Capítulo 3 De volta ao lar

Seu pai estava morrendo. Era algo muito difícil de aceitar, por mais que seu pai não o considerasse mais como filho, depois do que tinha acontecido a dez anos atrás, Christian ainda o amava muito, e se lembrava de como ele, apesar de seu jeito rude, de homem simples da roça, semianalfabeto, tinha um bom coração e fazia de tudo para não deixar nada faltar para a sua esposa e nem para os seus filhos, ele não era carinhoso também, mas tentava suprir ao seu modo, com bons exemplos, pelo menos foi assim que tinha aprendido com o seu pai.

Por mais que Christian não quisesse acreditar, Caio jamais mentiria a respeito disso, jamais tentaria tirar proveito da posição do seu irmão, ele era orgulhoso demais e jamais se rebaixaria ao irmão para lhe pedir nada. Mas o fato é que antes daquele dia que trouxe essa ruptura e tanta amargura para ambos, Christian e Caio eram inseparáveis, eram um para o outro os melhores amigos que qualquer pessoa possa querer ter, mas tudo isso se perdeu...e isso corroía Christian por dentro, que se culpava por tudo o que tinha acontecido a sua família. Suas lágrimas escorriam pelo seu rosto, já não conseguia mais contê-las e ficou por um longo tempo sentado no sofá da sua sala tentando se acalmar e segurar o choro e buscar um pouco de lucidez para poder responder a mensagem do seu irmão. Antes que seus pensamentos se alinhassem e recobrasse a sua razão, foi pego de surpresa quando a porta da sua sala foi aberta com força e duas mulheres se engalfinhando entrassem uma empurrando a outra. Uma das mulheres era Judite, sua assistente que já foi pedindo desculpas, pois sabia que ele não queria ser incomodado. __Senhor me perdoe, eu tentei de todas as formas não deixar a Senhorita Ericka entrar aqui, eu disse a ela que o senhor não queria falar com ninguém e ela me ignorou completamente!

__Ora Christian, essa sua assistente é que é muito abusada, onde já se viu querer me barrar de entrar em sua sala!

Christian, rapidamente passou a mão no rosto a fim de evitar que elas o vissem chorando e respirando fundo perguntou: __Ericka, o que veio fazer aqui? A Judite está cumprindo com o seu dever, ela é uma assistente exemplar e eu realmente a pedi para que não deixasse ninguém me perturbar, e quando eu digo ninguém eu me refiro a você também!

___Nossa que grosseria! Ela lançou um olhar de indignação para ele enquanto a sua assistente viu que o seu chefe não estava bem, tinha a impressão de que estava muito deprimido, nunca o vira daquele jeito. Sempre que a Srtª. Ericka chegava em sua sala, ele sempre a tratava muito educadamente, e com um sorriso estonteante, mas hoje o seu humor não estava sendo dos melhores.

Ericka, percebeu que Christian estava muito diferente, nunca havia a tratado daquela forma, então caminhou até o sofá sentou-se ao lado dele e começou a passar a mão em seu braço bem lentamente enquanto falava e tentava falar o mais próximo possível do seu rosto, afim de mostrar que estava surpresa e triste com a reação dele e ao mesmo tempo tentar seduzi-lo.

__Eu apenas vim aqui para te convidar para jantarmos mais tarde e conversarmos um pouco, nos divertir, a tempos que não saímos e é assim que você me trata?!

Christian, ficou olhando para ela e com delicadeza retirou a mão dela do seu braço e respondeu: __Agradeço muito o convite, e peço desculpas pela forma como te tratei, mas sinceramente hoje eu não seria uma companhia agradável, eu não estou nem um pouco disposto e se for para conversarmos a respeito da empresa, acho que a reunião de hoje já foi desgastante o suficiente e você como uma das principais acionistas já deve saber o bastante sobre o que eu penso. Então se você me der licença, eu preciso resolver alguns assuntos muito mais importantes, ao falar isso Christian levantou-se e com a mão estendida em direção à porta fez referencia para que ela saísse de lá. Ela olhou para mão dele e para o seu rosto com muito espanto, jamais tinha sido tratada daquela forma por ele, ele jamais tinha recusado um convite seu... sempre estava sorridente, educado, tratando-a com muito carinho, respeito e sempre muito sedutor, fogoso, nunca tinha recusado absolutamente nada com ela e naquele momento nem parecia mais ser o mesmo. Judite ainda estava na porta, vendo a cena, ela também não estava acreditando no que os seus olhos acabara de ver, seu chefe se negar a sair com alguém e principalmente a arrogante da Ericka, dona de 35% das ações da empresa, além de ser uma mulher muito elegante e atraente, a qual ele sempre cedia aos seus desejos. Realmente ele não estava bem, Judite pensou. Antes que as duas saíssem da sala, Christian disse: __Judite, por favor! cancele todos os meus compromissos de hoje e para toda a semana e faça um memorando comunicando aos demais acionistas e as diretorias administrativas das outras empresas conveniadas e também aos conselhos de que a partir de hoje quem ficará a frente das empresas será o Sr. Velasques, visto que ele é o vice CEO. Eu ficarei fora por alguns dias, eu preciso viajar com urgência. As duas paradas, ficaram olhando para ele, mas Judite assentiu e saiu enquanto Ericka permaneceu no mesmo lugar e o encheu de perguntas: __viajar? agora? Para onde Christian? Tem alguma coisa a ver com a empresa? É por isso que está agindo assim tão estranho o dia todo?

