- Quanto vale a sua dignidade, Isabela? - A voz dele é baixa, carregada de desprezo, enquanto suas mãos me seguram com força pelos pulsos, me impedindo de sair dali. Seus olhos são um tom profundo de castanho escuro, e por mais que eu tente desviar o olhar, o dele me prende, me queima. - Foi tudo por dinheiro, não foi? - Ele solta uma risada seca, sem humor. - Ou quem sabe... por diversão. Você parece gostar de brincar com homens, não é?
- Me solta, Lucas! - Tento me livrar, mas ele só aperta ainda mais. Meu corpo inteiro treme, parte por medo... parte por raiva... parte por algo que eu não quero admitir.
- Engraçado... você tinha tantas cláusulas no contrato... tanto cuidado para não ser tocada... Mas agora está aqui, na minha cama, agindo como vítima. - Ele se inclina, e sinto sua respiração quente contra meu pescoço. - Está se fazendo de santa, Isabela? Depois de tudo?
- Eu não sou isso que você pensa! - Minha voz sai embargada, com o orgulho quebrando em pedaços. - Você está me machucando!
- Eu devia fazer muito mais do que isso... - Ele sussurra, com os lábios perigosamente próximos dos meus. - Porque você provocou isso, com suas mentiras, com esse jogo idiota.
Ele se afasta por um segundo, e por um breve instante eu consigo respirar. Mas a tensão entre nós continua tão densa que parece sufocar. Tento levantar, mas Lucas me empurra de volta na cama com um só movimento, me fazendo perder o fôlego.
- Nós temos um contrato... - Digo, desesperada, me agarrando à única coisa que ainda me protege dele.
- Que se dane o contrato! - Ele rosna, passando a mão pelos cabelos, visivelmente descontrolado. - Você acha que eu ligo para regras agora? Depois de tudo o que você fez?
Meu peito arde. A garganta fecha. As lágrimas ameaçam descer, mas eu não quero dar a ele esse prazer.
- Eu nunca quis te enganar... - Minha voz sai num fio. - E você não sabe nem metade do que está acontecendo...
Ele me encara por longos segundos. O olhar dele mistura raiva, mágoa... e algo mais. Algo que me assusta ainda mais do que a fúria.
Desejo.
- Não me teste, Isabela... - Ele diz por fim, se afastando da cama com um movimento brusco, como se lutar contra o próprio impulso fosse a única coisa que o mantém no controle.
Quando a porta bate atrás dele, o quarto fica em silêncio.
Eu fecho os olhos... e deixo as lágrimas finalmente caírem.
"Algumas semanas antes..."
O terceiro copo de vinho desliza fácil pela minha garganta, mesmo com o gosto amargo. O bar está cheio, a música alta, as luzes baixas... mas nada consegue distrair minha cabeça dos problemas que me sufocam.
Emma, minha amiga de sempre, me cutuca com o cotovelo, impaciente.
- Isa... você está me irritando com esse olhar perdido. Sabe por que eu te trouxe aqui? Para você esquecer esse caos e, principalmente, o idiota do Thomas.
Eu solto uma risada forçada.
- Fácil pra você dizer. Minha mãe está à beira de um colapso nervoso, meu pai cortou minha mesada como forma de punição e a empresa... - Faço uma pausa, respirando fundo para não chorar ali mesmo. - Está a um passo de virar história.
- Justamente por isso você precisa viver um pouco! - Ela estala os dedos, chamando a atenção do garçom para trazer mais uma rodada. - Sério, Isabela, você só tem vinte e três anos. Não pode continuar vivendo como uma viúva de guerra.
Meu olhar se fixa em um canto da pista de dança. E lá está Thomas... meu ex... com a mesma garota que me fez descobrir a traição.
Uma mistura de raiva e dor me invade.
- Isso é sério? - murmuro, virando o resto da bebida de uma só vez.
- Ah não, você não vai chorar por aquele babaca de novo! - Emma diz, me puxando da cadeira. - Vem comigo. Vamos dançar. E se for o caso... arrumar alguém novo só pra fazer ciúme.
Deixo ela me arrastar até o meio da pista. Meus movimentos no começo são mecânicos, mas com o passar da música e com o álcool fluindo, começo a me soltar.
É quando percebo o olhar dele.
Encostado no bar, um homem me observa com atenção. Alto, moreno, barba bem feita, olhar perigoso. Não desvia quando o encaro de volta. Pelo contrário... levanta o copo em um cumprimento silencioso.
- Tem alguém te encarando... - Emma sorri com malícia. - E, pelo jeito, com intenções bem específicas.
O garçom se aproxima de novo. Desta vez, trazendo um bilhete.
"Linda garota de vermelho... difícil tirar os olhos de você. Se quiser uma bebida, sabe onde me encontrar."
Meu coração acelera. Algo dentro de mim grita que isso é uma péssima ideia... mas outra parte - a parte cansada de sempre ser a certinha - me faz caminhar até o bar.
Ele sorri quando me aproximo.
- Finalmente. Já estava achando que teria que atravessar a pista só pra te conhecer.
- Não se precipite. Não estou interessada em nada duradouro.
- Ótimo. Nem eu. - Ele diz, com um sorriso torto que me faz esquecer metade das minhas preocupações.
- Sem nomes. Sem perguntas. Sem promessas? - Proponho, levantando a taça.
- Sem nomes. Sem perguntas. Sem promessas. - Ele concorda, tocando o copo dele no meu.
E naquela noite... sem saber...
Assinei meu destino.