Capítulo 4 Me Render

Iniciei uma ideia de projeto com algumas observações que obtive de outros eventos dos hotéis do Michael. Obviamente para este, fiz alterações, algo menos exuberante, mais família, que trouxesse o ar de casa, lar.

Quando dei por mim, Djo estava a minha porta com a Isa logo em seguida.

- Uau, nem percebi a hora que já era.

- Normal da Kiara falar uma coisa dessa, vive de trabalho a menina!

Abraço a Isa com força. Estava com muita saudade dela, da nossa conexão. Conversamos por um tempo por ali, antes de me levantar e sair.

No meu quarto do hotel, nos arrumamos e conversamos sobre tudo um pouco. Eu fico pronta primeiro e tenho que concordar com ela, eu fiquei simplesmente maravilhosa, com vestido preto curto justo de cetim, um ombro só. Maquiada e com um salto alto.

Enquanto esperava ela terminar de se arrumar também, fui lendo aos poucos o contrato de trabalho que Michael me passou. Eu realmente tive que pegar meu bloco de anotações e marca texto, para fazer algumas observações e grifar algumas coisas.

- Estou pronta, Ki!

Em uma parte do contrato há uma cláusula que fala sobre o cuidado com a exposição ao público, devido ao meu cargo ser considerado um cargo de confiança.

- Ótimo, podemos ir então.

- Antes de sair, por precaução resolvo salvar ambos os contatos do Michael e mandar uma mensagem a minha irmã.

WhatsApp

Para Mana: Mana, Isa chegou no hotel a um tempo, conversamos bastante e como já havia lhe dito, vamos estar saindo para uma baladinha local. Não se preocupe! Amo você, até mais!

Pegamos um uber e chegando no lugar, pela quantidade de pessoas no local deve ser um lugar bem famosinho e fico me perguntando como a Isa conseguiu não só um, mas dois ingressos.

Lá dentro acabamos em uma mesa mais separada, haviam algumas pessoas amigas da Isa. Aproveitei para curtir. Dançava, conversava com as pessoas na nossa mesa, para me enturmar e fazer novas amizades e não ingeri álcool. Estava somente bebendo sucos e água. Até que em um certo momento eu congelei. Avistei algumas pessoas entrarem e pedirem informações a funcionários que os mesmo apontaram para nossa mesa.

- Isa preciso ir ao banheiro, já volto.

Sem nem esperar por uma resposta saio da mesa e vou até a ala dos banheiros femininos.

Tento me acalmar, porém me sinto fraca, minhas mãos tremendo e tenho medo de acabar desmaiando. O que vou fazer? Como eles sabiam que eu estava aqui? Como eles vieram parar aqui em São Paulo?

Sem pensar duas vezes ligo para ele.

Ligação Michael Pessoal

Michael: Olá?

Kiara: Graças a Deus você atendeu, jurava que não iria me atender por não ter meu número. Ah, aqui é a Kiara.

Michael: Está tudo bem? Você está com o tom de voz meio exasperado e mais rápido do que o normal.

Kiara: Eu preciso da sua ajuda! Mas não posso lhe explicar agora o motivo. Estou em um pub e algumas pessoas chegaram e eu preciso sair daqui.

Michael: Você não está nem um dia em São Paulo e já está tendo que fugir de pessoas Kiara?

Kiara: Tudo bem, desculpe lhe incomodar, esqueça.

Michael: Me mande a sua localização, estou a caminho!

Ele desliga e eu encaminho minha localização, aviso que estou no banheiro feminino e ele me pede para ficar por aqui até ele chegar, ele me avisa que este pub é próximo do hospital, então ele chegará rápido.

Chamada Michael Pessoal

Michael: Estou aqui!

Saio do banheiro e o vejo, ainda vestido da mesma forma.

- Você está pálida Kiara, o que está acontecendo?

- Eu não estou me sentindo bem! Podes me tirar daqui?

- Vamos!

Ele abraça minha cintura para me ajudar como apoio enquanto vamos em direção a porta de saida.

