Capítulo 3 TEM CERTEZA

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CARTER GRAY JHONNES

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- Tudo bem, preciso que respire fundo, e solte o ar. Me diga, Carter, apenas me diga... - ela disse com sua voz calma e paciente, esperando que eu começasse a realmente cooperar para obter resultados na consulta, além do mais, Alexandra tinha pilhas e pilhas de relatórios para fazer sobre nosso tempo juntos. - O que você está vendo?

Respirei fundo, com meus olhos ainda fechados e me concentrando apenas no som da voz da mulher, tentando decifrar o que minha mente conturbada tentava me mostrar. Quando enfim fiquei inerte e em transe, consegui sentir uma brisa gelada batendo contra meu rosto, mas não era real. Não agora, mas um dia havia sido... tudo aquilo havia sido real para mim. E como se meu corpo fosse transportado para outro lugar, e agora eu vivesse apenas em minha mente, olhei para o lado e lá estava ele, com seus cabelos penteados para trás, assim como os meus - ele sempre pedia para que eu fizesse igual ao meu. -, também usando roupas semelhantes as minhas. Ele estava com uma camisa branca, e por cima, havia um colete de tricô bege e calças claras. Ele era o meu melhor amigo, meu único e mais novo irmão, Michael Tompson. Seu sobrenome se distinguia do meu, já que éramos apenas filhos da mesma mãe, mas com pais diferentes. Michael era fruto de um outro casamento da minha mãe, já que em mil novecentos e vinte e oito, meu pai havia morrido, e ela se casou com outro homen, apenas dois anos depois do falecimento de meu pai. Odiava pai que o garoto tinha, achava um absurdo a forma em que a criança era tratada por ele, e odiava mais ainda minha mãe ignorando toda a situação.

Comecei a me perder um pouco em meus pensamentos, deixando minha concentração sumir por alguns segundos, até que a imagem em minha mente ficou um pouco turva e eu mal conseguia vê-lo. Me esforcei mais que o suficiente, para que tudo aquilo voltasse ao normal e que eu pudesse vê-lo novamente, rezando para que novas lembranças negativas não interferissem em minhas lembranças felizes. Não podia perder aquilo agora, queria continuar a poder ver Michael sorrindo novamente. Queria que a criança que era feliz comigo, voltasse a aparecer em uma resolução melhor em minha imaginação. Era para ele continuar comigo para sempre, eu iria cuidar de Michael, iria levá-lo para morar comigo assim que eu saisse do exército e a guerra acabasse. Eu planejava me casar com Ava e levar o garoto comigo.

- Senhor Jhonnes, está tudo bem com você? - voltei a escutar a voz de Alexandra e tentei me apegar a ela, usando sua voz para ancorar minha concentração. Não respondi sua pergunta de imediato, e então ela voltou a questionar. - Se quiser, podemos parar por aqui mesmo. Não quero que se sinta forçado a fazer isso, Carter, preciso que queira fazer por conta própria.

- Eu estou bem. - falei baixo, com medo de perder o resto da visão que tinha de meu irmão. - Podemos continuar, não quero parar agora, Doutora.

- Tem certeza?

- Tenho. - suspirei, antes de voltar a confirmar. - tenho certeza sim.

- Lembre-se de que podemos parar quando quiser, é da sua mente que estamos falando. Não quero que sua saúde e estabilidade sejam comprometidas.

- Tudo bem, doutora Alexandra. Podemos voltar a consulta?

- Está bem, o que você está vendo, Carter? - Questionou novamente, me fazendo tentar a voltar com a minha concentração.

Ele era apenas uma criança, no auge de seus dez anos de idade e com uma pequena cicatriz no queixo, causado por uma queda que havia sofrido quando mais novo, ele era bastante agitado e costumava ficar correndo para lá e para cá. Michael se lambuzava e seu rosto estava coberto com molho por toda a parte, enquanto reclamava com medo de sujar as roupas claras que ele usava e acabar levando uma bronca de seu pai. Tentei amenizar a situação, dizendo que pelo menos ele estava se divertindo, e falei que assumiria a culpa pela sujeira. Até havia caído uma pequena gota do molho em mim, pois nós dois estávamos comendo um cachorro quente no parque. Estava de noite e um pouco frio, mas ainda cedo para estarmos na rua juntos. O lugar era iluminado, principalmente na parte onde nós estávamos comendo.

