Rejeitada
img img Rejeitada img Capítulo 5 Nenhum sinal do Gregory
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Capítulo 6 Nada que uma boa maquiagem não resolva! img
Capítulo 7 SETE ANOS E ALGUNS MESES DEPOIS img
Capítulo 8 CINCO ANOS ATRÁS img
Capítulo 9 Você é tão, tão linda... img
Capítulo 10 Como estão as coisas por aí img
Capítulo 11 Como estão as coisas por aí Part ll img
Capítulo 12 Namora comigo img
Capítulo 13 Bem-vinda de volta, querida. img
Capítulo 14 Greg img
Capítulo 15 você está passando bem img
Capítulo 16 Greg img
Capítulo 17 Eu só quero ser feliz! img
Capítulo 18 Seja feliz, Talia. Você merece. img
Capítulo 19 Epilogo img
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Capítulo 5 Nenhum sinal do Gregory

Passei a manhã de domingo revisando meu material para a faculdade, no

dia seguinte iniciaria o segundo semestre do curso de História. Deixei tudo

organizado e quando meu estômago reclamou, fui almoçar. O dia pareceu

andar em câmera lenta e não consegui parar de olhar o visor do meu celular,

esperando alguma chamada perdida ou mensagem enviada.

Nenhum sinal do Gregory.

Comecei a ficar frustrada e me odiei por estar assim, tão obcecada

esperando seu contato. Achei melhor me distrair, então liguei para a Pamela e

ela ficou de passar na minha casa para conversamos.

- Conte-me tudo e não me esconda nada! - berrou, assim que abri a

porta da sala.

Sentei-me no sofá e ela me acompanhou. Soltei a respiração,

pesadamente, antes de soltar de uma só vez:

- Nós transamos e foi maravilhoso.

Foi hilário ver a expressão perplexa da minha melhor amiga ao ouvir a

novidade.

- Você está falando sério? Minha nossa! Vou ter um heart attack. -

Fez um gesto teatral colocando a mão no lado esquerdo do peito.

- Deixe de drama, sim eu estou falando sério. - Comecei a rir.

Levantando as mãos para cima, em um gesto ainda mais dramático, ela

disse em alto e bom som:

- Finalmente, depois de dois anos, você experimentou uma piroca

diferente. Não aguentava mais ouvir sobre seu papai e mamãe com o Caio.

- Ei! Não era só papai e mamãe, pare com isso - reclamei, sentindome ofendida. - Aliás, não tenho culpa se você não tem um namorado sério.

Desculpe-me por transar mais do que você.

- Isso! Joga na cara!

- Para com isso, Pam! Ou não vou contar nada.

Meu blefe funcionou, ela imediatamente parou com as brincadeiras e me

encarou séria.

- Tudo bem, a pergunta que não quer calar: em uma escala de zero a

dez, em qual delas o bonitão se classifica, hein?

Sorri com malícia, sabia que ela ia pirar com minha resposta.

- Onze.

- Eu quero um desses de presente. Será que ainda tem outro no

estoque?

- Não comece, Pam! - Joguei uma almofada em cima dela.

Contei tudo à minha amiga, desde nosso encontro no mirante até o sexo

oral dentro do carro, em algumas ocasiões precisei fazer uma pausa para que

Pamela pudesse fazer seu show de ironias, onde rimos bastante, mas na

maioria das vezes ela soltou expressões de surpresa e fascínio.

- Tenho que dizer, amiga: parabéns! Pensei que não fosse superar o

Caio tão cedo.

- Caio? Quem é Caio?

Caímos mais uma vez na gargalhada. Pamela sabia que eu estava

frustrada com o fato de Gregory não ter me ligado e tentava me distrair para

que eu não tivesse pensamentos ruins sobre o assunto. Até funcionou, mas

quando eram seis da tarde e ela disse que teria que ir embora, eu encarei meu

celular e me dei conta de que ele não me ligaria.

- Pior é que eu nem peguei o número dele, só lhe dei o meu.

- Talvez esse Greg seja mesmo um babaca e só tenha usado uma

estratégia diferente para te levar pra cama - sugeriu Pamela, tentando ser

engraçada.

Pena que ela não conseguiu.

- Pam! Estou chateada de verdade. Ontem foi tão diferente, sabe? Não

só o sexo, mas nosso encontro. - Fechei os olhos com força, tentando

apagar as imagens que teimavam em surgir na minha mente. - Deve ter

acontecido alguma coisa, ele tem as sobrinhas possessivas e uma irmã que

precisa dele para lidar com elas. Não posso bancar a obsessiva.

