Capítulo 4 Uma entrevista tardia

Entro na sala dele e agora consigo ver e avaliar melhor o espaço. Sua sala é quase duas da minha e tem uma vista incrível para a Avenida Paulista.

Sua mesa fica logo a frente e há um enorme sofá preto na lateral direita da sala, um carpete marrom cobre o piso de porcelanato. Vejo que os móveis seguem padrões, todos pretos e o que me chama atenção são os livros que ele possui na estante próximo ao sofá.

Ele me oferece um café, mas dispenso, não gosto de café, sou da turma do chá. Peço então uma agua e enquanto ele vai me servir no frigobar fico extasiada com sua estante. Muito livros maravilhosos que já li e outros que tenho muita vontade de ler, talvez agora seja o momento, não tenho nada nem ninguém para atrapalhar minhas leituras agora. Meu ex namorado sempre me puxava para assistir filmes e séries, falava que livros eram para nerds e pra que ler se já tinha os filmes que contava o conteúdo dos livros. Eu achava aquilo engraçado, mas hoje vejo que apenas cedia a vontade dele para agrada-lo e não porque gostava. Agora terei a oportunidade de ler todos estes que estão na minha lista há meses.

- Pode pegar alguns emprestados caso queira futuramente, só não pode deixar de devolver. Vou ao inferno atrás de meus livros, sou pior que a minha mãe com as tampas de tupperware dela.

Rimos um pouco, ele fez uma piada? Olhas estamos evoluindo.

- Eu amo ler, é meu passatempo preferido. Respondo.

- Eu também, mas não divulga, eu não quero mais bullyng por causa desse meu lado nerd.

- Bullyng e Carlos não combinam na mesma frase Sr. Sanches. Ele ri e me aponta o sofá para que possamos conversar mais a vontade.

- Me conte sobre você srta. Patrícia. Suas experiências, sua vida seus hobbys. Como se apresentou por senhorita, presumo que não seja casada, correto?

Nossa, que homem direto.

- Não Sr. Sanches, não sou casada. Eu tenho 33 anos e trabalho desde os meus 15 anos com mercado financeiro, trabalhei em uma empresa até hoje. A WE Financeira. Comecei como estagiária e com o tempo e a curiosidade fui crescendo e sendo promovida até chegar o momento que eu já dominava toda a operação financeira do grupo, assim eu foi alocada como gerente geral de operações e fiquei neste cargo por 2 anos e meio.

- Interessante, e porque resolveu sair de lá então já que gostava tanto de trabalhar lá? porque , para trabalhar por 18 anos em uma empresa, tem que gostar muito mesmo. Ele diz com um sorriso no rosto. Não posso contar a ele o rela motivo, que saí de lá porque levei um chifre do meu namorado com a minha melhor amiga e que não gostaria de encontra-los na entrada ou saída do trabalho como um casalzinho feliz já que trabalhávamos todos no mesmo prédio.

- Por motivos pessoais Sr. Sanches. Respondo de forma séria e ele entende que este não é um assunto para ser discutido, não agora.

- Entendo. E seus pais? sua família é daqui?

-Não. Meus pais morreram quando eu tinha 16 anos e a única família que tinha foi embora. Falo me referindo a Thiago, meu magnifico namorado com quem mantive relacionamento por longos 18 anos. Tá explicado minha deprê, não?

- Sinto muito por isso Patrícia.

- Tudo bem, eu já superei.

- Então, vou te explicar sobre como tudo funciona aqui na D&D Corporation. Quero que você esteja ciente dos processos para nossa reunião da tarde.

Ele se levanta e começa a falar da história da empresa, dos procedimentos a serem adotados e das demandas não solucionadas por nossos corretores. A empresa tem muitas pendencias e o antigo diretor parece que não estava fazendo nada para resolver.

Percebo que as atribuições para meu cargo são grandes e agora entendo o porque da fala de Marta sobre as cervejas no frigobar. Vou precisar mesmo!

Carlos fala com tanta maestria e imponência que parece ter o domínio sobre tudo e sobre todos. Ele realmente entende o que está falando.

Eu não vejo nenhum bicho de sete cabeças, defino em minha mente uma estratégia a partir de tudo que ele falo e defino a solução do problema.

-Sua dificuldade então é gesta e pessoas? interrompo-o.

Ele me olha surpreso.

- Como chegou a essa conclusão? ele me olha intrigado.

- Simples, diante de tudo o que você tem me falado, todos os processos e procedimentos já foram criados e testados, eles dão certo. No entanto, não tem uma pessoa com pulso firme o suficiente para fazer com que todos sigam essas diretrizes. Então a solução é implantar e substituir. Implantar esses processos e substituir que tiver resistência em seguir!

Ele continua me olhando, agora com uma mão na boca, como se estivesse avaliando tudo o que eu falo.

- Exatamente isso Patrícia. Parabéns, você está contratada! Ele sorri e me alcança a mão direita.

- Eu ainda não estava? ele ri e ficamos mais alguns minutos ali, conversando sobre tudo que precisaria ser feito e como era importante iniciar a organização da operação imediatamente.

olho para sua mesa e vejo um porta retrato.

Um homem lindo e inteligente, mas pelo visto, casado!

            
            

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