- É o Mike. - falei, sorrindo ao consegui ver aquela memória feliz novamente.

E dessa vez, estava tudo bem nítido e eu pude ver cada um dos detalhes de meu irmão... Seus cabelos loiros e grandes, cheios de gel de cabelo, para fixar as mechas rebeldes no lugar, os olhos verdes refletindo as luzes dos brinquedos do parque.

- O nome dele, o seu irmão, era Michael, não era? - Ela perguntou, já sabendo sua respostas, mas fazendo testes para ver se eu me lembrava bem de detalhes importantes, como o nome de meu próprio irmão.

- Sim, - respondi, dando graças a Deus por nunca ter esquecido o nome dele. -Michael é o meu irmão mais novo. - meu coração se apertou, por lembrar que ele não estava mais nesse mundo. Não estava vivo a muito tempo. - Era o meu irmão mais novo. - completei com a voz carregada de tristeza ao me lembrar dos detalhes. Senti uma lágrima quente molhar meu rosto, enquanto a mesma escorria pelo meu maxilar, como se cortasse meu rosto com aquela pequena gota salgada cristalina.

- Não pense em todas as suas perdas, Senhor Jhonnes, pense que, infelizmente, seus caminhos apenas foram traçados de formas divergentes. - sua voz calma avisou, como se tentasse fazer com que eu me sentisse melhor e esquecesse o assunto sobre a morte de meu irmão, uma coisa que era quase que praticamente impossível, ainda mais agora que eu tenho que me encontrar com Dean, meu único parente vivo, todos os dias e tentar não imaginar se Michael seria parecido com ele se eu tivesse o visto quando ficou mais velho. - Como é que o seu irmão está?

- Ele tem Ketchup no rosto. - meu sorriso voltou a aparecer, e eu dei uma risadinha. - O muleque está todo lambuzado, tem molho em seu nariz e bochechas, mas mesmo assim, não desistiu de comer seu cachorro quente. Está bom demais para deixar pelo menos um pedacinho.

Não posso e nem mesmo poderia dizer isso ao certo, mas pelo pequeno barulho que escutei vindo da sala, deduzi que a Doutora estava dando uma pequena risada também. Ela já havia percebido que eu gostava daquilo, gostava de ter memórias boas para relembrar meu passado, gostava de lembrar de minha família e amigos, e eu também estava bastante feliz, já que minha mente havia conseguido acessar uma de minhas memórias favoritas com meu irmão.

- Geralmente, - começou, me fazendo prestar bastante atenção em suas próximas palavras. - eu costumo pedir esse tipo de observação quando um dos meus pacientes está no meio de um ataque de pânico, ansiedade ou pesadelo, mas acredito que isso funcione também aqui no caso que temos aqui hoje. Está tudo bem para você, senhor Jhonnes?

- Está sim, eu me sinto bem e quero que prossiga com tudo, Alexandra, por favor.

- Então, vou precisar que o senhor siga todas as minhas instruções. - ela pediu, e então, apenas concordei com ela, disposto a fazer qualquer coisa para me lembrar. E obedecer todas as duas instruções, era a única forma de eu conseguir ver partes do meu passado com mais clareza.

Escutei o barulho do botão de uma caneta sendo apertado, e também o de folhas de papel sendo deslocadas e se chocarem uma com a outra, imaginei que a médica estaria indo fazer algumas de suas anotações sobre a consulta e sobre minhas futuras respostas.

- Preciso que me diga cinco coisas que consiga ver em sua mente, Carter. Não precisa ter muita pressa, apenas se concentre. - ela pediu, e eu tentei analisar tido ao meu redor, tentando distinguir detalhes importantes e também os mais próximos de mim.

