Capítulo 2 NÃO QUERO SAIR DAQUI

-É um prazer revê-la senhorita Ayla. A última vez que a vi, você não era mais que uma criança.

-Perdão, meu senhor. Não me recordo de ter me encontrado com o senhor alguma vez. Só consigo me recordar das coisas que as pessoas costumam falar do senhor por aí...

-Então falam de mim por aí? Coisas boas, espero.

-Quem sou para julgar os comentários de pessoas que mal conheço, pelas ruas de Chew?

O senhor Antônio, pai de Ayla, se pôs nervoso com a forma que os dois estavam tensos em meio aquela conversa e achou melhor se intrometer.

-Que tal irmos tomar um chá na sala de estar para que possamos conversar de forma mais tranquila?

-Claro, claro. Por ali? - disse Lauus, pai de Henrique.

Sentaram-se todos de forma confortável. É o que todos queriam passar. Mas na verdade estavam tão tensos que parecia estarem sentados em montes de espinhos.

-Então, senhor Antônio, vamos direto aos negócios. Quando você contraiu tal dívida conosco disse que nos pagaria quando sua filha já estivesse na idade. A idades de moças se casarem são aos dezesseis anos. Sua filha já está com vinte e três anos. Contando que meu filho é sete anos mais velho que sua filha. Meu filho, e nós como seus pais, já esperamos demais.

-Peço perdão senhor Lauus. Sei que os senhores esperaram muito, mas minha filha ainda não estava bem com sua saúde para poder se casar e manter um casamento saudável. Mas, enfim, podemos oficializar este noivado.

-Queremos que sua filha se mude para nossa casa e que passe o período de noivado conosco, aprendendo a cuidar de meu filho.

-Não podemos deixar tal coisa acontecer! O que será da honra de minha filha? O que irão falar dela pelas ruas?

-Está questionando a integridade da família Carmiléu? Que ultrage!

-Não, senhor! É que as moças que não seguem o protocolo ficam mal faladas na cidade. E minha Ayla sempre foi um exemplo de dama nessa sociedade.

-A minha família tem mantido sua boa reputação á gerações! Não há um que se atreva a ferir a honra dos meus ou a de quem está sobre minha proteção. E mais... se não quiser que sua situação piore, trate de aceitar o que lhe proponho, enquanto estou sendo generoso.

Enquanto seu pai falava, Henrique mantinha em seu rosto uma expressão de superioridade e desdém. A última vez que havia visto a moça ela tinha quinze anos, em uma festa política em que fora obrigado a comparecer. Ayla, apesar de ainda ser jovem já era bela e não havia moça que fosse mais bela que a própria Ayla. Estava prestes a ser apresentada a sociedade. Em breve estaria na idade de se casar. Os cochichos diziam que seu pai tinha dívidas de jogo espalhadas por toda a cidade e que já estava afundado nelas. Tirando esse detalhe, ela seria a moça perfeita para se casar. Sua mãe já o atormentava para que arrumasse uma noiva. "Um cavalheiro que se prese se casa aos vinte. O senhor, meu filho, já está com seus vinte e dois anos e nenhuma esposa." Era o que sempre repetia aos seus ouvidos. Aquela menina não saiu da cabeça de Henrique a semana inteira após aquela festa. Foi então que ele fez a proposto ao seu pai, que seria sua grande chance, caso o ele aceitasse. O senhos Laau compraria todas as dívidas do senhor Antônio. Ele não teria como pagar e então pediriam a filha como pagamento.

-Hoje iremos pra casa juntos, minha noiva! - Ele disse com o seu sorriso arrogante.

Ayla se levantou de forma abrupta.

-IMPOSSÍVEL! Não irei a lugar algum. Não tem como sair da minha casa de uma hora para outra. Não tenho nada preparado. Leva uma eternidade organizar todos os baús. O que vão falar de mim?

-Querida noiva, isso é fácil de resolver. De imediato organize somente o que precisa e esperaremos a senhorita. Depois viemos e buscamos o resto de suas coisas. E enquanto não voltamos para buscar, posso lhe dar tudo o que precisar! Não lhe faltará nada. E ao falatório, não se preocupe. Como meu pai já comentou nesta sala, ninguém se atreveria de falar de nossa família ou dos nossos protegidos.

Ayla manteve sua postura. Segurou o choro. Não quis mostrar fraqueza. Se levantou, reverenciou os convidados e se retirou. Subiu as escadas e entrou em seu quarto fechando a porto logo em seguida. Quando, finalmente ficou sozinha em seu quarto, se deixou cair no chão e chorou, como se não fosse conseguir para de chorar nunca mais.

            
            

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