- Isso mesmo, amiga. Você não é assim.

Forcei um sorriso, acompanhando-a até o portão de casa.

- Vou tentar não pensar mais nisso. O que tiver que ser será! - Tentei

dizer a mim mesma que acreditava em cada palavra.

- Pode ter acontecido alguma coisa, quem sabe ele ligue mais tarde.

Dei de ombros.

- Eu te vejo na aula amanhã?

- Infelizmente sim - disse com mau humor. - Ainda não estou

preparada para voltar.

- Ah, se anime. Vai que aparece algum calouro gato para você, hein?

- É a possibilidade que me consola. Vou indo nessa.

Assim que Pamela foi embora, peguei meu laptop e acessei meu perfil

na rede social. Não havia nenhum recado de Gregory. Procurei seu nome a

fim de ver suas atualizações e não encontrei nada. O perfil dele havia

desaparecido.

Uma onda de mal-estar, tristeza e decepção se misturou à raiva, mágoa e

uma sensação horrível de ter sido usada e descartada por um homem que

tinha todas as qualidades para ser perfeito.

- Filho da puta, desgraçado! - Foi tudo o que eu consegui dizer antes

de as lágrimas invadirem meu rosto e eu me afundar no sofá.

Talvez eu estivesse sofrendo antecipadamente ou à toa, mas não

conseguia evitar aquela sensação de que algo estava errado. Gregory não

podia ser diferente do que se mostrou na noite anterior, não podia ser mais

um cafajeste entre tantos outros. Eu não podia ser uma garota ingênua que se

apaixonava pelo cara no primeiro encontro, não podia ser mais uma a cair na

lábia de um sedutor barato.

****

Acordei assustada com minha mãe me chacoalhando. Assim que abri os

olhos encarei meus pais me observando preocupados. Com certeza meus

olhos estavam inchados de tanto chorar, pois eu mal conseguia abri-los.

Mamãe insistiu em saber o que estava acontecendo comigo, foi quando

me lembrei de que ainda não havia lhes comunicado sobre o término do meu

namoro com o Caio, usando o fato como desculpa para justificar minha atual

situação. Meus pais se sentaram comigo e ouviram quando lhes contei sobre

o telefonema desastroso de Caio e também sobre nosso encontro na boate,

falei sobre a ruiva e sobre ele dar em cima de mim na mesma noite.

Poupei os detalhes sobre Gregory. Meus pais não precisavam saber o

quanto a filhinha querida deles tinha sido ingênua a ponto de cair na lábia do

primeiro que apareceu para lhe consolar. Também não lhes contaria sobre o

boquete no carro e muito menos sobre eu ter sido capaz de levar um estranho

para dentro de casa. Alguns detalhes podiam passar despercebidos, eu

preferia que eles continuassem me tratando como a filha perfeita e sensata,

que jamais faria qualquer coisa sem pensar duas vezes.

Ah, se eles soubessem... que decepção seria.

Fui para a cama e dormi pesadamente. Quando o despertador tocou de

manhã, quase o joguei na parede. Meu rosto ainda estava um pouco inchado

por causa das lágrimas, mas um banho me recompôs e fui me vestir para o

trabalho.

O dia passou voando e consegui me distrair com os afazeres do

escritório, tudo bem que eu estava triste e decepcionada, mas se nem o

término do meu namoro de dois anos me colocou para baixo, não seria um

affair de duas noites que me derrubaria. Ao final do expediente, Pamela já me

aguardava em seu carro para me dar carona até a universidade. Éramos

colegas no curso de História.

- Nada do tal Greg ligar?

Pelo olhar enfurecido que lhe dei, ela soube que aquele assunto estava

encerrado.

- Vamos pra aula, espero que tenham calouros gatos, para a nossa

alegria e distração.

- Deus te ouça, amiga! Estou precisando de colírio para os meus olhos,

se é que você me entende.

Cumprimentamos alguns colegas na entrada da sala e observamos os

novatos circulando pelos corredores. Nunca prestei atenção nos garotos

enquanto namorei o Caio, pois sempre fui a namorada certinha que só tinha

olhos para o namorado.

Grande merda! Do que adiantou?

Matérias novas foram adicionadas no segundo semestre do curso. Fiquei

encantada com a aula sobre História Medieval, com certeza seria minha nova

matéria favorita.

- Amo esse curso - comentei com Pamela animadamente - e não

tenho dúvidas de que acertei em cheio ao optar por fazer faculdade de

História.