Christian já não estava mais com paciência, mais ao mesmo tempo não queria ser rude com ela novamente e buscou medir as palavras ao lhe responder: __Ericka, se eu agi estranho hoje é porque tenho os meus motivos, e sinto muito por isso, mas nem tudo tem a ver com a empresa, estou com problemas familiares e por esse motivo preciso me ausentar dos negócios, preciso viajar por um curto intervalo de tempo. Eu preciso desse tempo...Ele respirou fundo e continuou, sei que a empresa estará em boas mãos, além disso, desde que entrei para diretoria dessa empresa e logo após quatro anos me tornando o CEO daqui, que não tiro férias...eu preciso ver a minha família e também preciso descansar, será que você me entende? Ela acenou com a cabeça que sim, e com o olhar meio triste e também preocupado, com um tom de voz mais calma e baixa, perguntou-lhe: ___O que está acontecendo com a sua família é muito sério? Você nunca me falou a respeito deles! Você precisa de alguma ajuda? Você sabe que estou aqui para o que você precisar! Antes que ele respondesse, ela se jogou em seus braços lhe dando um abraço e sentindo o seu perfume por entre a sua camisa, seu ombro e seu pescoço. Christian estava fragilizado pela noticia que tinha recebido mais cedo, e toda forma de carinho para ele naquele momento estava sendo válido. Ele sentiu naquele gesto que ela estava sendo sincera e o retribuiu. Apesar do seu jeito durão de ser, ele ainda continuava a ser como um menino, e deixou a sensibilidade do momento falar mais alto, até porque aquele dia estava sendo muito difícil para ele lidar com tantas emoções e a saudade que sentia de todos que ele deixara no passado não parava de apertar o seu coração, já tinha tomado aquela decisão e não voltaria atrás, mesmo que ninguém da sua família quisesse mais vê-lo ou ouvir falar em seu nome, mas ele precisava, nem que fosse pela ultima vez, rever o seu pai. Ele contudo, não respondeu as indagações de Ericka, eles ficaram abraçados sem dizer nenhuma palavra, mas a forma como ele a segurava já tinha respondido a todas elas.

Assim que Ericka se despediu lhe deu um longo beijo e saiu da sala batendo a porta atrás de si. Christian por sua vez, ainda se mantinha imóvel, mas a sua mente estava a mil. Lembrando que ainda não tinha respondido ao seu irmão, mas pensou em não responder, pois queria ver a reação dele quando o visse chegar. Conseguiu enfim, se mover e pegar seu celular que estava na mesa de centro e suas chaves. Saiu apressado, se despediu de Judite e a disse que não se preocupasse e que entraria em contato com ela todos os dias para saber como as coisas estariam correndo com a sua ausência e pediu para que só entrasse em contato com ele caso algo muito sério estivesse acontecendo ou se tivesse alguma coisa que só ele pudesse resolver.

___Certo, Senhor pode deixar. Já enviei o memorando para todos conforme me pediu. E desejo uma ótima viagem para o senhor, espero sinceramente que os seus problemas sejam resolvidos da melhor forma possível e que o senhor aproveite bem esse tempo.

___Muito obrigada Judite. Você é muito gentil. Ele agradeceu e saiu com a cabeça baixa, Mas com os passos apressados. Pegou o elevador privativo e assim que chegou no estacionamento pegou o seu carro e saiu o mais rápido possível, não demorou muito chegou na sua casa e entrou mais uma vez correndo, subindo as escadas e D. Gilda mais uma vez viu aquela cena se repetir naquele dia. Ela subiu as escadas devagar, mas foi até a suíte de Christian com o intuito de saber o porquê de tanta correria, já que ele tinha subido igual a um avião e ela não teve como chamar a sua atenção.

Ao chegar no quarto que estava com a porta aberta ela viu que ele estava no seu closet e foi até lá. Então ela viu que ele estava colocando algumas roupas dentro de uma mala.

___Christian você vai viajar? Porque não me disse ou me pediu para que eu arrumasse a sua mala? Por acaso da última vez que você viajou esqueci de colocar alguma coisa? Perguntou pegando alguns itens de higiene pessoal e os colocando em uma bolsa necesserie.

