Minha esposa, Ana Clara, se jogou do terraço.
A notícia do suicídio dela veio logo após a do estagiário, Gabriel, que também havia tirado a própria vida.
Eu me sentia chocado e sem chão. Afinal, Ana Clara era reservada, serena, a mulher com quem dividi dez anos de casamento.
Mas a busca por respostas me levou aos diários dela, escondidos no fundo do armário.
Foi ali que toda a minha vida desmoronou.
Página após página, ela descrevia um amor avassalador por Gabriel, um "amor de lua branca", puro e intocável, muito antes de me conhecer.
"Casei-me com João Carlos... senti-me suja quando ele me beijou. Meu coração gritava o nome de Gabriel."
Dez anos de farsa. Eu não era o escolhido, apenas o substituto, o plano B, a fachada perfeita.
A dor da traição era insuportável, a humilhação me consumia. Eu era o vilão na história de amor dela.
Meu coração, partido e exausto, simplesmente parou de bater.
Acertei as contas. Era o dia do meu primeiro encontro com Ana Clara.
O universo me deu uma segunda chance, não para reconquistá-la, mas para me salvar. Eu não seria mais o prêmio de consolação de ninguém.
Ela entrou na cafeteria e sorriu. O mesmo sorriso ensaiado que eu conhecia tão bem.
Desta vez, não sorri de volta.