- Kiara, eu poderia falar com você por um instante? (Lucas)

- Estamos de saída cara, acredito que podes arranjar outro momento para falar com ela! (Michael)

- Você me bloqueou Kiara e não retornou a nenhuma das minhas ligações, precisamos conversar. (Lucas)

Eu fiquei tão nervosa, com tanto medo de tudo o que passei, de tudo que ele me fez passar e de tudo aquilo poder acontecer de novo, que tudo ficou escuro.

Quando acordei estava no meu quarto do hotel. Noite ainda.

- Kiara!? Se sente melhor?

- Sr? Eu não tinha te visto. Sim, estou bem!

- Minha mãe está vindo para fazer um check up em você.

- Não tem necessidade, eu estou melhor!

- Ou você deixa ela vir ou levo você ao hospital!

- Não vou ao hospital e sua mãe não precisa vir Sr. Ela deve estar muito preocupada com a sua irmã e neta.

Ele me olha sem me responder e fica parado diante da janela, como se nada mudasse diante do que eu havia dito.

- Sr, eu realmente estou bem!

- Porque você me ligou Kiara?

- Que?

- Porque você me ligou?

Eu não sabia o que responder a ele, nem mesmo eu sei porque liguei para ele, estava tão desesperada e com medo que foi a única pessoa que confiei. Pera. Eu confiei nele? Eu estava com a minha amiga lá e mesmo assim confiei nele.

- Estou esperando por uma resposta!

Alguém bate à porta e sou salva. Amber entra.

- Srta Kiara, está tudo bem!?

- Sra Amber! Disse a seu filho que não havia necessidade de você vir. Eu me sinto bem melhor agora!

- Mika, nos deixe a sós, por favor!

Ele olha para mim, com aquele ar de isso não acabou, mas não questiona sua mãe, antes de sair lhe dá um beijo na bochecha e fecha a porta.

- Então Srta, posso conversar com você?

- Me chame de Kiara, por favor!

- Tudo bem!

Ela se senta ao meu lado na cama e percebo que está cansada e triste.

- Avisei ao Sr Michael, quê não tinha necessidade de lhe tirar do hospital em uma situação como essa!

- Eu estava mesmo precisando tomar um ar diferente, não se preocupe! Mas me conte o que houve?

- Não houve nada Sra, acredito que só fiquei muito nervosa com toda a situação.

- Kiara, vou lhe contar.

Ela respira fundo e vem para mais perto de mim.

- Michael nunca fez com ninguém, o que fez hoje por você. Nunca largou suas coisas ou nós, por preocupação e saiu para acudir qualquer outro funcionário. Ele nem ao menos deu o telefone particular a pessoas estranhas. O que me faz ver que ele se importa muito com a senhorita.

Eu não sei exatamente o porquê liguei para ele.

- Nunca quis atrapalhar e muito menos causar problemas a ele.

- E você não causou Kiara!

- Sinto muito por tudo que está acontecendo com a Sra e sua família! Como eles estão?

- Michael não lhe contou pelo visto! Meu genro não chegou nem mesmo a entrar na sala cirúrgica, teve uma parada cardíaca e minha filha não aguentou a cirurgia. Minha neta ganhará alta amanhã, mas está extremamente triste e desolada.

- Eu sinto muito Sra Amber.

Ela não chora, fica extremamente triste, porém nenhuma lágrima escorre de seu rosto. Ela é mais forte do que todos pensam

- Obrigada Kiara! Teremos que ser fortes a partir de agora, fortes pela Luna!

- Pelo pouco tempo que a vi, ela se mostrou ser uma menina bem forte e corajosa, sei que com todo amor que sua família tem por ela, irão passar por toda esta situação!

- Vamos superar e seremos fortes, mas vamos lá Kiara, vamos falar de você agora. Você disse que ficou nervosa e isso a fez desmaiar? Percebi no hospital que você ficou mal também.

- Não gosto de hospitais Sra.

- Podes me chamar somente de Amber, ta bem!?

