Meu passado é como uma colcha de retalhos de memórias difíceis, um labirinto de desafios que enfrentei ao longo do caminho. Nasci em uma família complicada, onde o amor e o apoio eram escassos. Meu pai, Charles Blackwood, um empresário poderoso, sempre foi um homem dominador e autoritário. Ele priorizava sua imagem pública e o sucesso financeiro, deixando pouco espaço para as necessidades emocionais da família. Confesso que sempre me senti sufocado por suas expectativas e pressões, e nossa relação nunca foi fácil. É um babaca.
Minha mãe, Victoria, era uma mulher distante e fria. Ela estava mais preocupada com aparências e status social do que com a conexão emocional com seus filhos. Lembro-me de sentir falta de sua presença e afeto durante toda a minha vida. Não posso dizer que nossa relação foi verdadeiramente materna. Mas isso não me importa mais.
No entanto, apesar dessas dificuldades, havia uma âncora na minha vida, meu irmão mais novo, Benjamin. Ele é meu porto seguro, meu melhor amigo. Benjamin tem um carisma único e um talento incrível. Nossa conexão é profunda e verdadeira, uma irmandade que vai além do sangue. Ele é a única pessoa da família que me conhece verdadeiramente, que entende minha sensibilidade e gentileza por trás da minha fachada de rudeza. Ele é o motivo para eu ainda estar aqui.
Nossa infância não foi fácil. Lidamos com abandono e negligência, eramos invisíveis dentro da merda da nossa própria casa. Mas juntos, enfrentamos os desafios que a vida nos impôs. Benjamin sempre esteve ao meu lado, apoiando-me incondicionalmente, mesmo quando os outros membros da família nos desaprovavam.
Meu relacionamento com meus pais pode ter sido conturbado, mas minha ligação com Benjamin é uma bênção que sempre valorizarei. Juntos, enfrentamos as tempestades da vida e celebramos as vitórias. Ele é minha âncora, minha fonte de amor e apoio inabaláveis.
Falando nele...
Enquanto eu folheava os documentos em minha mesa, imerso em pensamentos sobre minha vida, a porta do meu escritório se abre repentinamente. Olho para cima e vejo Benjamin.
- Hey, Eth! Trabalhando arduamente como sempre? - ele exclama, usando o apelido que só ele tem permissão para usar. - Você sabe que o mundo não pode sobreviver sem a sua presença implacável, não é?
Dou um sorriso genuíno ao ouvir sua voz familiar.
- Benji! O que faz aqui? Deveria estar curtindo seu final de semana e não invadindo meu território - respondo com uma mistura de afeto e brincadeira.
Ele caminha em minha direção.
- Bem, você sabe que não consigo ficar longe por muito tempo. Senti sua falta e pensei em vir lhe fazer uma visita. Além disso, precisava compartilhar as últimas novidades com você!
Curioso, inclino-me para frente e pergunto:
- Quais são as últimas novidades, Benji? Não me deixe curioso!
Ele se acomoda em uma cadeira próxima, preparando-se para contar suas histórias emocionantes.
- Lembra-se daquele projeto de música que mencionei da última vez? Aquele que eu estava trabalhando incansavelmente? Bem, acabei de receber uma oferta para um contrato de gravação com uma gravadora renomada! Estou a um passo de tornar meu sonho uma realidade, irmão!
Uma onda de orgulho inunda meu coração ao ouvir as conquistas de Benjamin.
- Isso é incrível, Benji! Eu sabia que seu talento seria reconhecido. Estou tão orgulhoso de você - digo sinceramente, sentindo um misto de alegria e admiração.
Ele sorri, a gratidão brilhando em seus olhos.
- Obrigado, Eth. Suas palavras significam muito para mim. Eu não teria chegado tão longe sem seu apoio constante. Você sempre acreditou em mim, mesmo quando eu mesmo duvidava.
- E porra tem mais. Cara, você não vai acreditar no que aconteceu ontem à noite! - ele diz, gesticulando com empolgação. - Fui convidado para tocar naquela famosa casa de shows da cidade. A plateia estava enlouquecida, gritando e aplaudindo. Foi uma sensação indescritível, Eth!
Meu sorriso se alarga enquanto ouço seus relatos empolgados.
