Capítulo 7 A Incerteza do Futuro

Angeline

O dia passou bem devagar, não consegui parar de pensar na questão do genitor das meninas, mas sem em nenhum momento chegar a uma decisão.

Meu lado protetor, quer levá-las para bem longe e evitar qualquer contato, mas ao mesmo tempo, sinto que é egoísmo de minha parte impedir essa aproximação.

O maior problema é que não sei a verdadeira história desse homem, a hipótese que mais me fez sentido é que ele tenha sido enganado para assinar a doação. E isso, me preocupa, pois que pai não iria querer lutar por um filho ao saber de sua existência?

E é claro que ao cogitar isso, passei a temer mais ainda essa aproximação, pois ele pode estar apenas fingindo querer um contato amigável, para depois que souber quem sou, partir para uma briga judicial pela guarda delas. Mas se essa for a intenção dele, vai encontrar uma enorme briga, pois só morta deixarei de lutar por minhas filhas.

Deixo isso de lado um pouco e dou atenção às minhas meninas que estão brincando tranquilas, sem nem imaginar tudo que está acontecendo e como suas vidas podem mudar. Nate entra no quarto e senta ao nosso lado, ela já sabe de tudo, e me deu seu apoio, mesmo sem se posicionar a respeito.

- Angie, não se preocupe, vai ficar tudo bem.

- Assim espero. Nate, meus pais devem chegar logo, enquanto eu converso com eles, poderia ficar com as meninas no quarto?

- Claro que sim.

- Obrigada, assim que terminarmos, vocês se reúnem a nós e jantamos todos juntos.

- Sem problemas. Agora vai tomar um banho e relaxar, que cuidarei das pequenas.

Dou um beijo em cada uma e sigo para meu quarto, optando por um banho na ducha, pois se entrar na banheira, será difícil sair de lá hoje.

Embaixo da água, fecho os olhos e recordo de quando descobri o projeto, afinal ser mãe era meu maior sonho e através do projeto, eu não iria apenas adotar, mas poderia gerar meu filho, sentindo todas as maravilhas da gravidez. Em meio as dúvidas, foi no colo de Lohan que recebi meu primeiro apoio.

- Loy, eu tenho receio de tentar e não conseguir levar uma gravidez até o fim por causa de meus problemas.

- Para isso pequena, você terá que ter fé e força de vontade, sempre foi tão guerreira, e justo na hora de realizar seu maior sonho, vai desistir sem lutar?

Eu sabia que ele estava certo, foi por sempre lutar que me tornei uma CEO respeitada aos 25 anos.

- Mas Loy, e se eu não conseguir ser uma boa mãe?

- Recordo-me de você dizendo algo bem parecido dez anos atrás, na época sua pergunta foi: "Loy, e se eu não conseguir ser uma boa CEO?". E olhe para você hoje, estampando revistas como a mulher mais bem sucedida da década. Então, assim como falei naquele dia, te falo hoje: Minha irmã, não tenha medo de fracassar, você é mais do que capaz de fazer isso e tudo que quiser.

Mais uma vez ele estava certo, quando nosso pai decidiu se aposentar e me entregar o controle das empresas, eu tinha apenas 23 anos e tive muito medo de fracassar, porém Loy me deu todo apoio e não me deixou recusar a oferta. Muitos disseram que eu iria fracassar e acabar com a empresa, mas eu a fiz prosperar, e em minha gestão, mais de 100 hotéis foram construídos, fazendo o lucro aumentar.

- Mas ser mãe é diferente de comandar uma empresa, não posso me dar à chance de falhar, a empresa eu poderia recomeçar, sendo mãe não.

- E quem te disse que vai falhar? Será uma mãe maravilhosa - Seria bom ter essa confiança que ele tem. - Afinal você é ótima em tudo que faz, e esse sempre foi seu maior sonho.

De fato, eu sempre quis ser mãe, um sonho desde menina, que por um tempo foi destruído por aquele médico, e depois por culpa da ganância do Leôncio. Após o divórcio sufoquei esse sentimento, afinal não tinha condições de ter uma criança e não seria justo colocar alguém tão pequeno em meio as minhas crises. E depois, me fechei por não querer me sentir tão vulnerável, como eu sabia que a maternidade me deixaria. Porém, aos 33 anos era uma nova mulher, mais madura e firme em meus propósitos, e se eu tivesse um filho, teria toda estrutura psicológica para criar a criança com o melhor de mim.

Uma coisa é certa, o Lohan tinha razão naquele dia, eu sempre fui guerreira, e não seria agora, sendo mãe, que eu iria deixar de ser. Posso não saber o que esse homem quer aparecendo agora, mas se tiver que lutar por minhas filhas, é isso que irei fazer.