Finalmente a noite estava acabando, o último período era sempre o mais

cansativo já que todos queriam ir para suas casas.

Pamela mal prestou atenção em mim, estava perdida em pensamentos

encarando alguém que acabara de entrar na sala. Fiquei observando sua

expressão, achando engraçado. Queria ver por quanto tempo ela ficaria

hipnotizada pelo seu mais novo objeto de desejo.

- Tem razão - concordou ela, ainda olhando para frente. - Com esse

professor gato, tenho certeza que essa será minha matéria favorita, não

importa qual seja. Acho que já o vi em algum lugar, só não consigo me

lembrar aonde.

Acompanhei o olhar de Pamela até o tal professor, congelando ao ver de

quem se tratava.

O destino só pode estar de brincadeira comigo!

- Boa noite a todos! - cumprimentou a voz rouca, do jeito que eu me

lembrava. - Sou o professor de Introdução à Filosofia. O principal objetivo

da matéria, de um modo geral, será fornecer uma visão ampla da Filosofia

enquanto expressão cultural, percorrendo o arco de suas balizas históricas:

filosofia antiga, medieval, moderna e contemporânea...

Não consegui ouvir mais nenhuma palavra do que ele dizia. De todas as

pessoas no mundo, Gregory era a última que eu desejava encontrar naquele

momento. Estava perplexa pela coincidência de tê-lo como professor, mas

também pela maneira como meu corpo reagiu ao vê-lo novamente, tão lindo

em seu jeans e camisa social, seus sapatos pretos e cabelos desajeitados.

Nunca vi um homem tão sexy, usando uma gravata borboleta e

suspensórios! Como ele conseguia essa façanha?

Merda, eu estou com raiva dele, não posso sentir tesão por ele! Não

mais, não depois dele ter me feito de idiota.

- O que houve? - perguntou Pamela. - Tira o olho do professor,

porque eu vi primeiro - Brincou, sussurrando bem próxima de mim.

- Na verdade, quem viu primeiro fui eu.

- Como assim?

Nem precisei responder, pois o assunto de nossa conversa se apresentou

com nome e sobrenome:

- Sou Gregory Cadore, mas podem me chamar de Greg.

- Ah, merda. Fodeu geral! - Pamela me encarou estupefata.

Eu bem que tentei me esconder, foi então que ele me viu e reparei em

sua surpresa, franzindo a testa, demonstrando confusão. Não havia

comentado com ele sobre estar cursando faculdade, também não perguntei

em qual instituição ele lecionava. Pensei até que fosse professor do Ensino

Médio. Mundinho pequeno e insensível. Tanto lugar para ele dar aula, foi

parar justamente no meu curso de História.

Fiz um grande esforço para desviar o olhar, ainda tentando assimilar

minha surpresa. Gregory pigarreou e em seguida retornou sua explicação

sobre o conteúdo programático.

Já era doloroso a forma como me sentia magoada por ele ter me evitado

de um dia para o outro, depois do que houve entre nós. Unido ao fato de que

ele era meu professor, tudo ficou ainda pior. Pamela não soube o que dizer,

apenas observava a mim e ao Gregory, provavelmente tentando comparar

quem de nós dois parecia mais abalado. Quanto ao resto da turma, todos

continuavam alheios ao grande conflito que vivíamos internamente.

Será que foi por isso que ele não entrou em contato? Por, de alguma

forma, ter descoberto que seríamos professor e aluna? Não! Isso não faz

sentido, ficou bem clara sua surpresa em me ver na sala de aula.

O relógio me pregou uma peça, andando dois ponteiros para frente e um

para trás.

Que aula mais demorada!

Finalmente o sinal tocou e os alunos se alvoroçaram em direção à saída.

Aproveitei a oportunidade e me coloquei entre toda aquela gente, desesperada

para ir embora sem ter que passar por Gregory.

Eu bem que gostaria de dizer algumas verdades a ele, saber por que

desapareceu da rede social, porque não me ligou como prometeu. Mas de

repente, tudo o que mais desejava era adiar o momento de qualquer

esclarecimento entre nós. Eu precisava lidar com a ideia de vê-lo toda

semana, por meses, nas dependências da universidade.

Seria mais fácil se a noite de sábado não tivesse acontecido. Eu teria

reagido melhor se tivesse sido apenas a noite de sexta... A quem eu quero

enganar? De todas as formas não seria fácil! Eu não devia tê-lo conhecido

antes de hoje. Certamente conseguiria lidar com uma paixonite pelo

professor charmoso de gravata borboleta!