- Isso é incrível, Benji! Você arrasou, tenho certeza! Você nasceu para estar no palco, para encantar as pessoas com sua música. Estou tão feliz por você, mano! - respondo, sentindo alegria transbordar em minhas palavras.
Benji acena, seus olhos brilhando de felicidade.
- Benji, eu sempre soube que você tinha algo especial. Seu talento é inegável, e agora o mundo está começando a perceber isso também. Não há limites para onde você pode chegar. Estou aqui para apoiá-lo em cada passo do caminho, sempre. - afirmo, expressando meu apoio incondicional.
Conversamos por horas, compartilhando risadas, memórias e planos para o futuro. Nesse momento, o escritório deixa de ser apenas um local de trabalho e se transforma em um espaço de conexão genuína entre irmãos.
Benji se levanta do sofá, esticando os braços e bocejando exageradamente.
- Bem, acho que é hora de eu ir embora, Eth. Tenho um ensaio marcado mais tarde, e se eu não descansar um pouco, meus dedos vão se rebelar contra mim no palco! - ele diz, rindo.
Eu levanto e dou um abraço apertado nele.
- Tenha um bom ensaio, Benji. Arrase como sempre! E, cara, estou orgulhoso de você. Nunca deixe ninguém dizer que você não pode conquistar seus sonhos, porque eu sei que você pode e vai. - expresso meu apoio mais uma vez, olhando-o nos olhos.
Benji sorri e acena enquanto se afasta em direção à porta.
- Valeu, Eth! Você é o melhor irmão mais velho que alguém poderia ter. Nos vemos em breve! - ele responde, antes de desaparecer pelo corredor.
Assim que ele sai, eu me sento novamente em minha mesa, de frente para o computador. A tela mostra a mensagem de voz não lida de Scarlett, minha secretária.
Curioso, aperto o botão de reproduzir e fecho os olhos enquanto ouço sua voz. Ela fala sobre alguns documentos importantes que precisam ser revisados e assinados. Mas, para ser honesto, o que realmente me cativa é a suavidade e doçura de sua voz. É como música para meus ouvidos.
Não posso negar que sinto algo por ela. É estranho, assustador até. Nunca imaginei que poderia me apaixonar por uma secretária. Talvez seja por isso que a trato mal às vezes, como uma forma de me proteger desse sentimento avassalador.
Eu sei que trato Scarlett mal. Não é algo que faço de propósito, mas é como se minha mente estivesse programada para afastar qualquer pessoa que se aproxime demais. Afinal, ao longo dos anos, me senti rejeitado repetidas vezes por mulheres que não conseguiram ver além da minha fachada rude.
Eu sei que Scarlett não gosta de mim. Por que ela gostaria? Eu sou rude, distante e sempre a trato com frieza. É uma maneira de me proteger, de evitar ser rejeitado novamente. Eu não posso suportar a ideia de me abrir e me tornar vulnerável apenas para ser rejeitado mais uma vez.
Eu a observo de longe, admirando sua beleza e a maneira como ela lida com tudo com tanta graça. Mas, ao mesmo tempo, me sinto amedrontado pela ideia de me envolver emocionalmente. É mais fácil manter uma distância segura, mesmo que isso signifique ser mal-educado e tratar Scarlett de forma injusta.
É como se eu estivesse preso em um ciclo vicioso de autossabotagem. Eu a desejo, mas, ao mesmo tempo, tenho medo do que isso pode significar. Eu tenho medo de me machucar novamente, de me entregar a alguém e ter meu coração partido mais uma vez.
Então, em vez de enfrentar esses medos, eu os entrego à minha atitude rude e distante. É mais fácil me convencer de que não preciso de ninguém do que enfrentar a possibilidade de ser rejeitado novamente.
Suspiro profundamente e apago a mensagem de voz de Scarlett. Talvez seja melhor assim. Talvez seja melhor continuar mantendo-a à distância, para o bem de ambos. Ela merece alguém que possa oferecer um amor verdadeiro, alguém que não seja atormentado por seus próprios demônios.
Volto a me concentrar no trabalho, tentando afastar os pensamentos confusos que tomaram conta da minha mente. O amor é um território perigoso, e eu não estou pronto para entrar nessa batalha novamente. Prefiro me refugiar na minha solidão e manter meu coração protegido.