Capítulo 4 Reencontrando a família

Após dez anos de afastamento, Christian sentia-se confiante de que tudo daria certo e principalmente estava corajoso o suficiente para enfrentar o seu passado e pedir perdão por todo o mal que ele tinha feito. Por mais que estivesse ansioso para rever a sua família estava disposto a enfrentar o que fosse para se reconciliar com eles principalmente por conta do que estava acontecendo e que ele só soubera agora.

Christian dirigia em alta velocidade, queria chegar o quanto antes. Queria desfazer os seus erros, anciava muito por isso, e já não aguentava mais aquele silêncio, precisava contar toda a verdade do que acontecera a dez anos atrás para o seu pai antes que fosse tarde de mais.

Logo Christian passou pelo pórtico da cidade, uma estrutura belíssima que lhe dá um certo charme. Seu coração começou a bater mais forte, reduziu a velocidade do veículo e percebeu que a cidade já não era mais como ele lembrava, mas as ruas se mantinha as mesmas e logo ele chegou no hospital. Antes de sair do carro, respirou fundo e tentou ensaiar algumas frases para usar assim quem encontrasse com seus pais e com seu irmão, mas estava nervoso demais e seus pensamentos não mantinha uma linha de raciocínio lógico. Nunca estivera daquele jeito, mesmo em uma reunião das mais importantes, esteve tão nervoso quanto estava agora, mas estava decidido, precisava fazer aquilo o quanto antes, mesmo sem saber o que o aguardava. Já era tarde para se arrepender e querer voltar atrás, não era covarde e não seria agora que iria começar a ser. Respirou fundo tentando se acalmar, enfim, abriu a porta e desceu do carro. Do lado de fora do único hospital da cidade, havia algumas pessoas que ficaram olhando pra ele, que se dirigia para dentro, será que alguém tinha o reconhecido?

Assim que chegou a recepção perguntou a moça que estava atendendo qual era o leito que seu pai estava. Mas antes que ela pudesse responder Caio havia o avistado.

Caio estava com uma expressão de cansado, triste, uma fisionomia um pouco mais velha, mas ainda tinha o mesmo jeito de antes, continuava do mesmo jeito que Christian lembrava. Estava vestindo uma calça jeans e uma camiseta azul marinho, continuava magro, mas também com uma barba um tanto rala, que lhe dava um aspecto desleixado, como se não se importasse para sua aparência. O que de fato era verdade, pois com a lida na roça nunca tinha tempo para se cuidar ou mesmo se importar com isso.

Então Christian se aproximou de Caio o mais depressa que pode com uma vontade enorme de abraçar o seu irmão, percebeu que a saudade que sentia dele era imensa, mas se conteve ao lembrar do último dia que tinham se visto e pensou que Caio não retribuiria o abraço. Mas antes mesmo que Christian tivesse alguma outra reação, Caio o abraçou e começou a chorar e falou:

___Meu irmão, você leu o meu email, que bom que você veio, pensei que nunca mais ia te ver. Mandei a mensagem sem ter esperança alguma de que você fosse atender o último pedido do nosso pai. Christian também estava chorando, anciava por aquele abraço e deixou sua emoção falar mais alto, ficou feliz por seu irmão ter tido a iniciativa de fazer aquele gesto e também por ter falado daquela forma com ele, ele nao esperava por ter sido acolhido assim por Caio, que tinha falado que nunca mais falaria com ele e nem muito menos o consideraria como irmão depois do que ele tinha feito. E entre choro Christian simplesmente falou: ___Caio me perdoe, por favor me perdoe por tudo. Você não faz ideia do quanto eu estava receoso de que você não quisesse me dar esse abraço ou mesmo falar comigo. Sinto muito mesmo! Quando li sua mensagem não sabia o que fazer e nem tive força para lhe responder, eu só queria vir, rever vocês novamente e enfrentar o que for para que vocês possam me perdoar.