Não olhei para trás, optei por aguardar Pamela no estacionamento.

Praguejei mentalmente quando vi o carro de Gregory estacionado ao lado do

carro da minha melhor amiga.

- Lia, espera! - Era ele.

- O que você quer? - Respirei fundo antes de olhar para trás.

- Falar com você. - Chegou mais perto, mas não próximo o bastante

para que eu pudesse tocá-lo. Ele parecia frustrado.

O estacionamento ainda estava vazio, mas logo estaria cheio de alunos e

professores.

- Pensei que me ligaria ontem. Faltou assunto? - Não consegui evitar

um sorriso sarcástico. Eu estava muito puta da vida.

- Preciso me explicar...

- O que aconteceu com o seu perfil na internet?

- Eu desativei minha conta.

Não entendi o porquê de ele fazer aquilo, mas também não questionei.

- E desativou seu celular também?

Ele negou com um gesto de cabeça.

- Apenas decidi que seria adequado não ligar - disse em um tom

baixo, percebendo que havia pessoas se aproximando de onde estávamos. -

Venha comigo, vamos conversar.

Pestanejei, olhando em volta e me dando conta de que não poderíamos

conversar ali, não com plateia.

- Vou pedir para a Pamela me deixar lá no mirante. Ela já deve estar

chegando.

Ele anuiu em silêncio, desviando o seu olhar do meu. Observei-o entrar

no carro e dar a partida. Pamela chegou logo depois, alegando que tinha nos

dado espaço para conversar.

- Você está certa disso, Lia?

Pamela havia acabado de estacionar o carro próximo de onde Greg me

aguardava. Era segunda-feira e dificilmente haveria alguém ali, naquele

horário. Passava das onze da noite.

- Preciso resolver isso, logo! - Sorri para ela, tentando tranquilizá-la.

- Eu te espero aqui.

- Greg me levará para casa depois.

- Confia nele? - Ela franziu a testa, não conseguia esconder a

preocupação.

Hesitei antes de responder. Soltei uma lufada de ar e abri a porta do

carona.

- Pam, ele é nosso professor de filosofia. Se eu não aparecer em casa,

você sabe exatamente quem é o culpado.

- Não brinque com isso, Lia! É assunto sério, porra! Olhe em volta,

não tem ninguém aqui. É perigoso.

- Acredite, ele corre mais perigo do que eu, com a raiva que estou

sentindo. - Desci do carro e a encarei antes de fechar a porta.

- Ei, não quero visitá-la na prisão! - Sorriu, aparentando estar mais

calma. - Me avise quando chegar à sua casa, não importa o horário. Só vou

dormir se souber que está em segurança.

- Tudo bem. Eu aviso.

Aguardei que ela se fosse antes de ir até ele. Assim que me virei, vi que

Greg estava deitado no capô do carro. Era julho e o céu estava limpo como

no sábado, a temperatura agradável e uma leve brisa balançava os galhos das

árvores a nossa volta. Embora o local estivesse vazio, a iluminação não era

ruim, pois postes de luz estavam posicionados estrategicamente para não

permitir que o breu dominasse a vista do mirante.

Gregory sabia que eu já estava ali, mas não se virou para me observar se

aproximando. Eu que o alcancei, subi no capô do carro e me deitei ao seu

lado, mas ao invés de entrelaçarmos nossos dedos como da outra vez, ambos

apoiamos as mãos sobre nossa barriga, evidenciando o quanto estávamos

distantes um do outro, embora tão perto.

- "Só sei que nada sei". - Citou Sócrates, depois de um longo tempo

em silêncio.

- "O verdadeiro conhecimento vem de dentro." - respondi, usando

do mesmo filósofo.

- "Não é tanto o que fazemos, mas o motivo pelo qual fazemos que

determina a bondade ou a malícia."

- Santo Agostinho? É sério?

Ele não respondeu de imediato.

- Quando cheguei em casa no sábado, eu me sentia o homem mais

sortudo de todos - começou ainda fitando o céu. - Eu queria te ligar, mas

me contive. Não quis demonstrar a euforia de um adolescente. Pensei em

mandar mensagem, mas já era tarde e eu sabia que de todo o jeito

demonstraria o quanto ansiava por um próximo encontro. Então, para aplacar

minha agonia, acessei meu perfil na internet e banquei o stalker. - Fez uma

pausa. - Você só tem dezoito anos, Lia.