___Desculpe D. Gilda, foi uma decisão repentina e não deu tempo de te ligar e pedir para que a senhora fizesse isso.

Vendo que ela estava olhando pra ele tentando decifra-lo, ele parou com uma camisa azul clara em suas mãos e sentou-se em uma poltrona e com a cabeça baixa começou a lhe falar antes que ela o enchesse de perguntas.

___Antes que a senhora comesse a me encher de perguntas eu vou te falar o que está acontecendo comigo. Hoje eu recebi a notícia de que o meu pai está morrendo...ele mais uma vez tentou segurar suas lágrimas que mais uma vez teimavam em cair, mas ele segurou. Ele está com um câncer terminal e quer me ver. Meu irmão o Caio, me enviou um e-mail me informando e assim que li a mensagem decidi ir para lá.

A senhora que estava arrumando algumas coisas parou e foi até ele e disse: ___ sei que essa viajem não será nada fácil para você e esse reencontro talvez não seja muito bom para todos da sua família...mas sei que você está fazendo o que seu coração está pedindo. Então vá! E faça o que você tem que fazer. Mas abalado do jeito que está não será melhor chamar alguém para ir com você? Você quer que eu Chame o seu Orlando?

Ele a abraçou, enxugou uma lágrimas que escorria por sua face e disse: ___ não precisa se preocupar, não precisa chamar ninguém, estou bem e a minha cidade fica só a quase seis horas daqui da capital...ele olhou para o relógio em seu pulso e viu que já passava das 17h, então ele continuou a falar para D. Gilda que o olhava atentamente.

___ Eu não sei como será a reação da minha família ao me ver depois de dez anos, depois de tudo o que eu fiz e principalmente nessa situação. Então não quero que mais ninguém fique constrangido por minha causa. Seu Orlando é um grande amigo, sei o quanto ele se importa comigo, mas acho que nesse momento eu preciso consertar os meus erros sozinho. Acho que chegou a hora D. Gilda de enfrentar os meus maiores pesadelos...eu preciso disso para me libertar dessa amargura que me consome dia após dia. Falando isso ele se levantou e ficou se olhando no espelho gigantesco do seu closet e lembrou-se mais uma vez de tudo o que tinha acontecido e o que tinha o levado até ali. E mais uma vez aqueles sentimentos lhe apertava o coração. Ele realmente sentia que precisava pedir perdão a sua família e principalmente ao seu pai por tudo o que ele tinha feito no passado custasse o que custasse, estava decidido a enfrentar mais uma vez o ódio da sua família e de todos daquela pequena cidade. Ele pegou a mala que acabara de arrumar e a bolsa que D. Gilda já tinha terminado de ajeitar.

Vendo-o sair ela perguntou: ___Você pretende passar quanto tempo por lá? Já marcou alguma reserva em um hotel ou pousada?

Ele porém continuou a andar e descendo as escadas, quando ele chegou na sala, enfim, falou: ___ Ficarei o tempo que for necessário. Não se preocupe D. Gilda eu lhe darei notícias. Então ele abriu a porta e entrou em um dos seus outros carros, visto que o que ele utilizava para ir para a empresa era um Lamborghini azul claro e iria chamar muita atenção na pequena cidade e decidiu ir em seu Nissan Frontier preto, era uma carro belíssimo e que também chamaria atenção de quem o visse, mas ele se sentiria mais seguro, caso não encontrasse um lugar para dormir. Pois não tinha feito nenhuma reserva e acreditava piamente que a sua família não o aceitaria em casa novamente, mas mesmo assim estava voltando para o seu lar. Assim que entrou carro deu a partida e saiu rumo a cidade onde ele tinha saído a tanto tempo...o que será que ele encontraria lá, como será que as pessoas de lá estão agora? Será que a cidade mudou muito ou será que continua do mesmo jeito que era quando ele foi embora? Será que alguém o reconheceria logo de cara ou levariam um certo tempo para lembrarem de quem ele era? A muito tempo que não tinha notícias de ninguém daquela cidadezinha. Ele estava ansioso e estes pensamentos não paravam de passar na sua cabeça. Logo todas essas indagações seriam sanadas assim que ele chegasse lá. Mal via a hora de chegar e poder ver seus pais novamente e de repente ele lembrou de Antônia sua amiga de infância, como será que ela está? Será que já está casada, com filhos? Será que ela também se lembra de mim? E foi com esses pensamentos durante todo o caminho, mal via a hora de chegar, nem se quer quis parar para se alimentar, visto que ele mal tinha comido o dia inteiro, mas mesmo assim não sentia fome, somente sentia o desejo de chegar o quanto antes.

Finalmente estou de volta ao lar...

            
            

COPYRIGHT(©) 2022