Eu era uma advogada estrela, invicta nos tribunais. Então, meu marido e minha rival me incriminaram com provas forjadas, me jogando na prisão e destruindo meu nome.
Mas a traição final veio depois que saí. Meu próprio filho adotivo, o menino que salvei e criei, cortou meus pneus enquanto meu marido sabotava os freios, fazendo meu carro voar de um penhasco para me silenciar para sempre.
O mundo me declarou morta. Por sete anos, vivi como um fantasma, limpando banheiros e me escondendo nas sombras enquanto eles construíam uma vida perfeita sobre as cinzas da minha.
Agora, eles me arrastaram de volta para o seu mundo brilhante, usando o aniversário de 18 anos do meu filho como palco para a festa de noivado deles - um espetáculo final e público para me humilhar.
Eles veem uma faxineira destruída. Um fantasma que podem ignorar facilmente.
Eles estão enganados.
Hoje à noite, vou entrar ao vivo. E estou trazendo sete anos de provas digitais que vão queimar o mundo deles até as cinzas.
Capítulo 1
"Elisa? É você mesma, Elisa?"
Meu nome, meio sussurrado, meio ofegante, me atingiu com mais força que o balde de água suja que eu carregava. O som repentino me fez tropeçar, e o líquido frio e arenoso encharcou meus sapatos gastos. Sete anos. Sete anos limpando pisos, banheiros e a sujeira da vida de outras pessoas me ensinaram a ser invisível. Mas ali, no corredor estéril de um prédio de escritórios de luxo na Faria Lima, meu anonimato cuidadosamente construído se estilhaçou.
Minhas mãos, ásperas e calejadas, apertaram a alça do balde. Meu coração, um músculo que eu achava que tinha esquecido como sentir, deu um solavanco brutal contra minhas costelas. Continuei de costas para a voz, fingindo que o leve tremor em meus dedos era apenas pelo trabalho pesado.
"Elisa?" A voz se aproximou, mais densa agora, tingida com uma estranha mistura de incredulidade e algo frágil.
Eu não me virei. Não podia. Ainda não. Apenas mantive meus olhos fixos na cabeça suja do esfregão, me forçando a ser ninguém. Apenas uma faxineira. Apenas uma sombra.
Uma mão, leve e hesitante, se estendeu. Tocou meu braço, e eu recuei como se tivesse levado um choque. O toque enviou uma corrente elétrica através de mim, um nervo exposto. Afastei-me bruscamente, meu corpo criando distância automaticamente.
"Eu pensei... eu pensei que você tinha partido." A voz dela falhou. "Por sete anos, Elisa, nós pensamos que você estava morta."
As palavras flutuaram no ar asséptico, pesadas e acusadoras. Morta. Era uma palavra com a qual eu convivi. Uma ficção conveniente que me permitiu desaparecer, sobreviver.
Finalmente, eu me virei. As luzes fluorescentes do corredor pareciam amplificar a dura realidade do momento. Meus olhos, ainda se ajustando depois de encarar o chão polido, se apertaram. Minha visão turvou por um segundo, uma névoa brilhante obscurecendo seu rosto.
Quando clareou, ela estava lá, um fantasma de um passado que eu havia enterrado vivo. Catarina Sampaio. Seus traços usualmente afiados estavam suavizados por um véu de choque, seus olhos perfeitamente maquiados, arregalados e brilhantes. Um tremor fino, quase imperceptível, percorria seu corpo.
Ao lado dela, um garoto alto e esguio permanecia em silêncio. Seus olhos, escuros e reservados, me encaravam com uma intensidade que fez meu estômago se contrair. Ele parecia familiar, mas ao mesmo tempo, um estranho.
"O Arthur só tinha dez anos quando... quando você nos deixou," disse Catarina, sua voz pouco acima de um sussurro, puxando o garoto um pouco para frente. "Ele tem dezoito agora. Um adulto."
Eu olhei para Arthur. Dez anos. Aquela criança frágil e confiante que costumava desenhar padrões na minha mão enquanto eu lia histórias para ele dormir. Agora, ele era um jovem, seus ombros mais largos, sua mandíbula mais definida. O menino que me chamava de 'Mãe'.
"Nós íamos ao local todos anos," Catarina continuou, sua voz subindo, com um tom cru de acusação agora. "Todos os anos, Elisa. Por sete anos. Você sabe quantas flores eu deixei para você? Quantas orações eu fiz?" Seu controle vacilou, e uma única lágrima traçou um caminho por sua base. "Por que você não voltou? Por que nos fez acreditar que estava morta?"
Eu não disse nada. Apenas a observei, meu rosto uma máscara de indiferença cuidadosamente construída. Peguei minha marmita do carrinho de limpeza. Era um recipiente de plástico barato, cheio de sobras frias. Abri e comecei a comer, cada garfada um ato deliberado, uma barreira entre nós.
Meu olhar desceu para a barriga de Catarina, uma curva leve, quase imperceptível, sob o tecido caro de seu vestido. A curva era sutil, mas inconfundível. Outra vida. Um novo começo para ela. Sete anos. Era tempo suficiente para tudo mudar. Para vidas antigas serem apagadas e novas começarem.
Sete anos. Um abismo.
Terminei minha refeição sem graça, o gosto da traição muito mais forte que a comida. Nossos caminhos estavam separados agora, por mais do que apenas o tempo.
Catarina, ainda chorosa, deu um passo mais perto, seus olhos percorrendo meu uniforme, as linhas de cansaço ao redor dos meus olhos. O escrutínio fez minha pele arrepiar. "O que aconteceu com você, Elisa? Olhe para você. Você é uma faxineira." Sua voz estava carregada de uma pena que me revirava o estômago. "Você ainda está com tanta raiva? Está nos punindo vivendo assim?"
Eu me levantei, a marmita vazia um peso de pena na minha mão. Caminhei até a lixeira industrial, o rangido das minhas solas de borracha o único som no silêncio tenso. Com um movimento deliberado, joguei o recipiente dentro.
"Você se enganou de pessoa," eu disse, minha voz plana, desprovida de qualquer emoção. Era uma mentira ensaiada, que eu havia aperfeiçoado ao longo dos anos.
O rosto de Catarina congelou, uma máscara de choque substituindo suas lágrimas. Sua mandíbula se contraiu, e suas mãos se fecharam ao lado do corpo. Ela olhou para Arthur, depois de volta para mim, seus olhos brilhando com uma raiva súbita e feroz.
"Até o Arthur? Você negaria seu próprio filho?" Sua voz estava afiada agora, cortando o silêncio. "Ele é seu filho, Elisa!"
Arthur, que estivera em silêncio todo esse tempo, se encolheu. Ele abaixou a cabeça, e um sussurro quase inaudível escapou de seus lábios. "Mãe?"
Meus dedos, pendendo frouxamente ao meu lado, se fecharam em punhos apertados, as unhas cravando em minhas palmas. O ar ficou denso, pesado com palavras não ditas. Apenas o zumbido distante da ventilação do prédio quebrava o silêncio opressivo.