- Alivia sua consciência se eu disser que faço dezenove no próximo

mês? Não sou menor de idade, droga!

- Minhas sobrinhas estão perto de fazer dezessete.

- Foda-se. Eu não sou sua sobrinha e não tenho mais dezessete, Greg.

Pela primeira vez desde que cheguei, ele virou o rosto em minha

direção. Não retribuí. Tinha medo de sucumbir às lágrimas se o fizesse.

- Acabei de completar vinte e oito anos.

- Essa é sua desculpa por não ter ligado? - Virei meu olhar para ele,

sentindo a raiva tomar conta de mim. Fodam-se as lágrimas! Elas que

caíssem se quisessem. - A diferença de idade entre nós?

Quando o conheci, imaginei que seria mais velho, mas olhando para

Gregory, daria a ele uns vinte e cinco anos, no máximo. De toda a forma, eu

era maior de idade e relacionamentos que envolvessem grandes diferenças

entre o nascimento de um e outro, não era proibido, desde que fossem

considerados legalmente adultos. A maneira como Gregory falava era como

se estivesse deixando claro que não seria possível qualquer envolvimento

amoroso entre nós.

- Pensei que você tivesse uns vinte e três - murmurou com um sorriso

fraco. - Acabou de entrar na faculdade.

- Você não me ligou e desativou seu perfil na internet, por que me

considera nova demais pra você? - Não escondi a mágoa e a irritação em

minha voz.

Sentei-me no capô e cobri o rosto com as mãos, impedindo que as

lágrimas tomassem conta.

Não chore, sua idiota!

- Lia... - Senti sua presença ao meu lado e constatei que também

havia se sentado. - Eu apenas escolhi não ligar. Quis dar um tempo pra

pensar no que houve entre a gente, antes de entrar em contato, fosse para

marcar um novo encontro ou encerrar esse lance entre nós. Acredite em mim,

eu não ia simplesmente desaparecer da sua vida. Não sou esse tipo de cara.

- Mas foi o que você fez, Greg. - Continuei com o rosto coberto, até

me sentir preparada para encará-lo mais uma vez. - Desativar seu perfil, não

acha que foi exagero?

- Eu vi suas fotos. Em muitas delas você está com o Caio, seu exnamorado. Tive um pequeno vislumbre de como é sua vida. Estudo, passeios,

festas com pessoas da sua idade, namoro um garoto da sua idade. Sei que é

uma fase muito boa, afinal, já passei por ela. Desativei o perfil para não me

torturar mais, olhando o quanto estamos distantes.

- Não fale assim! - gritei, retirando as mãos do meu rosto e o

encarando. - Nunca fui tão eu na minha vida como naquele dia em que

estávamos aqui, trocando citações. Nunca me senti tão completa, como

quando você estava dentro de mim... - Tornei a fechar os olhos, sentindo as

lágrimas rolarem por minha face.

- Lia... - Senti sua aproximação e me levantei às pressas.

- Não me toque, eu só... não faça isso agora.

- Desculpe.

- Pelo quê? - Fiquei de frente para ele, desistindo de esconder o meu

choro.

- Por tudo. Realmente acreditei que você fosse mais velha. Foi

imprudente da minha parte não questionar isso antes. Eu me sentiria muito

mal se você fosse menor de idade. - Havia frustração em seu tom de voz.

Gregory se levantou e começou a andar de um lado para outro, agitado. -

Senti como se você fosse amiga das gêmeas e eu tivesse me aproveitado

disso.

- Não fode, Gregory! - Fui em sua direção e o empurrei. - Não fale

como se tivesse me forçado a algo que eu não quisesse. Pelo amor de Deus!

Você me tratou como mulher. Não sou criança, porra!

- É mais forte do que eu, Lia. Desculpe, mas foi como enxerguei as

coisas entre nós.

Inspirei fundo e expirei em seguida, de olhos fechados. Dei um passo

para trás e o encarei mais uma vez, assimilando suas palavras.

- Tudo bem - sussurrei, sentindo-me desgastada. - Embora eu não

consiga enxergar mal nisso, posso compreender sua reação. Você foi pego de

surpresa ao saber que sou mais nova do que pensava e precisava de um tempo

para decidir como encarar a situação. Desativou a porcaria do seu perfil na

internet e não me ligou. Mas, e agora?

- Como assim, e agora?

- Ainda me considera criança demais ou precisa de mais tempo pra

pensar?

Certo, talvez eu estivesse deixando meu amor próprio de lado só um

pouco.

