Capítulo 9 Capitulo 09

Giovana acordou com o vibrar insistente do celular sobre a cabeceira da cama. Aquela já era a terceira vez que a ligação estava sendo ignorada. Quando, enfim, decidiu atender, se arrependeu imediatamente quando ouviu o que Xavier tinha para te dizer.

- Peça ao Antony ir para o inferno.

Era claro que os seus insultos não eram direcionados ao Xavier, mas quando ela encerrou a ligação brutalmente, acabou ofendendo-o também.

Quando indelicadeza da parte dela.

Levantou-se sentindo que o seu dia não seria dos melhores. Sentia-se extremante irritada com a insistência de Antony em vê-la. Quando estavam casados, Oliver raramente direcionava palavras a ela. Mantinha-se sempre distante e inalcançável. Agora que ela finalmente estava livre dele, ele a procurava incansavelmente.

Mas Giovana sabia que esse momento chegaria. O reencontro com Antony deveria acontecer. Ela só queria um pouco de tempo para se preparar.

Enchia uma xícara com café quando o celular vibrou novamente. Grunhiu desapontada. Pensou que seria o Xavier novamente com pedidos do Antony, e até pensou em rejeitar a ligação, mas quando repousou os olhos na tela que piscava, ficou surpresa.

Matteo chamando.

Giovana quase deu um salto da cadeira. Arregalou os olhos, surpresa e tendeu rapidamente a ligação.

- Eu falo com a Giovana?

Giovana prendeu a respiração, enquanto um sorriso incrédulo invadiu os seus lábios.

- Eu realmente achei que você não me ligaria – Foi sincera ao responder à pergunta.

- Eu devo ficar feliz em frustrar suas expectativas?

Podia-se ouvir o som do seu riso do outro lado da linha.

- Liguei para saber como você está.

O tom de voz de Matteo era suave, pelo menos para Giovana.

- Eu estou bem Matteo – respondeu ela – quase como um sussurro, graças a você.

- Você poderia me agradecer aceitando o meu convite para almoçar comigo hoje.

Por um momento Giovana achou que aquilo era um delírio. Uma mulher que não estava acostumada a ser bem tratada, estranharia qualquer cavalheirismo. Tudo o que Giovana conhecia sobre os homens, havia aprendido no comportamento soberbo de Antony. O único homem a qual ela se relacionou havia sido ele.

Não conhecia o romantismo, e nunca havia sentido na pele a sensação de ser desejada.

- Hoje? – Olhou no relógio, que estava pendurado na parede da cozinha, já são onze horas da manhã.

Matteo riu do outro lado da linha.

- Eu costumo almoçar tarde – respondeu ele com delicadeza, eu passo para buscá-la em uma hora e meia – claro se você quiser que eu vá te buscar.

- Eu aceito – falou por impulso – em uma hora e meia te esperarei. Passarei o meu endereço por mensagem.

Logo a ligação foi encerrada e Giovana ficou parada no mesmo lugar por vários minutos, segurando o celular, enquanto esperava as batidas do seu coração se normalizar. Quando se deu conta do que havia acontecido, sentiu-se ridícula por ceder ao pedido de Matteo tão facilmente. Deveria ter dificultado um pouco mais as coisas para ele. Afinal, o que ele pensaria dela? Por outro lado, Giovana sentia-se bem quando falava com ele, sentia-se notada e especial, de um modo que o Antony jamais a fizera se sentir.

Depois que informou o seu endereço a ele, atitude a qual não cogitou ser perigosa, foi para o seu quarto e quando abriu o closet percebeu que algo ótimo aquele casamento a havia deixado. Giovana tinha as melhores roupas e sapatos que uma mulher da idade dela desejava. Enquanto esteve ao lado de Antony comprou as melhores roupas, mesmo que lhe faltasse amor.

Vestiu-se imaginando o que Matteo queria realmente com ela. Em menos de uma hora já estava pronta com a ansiedade batendo a porta. Os minutos seguintes foram quase enlouquecedores para Giovana.

- Você está agindo feito uma adolescente tendo o seu primeiro encontro.

E aquele era realmente o seu primeiro encontro com alguém que ansiava por sua companhia.

Meia hora depois, Matteo bateu na porta. Novamente Giovana olhou para o seu reflexo no espelho ao lado da entrada da casa, antes de, enfim, abrir a porta e encontrar Matteo novamente.