- Bom, consigo ver o Michael. - em minha mente, virei minha cabeça para a esquerda, analisando o espaco. - Eu vejo uma moça de cabelos escuros. - quem era ela? Talvez fosse outra das diversas moças que saiam comigo. - Ela está com um vestido cor de rosa, é muito claro seu vestido, e a unicar luz que tenho disponível é a do parque, mas tenho certeza que de é cor de rosa. - afirmei, tentando estar certo, mas se não estivesse, talvez não fosse fazer muita diferença. - Também vejo uma placa com o nome de um dos meus brinquedos favoritos, é o ciclone. - eu adorava ir nesse, mas naquela noite, tinha quase certeza de que não fui por que estava com meu irmão, que não tinha idade e nem altura suficiente para lá, e também estava com uma mulher, e mulheres não gostam de brinquedos assim. - Bem, ao meu lado, tem uma pequena barraca de cachorro quente, onde nós compramos os que estávamos comendo. Tem duas crianças correndo como loucas e uma senhora indo atrás deles, acho que deve ser a mãe delas, já que grita que vai colocar os dois de castigo.

- Quatro coisas que consiga tocar. - mal havia começado, mas já conseguia sentir um pouco de dor em minha cabeça.

- A mão... - apertei meus olhos. - A mão da garota que usa o tal vestido cor de rosa. Tem um fio de cabelo em minha boca. - fiz careta, como se naquele segundo, eu estivesse mesmo com aquele maldito fio de cabelo em minha boca, conseguia até mesmo sentir a textura do fio. - Isso está me agoniando. - comentei, passando a língua em meus lábios. - Na minha outra mão, tem uma garrafa, está tão gelada que sinto ela queimar um pouco de minha mão, deixando-a um pouco dormente. A gola da minha camisa, ela esta roçando no meu pescoço e também está me incomodando. - conclui, tentando passar todos os detalhes para ela.

- Três coisas que consiga sentir o cheiro. - foi seu terceiro pedido.

Respirei fundo.

- Um perfume adocicado, e também sinto cheiro de shampoo de maçã verde, eu acho. - comentei, sem ter muita certeza sobre minhas palavras.

- Está errado. - ela apenas disse, e escutei o barulho da caneta escrevendo em seu papel. - O cheiro de maçã verde que sente, não é de suas lembranças, e sim de mim. - ela falou, mostrando que era por isso a minha incerteza. - Você tem que se concentrar nisso, senhor Jhonnes. - acusou.

- Me desculpa. - pedi, me sentindo culpado por ter perdido um pouco de minha atenção.

- Apenas se concentre. - voltou a falar.

- Sinto o cheiro de óleo diesel. - voltei a tentar me concentrar, dessa vez, falando algo que eu tinha certeza de era real. - Tenho a total certeza de que não vem de você, dessa vez. - ela soltou uma pequena risada. - Estamos perto de um dos brinquedos do parque de diversões, é comum usarem para lubrificação certas peças de brinquedos. - tentei explicar melhor. - Sinto cheiro de tomate, é molho de cachorro quente. - reconheci.

- Sente o gosto de algo?

- Sim, é doce e está impregnado em minha boca. Vem da garrafa em minha mão, mas não consigo distinguir o gosto que tem. - aleguei.

- Tente tomar um pouco do líquido da garrafa, tudo bem? Afinal, ela está na sua mão, muito perto, não é mesmo? - Ela pediu para mim, e então foi o que eu fiz.

Tentei me esforçar o máximo possível, afim de pelo menos fazer com que a garrafa alcançasse meus lábios e fizesse com que o líquido gelado descesse pela minha garganta. Era doce, senti o gás borbulhando em minha língua.

- Refrigerante... - aleguei. - tenho certeza absoluta de que é refrigerante.

Enquanto eu segurava minha respiração por alguns segundos, esperei a voz calma e suave da terapeuta, para que ela me ajudasse a acordar. Eu não queria, mas sabia que era necessário e que eu não poderia me prender a memórias antigas para sempre e que um dia eu teria que voltar para o século vinte e um.

- Três, dois... Um. - ela estalou os dedos, fazendo com que eu ficasse ainda mais atento em sua voz. - Respire e inspire, Carter. - induziu, e foi o que eu fiz. - Pode abrir seus olhos quando quiser... No seu tempo. - foi o que eu fiz, esperei alguns segundos até começar a abri-los devagar, para acostumar meus olhos com a iluminação do lugar.

