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Aluhana Sabella
Não sei ao certo por onde começa, mas creio que muitos também teriam dúvidas entre falar primeiro sobre suas felicidades ou suas tristezas. Creio que minha vida seja moldada em equilíbrio com os dois sentimentos, talvez dividida em quatro se acrescentar a solidão e o medo.
Nascer com distúrbio genético e ainda por cima ser indiana, gera muitos comentários maldosos.
Durante todos esses meus anos de vida, nunca houvi um só momento em que eu não tenha sofrido bullying por minha cor, para ser mais clara, por ser albina. As pessoas não entendem que o que tenho foi herdado dos gênesis dos meus pais, que a falta de pigmentação de minha pele e cabelos não é escolha minha.
Nasci assim!
Fui gerada assim!
Porém, é tão difícil para as pessoas entenderem e me aceitarem do jeito que sou e não importa o quanto eu tente ser aceita, não importa se sou inteligente, se tenho minha beleza própria ou ate mesmo se sou filha de uma das maiores empresárias de Berna, tudo recai sobre o mesmo dilema, as mesmas palavras, de nada importa tentar ser aceita em uma sociedade hipócrita e preconceituosa se ate mesmo a minha própria mãe me rejeita.
Por um tempo desejei muito ser como Kira, minha irmã gêmea, mas certa vez, ouvir de uma pessoa, que não adianta querer ser como outras pessoas se somos únicos.
Chega de lamentações.
Respiro fundo e volto ao meu trabalho, observo os inúmeros projetos sobre a minha mesa e levo minhas mãos a cabeça, mal havia me formado e minha mãe decidiu que era hora de pôr em prática tudo que aprendi na faculdade de engenharia cível.
Mordo meu lábio inferior e começo meu trabalho, sem me importa com as horas.
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- Pelo visto alguém perdeu o horário novamente. - Assusto-me com a voz rouca de Adriel, meu único amigo.
- Céus Adriel! Porque não bate na porta antes de falar algo? - Indago vendo o mesmo sorrir.
Adriel Scott é pouco mais velho que eu, no auge dos seus vinte e sete anos, o ruivo cheio de sardas no rosto e olhos peculiares, assim como eu, lida com o preconceito, coisa que me admirou muito ao conhece-lo.
- Aluhana, esta na hora de ir para casa, aceita uma carona? - Indaga colocando sua mão esquerda no bolso.
- Claro que aceito. - Respondo sorrindo - Mas antes tenho que organizar tudo isso, me ajuda? - Peço fazendo bico, sem titubear ele ajuda-me a organizar meus projetos.
Quando conheci Adriel a cinco anos atrás, pensei que ele nunca se tornaria um amigo fiel, confidente, mas com o passar do tempo, mesmo com todos os comentários maldosos, ele permaneceu do meu lado.
Quando estava certa ou errada, nos momentos de loucura ao decidir ir a um bar qualquer pela madrugada, até mesmo quando decidir que seria o momento de arrumar um namorado e começar a planejar uma possível gravides que até o momento ainda não aconteceu.
Terminamos de organizar tudo e fomos para casa, durante todo o trajeto, não teve um só momento em que Adriel não me fizesse sorrir, sempre contando uma de suas piadas ou como as pessoas reagem ao ver a cor dos seus olhos iluminados e as muitas respostas que ele quer dá ao ser questionado se usa lente de contato.
- Estive pensando, porque será que sua mãe se recusou a te dar um dos apartamentos da empresa? - pensatico ele comenta antes de o elevador parar no andar que moro a cinco meses.
- Adriel, não costumo questionar sobre as escolhas dela. - Respondo enquanto procuro em minha bolsa as chaves de meu apartamento.
- Acho estranho o fato de ela amar tanto a Kira e te tratar como trata - Comenta - Sabe, vocês são gêmeas, mesmo que de placentas diferentes, tenho certeza que se para sua mãe, você ser como é se trata de um defeito, aposto que Kira também deve ter algum. - Diz por fim e respiro fundo ao encontrar minhas chaves.
- Adriel, não vamos falar sobre isso. - Peço o olhando com súplica.
Tudo que menos quero nesse momento é pensar nos motivos de minha mãe me rejeitar tanto, claro que em recompensa tenho todo amor, atenção e carinho do meu pai, que mesmo tentando impedir as loucas de minha mãe, ele não consegue controlá-la.
Meu aniversário esta se aproximando e soube por alto que mamãe esta organizando uma grande festa para minha irmã, tudo deve sair perfeito e impecável como sempre e sei que como todos os anos, claro que com a diferença de que estarei em meu apartamento, essa data não será comemorativa para mim, exerto pelo fato de que papai sempre manda entregar algo especial para mim.
Sei que Adriel iniciou essa conversa por esse motivo, mas desde criança, aprende a não esperar tanto de minha mãe, não espero um abraço, um beijo, uma demonstração de afeto, nem mesmo que ela me deseje "Parabéns".
Se estão se perguntando se essa é minha realidade, sim! E é assim que quero começar a contar a minha história, citando as pessoas importantes em minha vida e como fui parar em um beco sem saída, como me apaixonei por rosas osírias e Hortênsia e em como fui parar nos braços da escuridão em pessoa.