Caio se afastou um pouco do seu irmão, enxugou o rosto e olhou pra Christian, seu irmão realmente tinha mudado ao longo dos dez anos que esteve longe. Mesmo estando com uma jaqueta preta e calça social, pois assim que tinha entrado em seu closet Christian tinha tirado seu terno e colocado a jaqueta, mas Caio percebeu que ele estava mais alto, mais musculoso, mais bonito, mais homem, não que ele fosse de achar outros homens bonitos, mas viu que as mulheres que estavam no hospital não paravam de olhar para ele, ele realmente estava chamando atenção, não era de admirar , pois desde cedo Christian arrancava os suspiros das meninas e não foi atoa que ele tinha namorado com a menina mais bonita da cidade. Ele balançou a cabeça, pois não queria lembrar de algo ruim e nem muito menos estragar o momento, mas ficou mais sério, assim que aqueles pensamentos passaram por sua cabeça.

Christian percebeu que seu irmão mudou um pouco sua expressão facial como se estivesse pensando em algo não muito agradável. Então decidiu perguntar onde sua mãe e seu pai se encontravam e como ele estava, será que ele podia falar com um médico para saber se era possível fazer uma transferência, levar o seu pai para a capital ou para outro Estado ou país para que pudessem fazer o tratamento mais adequado e mais avançado possível, pois ele agora poderia pagar e estava disposto a gastar o quanto fosse para que seu pai pudesse ter o melhor tratamento e faria o que estivesse ao seu alcance para que pudesse dar a chance de seu pai poder viver mais...Ele não era médico, mas sabia que havia a possibilidade de seu pai ser curado, pois muitas pessoas que tem câncer pode prolongar sua vida ou mesmo se curar da doença com tratamentos avançados nos melhores hospitais do mundo onde tinham mais e melhores recursos.

Caio segurou em seu ombro e apertou um pouco, baixou a cabeça e começou a falar:

___ irmão, infelizmente não podemos fazer mais nada, nem que você gastasse todo o dinheiro que você possua, talvez você ainda pudesse lhe prolongar um pouco mais a sua vida, mas o único que pode curá-lo é só Deus. Só Deus é quem pode fazer esse milagre. Toda a equipe médica daqui são excelentes e já fizeram tudo o que podiam por ele, infelizmente quando descobrimos já era tarde, o câncer já se espalhou para vários órgãos, infelizmente descobrimos quando a doença já estava em um estágio muito avançado e o nosso pai não aguenta mais passar por cirurgias, quimio e radioterapia, ele não suporta mais as dores e o sofrimento pelo qual está passando. É muito doloroso te dizer isso Christian, mas acredito que o nosso pai só esteja te esperando.

Christian a ouvir isso deixou-se cair em uma cadeira que estava no corredor e mais uma vez começou a chorar se culpando por ter sido um idiota por todo esse tempo, por ter feito tudo errado, talvez se ele não tivesse decepcionado tanto o seu pai, se não tivesse sido covarde, ele não estaria passando por isso agora. Teria vivido muito mais tempo ao lado daqueles que sempre amou.

Caio ficou em pé vendo seu irmão se debulhar em lágrimas, mas sabia que ele se sentia culpado por tudo e precisava se acalmar...

Passou alguns minutos e Christian conseguiu enxugar mais uma vez os seus olhos que já estavam inchados e vermelhos. Christian nunca tinha chorado tanto quanto já tinha chorado naquele dia. Mas precisava se recompor e aguentar firme, pois ainda precisa ver seu pai e lhe dizer o quanto estava arrependido por tudo o que tinha feito no passado. Levantou da cadeira e com sua voz firme falou olhando para o irmão: ___ Caio, por favor, me leve até ele. Caio, prontamente atendeu a seu pedido. Ele colocou as mãos dentro dos bolsos de sua calça e caminhou ao lado do seu irmão pelo corredor do hospital com a cabeça baixa. Caio parou em frente a uma sala e pediu que Christian esperasse um pouco do lado de fora. Christian encostou-se na parede enquanto Caio entrou na sala.