A luz ali estava fraca, já que em nossas cessões de hipnose, a mulher sempre diminuía a iluminação, e confesso que aquilo me deixava mais tranquilo durante a consulta. Não me sentia muito confortável tendo que me abrir para alguém que ainda era estranho para mim, nem mesmo antes, com amigos e família, eu conseguia falar sobre minha vida. Me sentia um pouco inseguro e perdido com o que eu iria dizer para a médica. Todos os dias de manhã, passava horas pensando em que tipo de coisa ela me perguntaria, e quais palavras eu deveria dizer para ele. Ensaiava minhas respostas para todas as suas perguntas. Mas de todos os dias que me consultei com a mulher, as hipóteses me deixava mais tranquilo, calmo e esperançoso. Tudo aquilo fazia com que eu me sentisse melhor, eu sentia que aquilo me deixava bem e que surtia efeitos sobre minha saúde mental. Não eram feitas perguntas invasivas naquele tempo em que eu ficava com os olhos fechados e viajando em meus pensamentos. Por mim, ficaríamos ali só com os olhos fechados e relembrando coisas boas de meu passado.

- Como você está se sentindo? - Sua voz doce voltou a invadir meus ouvidos, me fazendo virar meu olhar para ela.

- Leve. - sorri como se estivesse agradecendo por tudo que ela havia feito por mim naquele dia. - Eu me sinto muito leve. Obrigado por tudo, Doutora. - agradeci a ela em voz alta, recebi um sorriso sincero. Ela também parecia contente pelo trabalho que estava fazendo comigo.

Já fazia algumas semanas que nossas consultas haviam começado e devo admitir que esse tipo de cessão era minha favorita, eu sei que ela faz de tudo para me ajudar, mas não me anima nem um pouco quando me faz tantas perguntas sobre como eu me sinto. Mas gosto de quando me ajuda a entrar em minha própria cabeça, me fazendo acessar minha mente livremente. A doutora e eu estávamos progredido bastante com todas as nossas consultas. Eu mesmo, já tinha recuperado algumas de minhas memórias perdidas e era nisso que eu estava me agarrando naquele momento. Em meu passado, para que eu sentisse meu coração bater como se eu estivesse mesmo em meu passado, relembrando todos os momentos bons com minha família e amigos, nem que fosse pelo menos por alguns minutos.

- Não precisa me agradecer, Carter. - avisou sorrindo, mostrando que também ficava contente. - Estou aqui pra ajudar você a se recuperar. E eu espero mesmo que todos os nossos esforços estejam funcionando.

Ela se levantou do tapete de onde estava sentada, a doutora tinha aquela mania de ficar sempre de uma forma menos formal. Era pouco ortodoxos seus métodos, ou duas atitudes durante a consulta. A mulher costumava chegar e se sentar em um tapete felpudo e marrom que ficava no meio de seu consultório, ignorando completamente uma das poltronas que estavam livres para que ela se sentasse, era estranho, mas me dava uma sensação de conforto, e acho que para ela, também era bem mais confortável ficar daquela forma. Eu, ao contrário da moça, costumava me sentar na poltrona na sala, acho que eu ainda não estava pronto para me sentar no tapete felpudo da sala, ainda não me sentia tão bem para subir para um nível tão avançado como aquele. O tapete ainda não era para mim, e eu sabia disso. Ela me olhou, e logo depois foi em direção a uma mesa que tinha no outro lado da sala, e na minha opinião, aquele lugar só servia para juntar poeira e servir como apoio para os livros e cadernos da mulher. Acho que por Alexandra, ela retiraria várias daquelas coisas e encheria a sala de tapetes e almofadas. Então, pelo canto do olho, a vi fechando seu caderno, abrindo uma gaveta com chave e colocando o mesmo lá dentro. Logo depois, ela juntou uma parte de seus cabelos curtos e fez um coque, prendendo com a caneta que a pouco tempo, ela usava para anotar coisas importantes sobre minha saúde mental.

- Nós nos veremos amanhã? - questionei, enquanto ela olhava para cima, como se tentasse lembrar das coisas que faria amanhã.

- Temos um horário amanhã? - perguntou, como se não soubesse que temos seções praticamente todos os dias.

