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Tu caminhas numa rua devoluta com um silêncio total que chega a te trazer um desconforto. Sem nenhuma explicação, tu sentes um aperto no coração que não te apresenta nenhuma imaginação e nem suposição. Tu páras ao sentir olhos te olhando com grande ônus de uma forma desatinada.
Os teus batimentos cardíacos ganham ansiedade de batucar na velocidade da luz, um arrepio te gela a espinha e os teus movimentos são tomados por forças sobrenaturais.
Sentes aos poucos, que está perdendo a tua sanidade mental e ganhando o desvario. Um riso do além soa de uma origem desconhecida, bem alto que tu imaginas que ecoa por todo espaço em que tu te encontras.
Os céus se abrem e uma negritude assustadora eclode com a sua explícita maldade que deixa gotas negras caírem, viscosas como sangue humano e com um cheiro de enxofre.
Vozes aglutinadas começam a estrugir e uma tontura pujante atinge a sua mente te deixando ébrio. Tudo ao seu redor, mesmo que na escuridão, ganha nova forma em cada som a toar de um modo lúgubre e deprimente causando-te uma discrepância de emoções e sentimentos numa total desordem mental.
Tu sentes o teu espírito sendo arrancado do teu corpo para uma outra dimensão, a dos mortos, mas o processo é interrompido numa agonia que te rouba o fôlego em cada minuto crucial da tua vida.
De repente no teu campo de visão aparece um gravador bem antigo, com os teus movimentos controlados te abaixas e apanhas o objeto que tem algo de eriçar os cabelos e todos os pêlos existentes no corpo. Clicas no botão e o mesmo começa a soar. Não muito longe uma foto se movimenta na tua direção com uma imagem que progressivamente se revela.
Uma voz feminina soa com muita calma narrando algo que vai se desenvolvendo aos poucos, ficando algo bizarro:
Pelas forças negras da criação diabólica vejo com os olhos de ontem, olhos dados àqueles que sabem de tudo do passado sem ter vivenciado o mesmo. O que eu sei é que a minha vida já foi de muita adrenalina e agora aqui estou eu, me escondendo de fantasmas que andei, durante os meus dias de excitação pujante, convidando por toda parte do inferno.
Meu nome é Edna, a minha idade pouco interessa. Você consegue me ver na foto e agora deixe-me continuar. Tudo começou quando conheci um rapaz maravilhoso, com um olhar inebriante. O nome dele era Edson Matsinhe o menino que me mostrou coisas maravilhosas, no entanto também amargas como alguns sumos no final das suas últimas gotas no recipiente.
Continue me escutando, pois tenho algo para te revelar bem lá no fim deste áudio.
Bem, eu e Edson nos conhecemos numa festa de um amigo em comum, onde conversamos muito e rolou uma química, em poucas palavras foi simplesmente uma coisa natural. Fomos aos poucos nos tornando próximos, mas tinha algo estranho. Nós só nos encontrávamos a noite e de dia ele sempre dava a desculpa que estava ocupado, porém eu nunca perguntava o que o ocupava tanto assim.
Ele era um rapaz que andava sempre bem vestido e com um perfume que me enlouquecia, na verdade ele era top e em cada momento que eu estava ao seu lado me sentia estranhamente bem, pois ele tinha um jeito de ser, diria, exótico coisa que me excitava, pois eu gostava de novas coisas diferentes que me faziam ganhar curiosidade de descobrí-las aos poucos. Então ele era perfeito. Tinha um carro amarelo de uma marca que não me lembro o nome, pois não sou muito de decorar marcas de carros, só me lembro que era muito caro.
Era um homem com muito dinheiro, esse que gostávamos em festas, boates, hotéis e em coisas tão inócuas que não preciso mencionar aqui. Ele não tinha um emprego, mas tinha muito dinheiro que me dava em cada encontro e eu enlouquecia, pois gastava em roupas caras, calçados, cabelos e meus outros caprichos.
Começamos a namorar e foi aí que as coisas ficaram muito bizarras, mas muito bizarras mesmo, porque ele acabou me contando o que o fazia gostar de sair a noite do que de dia.
