Capítulo 2 00:00

21 de abril de 2017

A semana passou estranhamente devagar, eu nem conseguia chegar perto do Breno toda vez que lembrava o que havia feito.

Augusto agia normalmente e eu tentava, mas me sentia angustiada toda vez que pensava nas coisas.

Sexta feira era um dia importante, pois teríamos uma reunião com uma importante empresa para o fechamento de um contrato bilionário de três shoppings center em Dubai, passamos a semana tendo reuniões até mais tarde ensaiando como seria a apresentação, o que me facilitou bastante pois chegava Breno já havia dormido e quando saía ainda não tinha acordado.

Como todo dia, sigo meu ritual matinal, decido comer ovos mexidos, escolho um vestido midi azul marinho, scarpans pretos, dois brincos ponto de luz, com uma correntinha combinando, meu relógio e uma pulseira de prata fina. Então coloco o meu típico batom vermelho, que particularmente acho que combina muito comigo.

Chego no escritório tem um envelope vermelho no meio de alguns envelopes de papel pardo que são usados para arquivos. Passo o olho correndo e não dou importância pois já estava na hora, vou para sala de reunião e fico em pé no canto esquerdo de Augsto, que me olha e aponta para a cadeira ao seu lado.

- Ninguém trabalhou tanto comigo nessa apresentação como você, merece estar aqui. - fala sem esboçar nenhuma reação,o que acho que é um dom dele conseguir ficar apatico a 99% das situações.

Me sento e consigo ver de frente aquela mesa cheia dos mais importantes executivos, todos homens mais velhos, a maioria na casa dos 60, a sensação é que estão me devorando com os olhos, fico desconfortável. Tudo durou em torno de 4 horas, mas não houve um momento em que achei que Augusto não fosse conseguir, afinal se tem algo em que é bom eu diria que é vender.

Ao fim do dia, finalmente consigo sentar em minha mesa e reparo novamente no envelope vermelho, o abro e diz somente "00:00" e embaixo havia um QR code que dava em uma localização no Maps, logo lembrei que era sexta feira, sera que a sociedade é real? Eu deveria ir?

Vou para casa me arrumar, ao chegar me deparo com Breno

- Vamos comemorar amor? - fala abrindo uma garrafa de champagne

- Amor, o pessoal da empresa vai comemorar junto, vim so me arrumar - dou um beijo nele e corro para o quarto

Coloco a uma lingerie vermelha de renda, um vestido vermelho sangue que ia um pouco mais que metade da coxa, um salto preto, meu batom vermelho e meu cabelo loiro longo solto com babyliss. Olho na minha gaveta e vejo a mascara, coloco em minha bolsa e saio, tão ansiosa que me esqueço de me despedir de Breno. Ligo meu gps e vou, após andar uns minutos em meio a arvores, chego a uma mansão que no mapa não aparece, ponho minha máscara, pego meu convite e vou, quando estou prestes a começar a subir as escadas rumo a porta, na qual haviam dois seguranças, sinto um braço me puxar pela cintura e alguém sussurar em meu ouvido

- Sabia que viria - Logo reconheço a voz rouca de Augusto e me arrepio inteira - Promete que não vai se assustar?

Eu aceno que sim com a cabeça e então entramos, a primeira coisa que se via após a porta era uma parede vermelha, havia uma música tocando ao fundo muito alta, andamos um pouco e ao passar a cortina eu entrei em choque. Enquanto ocorria, o que parecia uma festa com garçons passando com drinks, em alguns pontos com sofás haviam pessoas fazendo orgias, transando, também haviam umas portas que quando se entrava dava de cara com outras orgias ou pessoas transando.

Vamos até o bar e ele pede dois drinks, todos usavam máscaras incluindo os barmans e garçons, algumas pessoas usavam somente as máscaras sem nenhuma roupa. Enquanto estava sentada tomando meu drink de gin com tônica e limão, observo as pessoas e por mais que estivessem de máscaras, muitos rostos eu reconhecia de executivos e CEOs de empresas que temos contratos,que inclusive eram ainda mais repugnantes sem roupas. Augusto me observa e diz

- Escolhe alguém - me olha e da um sorriso malicioso

Eu aponto para um homem alto, moreno, sarado de olhos escuros. Ele me pega pela mão e vamos em sua direção, eu o pego pela mão tão rápido que ele só vem acompanhando. Entramos em um quarto inteiro azul, Augusto tranca a porta e começa a tirar minha roupa, o outro homem vem e começa a me beijar. As coisas fluem de uma forma estranha, eu que até um semana atrás só havia transado com meu namorado estava agora fazendo sexo a três.

Após terminarmos, eu me visto e vou para me carro, arrumo meu cabelo e retoco minha maquiagem para não aparecer que nem uma louca. Quando ligo meu carro, alguém bate em meu vidro quando abro vejo que é Augusto.

- Ta tudo bem? - de máscara fica ainda mais dificil decifrar seu rosto.

- Sim - tiro minha máscara - eu só preciso ir para casa.

- Almoço amanhã? - pergunta com uma voz de receio

- Claro, temos que ver as coisas do contrato. Até amanhã!

