uma influência paterna. Eu voltei ao Brasil há pouco tempo, desde então
tenho ficado na casa da minha irmã, até arranjar um apartamento que me
agrade.
Uma de suas mãos tocou meu ombro, acariciando de leve.
Eu gostava da sensação que seu toque causava em minha pele.
Olhar para seus lindos olhos castanhos também exercia algum tipo de
influência sobre mim. Sentia-me encantada por ele de uma forma que nunca
imaginei ser possível. Isso que só estávamos conversando, em um ambiente
que não era propício ao diálogo, visto que a iluminação precária e o som alto
não ajudavam em nada. Contudo, Gregory não parecia se incomodar, sua
atenção estava voltada totalmente para mim e eu estava me perdendo nele.
- Onde você morava?
De repente, senti que precisava saber tudo a seu respeito. Dançar já não
era interessante, ouvir músicas que pareciam terem sido escritas para mim
também não.
- Londres. Eu morei lá por três anos, mas voltei quando Daniela,
minha irmã, começou a ter dificuldades para lidar sozinha com as garotas. -
Fez uma breve pausa, molhando os lábios antes de continuar. - Nossos pais
já faleceram, somos só nós dois. E claro, as meninas.
Sorri, ainda mais admirada pelo homem a minha frente.
Mesmo que fosse uma conversa bastante reveladora para quem havia
acabado de se conhecer, eu sabia que existia a chance de ser mentira, afinal,
éramos dois estranhos e eu não era tão ingênua ao ponto de acreditar em tudo
de primeira. Ainda assim, algo dentro de mim dizia que ele não estava
tentando me seduzir com aquele papo de bom moço, mas se abrindo comigo.
De toda forma, eu estava impressionada, ainda que cautelosa.
- Sou filha única - revelei. - Meus pais são muito presentes na
minha vida e ainda não consegui cortar o cordão umbilical, por assim dizer.
Moro com eles, embora meu grande sonho sempre foi ter meu próprio canto.
Não consigo imaginar o quanto deve ser difícil para as gêmeas crescerem sem
o pai, nem para você e sua irmã lidarem com isso sozinhos. Família é algo tão
precioso.
Ele tocou meu rosto com a mão que acariciava o ombro, esfregando o
polegar em um gesto de carinho, que me fez fechar os olhos por alguns
instantes.
- Tenho certeza que você é muito preciosa para os seus pais, Lia. -
Senti o polegar escorregando para meu lábio inferior e assim que abri meus
olhos, vi o quanto ele parecia ávido a me beijar de novo.
Naquele instante, eu queria ser preciosa para ele também.
Gregory se aproximou ainda mais e nossos lábios estavam prestes a se
colarem outra vez, quando uma movimentação estranha começou na pista de
dança.
De repente, ele me puxou para trás de si enquanto observava e tentava
entender o que acontecia.
- É uma briga - explicou com a voz aflita. - Droga! As meninas.
Olhando-me suplicante, ele parecia desesperado.
- Preciso ir atrás delas!
- Tudo bem, vai logo. Eu te espero aqui.
Fiquei nervosa com a movimentação das pessoas, uma empurrando a
outra, tentando se afastar do foco da briga. Recuei para perto do balcão do
bar, onde não havia risco de esbarrar com ninguém.
Lembrei-me da Pamela e fiquei imensamente preocupada.
- Espero que ela não esteja lá...
Foi quando minha amiga apareceu do meio do nada e quase me matou
de susto.
- A coisa está feia lá na pista de dança! - gritou ela nervosa. -
Vamos embora daqui, pelo amor de Deus, Lia!
Pamela estava a ponto de chorar, a briga tinha começado justamente do
lado dela. Puxando-me com força pelo braço, minha amiga me arrastou para a
porta de saída, sem deixar eu me explicar.
Queria dizer a ela que estava acompanhada, precisava esperar Gregory
encontrar as sobrinhas, mas ela não permitiu.
A música alta e as vozes alteradas por causa da briga impediram-me de
conversar com Pamela. Sem conseguir me soltar dela, logo chegamos à rua.
- Que confusão!
- Eu não podia ter saído daquele jeito - reclamei frustrada.
- Por que, não? - Pamela franziu a testa.
- Eu estava com uma pessoa.
- Você o quê?
- Não grite comigo, já estamos na rua, não tem nenhuma música alta
aqui.
- Você estava com alguém?
- Foi o que eu disse, mas agora não vou conseguir encontrá-lo.
Obrigada, Pamela!
- Ei! A briga estava feia lá dentro, tive sorte de conseguir sair do meio
da pista sem ser pisoteada, não tinha como eu adivinhar as coisas.
Dei de ombros, sabia que ela estava nervosa.
- Vamos pra casa, você pode dormir comigo se quiser. Assim não
chega em casa nervosa, não te quero dirigindo sozinha.
- Tudo bem, vamos. Você dirige? Realmente não estou em condições.
Segurando minha amiga pelos ombros, sorri.
- Vamos nessa, eu cuido de você.
Então lá fomos nós para a minha casa.
Minha noite foi de decepcionante à esquisita, de interessante à
incrivelmente perfeita, voltando a ficar esquisita. Quando as coisas poderiam
ter começado a ficar novamente interessante, a maldita briga fodeu com tudo
e lá se foi meu encontro com um cara que gostava de levar as mulheres a
sério. Novamente decepcionante.