- Você faltou à aula hoje. Queria saber se está tudo bem e trouxe as anotações. Além disso, temos um trabalho para terminar juntos. Você esqueceu?
Passo a mão pelos cabelos ainda úmidos e solto um suspiro cansado.
- Podemos fazer esse trabalho outro dia. Não estou com cabeça para nada hoje.
Meu telefone começa a tocar sobre a mesa da sala. Vou até ele e, ao ver o nome de Phani na tela, ignoro a ligação.
- Você quer alguma coisa para beber antes de ir?
Catarina cruza os braços e me encara com um beicinho indignado.
- Você realmente está me expulsando?
- Eu tenho que ir trabalhar daqui a pouco. Preciso me trocar.
- Tudo bem, não vou discutir. Mas aceito um café. Adoro quando você prepara. - Ela sorri, tentando amenizar o clima.
- Acabei de passar um, vou te trazer um pouco.
Sigo para a cozinha e encho uma xícara com o café quente. Quando volto para a sala, encontro Catarina com meu telefone na mão.
- O que você está fazendo? - Pergunto, e ela se assusta ao me ver.
- Estavam insistindo muito, achei que fosse importante. - Ela me entrega o celular e hesita antes de continuar.
- Mas assim que vi quem era, ignorei. Ela é bastante insistente e...
- Não quero conversar sobre isso com você. - Entrego a xícara de café a ela, cortando o assunto.
Catarina suspira e toma um gole antes de me encarar novamente.
- Ok, tudo bem. Não sou a pessoa mais indicada para te aconselhar, ainda mais porque você sabe que nunca gostei dela. Sthephania sempre foi uma fingida, uma patricinha...
- Chega, Catarina. Já disse que não vamos conversar sobre ela.
Minha voz sai mais alta do que pretendia, e Catarina se assusta, derrubando café em seu vestido.
- Droga! - Ela se levanta rapidamente e corre para o banheiro.
Solto um suspiro pesado.
- Eu sinto muito, não queria...
- Está tudo bem! - Ela grita do outro lado da porta.
- Deixa que eu lavo seu vestido. Vou te trazer uma roupa.
- Seria ótimo.
Vou até o meu quarto, pego a primeira camisa que vejo e a entrego para ela através da porta entreaberta.
- Vou estar no meu quarto. Preciso me arrumar. Coloque sua roupa na máquina quando terminar.
- Ok.
Assim que entro no quarto e começo a me vestir, ouço batidas insistentes na porta. Reviro os olhos.
- Aposto que agora é Melyssa. - Murmuro para mim mesmo, indo atender.
Ao abrir a porta, no entanto, sou surpreendido.
- O que você faz aqui? - pergunto, fitando Phani com expressão fechada.
Ela me encara, exalando aquele magnetismo natural que sempre me afetou. Seu longo cabelo negro, levemente ondulado, emoldura seu rosto perfeitamente simétrico, realçando os intensos olhos verdes que um dia eu jurei amar. Sua pele clara e impecável, seu porte elegante...
- Precisamos conversar. - Ela entra sem esperar convite, como se ainda tivesse esse direito.
Fecho a porta e cruzo os braços.
- Eu sei que terminamos, mas eu tive um motivo. As notícias que saíram não são verdadeiras e...
- Matteo, é a Melyssa? - Catarina aparece de repente, vestindo a camisa que emprestei a ela.
Sthephania a observa de cima a baixo e depois volta o olhar para mim. Nos olhos dela, vejo a surpresa e... mágoa?
- Vocês... - Sua voz sai quase como um sussurro.
Catarina cruza os braços e me encara antes de virar para ela.
- O que você faz aqui? - Seu tom é carregado de fúria.
- É muita cara de pau sua procurar o Matteo depois do que fez. Eu sempre soube que você não prestava, sempre disse a ele para não se envolver com uma garota mais jovem, ainda mais uma patricinha metida como você. Mas ele não me ouviu. Agora ele pode ver como você é de verdade.
Phani solta uma risada amarga.
- Patricinha metida? - Ela cruza os braços. - Eu sempre te tratei bem, e olha que você nem merecia. Só te aturava por causa dele. Só porque eu o am...
Ela para no meio da frase. Meu coração martela contra o peito.
Ela ia dizer que me ama?
Não.
Com certeza, não.
- Só porque eu gostava bastante dele. - Ela corrige, desviando o olhar. - Você nunca me suportou. Mesmo sendo rica, nunca fui esnobe com ninguém, diferente de você.
- Você é uma fingida! Dava em cima dele mesmo sabendo que estávamos juntos! Bem na minha frente! Sua...
- Muito cuidado com suas palavras. - Olho Phani nos olhos. - Não compare Catarina com você.
Phani arregala os olhos, como se tivesse levado um tapa.
- Então, para você, tudo bem ela me ofender?
Catarina me olha com olhos tristes, quase suplicantes.
- Você vê como ela me trata? - Sua voz falha. - Ela nunca gostou de mim. E ainda conseguiu nos afastar.
Phani solta uma risada amarga.
- Isso só pode ser brincadeira. Você acredita nesse teatrinho barato?
Sinto a raiva crescendo novamente.
- Acho melhor você ir para o meu quarto e me deixar conversar com ela.
Catarina hesita, mas obedece.
Phani me encara, incrédula.
- De todas as pessoas no mundo, tinha que ser logo ela?
Cruzo os braços, encarando-a.
- Não fiz nada diferente de você. De todas as pessoas no mundo, você me traiu e ficou noiva logo do Pablo.
Ela me olha, chocada.
- Eu não estou noiva de ninguém! - Sua voz treme. - Eu vim aqui para me explicar, mas vejo que você me superou rápido. Não se passaram nem duas semanas e já dormiu com aquela...
Meu olhar se torna cortante.
- Cuidado com o que vai dizer.
Phani engole em seco.
- Entre nós não existe mais nada. - Minha voz sai fria. - Você não é ninguém para mim. É só mais uma das amiguinhas da minha irmã que quero manter à distância. Agora vá embora.
Lágrimas rolam pelo seu rosto.
- Ok. - Ela murmura. - Não precisa falar duas vezes.
Ela sai sem olhar para trás.
A raiva me consome. Chuto a mesa, a cadeira, qualquer coisa que estiver no caminho.
Droga!
Seu idiota!
Por que você fez isso?
Mas eu sei a resposta.
Eu não tenho por que me sentir culpado.
Ela merece isso.
Eu sou um idiota por amá-la.