Mas ela sabia, no fundo do seu íntimo que tudo isso geraria muita confusão em sua vida, e ainda se perguntava o tempo todo o porque aceitou retornar, talvez a saudade de estar em sua terra natal novamente a estivesse conduzindo, mesmo que por caminhos que ela sabia que iriam desorganizar toda a sua vida.
Quando entrou enfim no aeroporto em Boston, não consegui conter os olhos marejados, pois a única pessoa a esperar por ali era sua avó. Desde pequena se apegara muito a Marry, pois em meio ao turbilhão de problemas que passava em casa, a única que a consolava e lhe dava atenção era Marry Maldonado, a matriarca da família Maldonado, e que mantinha todos na linha quando sua vitalidade ainda a permitia, porém com o avançar da idade o poder foi passado a grande Valentina Maldonado, mãe de Hanah, que fora uma mulher forte e de muita influência, no entanto, um trágico acidente a retirou cedo do seio familiar.
Hanah abraçou a avó com todo o amor que conseguiu expressar, e preocupada perguntou:
- O que em nome dos céus está fazendo aqui? Não falei que não precisava me buscar, eu me virava muito bem com um táxi, além do mais a mansão Maldonado não fica longe daqui e a senhora deveria estar em casa de repouso após fazer o tratamento.
-Ora, como se de alguma maneira eu deixaria minha única neta chegar de viagem e não encontrar ninguém a sua espera, que absurdo passou pela sua cabeça?
- Já tenho vinte e três anos, não sou mais uma criança que precisa de cuidados prara chegar em casa.
Ao notar que a discussão seria inútil, agarrou o braço da avó, sentindo toda a familiaridade daqueles braços e juntas andaram em direção ao carro que as aguardava no estacionamento.
-Boa tarde senhora Maldonado, bem vinda de volta senhorita Hanah. - disse James ao se aproximarem do carro, enquanto abria a porta do sedan preto para as duas se acomodarem. Guardou as malas no porta malas do carro e começou a dirigir.
No caminho Hanah só conseguia pensar no quanto isso lhe parecia estranho, após tanto tempo em Londres, retornar parecia errado, mas não podia ignorar o pedido de Marry.
As duas seguiram em silêncio até os portões da mansão, ao chegarem em casa forem recepcionadas apenas pelos funcionários.
-Onde está aquele inútil do Carlos? Perguntou Marry ao mordomo Charles
-Senhora, peço infinitas desculpas, mas não faço ideia de onde o senhor Charles esteja.
-Como pode não estar em casa para recepcionar a própria filha? É mesmo um inútil oportunista.
-Vovó, se não se importa, vou descansar até a hora do jantar, a viagem foi longa e estou exausta por causa do fuso horário.
-Claro minha querida. Estarei aqui se precisar.
Com um beijo carinhoso na testa Marry se despediu de Hanah, que subiu para seu antigo quarto, e para sua surpresa, estava exatamente como se lembrava.
Sentou se no divã perto da janela para organizar os pensamentos. Imaginou que teria muito trabalho nos próximos dias para abrir a falência do banco da família, esses processos levam tempo é muitos acordos precisariam ser fechados. Colocou os pensamentos em ordem e resolveu tomar um banho quente para relaxar o corpo e tentar dormir um pouco antes do jantar, pois sabia que Carlos estaria bebado e traria grandes problemas, isso a deixou muito indisposta.
Encheu a banheira com água quente e deixou o cheiro dos sais de banho invadir sua mente, para relaxar e dormir.
Após o banho colocou um moleton confortável e se aninhou na cama. Sentia um imenso vazio tomar conta do seu corpo, mas espantou o pensamento assim que começou a surgir, adormeceu em seguida.
Acordou sobressaltada com a batida na porta, meio zonza e sem saber ao certo onde estava, tateou até a porta e abriu quem a acordara tão cedo.
-Senhorita Hanah, sua avó pediu para avisar que o jantar será servido em uma hora, e que aguarda sua companhia a mesa. Disse uma empregada muito bem alinhada em seu uniforme, devia ter uns 40 e poucos anos, porém Hanah nao a conhecia.
-Estarei pronta - Respondeu Hanah, pediu licença e fechou a porta para se preparar então para o momento que mais temia.
Seu pai, nunca quis saber da filha, nem mesmo da esposa, porém após a morte de Velentina, assumiu o controle das ações da esposa no banco, o que o tornou sócio majoritário e portanto presidente da instituição. Hanah e Carlos se tratavam cordialmente, nas raras ocasiões que se encontravam, mas no fundo ambos sabiam da indiferença que nutriam um pelo outro. Quando criança, Hanah presenciou muitas brigas seus pais é isso a afastou cada dia mais dos pais. Encontrava consolo sempre no colo de Marry, que estava sempre de braços abertos para a neta.
A nostalgia teria que esperar para mais tarde, pois Hanah tinha pouco mais que 20 minutos antes do jantar para se arrumar. Enfim decidiu descer com o moletom mesmo, pois não havia motivo algum para se arrumas, pois imaginava que o jantar seria um verdadeiro desastre.
Ao abrir a porta do quarto e começar a andar pelo corredor que levava a escada para o andar inferior, foi capaz de ouvir os gritos vindos do andar debaixo, acelerou o ritmo, pois imaginou que a essa altura Carlos estaria fora do controle.
Ao se aproximar da sala de jantar foi capaz de interpretar vozes e definir de que direção vinham.
-Jamais permitirei um absurdo desses. Gritava Marry a plenos pulmões
-Sua velha insana, não tem que permitir nada, ela é minha filha E vai fazer o que eu ordenar que faça. Retrucou Carlos