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Ele se aproxima e me abraça, me mantém perto até perceber que minhas lágrimas diminuíram e que estou mais calma. Ele se afasta o suficiente para pegar meu rosto com as duas mãos e limpar as lágrimas que escorreram.
- Não tem com que se preocupar, você estará segura. Nada irá acontecer com você.
- Não é comigo que me preocupo.
- Kiara, não se preocupe comigo. Nada irá acontecer!
- Ele não é uma pessoa boa Michael.
- E me pergunto quando foi que você percebeu isso, antes ou depois de se envolver.
Ele fala isso tão baixo, que sai como um sussurro.
- Depois.
Minha resposta foi tão baixa quanto a dele.
- Me conte, porque você teme tanto ele?
- Ele faz parte de um grupo de crime organizado. Ele não tem pena de ninguém. Quem tiver que pagar, vai pagar, indiferente quem seja.
- Você o conheceu...
- É uma longa e dolorosa história que não estou pronta para compartilhar ainda.
- Certo! E agora que ele saiu da sua vida, você deve desejar todo o mal de volta a ele, né? Ainda mais depois de tantos traumas que pelo visto ele deixou.
- Pior que não! Muito pelo contrário na verdade.
- Como assim não? É impossível você ainda desejar coisas boas a ele.
- Eu realmente desejo que ele conquiste tudo que sempre quis e sonhou, mas com isso, não quero nunca mais ouvir nada sobre ele, ou ter qualquer tipo de contato.
- Eu não sei se consigo ser tão bom quanto você é. Levar uma vida tão positiva. Eu não conseguiria ter consideração pela pessoa que me fez tão mal.
- Mas não é uma questão de consideração Michael, eu acho que quanto mais mal desejamos a uma pessoa mas isso pode afetar a nós mesmos. E não sou uma pessoa tão positiva quanto você acha.
- Isso deve ser difícil.
- É um processo lento, mas eu foco em mim mesma e tento aprender com aquilo que me fez mal algum dia, isso me ajuda a ser mais forte e uma pessoa melhor.
- Você é uma mulher incrível Kiara, realmente impressionante.
- Michael? Por que você pediu para sua mãe me ajudar?
- Você é diferente de todas as mulheres que já conheci. Algo me prende em você de uma certa forma.
Fico constrangida com sua forma de falar sobre mim. Acho que nunca fui tratada tão bem em muito tempo. Nunca me senti valorizada de tal forma.
- Por que você me ligou Kiara?
- Não sei te responder esta pergunta. Só sei que me senti extremamente desesperada e não sabia exatamente em quem confiar e a primeira pessoa que me veio à mente foi você. Sem contar que não entendi como ele sabia o lugar que eu estava. Fiquei muito confusa. Ainda estou!
- Tudo bem, mas não se preocupe, tudo isso irá passar.
Ficamos um tempo um ao lado do outro em silêncio, olhando o jardim. Depois fui à sala, conversei mais um pouco com a Sra Aber e fui embora.
Na minha sala no hotel, comecei a me preocupar com a inauguração, foquei tanto nisso que todo o resto sumiram da minha mente e eu felizmente consegui trabalhar.
- Srta Kiara, tem uma moça querendo vê-la, está insistindo bastante, mesmo com as ordens do Sr Michael, resolvi avisá-la. Ela parece estar com urgência.
- Sr Michael deu que tipo de ordens, Djo?
- Ele restringiu o acesso a você. Não nos deu explicações Srta, mas avisou que era uma questão de segurança.
- Consegues descrever a moça?
- Na verdade Srta, é a mesma que estava aqui ontem.
- Muito obrigada Djo. Eu já estou indo vê-la. E por favor me chame de Kiara, está bem?
Ele concorda com a cabeça e fecha a porta ao sair.
Isa era a única que sabia onde eu estaria a noite. Será que ela faria isso comigo? Será que eu sou tão azarada assim? Das duas amigas que confiava, ambas me traíram? Não pode ser verdade. Isa não faria isso comigo.
