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A semana passou tão rápido quanto se foi os dias de descanso. No fim de tarde de domingo, depois de muita insistência de sua mãe, decidiu sair para dar uma volta. Não lhe custava nada ver como andava o movimento na pacata cidade interiorana. Com o tanque pela metade precisava mesmo por pra rodar o carro na garagem parado a dias.
Numa das ruas sentido centro, avistou caminhando na calçada o jovem Fábio. Aquele mesmo que tinha invadido seus sonhos na última terça-feira e quem evitava olhar ou pronunciar o nome no decorrer da semana. Não achou educado seguir em frente sem dirigir-lhe um cumprimento. Por certo não era uma mulher mal educada. Apertou a buzina, fazendo com que ele se virasse em direção ao som, forçando os olhos para enxergar quem estava atrás do volante do carro verde musgo.
Acenou de volta num cumprimento e deu-lhe um sinal de espera, que a fez acelerar o coração enquanto encostava o carro.
"Ei Marcela, você não pode me dar uma carona?"
"Depende, se estiver no meu caminho... Pra onde você vai?"
Ele sorriu, ela manteve-se séria.
"Pra casa."
"Sobe aí!"
Elevou a trava saltando para dentro do veículo que tão logo saiu em movimento na batida da porta.
"E aí, como foi o final de semana?"
"Normal como sempre."
Respondeu ela, olhando os demais carros pelo retrovisor.
"Tá indo pra onde?"
"Só dando uma volta. Ele ficou parado por mais de uma semana, não é legal pro motor né?"
"Aham."
Fez-se um silêncio momentâneo que parecia durar séculos. Ele quebrou o gelo.
"Tá afim de tomar alguma coisa?"
"Ué, você não tá indo pra casa?"
"Sim, mas se eu te convidar pra entrar não ia cair bem né?"
Eles riram.
"Palhaçada hein Fabio!"
"E ai?"
"Ok! Onde?"
"Para ali."
"Beleza!"
Manobrou o carro até posicioná-lo adequadamente no estacionamento transversal. Havia um barzinho com mesas do lado de fora tendo a vista da praça do lado oposto.
"Aqui tá bom pra você?"
Perguntou Fábio.
"Tranquilo."
Assentiu com a cabeça.
Sentaram-se, um à frente do outro. E logo foram atendidos pela garçonete com um avental branco encardido.
"O que vão pedir?"
"Trás uma cerveja e dois copos."
"Eu um suco de abacaxi por favor."
"A é! Esqueci... Você tá dirigindo."
"Se beber não dirija, né?"
"É o que dizem..."
Não demorou muito a atendente voltou trazendo a cerveja com os copos e avisou que o suco já estava sendo feito.
"Não quer nem um gole?"
"Não, não!"
"Você não bebe?"
"Até que bebo, mas preciso te levar em casa."
"Como se uma cerveja fosse me derrubar."
"É o que dizem..."
Todo o gelo foi quebrado e mantiveram uma conversa amistosa e bem humorada até terminarem as bebidas.
"Quer comer algo Marcela?"
"Não, eu tô legal. Tá ficando tarde, se ainda quiser minha carona..."
Levantou as sobrancelhas apontando os olhos para o carro.
"Beleza, vou acertar a conta."
Marcela meteu a mão na bolsa tira colo, pondo à mostra a carteira feminina. Fábio levantou-se ignorando-a. Foi até o caixa e na volta respondeu com um sorriso:
"A próxima é por sua conta!"
"Haha, quem disse que haverá próxima?"
"A esperança é ultima que morre... é oque dizem."
Ele deu de ombros sorrindo.
O caminho para casa foi banhado em música e conversas aleatórias.
"É aqui!"
"Beleza!"
"Obrigado pela carona."
Disse Fábio saindo do carro.
"Obrigada pelo suco."
Bateu a porta e abaixou-se para olhar o rosto feminino atrás do volante.
"Quer entrar?"
Convidou-a com um costumeiro sorriso.
"Nem no sonho."
Gargalhou.
Fez o motor roncar, acelerando-o com o pé ainda na embreagem.
"Até mais."
"Até amanhã!"
Saiu Marcela vendo pelo retrovisor o rapaz que ficou na calçada. Um sorriso havia substituído toda a lamentação do fim do relacionamento de anos, e ela ansiava encontrá-lo novamente.