Eleonora, também sem o pai, teve que deixar de ser a moça rica e filhinha do papai e viver do que lhe restava que não era muito, mesmo assim como aprendeu a ser econômica e era só ela, deu para se manter até sentir-se pronta a ir em busca de um meio de se sustentar, e para isso acontecer, Eleonora tinha que procurar uma remuneração mensal, já que não queria nem tão cedo casar-se com um homem sem que realmente o amasse, o que ela nem pensava em tal coisa.
Sentada com sua amiga em uma cafeteria, Eleonora desabafava suas preocupações.
- Amiga, eu preciso arrumar urgentemente um meio de me sustentar de agora em diante, pois as economias que minha mãe me deixou já acabaram, mas pelo menos deu para eu terminar os meus estudos tranquilamente, mas está sendo muito difícil pois não tenho de onde tirar dinheiro, eu não tenho nenhuma experiência. - falava com o semblante em tristeza.
- Eleonora, eu posso te ajudar com isso, se você não se importar em trabalhar em uma escola de boas maneiras para meninas, afinal você foi educada para se casar com um bom pretendente da alta sociedade, sua mãe lhe ensinou tudo que uma moça precisa saber! Então por que você não faz o mesmo com outras moças? Se você quiser eu falo com a minha prima, ela tem uma amiga que é dona de uma escola de boas maneiras, você pode passar tudo que sua mãe lhe ensinou, o que você me diz?
- Nossa Iolanda, eu quero sim, e se lá tiver alojamento no qual eu possa ficar, será perfeito, pois assim eu posso colocar alguém para morar na minha casa e que me pague por isso, essa casa foi a única coisa que me restou de tudo que tínhamos, e meu pai não a perdeu porque pertencia a família da minha mãe, e ela deixou para mim, ainda bem que meu pai não pode vendê-la como ele queria fazer. Eu posso alugar e morar no alojamento da escola. - falou entusiasmada com os pensamentos positivos.
- Tá me dá até amanhã, eu falarei hoje mesmo com minha prima.
No mesmo instante, Eleonora consentiu com a cabeça, e as duas terminaram seus cafés, saíram e se despediram do lado de fora da cafeteria onde cada uma seguiu seus caminhos.
***
A noite, Eleonora estava sentada em seu sofá na sala de sua casa lendo um livro de romance como gostava de passar seu tempo, quando a campainha tocou, levantou-se e ainda com o livro em mãos, seguiu para atender, ao abrir se deparou com a amiga Iolanda que já entrou falando:
- Eleonora, falei com a minha prima que falou com a amiga dela. - falava em euforia.
- Ela mandou você ir amanhã na escola de boas maneiras bem cedo, então amiga, agora é com você, aqui está o endereço, beijo, boa noite, eu tenho que ir, minha mãe está me esperando no automóvel e disse que está com pressa, tchau amiga. - despediu-se Iolanda descendo apressada uns degraus na frente da casa de Eleonora.
- Tchau e obrigada amiga, depois nós nos falamos. - disse Eleonora vendo a amiga correndo até o veículo no qual a senhora Cardoso a esperava sentada no banco de trás e o chofer já do lado de fora com a porta aberta esperando sua amiga.
Depois de fechar a porta, olhando para o papel em sua mão, Eleonora pulou de alegria, pois estava vendo uma luz no fundo do túnel, e felizmente estava vendo uma chance de recomeçar sua vida mesmo que sozinha. Logo que se viu pulando, Eleonora parou como se tivesse ouvindo a mãe falar-lhe: "olha a compostura Eleonora". Pois não ser uma moça espalhafatosa, fazia parte de ser uma moça com boas maneiras, Eleonora então, se aprumou passou as mãos no vestido godê midi com mangas regata e decote redondo, a qual era um modelo que ela e a mãe gostavam muito de usarem, pois ao mesmo tempo que eram simples e confortáveis, também eram sofisticados.
Na manhã seguinte, Eleonora acordou bem cedo e bem disposta já que tinha um bom motivo para estar sentindo-se daquele jeito, ela estava decidida deixar o desânimo para trás. Depois de se arrumar e tomar seu café com leite com uma fatia de bolo, saiu de casa, seguiu para a estrada para pegar uma charrete, pois precisava chegar cedo e rápido na escola de boas maneiras.
Em pouco tempo, Eleonora chegou até mesmo antes da escola abrir, sentou-se em um degrau para esperar. Vinte minutos depois, uma moça chegou e antes de começar a subir os degraus da pequena escada avistou Eleonora sentada, surpresa, a moça a cumprimentou.
- Oi, Bom dia, senhorita! Posso ajudá-la?
- Bom dia! Sim, eu estou esperando... - Eleonora olhou o papel em sua mão para ver o nome da senhora na qual estava ali para se encontrar.
- Estou aqui para encontrar-me com a Senhora Carmen Filin, ela pediu que eu viesse hoje bem cedo.
- Ah, sim, então a senhorita pode entrar e aguardá-lá, a senhora Filin só chegará às oito horas. - disse a jovem moça terminando de subir os degraus e colocando a chave na porta. Eleonora olhou no relógio em seu pulso e viu que eram sete e quarenta, em seguida seguiu a moça que logo abriu a grande e pesada porta, entrando, a moça que seguia à frente de Eleonora, disse:
- Me chamo Carlota, sou a recepcionista! Mas também faço alguns trabalhos para a senhora Filin, e não me lembro de ter marcado nenhuma reunião com ninguém para essa manhã.
