Capítulo 3 O trabalho em dupla

A professora de Literatura, Dona Lúcia, entrou na sala com sua postura habitual, um sorriso acolhedor no rosto e uma pilha de livros sob o braço.

"Bom dia, turma!", disse ela, pousando os livros sobre a mesa. "Espero que todos tenham tido umas excelentes férias e estejam revigorados para este novo ano letivo."

Enquanto a turma respondia em uníssono "Bom dia, professora!", Valentina trocava olhares cúmplices com Nandinha. Elas se sentaram na terceira fileira, perto da janela, um lugar estratégico para cochichos discretos e olhares para o pátio. Arthur, por sua vez, estava na última fileira, ligeiramente curvado sobre a carteira, ainda tentando recuperar o fôlego da corrida. Ele pegou um caderno e uma caneta, pronto para absorver cada palavra da aula.

Dona Lúcia começou a listar os planos para o ano, os clássicos que seriam lidos e as atividades extracurriculares. A voz dela era calma e envolvente, mas para Valentina, a mente divagava entre a conversa com Nandinha e a imagem do "moreno misterioso" das férias. Ela estava ansiosa para o intervalo, quando poderiam continuar a fofoca sobre os romances de verão.

Arthur, apesar do cansaço, estava completamente focado. Ele sabia que cada aula era uma oportunidade de ouro, e não podia se dar ao luxo de perder nada. Enquanto a professora falava, ele mentalmente repassava sua agenda de trabalhos: entrega de panfletos à tarde, depois aulas de reforço para um vizinho mais novo. Cada centavo era contado, cada hora trabalhada era um passo mais perto de seus objetivos.

"Para a primeira atividade do ano", anunciou Dona Lúcia, chamando a atenção de todos, "faremos um trabalho em duplas sobre as impressões das férias de vocês e como elas se conectam com a literatura que lemos no ano passado. Escolham seus parceiros, e quero que se concentrem em como as experiências pessoais podem enriquecer a compreensão de um texto."

Um burburinho se espalhou pela sala. Nandinha imediatamente virou-se para Valentina, um sorriso largo. "Dupla? Perfeito! Assim a gente continua a fofoca e ainda faz o trabalho!"

Valentina riu, concordando. "Combinado! E você começa me contando tudo, tintim por tintim, sobre esse gatinho!"

No fundo da sala, Arthur suspirou. Ele geralmente fazia os trabalhos sozinho ou com um dos amigos mais próximos, como João. Olhou para o lado e viu João já se juntando a outro colega. Arthur não era do tipo que se preocupava muito com a escolha de parceiros; para ele, o importante era entregar um bom trabalho. Ele varreu a sala com o olhar, procurando alguém que parecesse disponível. Seus olhos se encontraram brevemente com os de Valentina, mas ela logo desviou, focada em sua amiga.

Dona Lúcia interrompeu o falatório. "Atenção, pessoal! Para garantir que todos trabalhem com pessoas diferentes, farei algumas duplas eu mesma, especialmente para quem não conseguiu formar uma parceria."

Arthur sentiu um arrepio. Ele preferia escolher, mas se a professora decidisse, ele acataria. O importante era fazer o trabalho. Ele viu alguns colegas reclamando baixinho, mas a maioria se acomodou.

"Certo", continuou Dona Lúcia, pegando sua lista de presença. "Vamos lá. Arthur, você fará dupla com... Valentina."

Um choque percorreu a sala, ou pelo menos os cantos onde Valentina e Arthur estavam. Nandinha olhou para Valentina com os olhos arregalados, e Valentina sentiu o rosto esquentar. Ela mal conhecia Arthur, apenas de vista pelos corredores e por ele ser um dos bolsistas mais inteligentes da escola. Ele parecia sério, focado, e um pouco... distante.

Arthur, por sua vez, piscou. Valentina era a "princesa" da escola, a garota da decoração impecável e dos vestidos cor-de-rosa. Ele a via nos jogos de vôlei, sempre elegante, mesmo na quadra. Um trabalho com ela seria, no mínimo, interessante. Ele se perguntou como seria a dinâmica entre eles, tão diferentes.

Os dois trocaram um olhar rápido, carregado de uma curiosidade mútua. O que as férias de cada um teriam a ver com a literatura? E o que essa parceria inesperada traria para o primeiro dia de aula?