Capítulo 3 Cabelo de Tartaruga

- O que está acontecendo? - Akira disse enquanto congelava nos braços de Yok, sua bochecha pressionada contra seu peito.

- Se você que passou por tudo isso, por que eu saberia? - Yok questionou tentando arrancar um pequeno sorriso de Akira, mas não foi o suficiente, pois, o entregador deu um grande suspiro antes de enterrar seu próprio rosto na curvatura de seu melhor amigo, sentindo o cheiro que o homem tinha pós banho. - O que é isso que você está vivendo, um filme? - O mais velho continuou tentando arrancar um pequeno sorriso de Akira, o que realmente ocorreu.

Mas logo deixou cair o sorriso e suspirou, passando a mão pelo rosto. Ele odiava que seus amigos se preocupassem com ele, mas não tinha escolha a não ser ficar agradecer a seu amigo por ter lhe ajudado a simplesmente cuidar de um cara ensanguentado.

Ele odiava ser um incômodo.

- Eu realmente sinto isso, sabe? - Akira comentou com um sorriso fraco, tentando dissipar o clima tenso que começou a aparecer ao redor do casal de amigos. O que quebra esse clima de certa forma estranho, é o barulho da barriga roncando de Akira.

- Você está se alimentando? - Yok perguntou com seriedade, ele sabia como Akira quase nunca tinha tempo para si mesmo, até mesmo para se alimentar, mas ele sempre reiteirava para o outro não se esquecer de alimentar-se.

Com sua agenda tão corrida, o outro simplesmente não passava mais do que cinco horas em casa, e muitas vezes três horas apenas era para dormir, já que as outras duas ele passava arrumando sua casa, que estava constantemente suja - por mais que ele não passasse tanta hora lá, ele sempre se questionou de como aquilo era possível. -, ou trabalhando em algum projeto pessoal.

De qualquer forma, Akira poderia administrar. Bem, ele tinha conseguido até agora. Ele era jovem e forte e não deveria reclamar. Até que suas pernas não pudessem mais se mover, ele tentaria o seu melhor para completar seus objetivos e finalmente fazer algo de si mesmo.

- Eu... Eu apenas não tive tanto tempo assim, sabe? - O entregador respondeu com um sorriso murcho. - Minha tartaruga morreu e eu estive de luto. - Usou a primeira desculpa que veio em sua mente.

- Akira, você não tem uma tartaruga. - O médico afirmou pressionando os olhos fechados com a ponta de seus dedos.

- Eu posso ter uma, então. - Continuou tentando fazer o outro simplesmente esquecer daquele assunto. - Eu gosto de pentear o cabelo de uma tartaruga. - Afirmou apontando o indicador para o outro que Revirou os olhos.

- Tartarugas não tem cabelo, Akira. - Continuou.

- São apenas detalhes. - Revirou os olhos bufando, o mais baixo olha para janela ainda confuso com tudo acontecendo em sua noite. - Eu não consigo acreditar que isso é real. - Afirmou com a mão na cintura, Yok foi paciente com Akira, pois, ele sabia que o outro ficava sempre se martirizando com qualquer coisa que acontecesse de certa forma errado. - Me desculpe mais uma vez, eu não deveria te envolver nisso. - Afirmou olhando para os olhos de Yok.

- Se você não tivesse me envolvido, aquele garoto provavelmente não estaria minimamente estável. Já que vocês não podem ir no hospital. - consolidou tentando destruir as barreiras que o Akira construía aos poucos.

- Fala sério, Você acabou de me dizer que viu um cara ser esfaqueado bem na sua frente. E eu te conheço, então sei que você ainda não se permitiu processar isso. Isso é algo muito intenso de se testemunhar, especialmente quando você acaba se envolvendo. - Afirmou de certa forma paranóica.

- Akira, está tudo bem, okay? Já passou. - Continuou. - Eu vou fazer algo para você comer, tá bom? - Sorrio mostrando suas covinhas. - Vocês dois precisam se alimentar. - Comentou abrindo a porta e caminhando para a cozinha.

- Yok, você que vai cozinhar? - Questionou com uma sobrancelha erguida, sentia medo do perigo que seu melhor amigo era na cozinha. Não que ele cozinhasse mal, mas sim que enquanto ele faz comida, ele costuma ser um perigo.

- Sim, confia no pai. - comentou rindo batendo no peito.

Akira realmente não confiava, antes de começar a cozinhar, Yok vê a figura do fugitivo deitada no sofá enquanto cobria o rosto com parte do braço. Se aproxima de Akira e sussurra para o mesmo.

- Vocês não podem passar a noite aqui. - Tentou jogar a informação para Akira de forma mais delicada possível, pois, se lembrou que seus pais lhe visitaram pela manhã e ele realmente não queria se explicar do porque havia um cara esfaqueado dormindo em seus sofá.

- Uau, Yok, você é muito bom em estragar o clima, hein. - Revirou os olhos cruzando os braços.

- Estou apenas dizendo! Meus pais vêm me visitar no fim de semana amanhã de manhã. Prefiro não ter um estranho sem nome no meu sofá quando eles tiverem aqui. - Explicou tentando não parecer grosso, pois, ele realmente não estava sendo.

- Não é um Zé ninguém, ele tem um nome. - Contestou de forma automática. ele suspirou. Akira assentiu. Ele entendeu e ainda se sentia culpado por trazer o fugitivo aqui. Mas o que ele iria fazer? O fugitivo tinha que ir a algum lugar ou ele tinha seu próprio lugar? Ele não podia perguntar agora, o cara estava nocauteado. E pelo jeito que ele estava agindo antes, ele provavelmente ficaria por um tempo.

- Podemos só dormir um pouco? Vamos embora antes da oito. - Tentou convencer o amigo, afinal, ele quase não aguentava mais em pé.

- Ok. Mas você está dormindo na sala. Não vou dividir a cama com você de novo. - Yok concordou após suspirar, e Akira achou aquilo uma ofensa.

- Eu não posso controlar o que eu faço ou digo enquanto estou dormindo! - Afirmou rindo e seu melhor amigo Revirou os olhos mais uma vez.

- Mas eu posso controlar onde você vai dormir. Você pode abraçar e falar com um travesseiro em vez de mim desta vez. - Se virou e Akira sorriu.

- Você ainda não me disse o que eu falei da última vez. - Afirmou rindo para seu amigo, que simplesmente se recusava a dar qualquer informação do que havia ocorrido quando dormiram na mesma cama da última vez.

            
            

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