Estamos todos na casa do Kauê - irmão do Luan, que tem dezessete - porque ele tem uma TV gigante e videogame de última geração. A desculpa era jogar alguma coisa de luta, mas todo mundo acabou deitado pelos sofás, mexendo no celular ou rindo de qualquer besteira.
Luan tá sentado no chão, encostado no puff amarelo, com uma tigela de pipoca equilibrada nas pernas. Ele joga uma pipoca pro alto e tenta pegar com a boca, mas erra feio. A pipoca bate no queixo e cai. Ele ri. E eu rio junto, porque ele é ridículo, mas também é a melhor parte do meu dia.
- Aposto que você não acerta três seguidas - provoco.
- Aposto que você se apaixona se eu acertar - ele responde, meio zoando, meio sem olhar pra mim.
Meu coração para. Eu sei que ele tá brincando. Eu sei. Mas e se não tiver?
Antes que eu possa pensar em alguma resposta, Kauê aparece com uma garrafa de refrigerante e começa a encher os copos. A galera se anima de novo e alguém sugere um campeonato no videogame. Marianna, que tá sentada num canto com cara de que preferia estar em qualquer outro lugar, levanta e diz:
- Vou embora. Henry, você vai ficar?
Olho pro Luan. Ele me encara, levantando uma sobrancelha.
- Fica aí, "pequeno gênio" - ele fala. - Quero te desafiar no próximo round.
Meu estômago dá um looping. E eu fico.
Marianna revira os olhos e sai, e eu me afundo ainda mais no sofá, tentando parecer calmo. Só que por dentro eu tô gritando. Faltam dez dias pro aniversário do Luan. Dez dias pra decidir se conto ou não. Dez dias pra talvez perder ou ganhar tudo.
E, agora que ele tá sentado do meu lado, com o ombro encostando no meu, acho que dez dias pode ser tempo demais.