordei, finalmente, sentindo uma mistura de nervosismo e excitação.

Jeon segurou minha mão e me guiou pelo resto do caminho, e eu sabia que aquela noite poderia mudar tudo entre nós.

Não consigo conter um sorriso que brota espontaneamente nos meus lábios enquanto penso no convite de Jeon. A ideia de visitar o apartamento dele me enche de uma alegria eufórica. Depois das aulas, com o coração palpitante de antecipação, desvio meu caminho para casa e me permito entrar em uma loja para escolher algumas roupas novas. Quero estar no meu melhor esta noite.

Em casa, o tempo parece arrastar enquanto a água quente do chuveiro cai sobre mim. É um banho demorado, onde cada pensamento é um ensaio para o que está por vir. Finalmente, com o cabelo ainda úmido e a pele perfumada, visto as roupas novas e me olho no espelho. Estou pronta.

O caminho até o apartamento de Jeon é um borrão. Meu coração bate em um ritmo acelerado, ecoando a batida dos meus saltos contra o pavimento. Quando chego, tomo um fôlego profundo e aperto a campainha.

- Oi, Jeon! - digo, assim que ele abre a porta, com um sorriso que não consigo esconder.

- Nari! Que bom que você veio. - Ele retribui o sorriso, seus olhos brilhando de satisfação. - Entre, por favor.

A noite promete ser inesquecível.

                         

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