Eu ligo meu carro e pego o caminho mais longo para ter tempo de organizar minhas ideias, então é para isso que os mais ricos e poderos se reunem? Para serem pervertidos sem julgamentos? E quem eram aquelas mulheres e por que aceitar ser tratada como objeto? Se eu não quiser mais ir vou perder meu emprego? Eram muitas as duvidas, quanto mais pensava mais achava que iria ficar louca.

Abro a porta de casa bem devagar para que não faça barulho, tiro meus saltos ainda na porta e vou diretpo em direção ao banheiro para tirar aquele cheiro de sexo que havia empregnado em mim. Enquanto estou no banho ouço passos no quarto até que vejo a porta do banheiro abrir

- Posso tomar banho com você? - Breno entra no banheiro de roupão

- To tomando um banho rápido para dormir, amanhã tenho que trabalhar. - digo desligando o chuveiro e pegando a toalha

- Bom, queria te dar feliz aniversário, não consegui te ver hoje - ele fala mais baixo

Como eu havia esquecido que era meu aniversário? Meu trabalho ocupa tanto tempo na minha vida que lembrar de coisas básicas da vida vira um desafio.

- Obrigada! - lhe dou um beijo, me visto e vou dormir, amanhã será outro dia.

22 de abril de 2017

Acordo atrasada para o almoço então levanto correndo e visto uma saia lapis listrada em preto e branco, salto branco e meu cabelo em um coque solto. Chego no restaurante e a recepcionista me leva novamente a mesma mesa, ao chegar vejo Augusto mexendo em seu celular, chego e me sento a mesa.

- Bom dia, senhor! - digo abrindo um sorriso

- Bom dia, vivi! Como está hoje? - ele faz sinal e chama um garçom

- Estou bem, queria conversar com o senhor sobre ontem - crio coragem do além para falar

- Claro, pode falar

- Antes de qualquer coisa, obrigada pelo convite mas - faço uma pausa para encontrar as palavras certas - não é o tipo de coisa que eu faço. Não me entenda mal, foi ótimo masnão acho que eu me enquadre lá e espero que isso não me prejudique.

Ele para e me analisa, deve ter pensado QUEM ELA ACHA QUE É então fala

- Jamais te prejudicaria, aquilo não diz respeito ao ambiente de trabalho. Te observo a anos, sempre me chamou a atençao o que uma mulher como você faz com um pasmado como seu namorado - percebe o que diz e faz uma pausa - com todo respeito, tudo bem se não quiser mais ir, mas eu adoraria continuar te conhecendo melhor.

- Me conhecendo melhor? - Faço uma cara de desentendida

- Sim, gostaria da oportunidade de passar um tempo contigo fora do trabalho.

Paro um minuto para assimilar o que estava acontecendo, ele queria passar um tempo comigo fazendo o que? Bom, sei que cedi as duas vezes mas não é o tipo de pessoa que eu sou, não quero estar no meio dessa sociedade, servir de objeto para aqueles velhos asquerosos.

- Um tempo comigo fazendo o que, senhor? - Pergunto tentando entender tudo

- Vamos por partes, Vivi. Posso te chamar assim?

- Claro! Bom, posso pensar a respeito? - Talvez ele não estivesse acostumado a esperar respostas, a maioria das mulheres diria sim sem nem pensar duas vezes

O almoço foi agradável, conversamos sobre viagens internacionais que ele havia feito, já fiz algumas mas todas com ele a trabalho, nunca para passear. Chego em casa e esta tudo escuro, quando acendo a luz da sala, me deparo com um jantar e pétalas pelo chão, viro novamente para frente e vejo Breno ajoelhado e só penso MEU DEUS.

Por um minuto eu travo e fico sem reação, então ele começa a falar

- Já estamos juntos a tanto tempo que não consigo imaginar passar minha vida com outra pessoa -

enche os olhos de lágrimas - Vivian Gulian Moraes, você aceita casa comigo?

Aquele definitivamente não era o melhor momento para isso, mais uma coisa para me

preocupar mas eu deveria fazer a escolha óbvia de seguir minha vida normalmente e num dia normal

eu aceitaria, foi então que no impulso totalmente apática com a situação eu disse

- Sim! - juro que não poderia pensar num 'sim' mais triste e sem graça

Ele coloca um anel com um diamante enorme em meu dedo e me da um beijo, era totalmente

óbvio que eu era mais uma diversão de Augusto, definitivamente por mais atrativo que seja a

proposta não vou me submeter a isso (talvez não de forma exclusiva). O jantar pode se dizer que

foi agradável, Breno havia feito salmão com legumes para nós, conversamos bastante sobre o futuro

e a possibilidade de mudar para um apartamento maior.

Então, algo estranho aconteceu: eu me senti atraída por Breno, isso não acontecia a tanto

tempo que pareceu algo novo, naquele momento decidi que queria transar com ele logo o interrompo

com um beijo e tudo acontece. Pode se dizer que foi bom, mas depois que conheci o melhor sempre

fica uma sensação de falta. Me levanto e vou tomar um banho e dormir.