Continuamos a namorar por muitos meses e a história continuava a mesma, só nos encontrávamos a noite para festas e festas, baladas, muito álcool, drogas e acima de tudo muito sexo. A vida foi sendo assim. Tenho que admitir ele era simplesmente viciante com uma sedução que eu não resistia, era uma coisa tipo sobrenatural, ele era o cara.
- Me diga a verdade, amor. - eu disse com os olhos fixos nas suas feições.
Eu queria saber de tudo, de onde vinha todo aquele dinheiro, mas no começo eu não me importava, eu só queria adrenalina, vibes vivendo como se não existisse o amanhã. Mas depois algo havia mudado em mim.
- Siga-me vou mostrar-te, tudo. Mas que fique entre nós se por acaso contar alguém, tudo estará acabado. - ele disse e, mesmo que muito assustada, eu concordei.
Então ele me levou até um quarto que tinha um conjunto estrambótico de coisas como bonecos com alfinetes lhes atravessando, ossos de pessoas e animais, círculos e triângulos desenhados nas paredes e no chão, em suma muitos apetrechos.
- Eu assinei contrato com Zamboio. - ele disse com seriedade no rosto.
- Contrato, que contrato. - respirei fundo para não enlouquecer. - Quem é Zamboio?
- Não posso contar. - ele disse com um tom tranquilo.
- Sério? Tu mexes com essas coisas do diabo e me dizes que não podes me contar quem é esse tal de Zamboio. Sabe? Podes me dizer eu vou te apoiar. É muito bom estar nesse luxo todo, eu não trocaria isso por nada. Agora abre o jogo.
- Tem certeza que vai continuar comigo e não vai contar a ninguém? - ele perguntou-me apreensivo.
- Tenho sim, amor.
Ele olhou para mim de uma forma demorada e depois disse:
- Zamboio é o nome da entidade que fiz pacto com ela.
Fiquei em choque. Claro que só por ter visto aquelas coisas estranhas no quarto já imaginava algo sombrio por detrás daquilo, mas ouvir da boca dele me fez sentir um arrepio gelar a minha espinha, porém a maioria vai ao inferno mesmo tendo cometido um único pecado de nada.
Então em silêncio eu fiz uma análise bem rápida e a minha paixão pelo Edson era muito forte e também pela riqueza, então usei como justificação que todos somos pecadores ou a maioria - então vamos para o inferno.
O episódio passou como se nada tivesse acontecido aí passou a me pedir para ir com ele em rituais macabros onde sacrificávamos pessoas desconhecidas e mais dinheiro recebíamos. A coisa foi se repetindo até que começou a perder graça e cada momento ficava na memória.
Chegou uma hora que aquilo incomodava, na verdade perturbava a mente, então um dia eu disse a ele.
- Eu já não quero mais continuar com isto.
Ele não disse nada, apenas saiu como um que vai apanhar ar e voltar no dia seguinte, porém ele não fez isso. Ele simplesmente ficou dias, semanas e meses sem aparecer.
Aí eu fiquei preocupada e todos em casa me achavam estranha, pois havia mudado para alguém como uma psicopata, mas eu tinha a minha irmã mais nova que mais confiava, ela era a minha melhor amiga.
Passaram algumas noites e eu passei a ter sonhos com pessoas que sacrificamos, pesadelos na verdade, com entidades diabólicas. Eram todas as noites mais pavorosas da minha vida. Eu precisava contar alguém aquilo, porém as palavras de Edson "Tem certeza que vai continuar comigo e não vai contar a ninguém?" soavam repetidamente na minha mente, me impedindo, mas eu juro que precisava.
Então numa tarde decidi ser uma surda e ignorar as palavras de Edson que soavam nos meus ouvidos, assim para contar à minha irmã acerca de tudo que aconteceu entre mim e Edson.
Fui com tudo e contei para ela.
- Mana, qual é o nome dele? - minha irmã perguntou.
- Edson Matsinhe.
Ela ficou tão apavorada que, eu fiquei muito preocupada.
- Calma irmã, acho que podemos sair dessa. - eu disse tentando acalmá-la.
- Mana, Edson Matsinhe morreu há 10 anos atrás. - ela disse.
Os meus olhos ficaram arregalados e foi aí que me lembrei que encontrei um gravador e uma foto na rua silenciosa e devoluta.
FIM