O elevador espelhado refletia a ansiedade que Valentina tentava esconder. O décimo sétimo andar da Ellison Enterprises era impecável, silencioso e intimidante. Cada passo que ela dava naquele corredor de mármore parecia ecoar mais alto do que deveria.
Era o primeiro dia.
Um dia que ela tinha prometido a si mesma que nada abalaria.
Mas isso durou até a porta da sala da diretoria se abrir.
Bryan Ellison surgiu ali - impecável em um terno cinza escuro que parecia ter sido costurado diretamente em seus ombros largos. O porte dele era firme, quase arrogante, como se carregasse o peso de todo aquele império sem ao menos se permitir vacilar.
Os olhos dele, porém...
Frio e calculados, mas atentos.
Muito atentos.
Eles se encontraram por um segundo.
Um segundo que pareceu arrancar o ar de Valentina.
Ela não desviou.
Ele também não.
- Você é a nova analista? - ele perguntou, sem alterar a expressão.
A voz dele era grave, ritmada, controlada como tudo naquele homem.
- Sou. Valentina Ferraz - respondeu com a postura ereta, mesmo sentindo o coração bater mais alto que o necessário.
Os olhos dele baixaram discretamente para o crachá no peito dela, depois voltaram para seu rosto. Avaliando. Medindo. Pesando.
- Pontual. - Ele fez um leve aceno com a cabeça. - Gosto disso.
Não foi elogio.
Foi constatação.
E ainda assim, por alguma razão irritou Valentina.
- Pontualidade é o mínimo - ela disse, firme.
Ele ergueu uma sobrancelha. A primeira reação desde que a vira.
- Nem todos pensam assim.
- Eu penso.
Por um instante, ela teve a impressão de que uma curiosidade perigosa passou pelos olhos dele. Como se ele tivesse acabado de detectar um desafio - ou uma ameaça.
- A partir de agora, você responde diretamente a mim - ele afirmou.
Valentina sentiu um pequeno choque percorrer sua espinha. Não era medo - era aquele tipo de tensão que aparece quando duas forças opostas se reconhecem.
- Entendido - ela respondeu, mantendo o queixo erguido.
Ele se aproximou um passo.
Não o suficiente para ser invasivo.
Mas o suficiente para deixar claro que Bryan Ellison não era apenas o CEO.
Ele era uma presença.
Daquelas que atravessavam paredes.
- Espero que não tenha problemas com autoridade - ele disse, num tom baixo, quase desafiador.
Valentina inspirou fundo.
Se havia algo que ela nunca aceitou, era ser controlada.
- Desde que a autoridade faça sentido - respondeu.
Por um segundo, ela viu algo raro surgir no canto dos lábios dele.
Não era um sorriso.
Era... algo que poderia se tornar um.
Ele inclinou levemente a cabeça.
- Interessante.
E passou por ela, deixando seu perfume caro e a sensação de que aquele primeiro encontro tinha sido apenas o início.
Valentina soltou o ar que nem percebeu que estava prendendo.
Bryan Ellison era tudo que diziam sobre ele.
Frio. Dominante.
Inabalável.
E havia mais: ele claramente estava acostumado a ser obedecido.
O problema?
Valentina não era feita para se curvar.
E ela tinha a nítida impressão de que ele sabia disso.
Talvez por isso, quando a porta do escritório dele se fechou atrás dele, ela sentiu que acabara de entrar não apenas em um emprego novo...
mas em uma guerra silenciosa.
Uma guerra para a qual nenhum dos dois estava realmente preparado.