Giovana vestia um vestido simples, mas elegante ao ponto de deixá-la ainda mais atraente. Foi o que Matteo sentiu ao olhá-la.

- Estou feliz em revê-la – ele a olhou tão intensamente que Giovana sentiu suas bochechas ficarem vermelhas.

- Eu também – disse ela – tentando disfarçar a vergonha, inutilmente.

De repente muitos pensamentos turvaram a mente de Giovana. Será que Matteo não está achando ela uma patética inconsequente, saindo para almoçar com um homem desconhecido? E se Matteo for um sequestrador? Um assassino? Ou algo pior? Inspirou com força tentando dispensar essas probabilidades, quando observou ele abrir a porta do carro para que ela entrasse. Matteo literalmente não era um assassino, mas certamente para Giovana parecia um homem espetacular.

Observou ele dá a volta no carro e entrar. A presença dele era fascinante, trazia paz e segurança para ela.

- Para onde iremos? – Indagou ela.

- Será uma surpresa, o coração dela congelou e Matteo logo percebeu a tensão no semblante de

Giovana, não se preocupa, eu não vou sequestrá-la.

Giovana prendeu a respiração e a tensão aumentou sobre os seus ombros.

- Espero que seja uma surpresa boa – disfarçou ela.

- Eu prometo que será – sorriu, o que deixou Giovana mais fascinada dele.

- Você mora sozinha naquela casa tão grande? – o comentário a pegou de surpresa. Matteo parecia ter pressa em desvendar os seus segredos.

- Completamente sozinha, usou um tom divertido, o que não é nenhum problema para mim.

- Tenho certeza de que não – não havia decepção na resposta dele, e Matteo levava a conversa no mesmo tom descontraído de Giovana – se eu pudesse também moraria sozinho.

- Você é casado? – a pergunta foi instintiva, de pura sobrevivência.

- Não – disse ele em um tom mais elevado – nunca me casei. Eu ainda moro com o meu pai.

- Desculpa – sentiu-se envergonhada – não sei porque perguntei isso.

- Você está certa em se proteger – disse ele – e admiro a sua dignidade.

- Eu saí de um relacionamento complicado recentemente, começou ela, tudo é muito novo para mim. Não quero me meter em problemas.

Matteo conduzia o carro sem dificuldade. Não havia congestionamentos na pista, o que permitia que ele a observasse melhor.

- Então você já foi casada? – Indagou ele.

- Sim – Giovana sentiu a saliva rasgar sua garganta – mas se você não se importa, eu não quero falar sobre isso.

- É claro que eu não me importo – voltou sua atenção para o trânsito.

Mas o silêncio se prolongou entre eles até o destino. Os pensamentos de Giovana iam e voltava nas possibilidades que aquele encontro poderia trazer para sua vida. Quais eram as intenções de Matteo? E quando ele soubesse que ela estava gravida do seu ex marido? E se ela se apaixonasse por ele e se decepcionasse?

Se Matteo tivesse intenções de levar Giovana para um lugar deserto, certamente ela nem perceberia. A mente de Giovana vagava por tantos lugares que ela se desconectou completamente da realidade. Dez minutos depois eles chegaram no local. Quando já estava pronta para abrir a porta do veículo, sentiu a mão de Matteo segurar a sua delicadamente, impedindo-a de concluir o ato.

- Espera só um momento – ele deu uma leve piscadela – quero tornar esse momento especial.

Giovana o observou dar a volta novamente no carro e abrir a porta para ela sair. Será que aquele homem realmente existia? Enquanto saia do carro mal percebeu o lugar que estava, sua atenção estava voltada para o calor das mãos de Matteo segurando as suas.

Enquanto Giovana, enfim, olhou para frente, toda a empolgação foi embora. Ela estava em frente ao restaurante favorito de Antony. O restaurante que muitas vezes foi obrigada, para fazer companhia ao marido. Odiou a sensação que sentia ao se deparar com as lembranças de um passado que ela não fazia mais questão de lembrar.

- Está tudo bem, Giovana? – Matteo a analisou minunciosamente.

Mas ela teve vontade sair correndo dali.

- Está tudo bem – era hora de encarar a realidade e enfrentar os fantasmas do passado.