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༺Amare༻
Estacionei o veículo diante do canavial, encontrando um cenário envolto em trevas. Uma densa névoa cobria completamente o local, restringindo a visibilidade a apenas alguns poucos metros à frente.
Ao sair do carro, o frio intenso me fez tremer. Em questão de segundos, Will se aproximou ao meu lado e Elizabeth hesitou por um breve momento antes de sair lentamente.
_E agora? - indagou Will, esfregando os braços na tentativa de se aquecer.
_Esperamos Sherlock- respondi, tentando dissipar o nervosismo com uma pequena risada.
Nesse momento, Elizabeth me chamou e me virei na sua direção. Ela me abraçou de lado e, estendendo a mão, me entregou um colar com uma estranha pedra azul no centro.
_Elizabeth, não torne isso uma despedida. Não permitirei que a levem- eu a encarei, sentindo a raiva tomar conta de mim.
_Eu sei disso, Amare, mas quero que fique com isso, de coração- Elizabeth respondeu com um olhar determinado.
Meu coração martelava no peito enquanto permiti que ela colocasse o colar em mim. A ideia de vê-la partir era dolorosa.
De repente, o chão começou a tremer, e um estrondo ensurdecedor ecoou ao nosso redor. O canavial, antes mergulhado na escuridão, foi inundado por uma luz incandescente e cegante.
Na nossa frente, uma enorme estrutura metálica, que parecia uma montanha, havia pousado. Uma porta se abriu, inundando o ambiente com uma luz brilhante. Quando finalmente consegui enxergar, me arrependi imediatamente.
Um ser repulsivo emergiu da nave, algo que nunca havia visto, nem mesmo em filmes. Seu corpo esquelético estava envolto em um macacão que não escondia a cor repugnante, e sua cabeça era imensamente grande. No lugar das mãos, possuía garras parecidas com pinças.
O ser desceu da nave e se aproximou de nós. Tomei a frente de Elizabeth, sacando minha arma. Nunca saía de casa sem ela, mas não estava preparada para algo daquele tamanho,não foi por issoque tirei o meu porte.
_Amare, abaixe essa arma-disse Will em um sussurro.
_Você está ficando louco? Olhe para a aparência desse ser- respondi, incrédula.
_Se ele se sentir ameaçado, vai atacar-, alertou Elizabeth.
O ser à minha frente emitiu um grunhido, mostrando seus dentes pontiagudos e parecendo pronto para atacar.
Com muita relutância, abaixei a arma e levantei as mãos. O ser então olhou para algo no meu peito e, de repente, avançou em uma velocidade surreal.
Em questão de segundos, fui arrastada para dentro da nave. Tentei resistir com todas as minhas forças, conseguindo desferir uma cabeçada no ser, mas percebi horrorizada que ele não possuía olhos. Em vez disso, tinha apenas duas órbitas vazias afundadas em sua cabeça.
Gritei de pavor e fui jogada ao chão, imobilizada pelo corpo asqueroso do ser. Gritando de raiva, tentei encontrar uma saída desesperadamente.
Foi nesse momento que o mundo pareceu desacelerar e tudo ficou em câmera lenta. Ao olhar para frente, vi William e Elizabeth parados ao lado do carro, abraçados. Elizabeth me olhou com um sorriso zombeteiro enquanto outro ser semelhante se aproximava, entregando-lhe uma espécie de caixa.
Uma intensa mistura de dor e ódio fervilhou dentro de mim quando finalmente compreendi o que havia acontecido. Um grito rasgou minha garganta enquanto olhava na direção deles, dominada pelo ódio.
Foi apenas questão de segundos antes que a criatura me nocautasse.
༺Chacal༻
Saio da tenda ao perceber que o sol já está prestes a desaparecer no horizonte. Encontro meus irmãos ocupados com suas tarefas.
Vejo Bravak habilmente tecendo um cesto com folhas secas, tão concentrado que não percebe minha chegada. Suas mãos rápidas e ágeis fariam dele um ótimo companheiro para qualquer fêmea, e sua pele azul me faz refletir sobre como um pequeno desvio em nosso nascimento poderia tê-lo tornado completamente diferente.
Apesar de sua coloração se assemelhar à nossa tribo, as semelhanças param por aí. Bravak é notavelmente menor que os machos comuns, quase do tamanho das fêmeas, e há outras diferenças marcantes, duas em particular.