- Ta bem!

- Sou genicologista e obstetra, mas posso dizer que o que você está tendo referese a pânico. Você precisa conversar com alguém, se desabafar. Sei que acabou de se mudar e se sente sozinha, mas para o que precisar estarei aqui. Vou lhe ajudar com tudo que estiver ao meu alcance.

Ela me abraça e sem conseguir controlar, lágrimas escorrem pelo meu rosto involuntariamente.

- Não sei o que você está passando Kiara, mas saiba que não precisa passar por este processo sozinha. Michael mostou que se preocupa com você, estaremos com você.

- Obrigada Sr.... Obrigada Amber!

- Sua família? Queres ligar para eles?

- Não!

Falei tão rapidamente que não que isto a assustou.

- Certo, vendo a hora que é, vou lhe deixar descansar, mas amanhã cedo iremo nos encontrar e conversar. Não precisas falar sobre sua vida e seus problemas se não se sentir pronta ou confortável. Vamos falar sobre qualquer outra coisa, mas vamos tirar a manhã para nos distrair, ta bem!?

- Acredito que você deve estar muito ocupada com tantas coisas acontecendo, não tem necessidade de fazer isto!

- Kiara me deixe lhe ajudar. Fazer por você o que não posso mais fazer pela minha filha!

Neste momento caem algumas lágrimas de seus olhos. Ficamos assim, abraçadas por um tempo em silêncio, até ela tomar a iniciativa de se levantar e ir em direção a porta.

- Sra Amber, muito obrigada!

- Nos vemos amanhã Kiara.

Ela pisca para mim e ao sair fecha a porta a suas costas e me vejo sozinha novamente, com os pensamentos de tudo o que passei no passado e hoje vindo a tona em minha mente.

Alguém bate a porta e entra.

- Sua irmã lhe ligou muitas vezes, no início só silenciava as ligações, pois estava inconsciente, mas com tanta insistência lhe atendi.

- Obrigada Sr Michael! Amanhã cedo ligo para ela.

- Só Michael, por favor!

Confirmo com a cabeça e me mantenho quieta.

- Tive que explicar por que eu atendi o seu celular. Ela ficou um pouco preocupada. Acredito que seria interessante ao menos mandar uma mensagem para ela.

- Ah, certo! Vou mandar uma mensagem a ela.

- Ta bem. Está tudo bem com você mesmo!?

- Está sim!

Ele vai em direção a porta!

- Michael!?

- Sim?

- Muito obrigada por me tirar de lá.

Ele me olha com carinho e assente com a cabeça e sai.

Mando uma mensagem a minha irmã, dizendo que estou bem e não tem com que se preocupar. Vou ao banheiro, tomo um banho rapidamente, me visto e vou dormir.

Quando acordo de manhã, sinto como se um caminhão tivesse me atropelado. Um misto de emoções na qual repito diversas vezes enquanto me arrumo que é um dia de cada vez.

WhatsApp

Mana: Kiara, quero entender tudo o que aconteceu! Ficamos extremamente preocupados com você. Sem contar no fato que seu chefe me atendeu. Tire um tempo e me liga! ? (RESPOSTA: Eu lhe prometo que durante o dia nos falamos, preciso de um tempo para pensar agora maninha. Te amo ❤️)

Vou à minha sala para tentar ocupar a minha mente com o trabalho, sabendo que é muito mais útil. Estou indo uma hora mais cedo do que o previsto no meu contrato, mas assim pelo menos consigo terminar de ler ele e fazer as anotações e começar meu projeto com tranquilidade.

Termino o contrato mais rápido do que imaginei. Quando pensei em começar a organizar o projeto de inauguração, batem a porta.

- Sim!?

- Agora consigo entender porque meu filho lhe contratou sem hesitar. (Risos)

- Como?

- Vocês dois são muito parecidos. Ambos trabalham muito.

- Consigo me concentrar melhor no início de um projeto sem tanto movimento.

- Certo, mas hoje vou raptar você! Já conversei com Michael, está liberada. Vamos lá.

