O irmão acelerou enquanto ela tentava calçar aqueles malditos sapatos e prender os cabelos.
Ele freou com tanta força que ela quase foi parar na frente do carro.
- Igreja de São José. É aqui!
Lisa ergueu a barra do vestido, desceu descalça. Os sapatos estavam menores. Largou os sapatos e foi sem pensar duas vezes.
Correu o mais rápido que conseguiu. Não podia falhar. A vida de Mick dependia disso.
O noivo parecia mais baixo do que na foto.
Mas o que importava?
Havia um altar e convidados. Flores ridículas e um homem em pé com o olhar tão perdido quanto o dela.
Tentou prender o brinco enquanto falava com o padre.
- Podemos casar de uma vez? Já estamos atrasados, né? Eu digo sim.
Olhou para o noivo.
Segurou a mão do homem. Sentiu a pele arrepiar.
Não esperava que ele fosse tão bonito. Os lábios grossos, o queixo angular, quase exótico. E por alguma razão ele tinha soltado a gravata borboleta.
Pretendia perguntar se ele também diria sim, apesar da óbvia resposta. Ele havia pagado vinte mil dólares por ela.
Andrew sorriu.
E o sorriso dele também parecia com o de um deus grego. Misterioso e sedutor.
- Tá bom. Por que não?
Se virou para o padre e ordenou com a voz firme.
- Siga com o casamento.
O padre ajeitou os óculos. Olhou em volta desconfiado. Tinha acabado de ouvir aquilo?
Nunca teria coragem de perguntar. Andrew Forts não era o tipo de homem que aceitava ser questionado, e todos naquela igreja sabiam disso.
O padre pigarreou e começou a cerimônia.
- Bom, se todos estão prontos, vamos começar.
Lisa puxou o ar. Tentou ajeitar o vestido. Alguma coisa estava pinicando. Pensou que deveria ter ido pessoalmente pegar aquela merda de vestido.
O tamanho estava errado. Só podia estar. Sentia as costelas serem esmagadas, e se aquela porcaria rasgasse, jamais teria como pagar.
A voz do padre parecia longe. Ela achou que estava prestes a desmaiar.
Um casamento devia ser demorado assim?
Ele dizia alguma coisa sobre união, compromisso, amor. Ela não ouviu os nomes. A visão estava embaçada, o rosto suando, os olhos ardendo pela maquiagem derretida.
O homem ao seu lado tinha uma presença forte. Se não fosse o fato de que ela era só um pacote caro que ele comprou para conseguir a cidadania americana, talvez ela pudesse se interessar por ele.
- Você, Andrew Forts, aceita esta mulher como sua legítima esposa?
Todos ficaram em silêncio, inclusive o homem ao seu lado, com um terno impecável.
Lisa franziu a testa. Andrew? Devia ser Andrew?
Pensou que talvez ele tivesse usado um nome falso para falar com ela da primeira vez. Mathew ou Andrew, tanto faz.
Ele olhou para o padre, depois para ela.
- Aceito.
Os convidados continuavam atentos, quase sem acreditar no que estava acontecendo.
- Você aceita este homem como seu legítimo esposo?
Ela aceitou. Claro que sim. Não era real. Jamais se casaria de verdade em meio a um acordo. Passaria três meses casada, pegaria o restante do dinheiro e sairia do país com o irmão.
- Aceito.
Ninguém se levantou. Não houve chuva de arroz. Lisa teve certeza de que os convidados também eram contratados.
Saíram da igreja e, como se não bastasse tudo o que ela tinha passado nas últimas vinte e quatro horas, a chuva caiu pesada.
Escorregou em uma das pedras, sentiu o pé cortar. O vestido colado nas pernas enquanto tentava manter a barra o mais longe da lama possível.
Andrew caminhava como se estivesse em uma espécie de desfile. A postura impecável, apesar da chuva. As mãos nos bolsos.
Passos firmes e lentos.
Pararam embaixo de um toldo amarelo tão ridículo quanto aquela situação.
Andrew olhou para ela de cima a baixo.
- O que esperava conseguir com essa palhaçada?
Para o empresário, as ações de Lisa só podiam significar uma coisa. Um golpe.
Ela queria dinheiro, e ele queria humilhar alguém.
