Capítulo 9 Ambiguidade (2)

Durante todo o final de semana Fernanda pensou sobre aquele beijo.

Toda a cena sendo reconstruída e desconstruída, para então ser construída novamente em sua mente. O que passara pela cabeça de Rafael naquela hora? Se a intenção dele era como ela imaginara inicialmente, porque se preocupar em fazê-la desacelerar e focar apenas naquele beijo? Porque ele tinha um sorriso no rosto quando a soltou?

Aquela atitude dele cumprira notavelmente dois propósitos, fazer Fernanda perceber o quanto era insensível com ele e torná-la consciente de uma grande e única verdade. Estava apaixonada, tão apaixonada que nem sabia o que fazer da próxima vez que o visse.

Queria simplesmente desaparecer.

Na segunda-feira, ela chegou à escola ainda com o pensamento no beijo de Rafael, sua mente criou ilusões perigosas. Criou uma realidade na qual os dois começariam a namorar e tudo daria certo, culminando numa noite romântica na qual perderia sua virgindade com ele. Será que ele era virgem também?

Assistiu à aula como um zumbi, seus colegas a abraçaram, trocaram as brincadeiras de praxe. Será que algum deles sabia que ela havia ficado com o ex da melhor amiga? Não, não tinha como saber. Uma conhecida insegurança tomou conta de si.

Fernanda queria, queria muito encontrar com Rafael. Queria de uma forma como nunca quis nada na vida. Mas tinha medo de estar se enganando. A sua mente fértil teceu tantas teorias da conspiração que ao final do dia estava exausta. Durante a tarde teria uma aula, essa matéria em específico, era compartilhado com outras turmas.

Na aula havia uma garota, uma amiga de uma amiga, seu nome era Suely. Ela se aproximou de Fernanda e de Patrícia. As três conversaram muito, até que em dado momento, ela abordou diretamente Patrícia.

- Você é a ex de Rafael, não é?

Entre constrangida e ansiosa, Patrícia assentiu.

Nesse momento, Fernanda notou algo. Ela notou que não era nada, que ninguém sequer cogitava que ela, simplesmente ela, estava tendo algo com Rafael. Todas as pessoas os viam juntos, trocando brincadeiras e saindo juntos da escola, mas ela era um grande nada para ele.

- Eu era apaixonada por ele no primeiro ano. Super apaixonada por ele, mas ele nunca quis nada comigo.

Naquela semana, Fernanda não conseguiu encontrar com Rafael. E nem queria, pra falar a verdade, tinha medo de ser apenas mais uma Suely na vida dele. Um alguém apaixonado que nunca teria a menor chance.

Então, cerca de 15 dias depois, ela precisou ficar até mais tarde e finalmente encontrou com Rafael. Ele estava lindo, esguio, sorridente, amigo de todos.

Fernanda estava nervosa como nunca estivera, aqueles últimos 15 dias haviam sido uma tortura se igual, ficava imaginando Rafael falando aos amigos as coisas que ela tinha deixado ele fazer, mas ao mesmo tempo se repreendia por ser tão negativa, ele nunca tinha demonstrado ser aquele tipo de homem.

Assim, repleta de dúvidas e novas inseguranças, ela o tratou da maneira como sempre o tratava. Como um amigo. Os dois conversaram, até que ficaram apenas eles dois.

- Eu conheci uma antiga amiga sua. - disse.

Ele sorriu e se aproximou um pouco mais dela.

- Foi?! Quem?

- Não posso dizer o nome?

- Não... Por que não?

- Porque ela me disse que era apaixonada por você, não quero deixar ele constrangida.

Ele ficou calado por um tempo, apenas olhando para além dela. Pensou um pouco e respondeu.

- Ela devia ter me dito, então. Eu sou meio burro, não sei ler indiretas e entrelinhas.

Fernanda sentiu uma pontada de ciúmes.

- Estou falando sério - ele continuou - Agora estou curioso pra saber quem ela é.

Fernanda mudou de assunto, estava triste com o rumo que aquela conversa tinha tomado. Os dois ainda falaram um pouco mais, temas aleatórios, até que ele perguntou se ela queria ir na praia novamente.

- Acho que sim.

Chegando na parada de ônibus, Fernanda de repente se arrependeu. Não estava no clima de ir na praia, ficar cheia de areia só por causa de um cara que estivera cogitando a declaração de outra garota.

- Não quero mais ir à praia.

- Quer ir no shopping tomar um sorvete?

- Sim, acho que quero.

Ainda esperaram o ônibus por um tempo, mas estava demorando. Preocupada em chegar muito tarde em casa e levar outra bronca, Fernanda disse que iria pra casa. Rafael então surgiu com a brilhante ideia de eles pegarem um táxi até o shopping, pois ele tinha acabado de receber o dinheiro da bolsa do estágio.

Assim, os dois subiram no banco de trás do carro. Imediatamente, ele passou o braço sobre os ombros dela e começou a beijar seu pescoço.

Fernanda rapidamente esqueceu todo e qualquer coisa que estivera pensando. Ele a beijou, a mão acariciando a parte interna da suas coxas.

- Vamos pra algum lugar mais privado?

Sem conseguir falar nada, ela apenas assentiu com a cabeça.

- Esquece o shopping, você pode ir pro XXX motel. - Falou Rafael para o motorista.

            
            

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