Sorrio a ela, lembrando que a noite ela havia me dito que sairíamos durante a manhã e eu naquele momento havia concordado.

- Tomou café da manhã!?

- Na verdade não.

- Então vamos a minha casa, tem um café maravilhoso!

- Tá bem, não irei recusar vendo que o almoço de ontem foi meu último alimento decente.

- Você não jantou!?

- Com tudo o que aconteceu? Não!

Saímos e ela vai me contando sobre sua casa. Como era um sonho para ela quando menor. Que ela havia sido adotada na adolescência e por muito tempo sonhou em como era ter uma família e quando conquistou isso; depois ingressou na faculdade de medicina e o quanto sonhava em ter uma casa grande, com vários quartos, um grande jardim e um lago por perto. A família que a adotou não era bem financeiramente, mas sempre a amou muito. Na faculdade, fez um empréstimo acadêmico após passar na prova e com o tempo quitou antes do esperado. Conheceu o seu marido e conquistou junto dele uma vida financeira muito boa para começar a atingir os objetivos que tinha. Viagens, casa e lógico, a estabilidade para os filhos.

Ela foi me contando da sua vida, alguns detalhes e momentos e por um tempo invejei tudo aquilo, pois estava longe de ser uma realidade para mim. Minha família é longe da tradicional que todos estão acostumados e longe de tanto amor e carinho que ela vinha contando.

Quando menos percebi, já havíamos chegado a sua casa. Ela era realmente muito linda. Em um condomínio fechado que só aos olhos era visível ser de alto padrão. Com um grande gramado como ela relatou que sonhava e com uma fachada bem imponente.

- Vamos comer! Não fique com vergonha tá bem!? Ah e a Luna logo chegará com o Francisco!

- Ela ganhou alta! Será muito bom ter vocês por perto!

- Acredito que se o Mika fosse mais presente, ela ficaria ainda melhor.

- Ele não é?

- Ele sempre pois o trabalho a frente de tudo e todos. Mas, vamos aproveitar nosso café da manhã primeiro!

Ao entrar na casa, deu para perceber que era realmente grande como aparentava pelo lado de fora. Muito bem organizada e linda. A mesa estava posta com várias comidas deliciosas à mesa.

Comemos e conversamos sobre o que gostamos ou não de comer, alergias e vontades de experimentar.

- Então você nunca saiu do país!?

- Não! A minha viagem de Santa Catarina para São Paulo foi a primeira experiência de avião.

- E o que me diz? Medo?

- Na verdade não...

Contei sobre o moço, Murilo, ter conversado comigo durante o voo e como me encantei com a experiência e com a vista. Me fazendo acreditar que o que sonho é possível e me dando um clima de liberdade.

- Você sonha em viajar e conhecer alguns lugares então?

- Sim!!! Tenho alguns países e culturas em mente.

- Me conte, qual o primeiro destino que vem a sua mente!?

- Bariloche, Argentina. Quando visito minha irmã na vinícola, muitas pessoas falam deste lugar e já chegaram a me mostrar fotos de lá. Quero conseguir me organizar e ir para lá primeiro.

- Um lugar realmente encantador.

- Você já foi?

- Já fui algumas vezes. Algumas a trabalho, algumas com meu marido e outras com toda a família. É um lugar muito lindo e com pessoas de vários lugares do mundo. Você irá gostar bastante.

- Vovó!

A pequena Luna entra correndo, pelos seus olhos vermelhos é perceptível que estava chorando.

- Minha bonequinha! Venha, fiquei sabendo que você ainda não tomou seu café da manhã. Tem seu bolo favorito.

- Ki você também está aqui!

- Estou sim Luna!

Ela sai do abraço de Amber e corre ao meu.

- Vovó hoje vou me sentar ao lado da Ki, está bem?

- Sim senhorita!

Todas nós sorrimos.

- Bom dia Srta Kiara, sou Carlos, marido da Amber, pai do Michael.

- Prazer, Sr. sou a Kiara.