- Você é minha aluna, Lia... - Passando as mãos pelo cabelo,

incomodado, ele me olhou suplicante.

Merda! Ainda tem isso!

- O inferno com isso, Greg! Ficamos juntos antes de sabermos disso.

- Lia... - O olhar triste dele estava acabando comigo.

- Diga que eu não fui nada pra você. Fala olhando nos meus olhos que

não gostou de mim, Greg. Quero ouvir da sua boca que a noite que tivemos

não foi incrível pra você da mesma forma que foi pra mim.

- Sinto muito, Lia. De verdade, sinto mesmo - Sua voz estava

embargada e eu encarei seus olhos marejados, me aproximando.

- Diga!

- Não posso dizer... - Ele negou com a cabeça, fechando os olhos.

Cheguei perto o bastante para segurar seu rosto entre minhas mãos.

Imediatamente todos os pelos do meu braço se eriçaram e senti seu corpo

tremer com o meu toque.

- Olhe nos meus olhos e diga que não foi especial - sussurrei com a

voz fraca. - Depois que me disser isso, pode me levar pra casa e eu vou

fingir que nunca houve nada entre a gente.

Gregory abriu os olhos e meu coração se apertou ao ver as lágrimas

escorrendo por sua face.

- Diga logo!

- N-não. Eu não posso. - Suas mãos se uniram as minhas e seus

lábios roçaram nos meus. - Foda-se, eu não posso!

Nossas bocas se chocaram com a intensidade de um raio caindo no mar.

Eu podia jurar que uma corrente elétrica percorreu nossos corpos e

queimaram todo o resquício de sanidade que havia em nossa mente. As

línguas travaram um duelo e as mãos se desligaram para percorrerem entre os

corpos, sentindo a luxúria nos dominar juntamente com a saudade e a raiva

do destino que havia nos pregado uma peça, colocando um obstáculo em

nosso caminho.

Gregory impulsionou meu corpo e eu envolvi minhas pernas em sua

cintura, sentindo as mãos pressionarem minha bunda com força, enquanto

nos levava até o capô do carro. Pressionando-me conta o metal, afrouxei

minhas pernas e soltei as mãos de seu pescoço para alcançar o cós do seu

jeans. Desafivelei o cinto enquanto ele abria o botão e abaixava o zíper da

minha calça, ambos desajeitados e com pressa, famintos para eliminar o que

nos impedia de unir nossos corpos. O ajudei a abaixar meu jeans e a calcinha,

escorregando-as até o joelho, e o auxiliei a fazer o mesmo com suas roupas.

Nus o suficiente para nos encaixarmos um no outro, não demorou para

eu senti-lo me preencher fundo, enterrando-se dentro de mim com força e

intensidade, gemendo o meu nome ao pé do meu ouvido enquanto suas mãos

afundavam na carne do meu quadril. A sensação de plenitude dominou meu

corpo e abri minhas pernas para abrigá-lo melhor. Ele não se moveu, ainda

estávamos tentando nos acostumar com a estrondosa onda de prazer que nos

inundou ao nos conectarmos.

- E se aparecer alguém? - perguntei com a voz trêmula, sentindo o

suor escorrendo em minha testa.

- Foda-se! - Estocou uma vez, lenta e profundamente.

- E se nos prenderem por atentado ao pudor? - Sorri, provocando-o.

- Foda-se! - Acelerou o ritmo, mas manteve a intensidade.

- E se... Ah! - Ele estocou ainda mais forte e mordeu meu pescoço,

impedindo-me de terminar a frase.

De toda a forma, eu nem me lembrava mais o que ia perguntar.

- Foda-se tudo, porra! Foda-se o mundo!

- Foi uma despedida, não foi?

Nós nos mantivemos abraçados, mesmo depois de subir os jeans.

- Não usamos camisinha...

Gregory não conseguia assumir em voz alta o que eu já sabia.

- Eu tomo pílulas - Justifiquei, depositando um beijo no topo da sua

cabeça. - E estou limpa.

- Também estou limpo. - Beijou meu pescoço, aonde havia mordido.

- Desculpe por isso.

- Tudo bem, é a ferida que menos dói.

Pude ouvir sua respiração pesada, até que ele finalmente se afastou. Seus

olhos estavam vermelhos e inchados e provavelmente os meus também.

- Vou te levar pra casa, já está tarde.

Sim, já estava tarde.

Tarde da noite.

Tarde demais para nós dois.

Tarde quando ainda era cedo.

Fim, quando ainda éramos um começo.

