Capítulo 5 Culpa

Apesar de se aproximar de Olive, Violet não podia dizer o mesmo por Graham. Ele era um homem incomum; não ficava muito tempo em casa, e quando ficava, se trancava no escritório. Olive estava mesmo certa. Ele recebia visitas constantes de mulheres, mas Violet nunca arriscou supor que podiam ser mais do que negócios, apesar de que, certo dia, ouviu gemidos vindos de lá. Ela não costumava pensar muito sobre ele, mas depois daquele dia, pensou que por trás da fachada de homem culto e sério, havia uma besta pronta para atacar.

Ela sabia que não devia pensar esse tipo de coisa do seu chefe, mas curiosidade nunca machucou ninguém.

- Eu acredito - ela sorriu docemente para ele. - Já está tarde. Vou colocar Olive para dormir.

- Na verdade, eu gostaria de colocá-la para dormir, se não se importar. Acho que devo isso a ela. Vou tomar banho e vestir algo seco - ele olhou para suas roupas. Violet tentou não focar em como a camisa estava colada aos músculos do torso de Graham e a calça marcava o volume um pouco indecente. Uma poça de água se formou sob os pés dele. - Obrigado por cuidar dela. Ela nunca esteve tão feliz. - Ele apontou para o fantoche de meia na mão dela. - É um fantoche?

- Sim - ela respondeu, sentindo as bochechas ficando vermelhas. - Liv gosta de fantoches.

- Ela costumava adorar - lembrou ele, a voz passou a ter um tom melancólico. - Eu brincava com ela. Antes... antes de a mãe dela morrer. Verdade seja dita, acho que devo mais do que um beijo de boa noite para ela.

Violet piscou, sorrindo levemente.

- Se quer saber, acho que você é um bom pai. Ela o ama. O ama muito. Não precisa se preocupar com o fato de precisar trabalhar. Todo mundo tem uma válvula de escape. - Ela deu de ombros e passou uma mecha do cabelo acobreado atrás da orelha. - Vou para o meu quarto.

- Boa noite, srta. Jones.

- Boa noite, sr. Grayson.

Violet se afastou e o deixou a sós na sala de estar.

Pela primeira vez, Graham não se sentia tão culpado por suas escolhas. Sempre foi confrontado, mesmo quando as coisas pareciam certas, por seus medos. Tinha medo de não ser o suficiente para Olive assim como não foi suficiente para Layla. Tinha medo de se perder em si mesmo.

Depois de tomar banho e vestir uma roupa seca, se encaminhou para o quarto de Olive. Ele se aproximou e a viu entrar debaixo das cobertas. Olive colocou a cabeça no travesseiro e Graham sorriu, sentando na beirada da cama.

- Oi, pequena - disse ele. - Ouvi dizer que se divertiu bastante hoje. - Ele a cobriu com o cobertor e se inclinou para lhe dar um beijo na testa.

- A Violet é divertida - respondeu a garotinha. - Eu gosto dela. Ela canta muito bem, sabia?

- Ah, eu sei - ele assentiu. - Eu já a vi cantar. É lindo. De verdade. É bom saber que você gostou dela.

- Eu gosto - disse a garota. - Mas queria que você ficasse comigo - o tom da voz dela foi triste e doeu como um soco. Graham comprimiu os lábios e levou a mão até o rosto de sua filha, acariciando a bochecha com as costas da mão. - Sente falta da mamãe?

- O tempo todo - respondeu ele.

Layla deixara um vazio desde que morreu. Por mais que Graham tenha tentado superar a saudade e ignorar a presença constante do fantasma que pairava sobre a sua cabeça, não era nada fácil. Todas as vezes que olhava para Olive, via Layla por trás de seus olhos, como uma lembrança que nunca se apagaria. Ele odiava admitir, mas o motivo de se afastar tanto era esse. Não tinha nada de honrado em fugir dos seus problemas, principalmente quando Olive se magoaria tanto.

- Eu queria que ela estivesse aqui - disse ele, deslizando a mão pelo rosto de Olive. - Sinto muito, Liv. Sinto muito por não estar por perto.

- Não tem problema - ela disse, mostrando um sorriso banguela. - Está tudo bem, papai.

Ele queria que estivesse. Queria que tudo fosse absolutamente perfeito para ela. Sorrindo, Graham sentiu seu coração apertar e afundar dentro do peito. Queria poder largar tudo e ficar com Olive, cuidar dela, estar por perto para todos os momentos que precisasse.

- Mesmo? - Perguntou ele.

- Verdade - disse ela.

Ele se inclinou e roçou a ponta do nariz no dela.

- Boa noite, Olive - ele desligou o abajur do lado da cama.

- Boa noite, papai.