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Ao chegar em casa cuidei do pequeno Benjamin como havia aprendido e adormeci junto a seu berço.
O tio saiu para o seu trabalho e logo em seguida chegou a senhora que cuidava da casa quando a mamãe ficou grávida. Ela fazia o almoço esparava até que eu terminasse e depois limpava tudo e antes de ir embora ela sempre me avisava.
" Deixei o jantar preparado, esquenta quando chegar a hora do jantar."
Decidi esperar que ele voltasse para jantar enquanto observava o meu lindo irmãozinho dormir . Seu rosto vermelhinho e seus dedos minúsculos me encantavam toda vez que os admirava.
Logo percebi que havia anoitecido mas insistí em esperar meu tio mesmo que isso significasse que teria de passar a noite acordado. De repente acordei assutado com o choro de Benjamin notei que a noite já estava iluminada pela lua, porém meu tio não havia retornado. Preocupado pensei em ir até a casa da vizinha, mas ela já estava dormindo então resolvi aguardar em casa.
Pela manhã escutei meu tio sair novamente para trabalhar. E dessa maneira sem nos encontrar durante o dia passamos as duas semanas prometidas.
Logo cedo chegou a cunhada do meu tio usando roupas finas que exalava o aroma a riqueza. Entrou pela porta sem olhar em meu rosto, algo com o qual eu já havia me acostumado.
Aproximou-se e pegou Benjamin no colo que repentinamente começou a chorar.
Ela tentou se balançar se mexendo de um lado para outro.
"Shhi... Shhi... Calma meu Amor."
A cada vez que ela balançava, mais forte ele chorava. De repente meu tio apareceu, com uma cara tão séria quanto a que ele tinha a primeira vez que eu fiz uma birra.
" Dá ele para o Kind."
Com uma cara azeda ela entregou Benjamin no meu colo, que quase que instantâneamente parou de chorar.
Enquanto eu fui deixa-lo no quarto pude ouvir que os dois conversarvam ao longe. Quando saí para a sala ela estava com uma mala.
" Vou ficar aqui durante alguns dias para que ele se acostume a mim." disse olhando para mim com certo desdém .
Logo no primeiro dia ela se mostrou ineficiente com os cuidados de um bebê. Não o segurava de maneira adecuada, esquecia de testar a temperatura para o banho e para a mamadeira, tinha nojo de trocar suas fraldas e não conseguia fazer - lo dormir.
Ao completar três dias de sua estadia, repentinamente ela saiu pela porta com suas malas e alegou não querer separar o sobrinho do único pai que ainda lhe resta, o que para mim foi algo muito satisfatório e aliviante pois significa que eu não estaria sozinho novamente.
Agora só restava uma pessoa para lidar, Meu tio.
Apesar de nunca estar em casa ele nunca deixou faltar nada necessário para nós, de certa forma senti que ele havia baixado a guarda para mim. Embora ainda houvesse ocasiões em que parecia que só existia Benjamin e eu.
Nesse momento pensei em tentar aproximar os dois. Então eu o esperei retornar do serviço, me sentei no sofá e agasalhei Benjamin para que não sentisse frio e o deixei dormir, porém, enquanto assistia aos desenhos dos canais infantis acabei dormindo e não pude vê-lo retornar.
Quando acordei com o choro de Benjamin estávamos ambos noquarto, levantei-me e cuidei dele para que se acalmasse. Saí apressado em busca do meu tio somente para o ver saindo.
Assim eu percebi que na verdade ele não nos odiava, somente tinham muito orgulho e tristeza no seu coração que não o permitia admitir o que ele realmente sentia.
Alguns meses foram passando e eu pude perceber que eu , Benjamin e o meu tio fomos nos aproximando com o tempo. Ele parou de evitar estar em casa, passou até a ajudar a cuidar de Benjamin. Mas não senti ainda que tivesse permissão e nem o direito de chamá-lo 'pai'.
Seis anos se passaram rapidamente. Apesar de já estar completando Onze anos, nunca fui a escola por não possuir um único documento. No entanto isso não me impedia de ficar feliz quando meu irmão aprendeu a ler , ou quando ele chegava contando todas as cores que aprendeu e os esportes que praticou.
Eu sentia através dele o que era frequetar uma escola. Certo dia Benjamin chegou cabisbaixo com os olhos vermelhos. Quando perguntei o que aconteceu, ele se manteve em silêncio.
"Todos estavam rindo de mim porque eu não tenho Mãe" .Ele disse enquanto tentava segurar o choro.
Senti uma pontada muito forte no coração e
com meus olhos de lágrimas o abracei tentando o reconfortar.
" Tudo bem. Não chora. Você me tem, algum dos seus colegas tem um de mim?" perguntei tentando distrair a atenção dele para mim.
" O Pedro tem dois irmãos mais velhos. Mas nenhum deles é igual você" ele respondeu assoando o nariz na própria camisa.
" Viu como você está na vantagem?" respondi com um sorriso gigante no rosto.
" Mas ainda não é a mesma coisa que uma Mãe" ele voltou a chorar.
" Então eu vou ser a sua Mãe!" me assutei quando percebi o acabará de acontecer. " Bom... eu já cuidava de você igual uma mãe cuidaria desde que você nasceu mesmo, não vejo problema que você me chame assim."
Benjamin parou de chorar e me encarou . Logo em seguida começou a gargalhar com toda a voz que lhe sobrará.
" Kind não é uma Mãe. Só as meninas podem ser Mães."
A sua risada ecoava por toda a casa até o momento em que o seu pai chegou, apesar de termos nos aproximado Ben ainda não se sentia a vontade perto dele, que por sua vez nunca sorriu desde que sua esposa faleceu.
"Kind e Benjamin vocês já jantaram?" ele perguntou enquanto lia alguns papéis. " Tomem banho cedo, que o clima vai esfriar."
Corremos apressados para o banho. Quando saímos o clima realmente estava esfriando. Surpreso Benjamin susurrou em meu ouvido como ele adivinhou que faria frio ao ouvir essa pergunta não consegui segurar o riso ao me divertir com a igenuidade do meu inocente irmão.
Pela manhã meu tio veio avisar que Benjamin não iria a escola pois sairíamos todos juntos. Não pude evitar ficar empolgado, já que estou sempre em casa para cuidar de Benjamin.
Chamei Ben que se levantou com o cabelo todo bagunçado me questionando o que estava acontecendo.
Pulei na cama e chacoalhando os seus ombros lhe disse que deveria se arrumar para sair. Ele rapidamente se levantou e começou escovar os dentes e eufórico me perguntando onde iríamos.
Mas nem eu sabia, então lhe disse que era um segredo e segredos não devem ser contados com tanta facilidade. Ao terminar Ben e eu descemos para a cozinha para o café que inesperadamente estava farto de maravilhosas frutas e doces que somente vimos antes em filmes.
Comemos tudo maravilhados com o que acabamos de presenciar quando ele chega .
" Vocês terminaram? Ótimo. Peguem seus agasalhos que nós já vamos sair."