Ele confirma com a cabeça e senta a mesa ao lado de sua esposa, mas não sem antes lhe dar um beijo na testa.

- Fiquei sabendo que está tendo alguns ataques de pânico. Caso seja necessário posso lhe fazer uma avaliação cardíaca.

- Não Sr. já estou me sentindo bem melhor. Passei por um momento extremamente difícil ontem a noite, mas já passou.

- Da mesma forma, precisando de alguma ajuda estarei a disposição, assim como minha esposa.

Nós continuamos a comer e conversar com a Luna, sobre o seu bolo favorito, que coincidentemente é o mesmo que o meu: bolo de cenoura com cobertura de chocolate.

- Tenho alguns assuntos para resolver, já vou indo. Você sempre é bem vinda por aqui Srta Kiara.

Muito obrigada Sr.

Continuamos a tagarelar com a Luna, até uma das empregadas da Amber vir e avisar que está na hora de alguns remédios da Luna, que a leva ao quarto. Quando ela já havia se retirado, Amber me explica que um deles é um tipo de calmante infantil, que Luna tomará por um tempo para conseguir dormir.

- Venha vou lhe mostrar meu jardim.

Vamos para uma área do jardim que possui uma lareira externa. Muito linda, aliás.

- Este lugar é meu lugar favorito da casa. Contém boas memórias de toda a minha família.

- É um lugar muito lindo também!

- Mas se puderes, me conte, porque todo o pânico do hospital?

- Quando mais nova, minha irmã havia sido ferida na rua, fomos a um hospital, eu era muito pequena para entender toda a situação. Quando estávamos na sala de espera, entraram dois homens e me levaram.

- Você foi sequestrada!?

- Sim. No início não estava entendendo muito bem o que estava acontecendo e eles ficaram falando sobre meu pai querer me ver e que me levariam até ele, mas o meu pai estava no hospital conosco, junto a minha mãe o que começou a me deixar muito medo e foi aí que os episódios de desmaio começaram.

- Eles te levaram para onde?

- Não conseguiram me tirar do hospital na verdade, uma enfermeira que passava me viu desmaiar e acabou me levando para atendimento. Logo após isso um homem estranho estava comigo se passando por meu pai. Desesperada com toda a situação comecei a pedir pela minha família e a enfermeira rapidamente acionou os seguranças e chamou minha mãe.

- O caso ficou por isto!?

- Como falei, quando isto aconteceu eu era muito pequena e não entendia muito bem o que estava acontecendo. Então eu simplesmente deixei por isso, conforme fui crescendo meus pais começaram a tomar muitos cuidados de onde eu ia e acabei ouvindo muitas conversas. Um dia descobri que na verdade quem eu chamava de pai não era meu pai biológico e sim aquele homem que estava no hospital naquele dia. Não contei a ninguém que eu havia descoberto, teve um dia que sai e fui a uma festa de uma amiga em uma cidade vizinha e naquele dia meu pai biológico apareceu.

- Uau! Não sei nem mesmo o que lhe falar Kiara, é uma forma muito difícil de descobrir a verdade.

- Sim! Ele na verdade não é uma pessoa muito boa, faz parte do crime organizado, eu não sabia disso no início, ele me pediu para deixar nosso encontro sempre em segredo e assim ele vinha me visitar com frequência. E na minha casa tínhamos vários problemas familiares e num deles acabei deixando escapar que sabia de toda a verdade e depois disso muitas coisas acabaram por dar errado. Minha irmã acabou conhecendo seu noivo no meio de tanta dificuldade e com ele achou seu porto seguro e aos 18 anos saiu de casa, indo criar sua própria história, como ela diz: seu final feliz. E eu acabei ficando.

- Existem vários trechos na sua história que não sei, mas consigo entender um pouquinho melhor o porquê do pânico.

- Minha família é bem longe da tradicional, depois que revelei que conhecia meu pai e mantinha contato com ele, muitas coisas aconteceram dentro de casa e fora também. Como ele é metido com o crime, fiquei suscetível a me tornar um alvo fácil o que trouxe algumas alterações na minha vida. No início eu não sabia e também não percebia, só consegui perceber quando era tarde demais.