_Onde estão nossos irmãos?-pergunto a ele. Seus olhos azuis encontram os meus, e ele suspira.
_Vakrum saiu cedo sem dar aviso, e Kaleb o seguiu, mas ainda não retornou."
Olho para o céu, que está escurecendo rapidamente, e começo a caminhar em direção à aldeia.
_Para onde você pensa que está indo, Chacal?-ouço a voz de Herect atrás de mim. Eu me viro para encará-lo, observando seus olhos azuis e roxos.
_Vou procurar nossos irmãos-respondo, com irritação aumentando em meu tom de voz.
O sorriso zombeteiro de Herect me incomoda.
_Chacal, eles sabem se cuidar. Venha, entre e me ajude a colocar esses mantimentos aqui."
_Para que são esses mantimentos?- pergunto.
_Daqui a algumas luas é a celebração, lembra?-diz Herect. Agora, sou eu quem lança um sorriso zombeteiro.
_E para que acumular mantimentos, Herect? Todos os ciclos não são sempre a mesma coisa? Estou farto disso. Você sabe que nenhuma fêmea irá nos escolher. Por que gastar tanta energia coletando frutas raras, apenas para entregá-las a outro Firnet no final?"
Seu olhar murcha diante de mim, e, por um breve momento, me arrependo de minhas palavras, mas é a verdade, e eles precisam enfrentá-la. Herect e Bravak são os únicos que ainda mantêm a esperança, enquanto eu e meus outros irmãos a perdemos há muito tempo.
Continuo a caminhar, procurando meus irmãos. A noite está prestes a cair, e embora eu saiba que eles sabem se cuidar, o povo da aldeia não é confiável. Nunca nos aventuramos sozinhos, sempre com nosso Firnet.
Aprendemos essa lição da maneira mais difícil quando Bravak saiu para buscar água sozinho. Lemusk e seu Firnet o atacaram, quase tirando sua vida. Chegamos a tempo de salvá-lo, mas isso resultou em uma briga com a tribo e em nosso afastamento. Nossa tenda foi colocada a uma grande distância da aldeia.
Sigo em frente, ignorando os olhares desdenhosos dos Lazurdianos e das fêmeas humanas. Que raça mesquinha, mesmo com o vínculo, nenhuma delas engravidou. Essa celebração cíclica é um absurdo. O líder da tribo insiste que, com o tempo, elas gerarão descendentes, mas é difícil acreditar, já se passaram sete ciclos e nada aconteceu. Se não fosse pelo vínculo, essas fêmeas já estariam velhas demais, mas, para piorar, ainda drenam a vitalidade de seus vinculados. Simplesmente, uma raça detestável.
Chego ao centro da aldeia e contorno a fogueira, tentando evitar o contato com os outros, quando algo atinge minhas costas. Me viro a tempo de ver Lemusk com uma gorh na mão, o suco da fruta escorrendo e deixando uma trilha branca. O som de sua risada fere meus ouvidos, e a raiva dentro de mim ferve.
_Olha só o que temos aqui-, diz Lemusk, se aproximando, com seu Firnet sempre por perto.
_Estou apenas seguindo meu caminho, Lemusk. Não quero confusão- eu respondo.
_Oh, Chacal, quem está procurando confusão? Apenas achei que o branco combinava tão bem com essa sua pele esquisita. Você fica ainda mais feio-ele provoca, de forma banal.
Suas provocações sem sentido não me afetam. Eu simplesmente viro as costas e continuo minha jornada.
_Que coisa feia, Chacal, virar as costas para o líder- ele continua a provocação.
Eu paro e deixo escapar uma risadinha.
_Não sabia que o seu pai já tinha descido o corvax Lemusk."
Mas, então, sou atingido por outra fruta. Grande Gadbah, dê-me paciência.
_Ah, e Chacal, diga aos seus irmãos que assim que eu me tornar o líder, vocês serão expulsos daqui. Não quero nenhuma aberração perto do meu povo."
Eu me viro, golpeando-o na cabeça. Em questão de segundos, o levo ao chão e começo a desferir socos. Meus rabos se preparam para atacar, e meus espinhos cravam nas pernas dele. Eu ouço seus gritos, mas estou muito furioso para me importar.
De repente, sou arrancado de cima dele, debatendo-me para me soltar, até perceber que são Vakrum e Kaleb. Ouvimos um rugido, e o chefe da aldeia emerge da multidão.
_O QUE ESTA ACONTECENDO AQUI?"