Após o banho, coloquei um vestido de linho cinza, com a cintura larga e o busto transpassado. Ao descer, escuto a campainha tocando e como Clover já foi embora, desço mais rápido e vou atender. São meus pais e o Lohan.

- Querida, como você está? - Mel me abraça forte.

- Muito confusa.

- Calma minha filha, ficará tudo bem. Vamos nos sentar e você nos explica melhor o que aconteceu.

Concordo com ela e seguimos para a sala.

- Angie, cadê as meninas? - Lohan pergunta.

- Lá em cima com a Nate, depois elas vem ficar conosco.

- Melhor assim, elas vão sentir sua angustia. Agora Angie, explique.

Faço como meu pai pediu e expliquei tudo, incluindo a ligação para o Nicola e seu conselho, como ele me lembrou que sempre serei a mãe das meninas. E, por fim, minha conclusão sobre porque o homem não sabia da doação.

- Filha, é uma situação delicada. Qual está sendo sua vontade de fazer agora?

- Sinceramente não sei pai. Estou dividida, esse contato pode ser bom para as meninas, mas tenho medo de que ele tente me tomar elas.

- Querida, o Nicola mesmo não te garantiu que isso não vai ocorrer?

- Sim mãe, mas ele também disse que a lei tem muitas brechas e é isso que me preocupa.

- Filha, nenhuma brecha vai te tirar o direito de ser mãe delas. - Eu só queria ter essa certeza da Mel para ficar em paz. - O máximo que a lei pode fazer é dar a paternidade a ele, e com isso vocês serem como um casal separado que precisam dividir a tutela das crianças, e assim elas irem ficar com ele às vezes.

Será que eu conseguiria conviver com uma guarda compartilhada? Tendo que dividir sempre a atenção de minhas filhas com outra família.

Não sei, mas se fosse para a alegria das meninas, eu poderia tentar. Agora como saber se isso é o melhor para elas? Que vão ficar feliz com esse suposto pai.

- Sim Mel, mas isso é considerando que ele esteja apenas querendo conhecer as duas, ele pode muito bem estar apenas atrás de dinheiro.

Estive tão preocupada com o interesse dele, que não pensei que poderia se tratar apenas de dinheiro, mas não seria surpresa se fosse isso, já que muitos só se importam com o maldito dinheiro.

- O senhor acha isso possível, pai?

- Pode ser sim, afinal essa clínica tem certo prestígio e não é qualquer um que pode pagar por todo o tratamento.

Não sei se ficaria mais feliz se o interesse dele fosse realmente só nas meninas ou no meu dinheiro, mas sei que seria muito triste para elas se fosse isso, pois um dia teria que contar a verdade e explicar o que ele fez.

- Mas ele também fez o tratamento na clínica, logo não deve ser tão pobre.

- Querida, alguns fazem dividas só para tentar realizar um sonho. De toda forma, se o interesse dele for o dinheiro, tudo bem, nós pagamos e ficamos tranquilos. - Mel está certa. - Mas vamos nos preocupar agora com a opção dele querer realmente conhecer as meninas, afinal essa é a decisão mais importante que você precisa tomar.

- A mãe tem razão, até porque embora a hipótese da Angie seja boa, pode não ser a única explicação para ele surgir só agora.

- E qual seria a outra opção, Loy?

- Que ele pode ter simplesmente inventado que não sabia da doação, pois agora está viúvo e quer as meninas para ele, já que perdeu a esposa e elas são a única coisa que restou do amor deles.

Isso faz muito sentido, se ele perdeu a esposa e não tem mais filhos, então as meninas são a única ligação dele com a falecida.

- Não havia pensado nisso.

- Se for isso, temos que nos preparar para uma boa briga, pois ele não irá desistir de lutar pelas meninas. Eu faria o mesmo por vocês.

É o que um pai ou mãe faria em qualquer situação. É o que eu farei se for preciso, lutar até não poder mais.

- Ah pai, eu não suportaria perder minhas filhas.

- Eu jamais permitiria tal coisa, minha filha. Você nunca perderá as meninas.

- Calma querida, não se desespere antes da hora. - Mel vem até mim e me abraça, então deitei a cabeça em seu ombro. - Nós estamos aqui fazendo mil conjecturas sobre o porquê desse interesse dele, o julgando sem saber o que ele realmente quer, quando a verdade é que não sabemos nada do homem, e só saberemos após o conhecer.

Mel está certa, não estamos sendo justos com esse homem, nem ao menos sabemos o nome dele e já estamos fazendo mil julgamentos. Agora estou me sentindo um monstro por julgar alguém que sequer conheço.