Vou até o hall do hotel e a vejo sentada em uma das diversas poltronas existentes ali.
- Miga, eu fiquei extremamente preocupada com você. Você sumiu ontem a noite.
- O que foi Isabela? Estou em horário de serviço.
- Está tudo bem? Você está grosseira comigo.
- Estou bem, seria só isso?
- Podemos conversar em outro lugar? Por favor Kiara! Tem um café aqui na frente, vamos lá.
- Tudo bem, Isa. Tudo bem.
Volto a minha sala para buscar minha bolsa e o celular e vou até o café junto com a Isa.
Chegando lá novamente congelo. Eu não acredito que ela foi capaz de fazer algo assim comigo.
- Ki ele só precisa conversar com você, eu estou aqui, pode confiar!
- Confiar? Confiar em quem Isabela? Em você que traiu nossa amizade? Que não se preocupou com meus sentimentos e como eu iria reagir?
- Você sabe como ele está se sentindo Kiara?
- É sério isso? Você sabe quem ele é Isabela? O que ele faz da vida?
- Você está mesmo julgando ele? E quem é seu pai Kiara?
- Você só pode estar brincando comigo. Você não está falando sério, né?
Eu estou tão nervosa, magoada e ofendida que não tive tempo de me preocupar em ficar mal ou ter qualquer episódio de desmaio.
- Prima! Já chega! Muito obrigada por ter convencido-a, agora irei falar com ela a sós! (Lucas)
- Prima? Você vem me questionar que julgo as pessoas e você fica se pagando de minha amiga este tempo todo e mentindo para mim!? Me poupe. (Kiara)
- Eu sinto muito Ki! Eu realmente.... (Isa)
- Aii quer saber, já chega! Desejo aos dois muitas felicidades e que realizem todos os sonhos e objetivos, mas quero que me deixem em paz. Sumam da minha vida! (Kiara)
- Kiara, senta. Nós vamos conversar! (Lucas)
Não vou mentir que ele aumentando o tom de voz e se impondo desta forma, me lembra com o que ele trabalha, o que por um instante me deixa com medo.
- Eu não tenho absolutamente nada para conversar com você Lucas. Eu fui extremamente clara naquele dia! (Kiara)
- Eu estou pedindo tranquilamente, não me faça optar por outro caminho! (Lucas)
- O que é isso? Está me ameaçando!? (Kiara)
- Talvez. Vai fazer o que? Chamar seu papaizinho? (Lucas)
- Não será necessário ela chamar. Já estou aqui! (Ruan)
De uma forma me sinto aliviada, afinal, sei que agora nada de ruim vai me acontecer, pelo menos não com ele aqui. Mas foram tantos incidentes em tão pouco tempo que começo a me sentir extremamente mal. Vou me afastando aos poucos, enquanto a tensão existe entre eles e uma discussão inicia. Quando dou por mim, já estou do lado de fora com várias lágrimas escorrendo do meu rosto.
Srta? Tudo bem?
- Djo! Não esperava ver você...
- Sr. Michael está vindo, porém pediu para que eu verificasse se estava tudo bem com você.
- Está sim. Me chame só de Ki ou Kiara, por favor! Vou voltar à minha sala.
- Vou lhe acompanhar Srta..... Ki!
Cruzamos a rua e retornamos ao hotel em silêncio. Não permite que nenhuma outra lágrima escorresse do meu olho enquanto Djo estivesse vendo.
- Djo?
- Sim?
- Obrigada, por ter ido até lá!
- Sempre que precisar só me chamar Ki.
Nos afastamos, entro na minha sala e ali me encolho e permito que algumas lágrimas escorrerem de meus olhos.
Me pergunto o que fiz para merecer isso? Ter que carregar o passado da minha mãe e do meu pai? Um filho merece isso?