- Os outros dez mil que me prometeu.
Andrew franziu a testa com um sorriso de lado que o fez ficar com uma covinha linda.
- Espera, você sabe que a minha noiva fugiu, né?
O coração da garota saltou no peito.
- Como assim, fugi? Eu não.
Lisa pensou que talvez ele estivesse se referindo ao problema que o irmão teve com a polícia. Mas como ele saberia?
Andrew continuou como se desabafasse.
- Entrou no carro do personal usando o vestido de noiva que eu comprei, mais ou menos uns cinco minutos antes de você chegar e se casar comigo.
Lisa arregalou os olhos, deu dois passos para trás e caiu sentada no concreto mofado.
- E você não é o...
Foi interrompida.
- Quem você pensa que eu sou? Estou louco para ouvir essa história. Você tem uma história para me contar, não tem? Algo bem triste, que acha que vai me derreter e te dar alguma grana.
- Eu... achei que você fosse. Qual é o seu nome?
Andrew gargalhou. Era no mínimo divertido que a esposa não soubesse seu nome.
Ela assentiu. Baixo. Engoliu seco.
- Eu ia me casar com um russo. Mathew. Espera. Você não é russo?
Andrew sorriu. Pelo menos achou a história criativa. Aquela menina achava mesmo que tiraria dez mil dólares dele o chamando de russo?
- Acho que não. Meus pais me dizem que nasci aqui mesmo na Virgínia.
- E agora? Mas era o meu casamento. Eu não cheguei tão atrasada assim. Quantos casamentos fazem por dia?
Começou a procurar o celular por instinto, porque sabia que estava no carro do irmão. Vestidos de noiva não têm bolsinho para o aparelho.
- Agora você é a senhora Forts. Qual o seu pedido para a nossa lua de mel?
Lisa o olhou brava e perguntou novamente.
- Qual seu nome?
- Andrew. E o seu?
- Lisa. Prazer em te conhecer, mas eu preciso muito do seu telefone.
O empresário soltou o ar, coçou a barba e achou que ainda havia espaço para se divertir.
- Lisa, esse foi o pior dia da minha vida. Mas você é engraçada. Quer um café?
Falou apontando para o bar do outro lado da rua.
- Quero um divórcio.
Nenhum dos dois teve o que queria, ao menos não naquela noite. Terminaram sentados em cadeiras de madeira velha, tomando café fervido.
Enquanto do outro lado da cidade, um homem segurava as grades escuras e enferrujadas da cela, gritando sem parar que mataria a todos.
O terno estava amarrotado. O cabelo, alinhado fio a fio.
Mas os olhos.
Os olhos mostravam do que Mathew Volkov era capaz.
- Eu iria me casar. Eu juro. Aquela...
Quase rosnou, mas não terminou a ofensa que Lisa merecia.
O policial respondeu como se falasse com um verme.
- Você está sendo deportado. Reclama com o consulado.
Mathew cuspiu no chão. Pisou em cima.
- Se eu sair daqui, juro por tudo o que sou... ela vai pagar. Cada pedaço dela.
E ele ia sair. Muito antes do que todos imaginavam.
Mas.
Lisa apertava o copo de café entre as mãos, tentando roubar o calor daquele líquido de sabor intragável.
Andrew pegou um dos donuts do prato e entregou a ela.
- Obrigada.
Ele balançou os ombros como se não se importasse.
- Casamento inclui benefícios. Disse que queria dez mil dólares, posso pagar por isso. E só isso!
- Você não vai me denunciar?
- Por quê? Por se casar comigo? Fica tranquila. Quem tinha dinheiro era a Georgina. Eu trabalhava de gogoboy até ela me tirar da noite.
Lisa o encarou sem saber se deveria rir ou chorar.
- Meu Deus.
Ele só mordeu o donut.
- O quê? À noite, com as luzes certas e uma cueca cavadinha, eu conseguia umas boas gorjetas.
Ela deu risada. Não tinha outra coisa a se fazer.
Mas enquanto Andrew brincava, outro homem, com o sotaque carregado e o peito cheio de ódio, usava uma linha clandestina para dar as ordens que selariam o destino de Lisa.
- Achar essa garota é uma questão de honra. Ela me deve um casamento. E não vai gostar disso