****

Não dissemos mais nada durante o trajeto até minha casa. Gregory não

desligou o carro, apenas parou para que eu descesse.

- Não converse comigo na aula, por favor - pedi, sem conseguir olhálo. - Vou precisar de um tempo para me acostumar com a ideia de tê-lo

apenas como meu professor.

- Tudo bem.

- Boa noite, Greg.

Ele não respondeu. Aguardou que eu saísse do carro e entrasse em casa,

para somente então ir embora. Escorei-me na porta de casa e fechei os olhos,

deixando que as lágrimas caíssem à vontade. Retirei o celular do bolso da

minha jaqueta, recordando-me do pedido de Pamela.

Lia>>> Cheguei em casa viva.

Não demorou muito tempo para eu obter uma resposta:

Pam>>> Você está bem?

Lia>>> Nenhum pouco.

Encontrei minha mãe sentada no sofá da sala, a televisão desligada e um

silêncio incômodo.

- O quê? - perguntei receosa.

Com uma expressão severa, minha mãe perguntou:

- Assisti o vídeo de segurança, da noite de sábado. Quem é o homem

que você trouxe para dentro de casa?

As câmeras de vigilância no pátio, como eu fui me esquecer desse

detalhe?

Sentei no sofá ao lado de minha mãe, sabia que não ia levar umas boas

palmadas no traseiro, afinal eu não era mais criança e nem quando criança

meus pais fizeram isso. Minha mãe era minha melhor amiga, além da Pamela,

claro. Sempre fui muito aberta com ela, muitas vezes ela quem conseguia

aliviar a minha barra com o papai, quando eu cometia algumas burradas.

- Por favor, me diz que apagou - murmurei chorosa.

- Claro que apaguei, se o seu pai visse aquilo, enfartaria.

- Foi um erro, me desculpe. Já aprendi a lição.

- Do que você está falando?

- Cadê o papai? - Tinha medo que ele ouvisse nossa conversa.

Mamãe deu de ombros.

- No décimo sono, querida. Só vai abrir os olhos quando o despertador

tocar.

Ela segurou minhas mãos entre as suas e eu sabia que podia confiar nela.

Abri meu coração e contei tudo, desde o primeiro encontro na pista de dança

até o último, do qual eu havia acabado de chegar.

- Vocês se protegeram?

Engoli em seco, não queria mentir, mas sabia que ela ia me dar um

sermão sobre os riscos de sexo sem camisinha. Apenas assenti com um gesto

de cabeça.

- Eu sinto muito que você esteja passando por isso, meu amor. -

Afagou meu rosto, sorrindo para mim com empatia. - Mas você tem que

entender o lado dele. Não é apenas a diferença de idade que se torna um

obstáculo, pois há inúmeros casais que são felizes independentemente disso.

Vocês são maiores de idade e o fato de Gregory ter consciência de que podia

ter cometido um deslize ao se envolver com uma adolescente, só mostra o

quanto ele é íntegro.

Abaixei o olhar e fitei nossas mãos unidas.

- Eu sei.

- Se tivesse acontecido há três anos, por exemplo, eu não estaria tão

calma ou compreensiva como agora. Sei que cada caso é um caso e que

homens mais velhos podem se interessar por garotas mais novas ou viceversa, de uma forma em que realmente exista o amor e não uma doença ou

perversão. Mas nem todas as pessoas, a grande maioria da sociedade, não está

preparada para essa realidade.

"Claro, um adulto se envolver com uma criança é errado, porque são

fases da vida diferentes entrando em colisão. Uma criança é um ser humano

em construção, o corpo não está pronto para viver a paixão que envolve um

relacionamento entre adultos, assim como a mente desconhece muito dos

assuntos do coração.

"Mas você é adulta, querida. Mesmo que ainda jovem. Pelo que me

contou, é perceptível o quanto esse encontro de vocês foi especial para

ambos. Talvez o Gregory tenha se chocado com a realidade, por ser um

homem mais vivido do que você e ter se atraído e gostado de alguém tão

nova e ainda inexperiente em muitos aspectos da vida. Contudo, ele poderia

dar uma chance ao relacionamento de vocês se soubesse lidar com todas as

descobertas pelas quais você ainda vai ter por estar iniciando a vida adulta."

- Acha que daríamos certo? - Havia esperanças em meus olhos

quando a encarei, buscando uma solução para os meus atuais conflitos

emocionais.

- Se ele não fosse o seu professor, sim.

Soltei a respiração, gradativamente.

- Não estamos mais no ensino médio, somo adultos droga! Por que tem

que ser tão complicado?