- Desculpe lhe incomodar Ki. Porém um Sr chamado Ruan está exigindo falar com você..... Kiara, o Sr Michael ainda não chegou, acredito que por segurança não deveria se encontrar com mais ninguém, vendo seu estado.
- Pode deixá-lo entrar Djo. Ele não irá me fazer mal algum.
- Querida, acredito que você não saiba quem ele seja!
- Na verdade, sei mais do que eu desejaria. Ele é meu pai!
- Ele é seu pai?
- Sim!
- Ki, Sr Michael....
- Não há necessidade de você descomprimir qualquer ordem dele. Vou até o hall, não se preocupe. Obrigada!
- Mas, Srta...
Não fico para continuar ouvindo as ordens que Michael lhe deu. Limpo meu rosto com um lenço, me levanto e vou em direção ao hall.
- Sr Ruan? O que posso lhe ajudar?
- Podemos caminhar Srta Kiara? Tenho um assunto de extrema importância para tratar com você.
- Claro, vamos lá.
Saímos do hotel e caminhamos até um carro de luxo preto. Ele faz sinal para entrar e automaticamente vai até o lado do motorista.
- Vamos para minha casa. Conversamos e depois o que você decidir irei respeitá-la.
- Você tem uma casa aqui?
- Tenho em muitos lugares querida. no mundo em que vivo, nas constantes viagens, precisamos ter um lugar monitorado e seguro.
- Ótimo!
Durante todo o caminho ficamos quietos.
A casa é exatamente a que imaginei. Uma casa luxuosa, sem chamar tanta atenção. Mas linda.
- Casa bonita! Imagino que todas elas que você mencionou, seguem este padrão!
- Na verdade não! De todas, esta é a maior e mais extravagante que possuo. Vamos entrar.
A casa é extremamente perfeita. O que faz passar várias coisas em minha mente. Sentados no sofá começamos:
- Então papai, o que você gostaria de conversar comigo?
- Cansei de esconder você. Não suporto mais ouvir sua irmã me contar determinadas coisas que se você soubesse de toda a verdade não te fariam sofrer.
- Quer dizer que você tem contato com a Liz?
- Juro que irei lhe explicar tudo, minha filha, mas por favor, me deixe contar tudo.
- Está bem!
- Conheci sua mãe, em uma das suas saídas com as amigas, ela ainda era uma jovem e eu por ser filho de quem sou já estava inserido nesta vida, tendo minha posição de filho da mafia...
- Papai eu não quero saber como vocês se cohe....
- Kiara, deixe eu falar!
- Está bem!
- Continuando. Nunca quis trazer problemas para nenhuma pessoa fora do nosso mundo...
- Para pessoas comuns!
- Isso! Seu avô sempre falou que para não atrair atenção ou dor, sempre escolhemos mulheres da nossa área. Que já participem da máfia. E nunca rivais. Mas sua mãe, era diferente de qualquer outra, era especial. Me envolvi, mesmo seu avô sendo contra e com diversas suspeitas. Após um tempo, tive que sair do país, fui designado para um serviço na Venezuela. Quando retornei sua mãe havia se relacionado com outro homem e estava grávida da sua irmã e com a gravidez ela resolveu largar seus estudos e voltar para a casa dos pais, sendo assim deixou Florianópolis...
Alguns barulhos do lado de fora chamaram nossa atenção. O que fez ele levantar e ir até a entrada ver o que estava acontecendo. Não demorou muito ele voltou.
- Ótimo! Continuando. Com toda essa mudança, resolvi deixar para trás a sua mãe e seguir sua vida longe dessa minha vida. Algum tempo depois descobri que o pai da sua irmã havia sofrido um acidente e falecido. Fui até lá para ver como sua mãe estava e nos relacionamos durante um ou dois meses, até meu pai descobrir.
Ele para de falar, sai da sala e volta com biscoitos e duas xícaras de café.