Capítulo 5 O internato

O sol mal havia surgido no horizonte quando Lara acordou. Tinha apenas quatorze anos, mas já sentia o peso de uma vida que parecia nunca lhe pertencer. A casa estava silenciosa, e ainda assim ela escutava cada batida do próprio coração. Era o dia em que ela e a irmã seriam enviadas para o colégio interno.

Ao lado da cama, a mala já estava pronta. Tinha poucas roupas, alguns livros que insistiu em levar e um lenço que pertencera à avó, o único objeto que a fazia sentir algum tipo de proteção.

Larissa, sua irmã mais velha de dezessete anos, estava sentada à penteadeira, arrumando os cabelos com calma. Diferente de Lara, parecia ter aceitado a situação sem lutar. Havia em seus olhos um conformismo frio, como se já soubesse que, em breve, completaria a maioridade e seria entregue em casamento, sem direito a escolha.

- Não fica assim, Lara - disse ela, ao perceber o olhar perdido da irmã. - O internato não vai ser tão ruim. A gente vai estar juntas.

- Mas e depois? - a voz de Lara saiu baixa, embargada. - Você vai completar dezoito logo... e vai se casar. E eu vou ficar sozinha lá dentro.

Larissa respirou fundo, sem saber o que responder. Afinal, era a mais velha, mas também era prisioneira do mesmo destino.

No andar de baixo, Giovanni já as esperava. Ele estava encostado na balaustrada da escada, observando as duas descerem. O olhar dele se fixou em Lara, e ela estremeceu. Não gostava da forma como ele a encarava - havia algo de possessivo, algo que a deixava nervosa, mesmo sem compreender exatamente o porquê.

- Finalmente - disse ele, com a voz grave. - Estão prontas?

Larissa assentiu em silêncio. Lara, porém, manteve os olhos baixos, sem coragem de encará-lo.

O Dom, pai de Giovanni, apareceu logo em seguida, impondo respeito apenas com a presença. Foi ele quem determinou o destino das meninas, quem decidiu que ficariam em regime fechado até a maioridade, longe da sociedade, protegidas e preservadas para o futuro casamento.

- É o melhor para vocês duas - disse, em tom firme, quase paternal. - No internato, terão disciplina, estudo e estarão seguras. Não quero nenhuma distração ou escândalo.

Lara sentiu as mãos suarem. Seguro? Para ela, aquilo soava como prisão.

Giovanni, parado um pouco atrás do pai, manteve-se calado. Seus olhos, no entanto, ardiam quando pousavam sobre Lara. Havia raiva, frustração e algo mais que nem ele mesmo conseguia nomear.

O motorista anunciou que o carro estava pronto. Larissa foi a primeira a se mover, carregando o próprio casaco com dignidade, como se aceitasse o destino sem reclamar. Lara, hesitante, segurou a mala e seguiu a irmã.

No entanto, antes que entrasse no carro, Giovanni segurou seu braço. O toque foi forte, firme demais para a delicadeza dela.

- Não pense que esse internato vai te afastar de mim, Lara - murmurou próximo ao ouvido dela. - Quando chegar a hora, eu vou estar lá.

Ela arregalou os olhos, assustada, mas não respondeu. Apenas puxou o braço e entrou rapidamente no carro. Larissa percebeu a tensão, mas preferiu não questionar naquele momento.

O carro partiu, deixando Giovanni para trás, com os punhos cerrados e a respiração pesada.

A viagem foi longa. Lara observava a paisagem passar pela janela, enquanto Larissa tentava parecer tranquila. De vez em quando, ela falava algo para distrair a irmã: sobre como poderiam estudar juntas, sobre como talvez fizessem amizades. Mas Lara pouco respondia. O peso do olhar de Giovanni ainda estava sobre ela, como se tivesse sido marcado em sua pele.

Quando finalmente chegaram ao colégio interno, as irmãs ficaram impressionadas com a imponência da construção. O prédio de pedra, com janelas altas e um portão de ferro pesado, parecia mais uma fortaleza do que uma escola.

Foram recebidas por uma freira de semblante severo, que não sorriu nem mesmo quando Larissa se apresentou educadamente.

- Aqui vocês vão aprender disciplina, boas maneiras e tudo o que precisam para o futuro - disse a mulher, sem emoção. - Não estamos aqui para agradar, mas para moldar.

Lara engoliu em seco, segurando a mão da irmã.

O quarto que lhes foi destinado era simples: duas camas estreitas, uma mesa pequena e um crucifixo na parede. Não havia espaço para individualidade, nem objetos pessoais além dos estritamente permitidos.

Naquela noite, deitada na cama dura, Lara demorou a adormecer. A irmã já respirava fundo, dormindo, mas ela continuava acordada, encarando o teto.

Cada vez que fechava os olhos, lembrava das palavras de Giovanni. "Quando chegar a hora, eu vou estar lá."

O que ele queria dela? Por que dizia aquilo com tanta certeza? Um arrepio percorreu seu corpo. Era medo, mas também havia algo que ela não compreendia, uma confusão de sentimentos que a deixava aflita.

Ela tinha apenas quatorze anos, mas a vida já lhe parecia uma rede de decisões tomadas por outros, um destino do qual não poderia fugir.

E ainda assim, no fundo de sua mente, a imagem dos olhos de Giovanni não saía. Um olhar proibido, perigoso, que parecia prometer tanto destruição quanto desejo.

Enquanto isso, de volta à mansão, Giovanni caminhava de um lado a outro em seu quarto. O silêncio da casa o incomodava. Desde que as meninas haviam partido, não conseguia se concentrar em nada.

Ele serviu-se de uísque, mas a bebida não aliviou a raiva.

- Maldição... - murmurou, socando a mesa com força.

Não suportava a ideia de Lara trancada naquele internato, crescendo longe dele, sendo preparada para se casar com outro. Ela era jovem demais ainda, mas Giovanni já sentia como se tivesse direito sobre ela.

Sabia que não poderia desafiar o pai. O Dom havia sido claro: até os dezoito anos, ela ficaria sob vigilância. Mas Giovanni não era um homem que sabia esperar. Ele queria, e quando queria algo, sempre dava um jeito de conseguir.

- Você é minha, Lara - disse para si mesmo, em voz baixa, quase como um voto. - E ninguém vai mudar isso.

No fundo de sua mente, ele já começava a planejar como e quando tomaria o que acreditava ser dele por direito.