- Sim, ela é amiga da prima de uma grande amiga, então...
- Ah, tá, entendi, amizade é tudo, né? - disse a moça com um sorriso tímido.
- Sim, em alguns momentos como agora ajuda muito.
- Sim, eu quem diga. - disse a moça começando abrir as grandes janelas de madeira, Eleonora se ofereceu para ajudá-la, Carlota mais que depressa aceitou, pois o lugar era bem grande e tinha muitas janelas, quando Eleonora abriu a primeira, viu que dava para uma rua com muitas árvores bem altas, reconheceu de imediato o lugar, pois já havia passado muitas vezes por ali. Surpresa falou:
- Eu já passei várias vezes aqui em frente! Eu sempre tive curiosidade de ver como era esse lugar por dentro.
- E mesmo, aqui é bem grande, o primeiro andar onde estamos, ficam as salas das burocracia, como, recepção, salas para recebermos os pais das moças e fazermos as matrículas. No segundo andar estão localizados os escritórios da diretora Filin e dos administradores. Já no terceiro e último, são as salas de estudos de comportamento, nos fundos tem dois prédios que são os dormitórios das alunas, e do lado, o refeitório e os dormitórios das professoras e seguranças noturno que é a área de descanso deles.
- Hum, entendi. - disse Eleonora seguindo para abrir mais uma janela.
Enquanto elas abriam as janelas alguns funcionários começaram a chegarem.
- Bom dia! - cumprimentavam todos que passavam por elas, sendo respondidos no mesmo instante pelas duas que também os cumprimentavam com bom dia.
- Mas me fales, senhorita Eleonora, o que realmente estás a fazer aqui? - quis saber Carlota com curiosidade.
- Bom, eu estou procurando um meio de ganhar uma remuneração mensal urgentemente, e uma amiga disse-me que eu tenho capacidade de ensinar o que aprendi a minha vida toda com a minha mãe, tipo, boas maneiras, sei tocar piano, comportar-me à mesa como também à frente das altas sociedades, essas coisas que uma moça precisa aprender para ser capaz de encontrar um marido adequado ao gosto dos seus pais.
- Hum, então a senhorita teve sua própria professora particular que foi vossa mãe?
- Sim, eu tive! - falou Eleonora com pesar.
- Que privilégio, hein!
- Sim! Ela foi bem criada pela mãe e avó e passou-me tudo que aprendeu a vida toda.
- Mas, senhorita Eleonora, por que a senhorita ainda não casou-se?
- Eu não quero casar-me!
- NÃO?! Como assim? - falou Carlota olhando para Eleonora com espanto.
- Eu não sei, só não quero! - disse Eleonora dando de ombro.
- Ou a senhorita ainda não encontrou a pessoa certa, ou ninguém que mexesse de verdade com a senhorita?.
- E pode ser, e a senhorita é casada? - perguntou Eleonora.
- Sim, mas me afastei do meu esposo, por não aguentar mais os maus tratos dele, eu fugi de casa no meio da noite o casamento não deu certo para mim. - disse torcendo os lábios.
- Nossa, eu sinto muito! A senhorita parece ser tão nova para já ter passado por um casamento que não deu certo.
- Não sinta, ele era um verdadeiro carrasco, um filhinho da mamãe mimado, além de me espancar, também deixava a vossa mãe judiar-me, até que tomei coragem e fugir, logo em seguida conheci a senhora Filin que visitava a cidade, a senhora me viu perambulando pela rua suja, fraca e com fome, e parou para oferecer-me ajuda, e logo que contei o porquê do meu sofrimento, ela perguntou se eu queria vir com ela para sua cidade, claro que concordei de imediato, durante a viagem ela conversou muito comigo, abriu meus olhos, aconselhou-me não ser submissa a homens como meu esposo que depois do casados acham-se nossos donos e que podem fazerem o que bem entendem com as esposas.
E assim um tempo depois que já estava aqui e me sentia forte, a senhora Filin me deu um cargo de ajudante na cozinha, mas quando ela descobriu que eu sabia ler e escrever e como estavam precisando de uma pessoas na recepção, ela colocou-me, então eu comecei a exercer a função, no entanto, evito sair por aí com medo de algum conhecido da família do meu esposo me ver e reconhecer-me. Que graça a Deus já tem três anos que estou aqui vivendo praticamente escondida deles, mas vamos esquecer isso, pois não vale a pena falarmos daquelas pessoas que quero esquecer para sempre.
- E a senhorita, não pensa em casar-se de novo? - perguntou Eleonora.
- Se eu encontrar uma pessoa boa que me mereça, eu darei-me mais uma chance, mas nem sei como vou fazer para faze-lo entender minha situação. - disse Carlota cabisbaixa.
- Bom dia, senhorita Carlota. - disse uma senhora parando diante delas.
- Oi, bom dia senhora Filin, essa senhorita está lhe esperando.
- Sim, você é a...
- Bom dia, senhora, sou Eleonora Torne.
- Ah, sim, venha comigo. - disse a senhora seguindo para a escada.
Antes de Eleonora subir os primeiros degraus, olhou para Carlota e piscou - Carlota piscou de volta e falou sem som:
"Boa sorte!"
Eleonora também falou sem som:
"Obrigada!"