- Filha, existem limites que não podem ser ultrapassados.

Minha mãe era professora de História há mais de vinte anos. Lecionava

para turmas do ensino médio em duas escolas na cidade. Ela foi minha

inspiração e me fez amar a matéria desde muito cedo, despertando o meu

interesse em seguir carreira. Ao contrário dela, que tinha o sonho de se tornar

professora, o meu ia por outra direção.

Surpreendeu-me o fato de ela receber de forma tão pacífica a notícia de

que eu tinha me envolvido com um dos professores da faculdade. Talvez pelo

fato de termos nos conhecido e relacionado antes de sabermos que éramos

professor e aluna, e também pela decisão de Gregory em não levar nossa

história adiante. De toda forma, eu tinha sorte em poder contar com o apoio

dela, inclusive seus conselhos.

- Ter uma relação amigável com seus alunos é muito bom para os

professores, mas serem seus amigos não. Envolvimento amoroso, muito

menos. Existe uma linha tênue entre o que é ou não ético. Enquanto um for

aluno e o outro professor, esses limites não podem ser ultrapassados, Lia.

Assenti em silêncio, sentindo meu coração se despedaçar mais ainda.

- Misturar esse tipo de relacionamento pode influenciar no

comportamento e até mesmo destruir o processo de avaliação - continuou

ela. - Somos alertados sobre isso na faculdade, você ainda vai chegar nessa

etapa. É bem difícil ser imparcial quando se trata de alguém por quem

nutrimos afeto, não é mesmo?

- Uhum.

- Esse é um dos pontos principais, Lia. O ambiente pode ser

prejudicado, além disso, a maioria das instituições de ensino são contra esse

tipo de relação e um professor que se envolve com um aluno não é bem visto

pelo corpo docente.

- Acho que está sendo difícil aceitar pelo fato de não o ter conhecido

na faculdade.

- Imagino que sim. É por isso que estou do seu lado, querida. Mas

precisa entender a posição do Gregory. Gostaria de prejudicar a carreira dele

ou criar algum tipo de especulação que envolva seu crescimento como aluna

no curso de História?

- Claro que não!

- Então o melhor que vocês fizeram foi colocar um ponto final nessa

relação, agora, enquanto ainda estava no começo.

Cobri meu rosto com as duas mãos e inclinei-me em sua direção,

recebendo um abraço protetor.

- Eu sei, mas estou tão inconformada.

- Foi porque se apaixonou, filha.

- Mãe, não diga bobagens! - Afastei-me, voltando a encará-la.

Ela me deu sorriu complacente.

- Sei que sendo sua mãe eu deveria te repreender. Você se arriscou

muito trazendo um estranho para dentro de casa, indo pra cama com um

homem que mal conhecia. Mas eu jamais vou te julgar por isso, filha. Seu pai

e eu transamos no dia em que nos conhecemos, não foi tão romântico.

- Mãe! Não quero saber sobre isso, me poupe. - Fiz uma careta.

Ela abriu ainda mais o seu sorriso e revirou os olhos em seguida. Foi

engraçado.

- O que estou querendo dizer é que algo assim pode acontecer e não

significa que você é uma safada que transa com qualquer um. Você sabe que

teve sentimento, independente do desejo e da excitação, a gente percebe

quando é movida por sentimento. Mesmo que não fosse, cada um é livre para

decidir o que quer.

- Você é a melhor mãe do mundo, sabia?

Ela piscou e deu um beijinho rápido em seu ombro, fazendo-me rir.

- Não foi assim quando eu me apaixonei pelo Caio.

- O Caio foi sua paixão adolescente, o Gregory foi sua primeira

experiência adulta.

- Minha primeira decepção adulta também.

- Eu sinto muito, filha. Se dependesse de mim, jamais te veria sofrendo

por um coração partido, mas como mãe eu tenho que te dizer: "o feliz para

sempre" pode demorar um pouquinho a chegar, enquanto isso eu posso te

consolar, te abraçando e ouvindo, mas também dizendo que outros amores

virão, com mais intensidade, mais química, ou menos. Você vai ficar feliz

por um tempo e talvez mais adiante perceba que foi um erro, que já não te faz

tão bem como no início. A vida é cheia de amores e um deles será o certo,

aquele que vai se encaixar perfeitamente no seu coração.

- Obrigada, mãe.

Nós nos abraçamos e eu senti por um minuto que tudo ficaria bem.

Até me deitar na cama e as lágrimas me dizerem o contrário.

                         

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