Levantei minha sobrancelha, me levantando da poltrona, e pronto para te responder.

- Foi o que você disse quando começamos as seções, não? - cruzei os braços. - disse que sempre que eu precisasse, poderia te procurar.

- Eu sei, Carter. - deu um pequeno sorriso brincalhão. - Nos vemos amanhã, tudo bem? Me encontre no mesmo horário de sempre.

- Seção de hipnose?

- Ainda não sei qual método usaremos na nossa próxima consulta.

- Mas...

- Até amanhã, senhor Jhonnes. - se despediu, abrindo a porta e saindo da sala, me deixando lá dentro e sozinho, enquanto encarava as paredes e imaginava que tipo de consulta teríamos naquela próxima consulta.

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DEAN TOMPSON

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O barulho e o cheiro de temperos, invadiram minha cabeça e narinas, me deixando enfermagem enfeitiçado. Suspirei, tentando achar de onde aquele cheiro incrível estaria vindo, e meu estômago até roncou naquele momento, me fazendo lembrar que eu nem mesmo havia almoçado hoje mais cedo. Eu tinha ficado bastante ocupado com algumas coisas, e até mesmo com o treinamento novo de Carter e a reabilitação dele, ainda tinha uma pilha de documentos para preencher e já estava me sentindo sobrecarregado com todos os deveres de líder da Equipe Especial de Intervenção a Gênesis. Nunca achei que eu iria me cansar tanto por conta de um emprego, mas aquele era o meu trabalho e eu estava orgulhoso por ter chegado até ali. Eu merecia e pretendia mostrar que era ali o meu lugar para todos e para mim mesmo.

Eu havia acabado de sair do apartamento de Sharon, onde a loira me ajudava com um dos relatórios que eu tinha para fazer, esse era de uma das nossas missões juntos, já que nós dois estávamos responsáveis pela finalização do documento, pois como foi um trabalho em dupla, teriamos que repassar cada um de nossos passos para o documento que seria entregue a Eric E. Heywie.

Em apenas um segundo, colei meus olhos na porta do apartamento da frente, onde ficaria o apartamento de um dos novos membros da equipe em que eu liderava: Doutora Alexandra Wilson. Dei dois toques na porta, e não demorou muito para que a figura de um metro e sessenta aparecesse em minha frente, com um avental martelado e com uma frase engraçada escrita, mas o que me chamou mesmo a atenção foi ver que seus olhos estavam marejados e avermelhados.

- Dean? - ela franziu o cenho, estranhando minha presenca ali, ainda mais naquela hora. Ela nunca havia me visto em seu apartamento. - Precisa da minha ajuda para algo? - se preocupou.

- Tá... - me enrolei, tentando entender o que estava acontecendo com a garota. Tá tudo bem com você? - apontei para seu rosto, que estava vermelho, assim como seus olhos.

Ela sorriu, me deixando um pouco mais tranquilo, e levantou seu braço, passando as costas de sua mão em seis olhos, vendo que estavam escorrendo algumas de suas lágrimas.

- Estou sim. - afirmou dando um pequeno sorriso. - Odeio cortar cebolas. - justificou, revirando os olhos e achando irritante a irritação de seus olhos por ter apenas cortado uma simples cebola. - Precisa de algo, Dean? - Voltou a questionar.

- Ah, não. - avisei, para que ela soubesse que não era nada importante e que não precisaria se preocupar com aquilo. - Eu só... Deixa para lá. -desconversei tossindo, coçando minha garganta e levando uma de minhas mãos até minha nuca, apertando franco, dando alguns passos para trás.

- Está nervoso por algo? - notou. Óbvio que notou, ela seria a primeira a notar qualquer ato de qualquer um. Alex era observadora, e era parte de seu trabalho ser daquele jeito.

A mulher estranhou minha atitude, semisserando os olhos.

- Ah, claro que não. Eu já estou indo, até amanhã, Agente Wilson. - dei as costas para a mulher, já pronto para correr até o elevador e apertar todos os botões.

Por que eu estava daquele jeito apenas por precisar falar com Alexandra? Tudo bem que o que me enfeitiçou foi o tempero da comida que a mulher estava preparando, mas estar em sua frente era algo que costumava me deixar desconcertado, mesmo que nós nos encontrassemos poucas vezes.