24 de abril de 2017

O domingo havia sido calmo e ficamos deitados vendo filme, parecia que as coisas estavam se

encaixando novamente no meu relacionamento. Levanto e Breno está na cozinha fazendo o café da

manhã, então vou para o banheiro começar a me arrumar. Decido colocar uma calça pantalona

alfaiateria branca com um body preto e um blazer branco, coloquei uma sandália branca com um

salto não muito alto, meus brincos de pedras pretas, pulseira, relógio, colar e anéis pratas.

Bom, meu batom não preciso mencionar.

Vou até a cozinha com minha bolsa, procurando o que não deveria esquecer e decido ir no

Starbucks pegar um café para espairecer antes de ir para o escritório. Dou um beijo em Breno e

saio. Compro meu café e vou até a praça perto do escritório sentar para tomar e contemplar o

nada

- Descobriu meu esconderijo? - ouço a voz de Augusto e o vejo se sentar ao meu lado.

- Por acaso está me seguindo? Isso é assédio - digo num tom de brincadeira

- Gosto de vir aqui antes de ir para o escritório ficar preso dentro de uma sala - ele fala admirando as árvores - Inclusive, está muito linda hoje!

- Quando eu consigo tempo gosto também de fugir da cidade um poquinho e muito obrigada!

- você está noiva? - pergunta olhando para meu anel

- Sim, Breno pediu minha mão ontem - olho o relógio e levanto - Bom, tenho que ir se não quiser

me atrasar, meu chefe é bravo

- Até mais, Vivian! - ele sorri

Caminho até o escritório enquanto tomo lentamente meu café, ao chegar na minha mesa vejo um post it colocado na tela do meu computador "ALMOÇO 11:30", vou até a sala de Augusto e ele não está lá. Sigo minha manhã esperando com que ele apareça e nada.

As 11:15 pego meu carro e vou até o restaurante, chego lá e a recepcionista nem me pergunta nada de tanto que estou indo até lá, ela me leva até a mesa, dessa vez no segundo andar, onde havia um espaço para fumantes, Augusto estava lá sentado fumando um charuto que ao me avistar levanta-se para puxar a cadeira. Chego e me sento, antes que eu possa dizer qualquer coisa ele fala

- Me pegou de surpresa hoje de manhã, desculpe pela reação - ele chama o garçom e pede um whisky com gelo

- E para senhorita, vinho? - o garçom me pergunta

- Não, whisky sem gelo - ambos me encaram com olhar de espanto mas com o rumo da conversa eu sabia que iria precisar de algo forte

O garçom nos traz os pedidos, eu tomo um gole generoso para ver se o nervosismo diminuía pois não entrava na minha cabeça o porque desses almoços ou ele se importar tanto com meu noivado.

- Você está feliz? - me pega de surpresa

- Sim - ele me encara - Quer dizer... tenho que estar, quem não estaria em meu lugar?

- A pergunta mais simples é: O que te faz ficar? - ele toma um gole de whisky

O mais engraçado é que eu não sabia como responder, algo que deveria ser no minímo obvio, afinal por qual motivo eu iria me casar com ele? O restante do almoço foi tranquilo, dessa vez ele básicamente só me ouviu contar sobre minha quais caminhos me levaram até aquele momento. Perto de acabar meu horário de almoço chamo o garçom para pagar o meu almoço, normalmente tentava pagar ao sair mas Augusto sempre já havia pago então dessa vez tento ser mais rápida

- Minha conta, por favor - peço gentilmente

- Passa tudo no meu cartão, por favor - ele sorri oara o garçom

- Não, eu pago!- o interrompo, então ele entrega uma nota de cem reais ao garçom que simplismente sai

- Eu convido, eu pago

- Obrigada pelo almoço e a conversa, até mais! - Sorrio, levanto e saio.

O dia tinha sido tranquilo, com o fechamento do contrato acabaram as correrias e as demandas eram só as do dia a dia. Saio cedo e decido ir para academia, sempre vou antes do trabalho mas quando consigo gosto de ir mais de uma vez. Após treinar vou ao mercado e compro lasanha congelada para o jantar, então chego em casa e Breno está em uma reunião no escritório, ele é psiquiatra e as vezes atende online. Tomo meu banho, deito na cama de roupão para ver o celular e durmo.

28 de abril de 2017

Sexta-feira, levantei um pouco mais cedo para terminar de arrumar minhas malas pois iriamos passar o fim de semana em Buzios, coloco um vestido amarelo com um salto branco e o cabelo preso num rabo de cavalo alto. Vou direto para o escritório e ao chegar vejo um envelope preto que ao abrir dizia somente "00:00" com um QR code, por um segundo fico tentada a abrir mas o rasgo e coloco fora. Quase ao fim do expediente decido ir a sala dele avisar que não iria poder comparecer amanhã, porém ele já havia ido embora.

Saio do trabalho e vou direto para o aéroporto, Breno havia ido mais cedo então mando um sms avisando para Augusto, desligo meu celular, coloco meu tapa olhos e aproveito a viagem.