Nesse momento, várias lembranças horríveis vieram à minha mente e eu comecei a chorar, o que fez a Amber se aproximar e me abraçar de uma forma aconchegante.

- Se acalme, já passou! Não há necessidade de me contar o resto, pelo menos não hoje, vou lhe ajudar, mas irei respeitar seu tempo e sua dor.

Concordei com a cabeça e percebi que seus olhos estavam fixos em alguma coisa ao meu lado. Quando me virei ele estava lá, encostado na porta.

- Meu filho, o que te traz aqui a essas horas!? (Amber)

- Fui ao quarto da Srta Kiara ver como estava, porém Djo me avisou que ela havia saído com você mais cedo. E também sei que Luna já está em casa. (Michael)

- Sim, seu pai a trouxe para casa agora de manhã. Ela tomou seus remédios e está dormindo agora. (Amber)

- Vou aguardar ela acordar. Será que posso conversar com a Srta Kiara sozinho mãe? (Michael)

- Meu filho, não é o momento agora, vamos respeitar sua dor. (Amber)

Ótimo, pelo visto ele tinha escutado então o que eu havia dito a ela.

- Mãe nos dê licença! (Michael)

- Tudo bem Sra. (Kiara)

- Estarei na sala, assim que terminar venha até mim, está bem!? (Amber)

Confirmo com a cabeça e ela se levanta e vai até o filho que continua parado à porta.

- Lembre-se Michael, vamos respeitar seu tempo e sua dor. (Amber)

- Sim mamãe, não se preocupe. Eu que pedi que a ajudasse, eu nunca a machucaria. (Michael)

Amber entra e some de vista e ele vem em minha direção. Mas o que foi isso!? Ele que pediu que me ajudasse? O que isso queria dizer? Nunca me machucaria? Eu acho que vou ficar maluca!

- Kiara, gostaria de lhe fazer uma pergunta e que você fosse sincera comigo. Está bem?

- Vamos lá, mas do que um: não vou responder você não vai receber!

- Quem era aquele homem? Ele estava extremamente obcecado por você, ele...

- Meu Ex.

Falei rapidamente para não ter que fazer nenhum rodeio, mas me impressionei por ter dito a verdade. Michael é uma pessoa que me passa confiança, não sei explicar, depois de tudo o que passei conseguir confiar em alguém e ainda mais em alguém que não conheço é extremamente estranho para mim.

- Ohh, eu imaginava isso, mas na verdade esperava estar enganado.

- E por que exatamente?

- Porque antes de conseguir lhe tirar de lá, digamos que tive que usar a força.

- Como assim Michael?

A força!? O que ele estava dizendo? Ai meu Deus, o que foi que eu fiz!? Ele não sabe no que está se metendo e a culpa é totalmente minha.

- Ele queria te levar e eu obviamente estava lá para lhe proteger de alguma coisa, não sabia exatamente o que era. Afinal você mesma disse que precisava sair de lá, porém não poderia me explicar naquele momento. Mas aquele homem estava sendo extremamente obsessivo e tive que lhe dar um soco para me deixar sair de lá com você.

- Me desculpe Michael! Por favor, me perdoe! Nunca quis lhe trazer problemas!

- Kiara, não foi a primeira vez que bati em alguém, se acalme. Não me trouxe problemas!

- Você não faz noção de quem ele é e em que você se envolveu.

Eu começo a chorar, desta vez um choro forte, aquele que vinha repreendendo a tanto tempo. O choro por o que aconteceu com o Michael, pelo medo do que virá a acontecer e por tudo o que já passei e engoli o choro.

E agora Kiara, o que você irá fazer? Você o meteu nessa grande encrenca. Como você irá tirá-lo? Se há formas de tirar. Vai ter que se render e pedir ajuda a seu pai? Ou se renderá ao seu passado?

            
            

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