- Dean? - sua voz voltou a invadir meus ouvidos, mais uma vez fazendo meu estômago se revirar, mas não de fome.

- Sim? - apertei os olhos com força, querendo saber o que ela iria me dizer logo em seguida.

- Estou preparando o jantar. - disse o que eu já sabia. - Quer me fazer companhia? - perguntou sujestiva.

- Não vou te atrapalhar, vou? - Questionei, me virando para ela.

- Claro que não, e além disso, acho que acabei fazendo comida demais e eu sou apenas uma. - ela me convidou para sua casa, dando espaço para que eu passasse na porta.

- Tem certeza?

- Se não vier, vou chamar Mattew e Sharon, e não vai sobrar nadinha para você comer depois. - ela falou convencida, já sabendo que ninguém daquele prédio usava suas cozinhas para nada, já que sempre pedimos comida ou saíamos para comer fora. - Então... - notou que eu nem mesmo tinha saído do lugar. - Você vem ou não? - cruzou os braços, se escorando no batente da porta, e soltando um sorrisinho. - Eu não vou morder você, e nem mesmo te atacar, não se preocupe Agente Tompson.

- Se você está dizendo. - eu acenti com a cabeça, aceitando o convite que a mulher havia feito.

«★»

- Como está indo as coisas com o Carter? - Foi a sua vez de questionar, olhando para mim, e eu a encarei surpreso por ela ter tocado naquele assunto, mas logo lembrei que ela era a terapeuta dele.

- Eu poderia te fazer a mesma pergunta, não é mesmo? - cortei um pedaço do meu bife, levando o pedaço de carne até meus lábios e o comendo.

- Sabe que não posso te dar esse tipo de informação, não é? - ela riu, como se fosse normal responder a isso.

- Claro que sei, mas é que...

- Você se importa muito com ele e quer que Carter se recupere logo. Está sentindo como se ele fosse uma responsabilidade sua, mas não é, Dean. Acha que por que estava quando o encontrou, acionou um gatilho em sua cabeça, e que agora você é responsável por ele. - Ela dizia, enquanto eu a observava com atenção, escutando cada uma de suas palavras e vendo que era exatamente o que eu sentia.

- Está me analisando? - questionei, arqueando minha sobrancelha e a olhando enquanto eu fingia estar ofendido.

- Talvez. - respondeu dando de ombros e bebericando o líquido amarelado dentro de seu copo e dando um pequeno sorriso quando deixou o copo novamente sobre a mesa.

Acenti com a cabeça, negando enquanto eu mesmo ria da situação.

- Deveria marcar uma consulta comigo. - sugeriu, me fazendo estranhar. - Posso abrir uma vaga para você na minha agenda. Gregory desmarcou a consulta dele, em um dos nossos encontros dessa semana.

- Greg? Estamos falando do mesmo homem? - Difícil acreditar que ela faça terapia.

- Bom, passar duas horas escutando ele esbanjando seu egocentrismo, não é bem inovador e divertido. - ela riu e eu pude imaginar as várias falas de Gregory Heywie.

- Ele faz isso a qualquer momento. - eu mesmo dei risada, olhando em meu relógio. - Já está tarde, não é mesmo? Eu preciso ir. - falei me levantando com o prato e colocando o mesmo na pia.

- Tem certeza que já quer ir? - questionou novamente, mas realmente estava ficando tarde e eu acordaria cedo no dia seguinte.

Querer eu não queria, mas teria que ir. Ficar ali conversando com ela havia sido bom, mas ainda tinha coisas para fazer.

- Posso voltar depois, se quiser.

- Vou adorar te receber na minha humilde cozinha, mas dá próxima vez, por favor chegue um pouco mais cedo, para que você possa cortar a cebola em meu lugar. - sugeriu rindo, mas não parecia ser uma brincadeira.

Voltei para a cadeira, pegando meu casaco e indo em direção a porta.

- Obrigado pelo jantar, Alexandra, estava incrível. - elogiei. - separe uma boa faca, e quero um avental legal também. - me lembrei do seu.

- Tenho um da galinha pintadinha, aposto que você vai amar.

            
            

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