Não demorou muito e Caio voltou com uma mulher ao seu lado. ___Christian é você? Quanto tempo! Como vai? A mulher lhe cumprimentou . Christian não lembrava quem era ela, mas lhe estendeu a mão para receber os cumprimentos e lhes responder, mas Caio falou primeiro, vendo a expressão de seu irmão tentando se lembrar de quem se tratava. Christian essa é a Ana, minha esposa e mãe das minhas filhas. ___Ana, claro! A irmã da Antônia, como não lembraria! Quando eu saí daqui vocês dois estavam namorando. Então quer dizer que se casaram e tiveram...espera então quer dizer que eu sou tio? Christian deu um tapa no ombro do seu irmão, que apesar do selante triste começou a sorrir. ___sim, você é tio de duas meninas lindas. Caio disse.

___ Nossa! O tempo realmente passou. Christian falou por fim. Ana já estava prestes a lhe perguntar se ele também tinha casado e se também tinha filhos, mas uma jovem senhora apareceu na porta com os olhos cheios de lágrimas e de comoção e que quando Christian a viu, mais uma vez não conseguiu conter a sua emoção ao ver a sua mãe ali parada em sua frente e mais do que depressa lhe abraçou. ___Christian, meu filho... você, você voltou. E naquele abraço apertado cheio de saudade Christian, novamente sentiu-se arrebatado por culpa e arrependimento e mais uma vez se pôs a pedir perdão a sua mãe por toda a dor e sofrimento que ele tinha causado. Ela soltou Christian dos seus braços, passou as mãos pelo rosto dele, enxugando suas lágrimas, mesmo com os olhos lacrimejosos falou olhando em seus olhos com muita ternura. ___Meu filho, estou feliz que tenha voltado, não faz ideia do quanto desejei que isso acontecesse, só não imaginei que seria nessas circunstâncias, ela chorou mais uma vez, mas continuou falando: ___O que aconteceu, aconteceu e já faz parte do passado. Não temos como voltar atrás. Acredito que tudo nessa vida tem um propósito. E que tudo acontece da forma como tem que ser. O importante é que você está aqui de volta. Christian tinha sentido tanto a falta de sua mãe, do seu cheiro, do seu jeito simples de ser, do seu jeito de falar. Ele não queria mais solta-la, queria ficar ali o resto da sua vida. Mas a sua mãe o afastou um pouco e olhando em seus olhos falou com muita atenção. ___Meu Chris, nós já sabemos que você não tem culpa de nada do que aconteceu naquele dia. Não se sinta mais culpado. E nós precisamos que você esteja forte nesse momento, pois seu pai quer muito vê-lo.

Caio e Ana que ainda estavam no corredor, estavam abraçados vendo a cena, tocaram nas costas de Christian tentando o acalmar e também demonstrar que ele não estava mais sozinho.

Christian fechou os olhos e buscou reunir forças para poder entrar naquela sala e rever o seu pai que o aguardava. Christian estava muito nervoso, mas buscou a calma, respirou fundo e disse pra si mesmo, chegou o momento, não é a primeira vez que você vai enfrentar algo tão difícil e ter uma conversa de filho para pai, certo que a última que tiveram o seu pai havia o colocado para fora de casa e o tratará como se ele fosse um marginal, um assassino... Mas lembrar daquelas coisas não ia lhe ajudar em nada e pensou que seu pai não merecia passar por mais um sofrimento.

Christian então decidiu entrar na sala e fazer o que tinha ido até ali para fazer, e entrou, não viu seu pai de imediato, pois havia alguns leitos com outras pessoas, mas ao olhar para uma maçã no canto cheia de aparelhos ao lado, seu coração disparou. Era o seu pai que estava ali, nem parecia mais o mesmo. Estava muito debilitado e respirava com ajuda de aparelhos. Os médicos da unidade tinham montado uma UTI para ele. Então, já com o coração apertado de dor ao ver como o seu pai estava, ele se sentiu um lixo, como ele pode deixar tudo isso acontecer...porque ele tinha esperado passar tanto tempo para perceber o quanto estava sendo um idiota com a sua família e consigo mesmo.

Então, mesmo com a visão embaçada, o Sr. José reconheceu o seu filho e mesmo com dificuldade e com a voz um pouco rouca falou: __ Christian, meu filho é você?

Christian, estava parado no meio da sala, inerte em seus pensamentos. Ainda meio desconcertado e com uma dor de arrependimento lhe dilacerando o peito, sabia que precisava dizer algo para o seu pai, mas não sabia como,

                         

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